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A responsabilidade civil extracontratual do Estado frente à negligência da Administração pública no âmbito das medidas socioeducativas

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM DIREITO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO ADMINISTRATIVO

Marcella Caroline Pinheiro de Andrade

A RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL DO ESTADO FRENTE À NEGLIGÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO ÂMBITO DAS MEDIDAS

SOCIOEDUCATIVAS

Orientadora: Professora Msc. Catarina Cardoso Sousa França

NATAL/RN 2017

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A RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL DO ESTADO FRENTE À NEGLIGÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO ÂMBITO DAS MEDIDAS

SOCIOEDUCATIVAS

Marcella Caroline Pinheiro de Andrade

Monografia apresentada ao Programa de Pós Graduação em Direito Público da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Direito Administrativo.

Orientadora: Msc Catarina Cardoso Sousa França

Natal/RN 2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Andrade, Marcella Caroline Pinheiro de.

A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado frente à negligência da Administração Pública no âmbito das medidas socioeducativas. Natal, RN, 2018 / Marcella Caroline Pinheiro de Andrade. - 2018.

58 f.: il.

Monografia (Pós Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Programa de Pós-Graduação em Direito Público. Natal, RN. 2018.

Orientador: Prof.ª Ma. Catarina Cardoso Sousa França.

1. Medidas socioeducativas - Monografia. 2. Administração Pública - Monografia. 3. Negligência estatal- Monografia. 4. Infratores - Monografia. 5. Responsabilidade civil

extracontratual do estado - Monografia. I. França, Catarina Cardoso Sousa. II. Título.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...11

2 PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA ...13 2.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE...15 2.2 PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE...16 2.3 PRINCÍPIO DA MORALIDADE...17 2.4 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE...18 2.5 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA...19 2.6 PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS ...19

2.6.1 Princípio da Supremacia do Interesse Público...19

2.6.2 Princípio da Autotutela...20

2.6.3 Princípio da Continuidade do Serviço Público...21

2.6.4 Princípio da Segurança Jurídica...21

2.6.5. Princípio da Razoabilidade...22

2.6.6 Princípio da Proporcionalidade...22

3 VIOLAÇÃO AO DIREITO FUNDAMENTAL À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA...24

4 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS MEIOS PROTETIVOS ÀS CRIANÇAS ADOLESCENTE ...26

5 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE...29

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6 FATORES QUE INFLUENCIAM O ADOLESCENTE AO ATO

INFRACIONAL...36

7 VIOLAÇÃO ÀS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS...40

8 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL...45

8.1 RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL DO ESTADO...48

8.2 TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO...53

8.3 RESPONSABILIDADE OBJETIVA...55

9 CONCLUSÃO...56

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar a negligência por parte dos entes estatais no que cerne a aplicação de medidas socioeducativas de adolescentes infratores, não apenas no âmbito das medidas em si, como também a ausência por meio da omissão da Administração Pública na efetivação de direitos fundamentais das crianças e adolescentes de nosso país, o que acaba contribuindo para o grande índice de jovens envolvidos na criminalidade.

Tomando-se como base princípios constitucionais e também da Administração Pública, além de leis infraconstitucionais como o Estatuto da Criança e do Adolescente, jurisprudência e doutrina brasileiras, analisaremos os direitos que são reservados aos nossos jovens mas que, todavia, lhes são infringidos, negligenciados e usurpados; levando-se sempre em consideração os direitos sociais e fundamentais com especialidade aos infratores.

A partir do momento em que nos deparamos com a negligência estatal que, por conseguinte, gera o ferimento a um princípio da Administração Pública e a um direito fundamental destes, coloca-se frente à nós a necessidade de responsabilização civil extracontratual do Estado, por agir ou se omitir por diversas vezes, causando danos reparáveis, sendo em suma irreparáveis.

O ente estatal deve, com isto, ser responsabilizado afim de que o dano causado seja reparado e o infrator seja assistido; aplicando-se a teoria objetiva e a teoria do risco administrativo para os casos em concreto, mesmo que a Administração Pública não tenha agido de modo a vislumbrar o fim danoso.

Em virtude da possibilidade do Estado agir, através de seus agentes, de maneira ilícita, negligente, imprudente ou com imperícia, surge a necessidade de se resguardar os administrados de possíveis danos, é neste contexto que surge a Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado, e é também no contexto da dissertação que averiguaremos a necessidade de responsabilização estatal por seus atos omissivos ou não que acabaram gerando prejuízo aos infratores brasileiros.

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PALAVRAS-CHAVE:

Administração Pública. Estado. Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado. Princípios da Administração Pública. Medidas socioeducativas. Infratores.

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ABSTRACT

The objective of this study is to analyze the negligence on the part of the state entities in what concerns the application of socio-educational measures of adolescent offenders, not only in the scope of the measures themselves, but also the absence by means of the omission of the Public Administration in the realization of rights children and adolescents of our country, which contributes to the large number of young people involved in crime.

On the basis of constitutional principles and also of the Public Administration, in addition to infraconstitutional laws such as the Statute of the Child and Adolescent, Brazilian jurisprudence and doctrine, we will analyze the rights that are reserved for our youth but which are nevertheless violated, neglected and usurped; always taking into account social and fundamental rights with special regard to juvenile offenders.

From the moment we are faced with the state negligence which, consequently, creates the injury to a principle of Public Administration and a fundamental right of these minors, we face the need for extracontractual civil liability of the State, for act or omit it several times, causing reparable damages, being in short irreparable.

The state entity must, therefore, be held liable for the damage caused to be repaired and the minor offender to be assisted; applying the objective theory and the theory of administrative risk for the specific cases, even though the Public Administration has not acted in order to envisage the harmful end.

Due to the State's ability to act, through its agents, in an illicit, negligent, reckless or impervious manner, there is a need to protect the administrators from possible damages, in this context the State's Extra-contractual Civil Liability arises, and it is also in the context of the dissertation we will find out the need for state accountability for their omissive acts or not, which ended up causing harm to the Brazilian offenders.

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KEY-WORDS

Public administration. State. Extracontractual Civil Liability of the State. Principles of Public Administration. Educational measures. Minor Offenders

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1. INTRODUÇÃO

A inserção de crianças e adolescentes na criminalidade têm sobressaltado sobremaneira, engloba-se a isto diversos fatores, contudo e além disto, há de se analisar, principalmente, as perspectivas sobre as quais os infratores são sujeitos ao serem destinados a uma medida socioeducativa.

Sob a perspectiva legal brasileira, principiológica, doutrinária e jurisprudencial, nos debruçaremos sobre as problemáticas enfrentadas no sistema sancionatório e ressocializador – teoricamente – dos infratores que estão sujeitos às medidas socioeducativas.

O Estatuto da Criança e do Adolescente originou-se com o objetivo de resguardar direitos e deveres de nossos jovens, todavia, mesmo com todo o fundamento legal ainda existe um contraste social emergente no Brasil; com isto temos visto que o número de crianças e adolescentes adentrando na criminalidade vem crescendo, sobretudo abarcando àqueles que estão marginalizados.

Os fatores mais presentes na vida desses jovens é por si só o meio sob o qual estão imersos, além de serem totalmente desestimulados a seguirem um caminho oposto, justamente em virtude da desigualdade no Brasil, pela falta de incentivos à educação, esporte, lazer, a ausência de segurança, a miserabilidade nas margens da sociedade etc; tudo isto vêm sendo fatores plausíveis para que adolescentes se infiltrem nas drogas e, por conseguinte, no tráfico e em outros crimes.

A criminalidade é um constructo social justamente pelo motivo de que diversos fatores se entrelaçam, atraem e amarrotam nossos jovens, cada vez mais precoces para fazerem parte dessas veredas tortuosas.

Com a ausência de oportunidades para desenvolver uma vida condigna, desfrutando de lazer, esportes, com acesso à saúde, sem nenhum incentivo à educação escolar e sobretudo o ensino superior, mas apenas com acesso a uma educação de péssima qualidade, esses adolescentes, em sua maioria, possuem ainda famílias totalmente desestruturadas.

Tudo isso que anteriormente foi descrito deveriam ser fatores positivos, capazes de afastá-los da ociosidade e dar-lhes vigor para serem cidadãos com seus direitos efetivamente postos em prática; infelizmente, pelo contrário, vêm sendo

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pontos que influenciam negativamente e acabam os atraindo mais ainda para o mundo do crime.

Sobretudo e aquém disto, além de percebemos como estamos fadados a um sistema que não proporciona condições mínimas para que o futuro de nossos jovens seja positivo, em virtude da falta de incentivos e infraestrutura nas escolas, pela ausência de políticas públicas que assegurem educação de qualidade, e dentre tantos direitos básicos e indispensáveis inerentes a todos.

É perceptível que além de terem tanta falta de garantias individuais mínimas asseguradas, para que lhes seja garantida uma vida condigna, ao adentrarem no âmbito da criminalidade posteriormente, é que percebemos quão negligente tem sido a Administração.

Por não bastar, o Estado além de ser negligente na efetivação dos direitos individuais e coletivos, também o é no âmbito das medidas socioeducativas, além de algumas dessas medidas não surtirem efeito algum, em outros casos são mal aplicadas, noutros vemos que são totalmente desrespeitadas e há situações em que são aplicadas penas e não medidas socioeducativas; além disto a Administração Pública tem se omitido em diversos aspectos a seguir serem explanados.

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2. PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA

Princípio equivale a algo que vem no início de tudo, corresponde a origem, aquilo que dá base, que é a fundamentação de algo. A Bíblia Sagrada, por exemplo, utiliza o termo princípio em um de seus evangelhos ao dizer que: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez”. (João 1:1-3).

João, ao iniciar o seu evangelho, descreve que no princípio era o Verbo, isto é, inicialmente, antes que todas as coisas fossem formadas, o Verbo já existia, ou melhor dizendo, o Verbo era próprio princípio, pois antes de tudo Ele já estava lá. O Verbo já tinha existência mesmo antes de todas as outras coisas.

João diz ainda que o Verbo é o próprio Deus encarnado, isto é, o Cristo; Ele é o princípio de tudo, Ele é a base de todas as coisas, por meio do qual todas as coisas o são e por meio do qual todas elas vieram à existência.

O Verbo aqui não é apenas um princípio dentre tantos, Ele é simplesmente o princípio da gênese de onde tudo provém, é o fundamento, a fonte basilar de todas as coisas. Deus é o fundamento do mundo, o Cristo humanizado, a pedra angular, isto é, aquela que está na esquina de uma construção e que a sustenta por completo; Ele é princípio, é o alicerce. Ele é a própria primogenitura, em suma, o Princípio de todos os princípios.

Para tanto, princípio1 diz respeito aquilo por meio do qual se fundamenta todas

as coisas, é de importância ímpar, justamente em virtude de sua função embasadora e sua especificidade, pois é por intermédio dos princípios que se ramificam os demais entendimentos e estruturas; é por intermédio de um princípio que existe fundamentação para tantas outras ciências e campos do saber.

Ademais, como visto no versículo bíblico supramencionado, a base do evangelho é Cristo, já a base de uma sociedade são os núcleos familiares, pois é de onde provém todos os ensinos, educação e valores que carregamos moralmente por toda a nossa vida; além disto, para vivermos em sociedade precisamos dos entes

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estatais para nos resguardar, para nos orientar, efetivar nossos direitos e garantias, e pelos quais estamos sob a égide para cumprir também com nossos deveres como cidadãos; e por sua vez, os entes estatais, órgãos diretos e indiretos da Administração Pública, necessitam de um amparo para o bom desencadeamento dos atos administrativos que perfaz.

Os princípios surgem nesse contexto social e também econômico, pois eles fundamentam toda atividade normativa e operacional da Administração Pública e também a vida em sociedade, além de servir como base interpretativa para as demais normas legais e em casos de dúvidas ou omissões, os princípios também estarão lá para nos dar respaldo.

A Administração Pública abarca os princípios como sendo postulados fundamentais que fundamentam o modo de agir estatal através de seus agentes, norteiam a conduta do Estado2.

Por isto e por tantos outros aspectos, os entes federativos necessitam de princípios para basilar as condutas dos agentes da federação.

O Estado, portanto, possui alguns princípios que lhe são intrínsecos, e estes são verdadeiros basilares, regras padrão, isto ocorre justamente em virtude da função que os princípios impõem aos seus administrados e que deve ser de observância de todos os entes que forma a Administração Pública.

Estão tais princípios, portanto, intrinsecamente ligados à Administração Pública, comumente chamados de Princípios Constitucionais da Administração Pública, estes, que se perfazem em duas espécies: princípios explícitos e princípios implícitos.

No que tange aos princípios expressos nos resguardamos no bojo do artigo 37 da Constituição Federal Brasileira3. Todos os entes da federação, por meio dos

agentes públicos que lhes constitui, deverão observar e obedecer os princípios descrito, são os princípios mínimos sob a qual ela deve se firmar: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Pessoalidade e Eficiência.

2 FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. São Paulo, 2016, p18

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Além destes ainda tem-se a previsão de outros princípios, que estão previstos no ordenamento jurídico infraconstitucional e a Administração Pública se valora deles implicitamente para efetivar suas atividades enquanto ente federativo.

No referido artigo temos os princípios da Administração Pública brasileira, onde encontramos o fundamento para as condutas probas de seus agentes; agindo como prevê tais princípios, não há que se falar em condutas viciosas, ilegais, inoperantes ou negligentes.

A partir do momento em que estamos abaixo de um arcabouço de princípios e normas, é mister obedecê-los para que a sociedade desenvolva-se e todos os cidadãos vivam de modo que a dignidade da pessoa humana seja preservada e os direitos que lhe são inerentes sejam-lhes assistidos, de modo que não lhes seja violados mas sim efetivados.

2.1. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

No que cerne aos princípios propriamente da Administração Pública, primeiramente temos o Princípio da Legalidade, que corresponde a frase latina nullum

crimen nulla poena sine lege, a mesma quer dizer que nenhum crime será punido sem

que haja uma lei.

Tal princípio caracteriza-se como sendo o principal motivador para que a Administração Pública haja dentro da legalidade, isto é, dentro daquilo que a lei lhe permite atuar. O Estado democrático de Direito deve estar sempre agindo de acordo com aquilo que está previsto em lei, cumprindo o que ela determina.

Com base nisso, temos a conclusão de que as atividades realizadas no seio da Administração Pública deveram ter amparo legal, caso não haja legalidade na conduta não há que se falar em validade, corresponderá a uma atividade ilícita da administração.

Por esta razão é que o princípio da legalidade serve como sendo uma garantia para os administrados, deixando-os protegidos de possíveis irregularidades e

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tentativas de abuso de poder. Nada mais é que uma diretriz básica para a conduta dos agentes da Administração Pública4.

Todos os agentes que perfazem a administração pública deverão resguarda-se da legalidade nos atos administrativos que produzem, a fim de que não lhes resguarda-seja imputada a ilegalidade, pois por meio da conveniência e da oportunidade de determinados atos, o agente pode sim agir ou se omitir de forma fraudulenta, negligente e improba, porém seu ato será ilícito e nulo5.

Vale ressaltar, com isto, que o princípio da legalidade não é apenas um princípio garantidor, mas também refere-se a uma limitação posta ao próprio Estado para não adentrar na individualidade dos agentes e daqueles que lhe são subordinados. Ou seja, a própria Administração Pública que criou princípios e normas acaba subordinando-se a estes, e não apenas os administrados.

Portanto, no princípio da legalidade encontramos duas faces pois, a legalidade além de servir como princípio para limitação de seus atos também corresponde a uma garantia, a partir do momento em que só deverão agir de acordo com o que estiver previsto na lei, o Estado não pode exigir condutas aquém das que lhe são permitidas.

O princípio da legalidade nos resguarda de uma atuação arbitrária por parte da Administração Pública, em virtude do seu dever de observar que seus atos estejam sempre dentro da legalidade, não nos usurpando direitos, muito menos cometendo atos viciados, até mesmo em casos que a discricionariedade do Estado possa atuar, sempre deverá estar dentro dos parâmetros da lei; sua liberdade de atuação, frente à conveniência e a oportunidade não poderá dar margem para que se cometa atos ilegais.

2.2 PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE

Por conseguinte temos o Princípio da Impessoalidade, isto é, determinado ato ou atividade inerente à administração pública não poderá pré-determinar um indivíduo

4 FILHO, José Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. 2016, p 20

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ou um grupo de pessoas que irão se beneficiar desse ato administrativo, não pode se voltar a uma pessoa específica6.

A administração pública é impessoal pois deve tratar com igualdade todos os administrados, não podendo agir de modo a beneficiar um indivíduo ou uma parcela, muito menos agir de modo que prejudique determinada pessoa.

Com tal princípio está intimamente ligada também a questão de que o interesse público se sobressai ao interesse privado.

Este princípio também diz respeito ao da finalidade, como muitos doutrinadores preferem denominar, desta forma, o princípio da finalidade possui em seu escopo em duas vertentes, o ato administrativo deve atender o interesse público e não ao do indivíduo agente da administração pública, mas sim o comum. Outra faceta é uma finalidade específica, isto é, o fim que determinado ato vislumbra alcançar, aquele determinado por lei.

Tal princípio, dessa maneira, tem ligação direta com a isonomia; além de prevê o não tratamento com favorecimento a uns e a outros não, resguarda que o interesse privado não pode estar acima do público.

Isto é, a Administração Pública visa o tratamento isonômico, de modo a tratar igualmente os administrados, sem favorecimento a alguns ou prejudicando a outros, ela é impessoal e, para tanto, deve assim agir e sempre vislumbrando o bem comum da população em contrapartida do bem particular.

2.3 PRINCÍPIO DA MORALIDADE

Concomitantemente temos o Princípio da Moralidade, este prevê que os indivíduos que compõem os entes federativos deverão estar esculpidos por condutas éticas que serão expressas por meio de seus atos administrativos, não lhes fadando em ilicitudes ou negligência.

Caso exista imoralidade temos uma ofensa à leis, o que iria de encontro também ao princípio da legalidade. Devendo, com isto, os agentes administradores

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serem probos em todos os seus atos, de modo que não afrontem a moralidade da Administração Pública, mas sim agindo honestamente.

Tal princípio se externa a partir do momento, por exemplo, em que os agentes da Administração Pública agem dentro dos aspectos da conveniência e da oportunidade, e mesmo assim são honestos nos atos administrativos que porventura atuem, não afrontando a moral administrativa7.

Devendo-se ainda ressaltar que a moral administrativa difere da moral social, pois diz respeito a moral que prescreve os valores éticos e morais da Administração Pública.

O que foi pretendido com o princípio da moralidade foi propriamente inibir a improbidade por parte da Administração Pública caso seus agentes agissem de modo imoral.

2.4 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

Temos ainda o princípio da Publicidade, ou seja, os atos administrativos deverão ser divulgados; havendo transparência dos atos administrativos, sobrepõe-se que há legalidade no ato, e mesmo não havendo, com a publicização, sobrepõe-será facilitado o papel de se averiguar se o ato está ou não dentro da legalidade.

Se estivermos diante de uma divulgação errônea ou de ausência da mesma, haverá por conseguinte uma afronta aos direitos, caso isto ocorra, pode-se resguardar-se de que a legalidade não se perca, podemos recorrer aos remédios constitucionais: mandado de segurança e o habeas data.

É por intermédio da transparência dos atos administrativos que os administrados poderão averiguar, acompanhar e fiscalizar se há ou não eficiência na prestação dos serviços realizados pelos entes estatais.

Um Estado que age dentro da legalidade, que seus agentes atuam em conformidade com a moral, ética, teremos também uma Administração Pública que não possui receio em publicar suas atividades, nem agirá de modo que as informações estatais sejam divulgadas de maneira desvirtuada.

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2.5 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

Por fim, temos o Princípio da Eficiência, que diz respeito a qualidade do serviço prestado pelo Estado, devendo efetivar os direitos da coletividade, atingindo todos os objetivos que são de sua competência, não devendo atuar com irresponsabilidade, mas com o máximo de perfeição possível.

Se o agente público age de modo que observe e obedeça aos princípios da Administração Pública, teremos consequentemente um Estado que atinge o princípio da eficiência, pois para ser eficiente deve agir em conformidade com as leis e princípios; agirá portanto, dentro da legalidade, com impessoalidade, moralmente e com a devida publicação de seus atos.

2.6 PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS RECONHECIDOS PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Além destes supramencionados princípios, temos ainda outros princípios reconhecidos pela Administração Pública, esses também constituem o escopo que rege toda a Administração Pública e seus agentes.

Dizem respeito aos princípios expressos, corresponde a outras ramificações principiológicas e que, apesar de não estarem expressos constitucionalmente, possuem teor valorativo tanto quanto os demais, possui são habitualmente utilizados. Dentre os princípios implícitos e reconhecidos pela Administração Pública, temos o Princípio da Supremacia do Interesse Público.

2.6.1 PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO

Este princípio diz respeito a um dos princípios implícitos da Administração Pública mais mencionados, estando intimamente ligado com a ideia de Estado Democrático de Direito, em virtude, diretamente, pelo fato de o Estado vislumbrar a

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sociedade como um todo, sua coletividade, não referindo-se os seus atos a um indivíduo ou um determinado grupo em questão8.

Caso um agente da Administração Pública haja de forma contrária ao interesse do bem comum, deparamo-nos com um desvio de finalidade.

Substancialmente tal princípio assegura que os direitos sociais, o bem estar comum, devem estar acima dos direitos e garantias individuais, sempre deverá prevalecer a coletividade, mesmo naqueles casos que porventura existam conflitos de interesse em possíveis questões de disputa de direitos.

2.6.2. PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA

Outrossim, ainda existe o Princípio da Autotutela que surge para facilitar, por assim dizer, a Administração Pública quando esta comete equívocos em seus atos administrativos, uma vez que, por possui uma multifaceteada de tarefas a cumprir, é de se relevar a existência de possíveis erros9.

Todavia, a própria Administração, por meio do princípio da autotutela, corrige o erro realizado em determinada tarefa realizada por seus agentes. Inclusive, consagra-se o princípio da autotutela através das súmulas 34610 e 47311 do Supremo Tribunal

Federal.

Por intermédio do mesmo, deparamo-nos não apenas com o objetivo de sanar os vícios, erros, irregularidades, faz-se necessário frisar que é preciso evitar os mesmos, o que finda evitando outros possíveis prejuízos dentro da esfera da Administração Pública e no âmbito dos administrados.

8 MARINELA, Fernanda. Direito Administrativo. 2017, p 70

9 FILHO, José Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. 2016, p 35

10 Súmula 346: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.

11 Súmula 473: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais,

porque deles não se originam direitos; ou revoga-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

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2.6.3 PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS

Por conseguinte temos o princípio da Continuidade dos Serviços Públicos, nada mais é que o princípio que traz consigo a previsão de que os serviços realizados pela Administração Pública devem atuar constantemente, não podendo deixar-nos sem sua prestação, devem ser realizados de forma contínua.

Diz respeito, principalmente às atividades mais corriqueiras e necessárias para a efetivação do Estado e dos atos administrativos básicos e de extrema necessidade e inviabilidade de extinção, em virtude de seu caráter essencial à sociedade, ao bem comum e ao transcorrer harmônico em comunidade12.

Aqui vemos a necessidade da efetivação dos direitos básicos, intransferíveis e necessários a toda sociedade, em especial aos infratores, analisados em tela.

2.6.4 PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA

Temos ainda o Princípio da Segurança Jurídica que surgiu como forma garantidora para que nossos direitos fossem preservados, dando-nos certa estabilidade, podemos até dizer que este princípio liga-se ao princípio da legalidade, pois se há segurança jurídica nos atos da Administração Pública, quer dizer que todos os seus atos atendem aos parâmetros da legalidade13.

Se o Estado age dentro da legalidade está nos resguardando das ilicitudes, e para que isto se efetive com mais precisão é que surgiu o Princípio da Segurança Jurídica, que nos surge como sendo mais uma garantia, nos resguardando de possíveis ilicitudes.

Citemos ainda o Princípio da Precaução veio para o âmbito do Direito Administrativo, inspirado pelo Direito Ambiental que possui tal princípio como pilar. Em casos que porventura a Administração Pública veja que poderá ocorrer um possível dano a coletividade, deverá tomar medida que assegure que essa não seja prejudicada, agindo com precaução e imediatismo.

12 FILHO, José Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. 2016, p 37

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2.6.5. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE

A Administração Pública possui ainda com princípio o da Razoabilidade surge trazendo consigo o caráter de imposição, imposição esta de limites; em razão do poder discricionário do Estado; deverá, portanto, resguardar-se os administrados de atos que não sejam razoáveis e não incoerentes14.

2.6.6. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

E por fim, temos o princípio da Proporcionalidade acaba sendo uma espécie do princípio da Razoabilidade; esse princípio prega que os atos administrativos deverão respeitar o grau mínimo de proporcionalidade, não agindo de maneira ilícita pelo fato de não ter, o agente, agido de modo a serem sempre moderados, proporcionais em suas funções15.

Estes inúmeros princípios anteriormente descritos constituem a fundamentação de todo o arcabouço legal da Administração Pública, a partir deles é que o Estado e seus entes, por meio de seus agentes, podem versar, coordenar e executar os serviços inerentes às suas atividades em prol de toda a nação.

A partir do momento que, todavia, um desses princípios é afetado ou violado, temos violados também nossos direitos e garantias, uma vez que é por meio de todos estes princípios que podemos ter uma regência proba de nossa nação.

Agindo de forma diversa, teremos uma Administração Pública negligente, devendo ser responsabilizada pelos atos ilícitos praticados, por suas ações e omissões que causem danos a outrem.

Ademais, é necessário que a Administração Pública ponha em prática todos estes princípios, agindo de forma ética para que em todas as esferas de nossa sociedade possamos ver os frutos de seu efetivo trabalho.

14 FILHO, José Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. 2016, p 41

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No que pese o estudo em questão, concernente a negligência estatal quanto às medidas socioeducativas aplicadas aos infratores, percebemos como nossos princípios são de uma riqueza tão singular.

Nossos fundamentos principiológicos, leis, súmulas, jurisprudência etc, como todo nosso ordenamento jurídico é rico, mas em contrapartida nossa Administração Pública está em uma disparidade gigantesca no que diz respeito a colocar todo esse arcabouço legal em prática ao nosso favor; percebemos ainda no quanto somos negligenciados pelo Estado, no que pese, em especial, em favor de nossas crianças e adolescentes.

Se na fundamentação, na base, no alicerce de tudo, vemos a frouxidão e inobservância de princípios e leis, consequentemente o restante da sociedade tende a afrouxar-se também e, desta forma, nunca ganhará a solidez necessária para que realmente nossa nação cresça em todos os aspectos que nos são de direito.

Em razão disto, percebemos que em diversos casos envolvendo infratores, os princípios da Administração Pública são desrespeitados, contudo, se fossem observados a rigor, muitos casos de negligência, seja por ação ou omissão, seriam evitados, consequentemente a criminalidade em nosso país teria um baixo índice, a inserção de adolescentes seria mínima, pois as garantias individuais e direitos coletivos seriam-nos assegurados; desta maneira, a desigualdade social e as problemáticas que a mesma acarreta seriam extintas.

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3. VIOLAÇÃO AO DIREITO FUNDAMENTAL À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA NO QUE PESE AOS INFRATORES

É de fundamental importância atentarmos para a negligência estatal no que pese aos infratores. O descaso16 por parte da Administração Pública em relação à

efetivação dos direitos e garantias constitucionais desses adolescentes é de extrema preocupação.

Em razão da negligência estatal, muitos casos envolvendo infratores acabam ocorrendo dentro de presídios onde tais adolescentes não deveriam estar, todavia, em razão da omissão, negligência e imprudência da Administração Pública, casos como os mencionados posteriormente em nossa monografia, acabam afetado sobremaneira a vida de adolescentes envolvidos com a criminalidade.

É justamente por razão dessa negligência, na maioria dos casos, que se reflete a incidência dos adolescentes neste âmbito, pela precariedade e marginalização17 em que vivem.

Diversos aspectos são levados em consideração, tanto após estarem sob o cumprimento das medidas socioeducativas como antes disto.

As causas são inúmeras para que o índice de adolescentes supere ano após ano, uma vez que o meio em que vivem a maioria desses jovens corresponde a lugares totalmente sem perspectiva de crescimento e autoafirmação enquanto cidadãos.

Enquanto seus direitos básicos são infringidos, tais como: educação, saúde, lazer, esporte etc, garantias estas que o Estado e a família, em conjunto, deveriam garantir sua efetivação.

Muito embora os Direitos Sociais e Fundamentais sejam previstos como garantias básicas, fogem bastante da realidade do povo brasileiro, precipuamente os mais prejudicados são crianças e adolescentes, indivíduos ainda em desenvolvimento e que, com essa violação, acabam tendo a dignidade ferida, sendo lançados, em

16 SCARELLI, Carolina Bonilha. NESPOLI, Juliana Santos. OLIVEIRA, Juliene Aglio de. Adolescente autor de ato

infracional e as medidas sócio-educativas: Penalidades ou Reintegração Social. P 2

17 SCARELLI, Carolina Bonilha. NESPOLI, Juliana Santos. OLIVEIRA, Juliene Aglio de. Adolescente autor de ato

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virtude disso, às margens da sociedade e, por consequência, no mundo da criminalidade.

É de maneira negligente que este grupo de indivíduos sempre foram vistos, mesmo após um grande avanço jurídico, no que pese a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Por meio da historiografia sociojurídica conseguimos chegar à conclusão de que as crianças e adolescentes sempre foram vítimas da negligência, seja estatal e/ou familiar, sempre foram alvo de violência e opressão18.

Muito embora tenhamos avançado, ainda é perceptível o descaso e negligência, principalmente por parte da Administração Pública; a proteção a esses jovens deve ser uma luta constante, a fim de que a realidade das crianças e adolescentes mude efetivamente.

18 VERONSE, Josiane RosePetry. LIMA, Fernanda da Silva. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

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4. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS MEIOS PROTETIVOS ÀS CRIANÇAS E ADOLESCENTES.

O Estatuto da Criança e do Adolescente diz respeito ao agrupamento de leis que visa resguardar direitos, garantias e deveres dos adolescentes. É necessário que nossas crianças tenham um futuro garantido, é por meio da ação conjunta da família, da sociedade e do poder público que nossas crianças e adolescentes poderão chegar à fase adulta.

A denominação adolescente surgiu no período da Revolução Industrial, com o objetivo de fazer adiar o ingresso dos jovens no mercado de trabalho, uma vez que, neste período, o desemprego estava em um nível elevado; antes disto, havia distinção apenas entre crianças e adultos.

O objetivo maior era preparar tais adolescentes para o mercado de trabalho posteriormente, isto fez com que os jovens adolescentes que estavam à margem da sociedade, causada pela desigualdade social, ficassem mais propensos à ociosidade e, por conseguinte, ao vandalismo19.

Por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente é que temos a doutrina da proteção integral, esquecendo-se com isto, de uma doutrina irregular consubstanciada pelo Código de Menores, que abrangia menores em casos de abandono, com desvio de conduta, os que praticavam algum ato infracional e ainda aqueles que não tinham assistência ou representação legal20.

Frisemos ainda que no ano de 1941 que surgiu, criado pelo decreto lei nº 6.865 o SAM – Serviço de Assistência do Menor junto ao Ministério da Justiça; criado no governo de Getúlio Vargas, seu principal objetivo era atender adolescentes delinquentes, recuperando-os à sociedade, correspondia a um sistema penitenciário exclusivo para menores, até então assim denominados, contudo foi alvo de críticas pelo fato de não haver a real eficiência a que se dispôs tal instituição.

A proteção dada à crianças e adolescentes decorre pelo contexto histórico em virtude do trabalho infantil que existia no Brasil, para evitar isto medidas foram tomadas, afim de resguardá-las; foi com a criação da Consolidação das Leis

19 ABREU, Ana Luiza de. CALAIS, Lara Brum de. Redução da Maioridade Penal: Punição e Marginalização da

Juventude.

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Trabalhistas que houve uma melhor proteção e proibição ao trabalho infantil, que era fruto do Brasil Colônia e Império, onde a escravidão predominava e homens, mulheres e crianças eram vistos como coisas.

Anos passaram-se e a imagem da criança sempre foi controvertida, confusa, mesmo com o surgimento da indústria o papel infantil na sociedade continuou obscuro e perceptível era ainda o trabalho infantil

As profundas modificações na sociedade industrial trouxeram novos papéis à criança, definidos pela sua origem social. As crianças de famílias de trabalhadores eram lançadas como força de trabalho, acompanhando todos

osmembros de sua família21.

Com a preocupação de que os adolescentes tivessem acesso à vida adulta de forma serena e com seus direitos assegurados, é que surgiu o Estatuto da Criança e do Adolescente. Em 1990 foi promulgado tal estatuto e que abarca todas as pessoas até aos seus dezoito anos; com 0 a 12 anos considera-se criança e dos 12 aos 18 adolescente.

Historicamente a Constituição Federal objetivava apenas punir os agora denominados infratores, porém, com a vigência da Constituição de 1988, tivemos o cenário modificado, pois alertou-se para o fato de que os mesmos deveriam ser resguardados, a iniciar pelos direitos fundamentais previstos em nossa Constituição. A promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente nada mais é que um avanço de grande relevância na garantia dos deveres de nossos jovens.

Ressalta-se ainda que como forma de punição, até a década de 1920, os ainda chamados menores, eram reclusos em cadeias comuns a todos, então surge, em 12 de outubro de 1927 o Código de Menores, que visava precisamente resguardar a dignidade dessas crianças e adolescentes protegê-lo de medidas incabíveis como essa, inclusive onde houve a previsão da menor idade penal, em que quem possuísse menos de 18 anos de idade são considerados inimputáveis penalmente, e mesmo sendo uma lei revogada, a inimputabilidade se estende até os dias atuais em nosso país.

21 ABREU, Waldir Ferreira, O Trabalho de Socialização de Meninos de Rua em Belém do Pará: Um Estudo sobre

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Os direitos da criança existem desde a sua concepção, por isso que o Estado deve, através do SUS auxiliar a mãe e a criança. É a partir da concepção que seus direitos já lhes são garantidos e seus deveres também.

Temos ainda a figura do Conselho Tutelar, este tem como competência acompanhar casos envolvendo crianças e adolescentes que têm suas vidas e direitos infringidos. Além da Justiça da Infância e Juventude, que acompanha casos de adoção.

Frisa-se que os que possuem de zero a doze anos não são passíveis de cumprirem medidas socioeducativas, pois ainda são considerados crianças, para estes são destinadas as medidas de proteção22.

Unido aos direitos e garantias elencados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, ele traz ainda o instituto da Medida Socioeducativa; este tipo de medida é para cumprimento por intermédio dos adolescentes, aqueles que possuem de doze a dezoito anos de idade; ao cometerem ato semelhante a um crime, dizemos que houve o cometimento de um ato infracional; serão portanto aplicadas as medidas socioeducativas para estes adolescentes infratores.

22 ABREU, Waldir Ferreira, O Trabalho de Socialização de Meninos de Rua em Belém do Pará: Um Estudo sobre

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5. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Hodiernamente, a legislação especial das crianças e Adolescentes corresponde ao Estatuto da Criança e do Adolescente; aqui temos a previsão de direitos e deveres que precisam ser resguardados a estes infratores.

Seguindo o entendimento do previsto na Constituição Federal, em seu artigo 227 que prevê inúmeras garantias, o ECA veio para fundamentar mais ainda tais direitos.

Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

A promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente surgiu como uma quebra de pensamentos que perduravam por décadas, o que causou grande impacto social. Adotou-se a Doutrina das Nações Unidas para a Proteção dos Direitos da Infância23.

Agora os adolescentes infratores são vistos como sujeitos possuidores de garantias e direitos que devem ser respeitados, não violados mas resguardados, atentando-se para sua condição especial como indivíduo em desenvolvimento.

Com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente foi abolido, a imagem coisificada do “menor” foi extinta, além disto também houve a extinção do termo “menor” e lhes foi assegurado direitos e garantias, sendo reconhecidos a partir de então como crianças e adolescentes24.

Com isto, não se deixa o adolescente infrator sem uma medida punitiva, querendo ou não o infanto-juvenil é responsabilizado, averiguando-se contudo sua idade e visando não apenas um caráter coercitivo mas, sobretudo ressocializador,

23 FRANCISCHINI, Rosângela. CAMPOS, Ricardo Herculano. Adolescente em conflito com a lei e medidas

socioeducativas: Limites e (im)possibilidades. P 2

24 ABREU, Ana Luiza. CALAIS, Lara Brum de. Redução da Maioridade Penal: Punição e Marginalização da

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visando compreender qual motivo o levou a prática do ato infracional, reeducando o mesmo e apontando um caminho melhor a se seguir.

Diante da vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente e outras políticas sociais ligadas às crianças e adolescentes, foi perceptível o avanço no seio das garantias dos direitos dos infratores brasileiros; todavia, é necessário que ainda haja um aperfeiçoamento, não apenas no amparo legal, como também na consciência social e da própria Administração Pública, visando que os mais marginalizados e atingidos pela desigualdade não tenham seus direitos infringidos25.

5.1 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

São medidas que visam tratar pedagogicamente com infratores, levando-se em condição a vulnerabilidade dessas crianças e adolescentes26. Ligada a esta

vulnerabilidade está intimamente ligada a ideia de que estes estão são considerados pessoas em desenvolvimento, por isso precisam ser tutelados de forma distinta, pela peculiaridade da sua identidade e, ao mesmo tempo, não os eximindo da responsabilidade27.

Para tanto, com o Estatuto da Criança e do Adolescente, estamos diante da previsão de que com as medidas socioeducativas, por meio do qual os infratores serão responsabilizados de maneira distinta, levando em consideração o aspecto biopsicológico28.

Medidas socioeducativas são medidas aplicáveis aos infratores, aqueles que, por terem idade inferior a 18 e superior a 12 anos, e em uma excepcionalidade casos que envolvam indivíduos com menos de 21 anos, como discorre o artigo 2° do Estatuto da Criança e do Adolescente; portanto, não concorrem as mesmas penas que um adulto poderá cumprir.

25 ABREU, Ana Luiza. CALAIS, Lara Brum de. Redução da Maioridade Penal: Punição e Marginalização da

Juventude. P 5

26 VERONSE, Josiane RosePetry. LIMA, Fernanda da Silva. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

(SINASE): breves considerações. P 1

27 FRANCISCHINI, Rosângela. CAMPOS, Ricardo Herculano. Adolescente em conflito com a lei e medidas

socioeducativas: Limites e (im)possibilidades. P 3

28 SANTOS, Fernando Avilla dos. As Medidas Socioeducativas e a Responsabilidade da sociedade frente à

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O Estatuto dispõe ainda que ao haver o cometimento de um ato infracional aplicar-se-á ao adolescente infrator medida socioeducativa disposta no Estatuto da Criança e do Adolescente29; contudo deve-se sempre levar em consideração que o

adolescente está em fase de desenvolvimento, e a medida socioeducativa visa ressocializar e evitar uma possível reincidência30.

Além de um viés um tanto quanto sancionatório, as medidas socioeducativas, primordialmente, surgem no momento é em que se verifica que há uma violação aos direitos de crianças e adolescentes; quando estas são postas em situações de vulnerabilidade, risco, o Estatuto da Criança e do Adolescente surge para resguardá-las, suas vidas e suas garantias individuais.

Diferentemente das penas aplicáveis a um adulto, as medidas socioeducativas, como próprio nome já sugere, corresponde a maneiras de reeducar o adolescente que porventura cometam um ato infracional e, ao mesmo tempo, puni-lo, muito embora o maior objetivo seja o de recuperar este adolescente que porventura esteja se envolvendo na criminalidade.

Estas medidas socioeducativas existem tendo em vista a inimputabilidade do infrator, além de objetivar fortalecer a relação no âmbito familiar, pois é neste seio que por diversas vezes se encontra o motivo da fragilidade e vulnerabilidade dos mesmos, tendo em vista a necessidade deste fortalecimento afetivo, a priori, o ECA prevê

Art. 101- Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I- encaminhamento aos pais ou responsáveis, mediante termo de responsabilidade; II- orientação, apoio e acompanhamento temporários; III- matricula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV- inclusão em programa comunitário ou oficial de auxilio a família, à criança e ao adolescente; V requisição de tratamento medico, psicológico ou psiquiátrico em regime hospitalar ou ambulatorial; VI- inclusão em programa oficial ou comunitário de auxilio, orientação ou tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII- acolhimento institucional; VIII- inclusão em programa de acolhimento familiar; colocação em família substituta.

29 Artigo 112. Estatuto da Criança e do Adolescente.

30 SANTOS, Fernando Avilla dos. As Medidas Socioeducativas e a Responsabilidade da sociedade frente à

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De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, as medidas socioeducativas e de proteção, apesar de terem sim um escopo sancionador, possuem acima de tudo, de caráter psicopedagógico e ressocializador.

O ato infracional é visto como uma transgressão a um dever jurídico que deve ser observado por todos, todavia, por ser infringido por um adolescente não será considerado não como crime, por isso não serão responsabilizados penalmente31.

Por não serem passiveis de penalizações penais, aplicam-se as Medidas Socioeducativas aos adolescentes infratores. As medidas previstas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente se perfazem em formas distintas, são elas: Advertência, Obrigação de reparar o dano, Prestação de serviços à comunidade, Liberdade Assistida, Regime semiaberto de liberdade e a Internação.

Vale frisar que as medidas socioeducativas que perfazem-se em liberdade ou restrição de liberdade, precisam fundamentar-se em um trinômio, a saber: liberdade, respeito e dignidade. Já a medida que aplica a restrição de liberdade deve atender ao caráter pedagógico, tão somente, e jamais deve ser punitivo32.

A Advertência está disposta no artigo 115 do Estatuto da Criança e do Adolescente, como o próprio nome aduz, diz respeito a apenas uma advertência que, por sua vez, que será reduzida e assinada a termo.

Corresponde à medida mais branda, nada mais é que um chamamento ao infrator, este será exortado pelo agente público previamente estabelecido para uma demanda desta espécie.

É medida aplicável nos casos em que o adolescente não tem histórico de cometimento de atos infracionais, para tanto e por isto, a medida a ser utilizada é a de advertência, não se eximindo sua extrema importância, em virtude do vislumbre de que, por intermédio dela, o infrator seja conscientizado pedagogicamente e não comete qualquer espécie de ato infracional.

Já na sessão III do Estatuto, no artigo 116 temos a medida socioeducativa denominada como Obrigação de Reparar o Dano, tal medida trata acerca dos atos infracionais que porventura atinjam patrimônio de terceiros, neste caso o adolescente

31 FRANCISCHINI, Rosângela. CAMPOS, Ricardo Herculano. Adolescente em conflito com a lei e medidas

socioeducativas: Limites e (im)possibilidades. P 2

32 VERONSE, Josiane RosePetry. LIMA, Fernanda da Silva. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

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deverá restituir o bem que foi violado, caso não seja possível a restituição, lhe será imputada a obrigação de compensar o prejuízo causado a vítima de outra forma, mas sem que lhe deixe inadimplente; apenas em casos excepcionais em que o infrator não tenha como arcar com a restituição ou compensação, lhe será aplicada outra medida adequada.

Outra medida socioeducativa prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente é a Prestação de Serviços à Comunidade, neste caso o infrator irá prestar serviços gratuitos em determinado departamento, área ou localidade, como escolas, hospitais etc, mas que beneficie a comunidade em geral.

O período dessa prestação de serviços pode chegar ao lapso temporal de seis meses, sendo a prestação realizada em oito horas semanais, distribuídas de modo que não interfira nem prejudique sua ida à escola ou o seu trabalho normal, nunca sendo expostos à humilhações, pois o caráter pedagógico das medidas visa resguardar e promover a cidadania.

Liberdade Assistida, por sua vez, diz respeito ao meio mais eficiente para se acompanhar o adolescente infrator, auxiliar e também dar orientações. Este acompanhamento será designado pelo juiz, que outorgará essa função a uma entidade própria para esse tipo de acompanhamento, com profissionais especializados para tal.

Um exemplo dessas entidades ou programas de atendimento é o Centro de Referência Especializado em Assistência Social, o comumente reconhecido pela sigla CREAS; o CREAS dispões de uma equipe técnica formada por psicopedagogo, assistente social, psicólogo e advogado, todos esses profissionais trabalham conjuntamente, para averiguar as deficiências, os possíveis transtornos psicológicos, procurando compreender melhor e ajudar esses infratores a recuperarem sua dignidade.

Não apenas acompanham, como orientam, a fim de que se resgate esse adolescente para que não se envolva mais em outros atos infracionais. O CREAS atua em situações de maior vulnerabilidade e risco, pois contexto em que estão inseridos

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os adolescentes que são acompanhados diz respeito justamente a um ambiente por vezes violento e com a violação de direitos presente33.

A implantação do CREAS desencadeou-se através de um momento em que o Brasil passou por transformações políticas, quando houve a aprovação da Lei Orgânica de Assistência Social em 1993; havia justamente a preocupação de se estruturar institucionalmente no âmbito da assistência social, para que se efetivasse realmente uma política de garantias. E em 2004 surge o Sistema Único de Assistência Social, possibilitando uma melhor organização34.

Por conseguinte, no ano de 2011, a Lei 12.435 modifica alguns aspectos do LOAS em vigência, trazendo em seu escopo significativas mudanças, de modo que havia concordância com as Diretrizes da Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004), que intrínseco a este havia a previsão da Resolução n° 109 de 11 de Novembro de 2009, denominado de “Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais”, onde há a previsão das garantias de nossos direitos35.

Outrossim, neste cenário de garantias e respeito aos nossos direitos, em especial à proteção aos adolescentes, temos ainda a medida socioeducativa denominada Liberdade Assistida, que nada mais é que uma forma de acompanhamento profissional para, acima de qualquer outra motivação, compreender o infrator e ajuda-lo a reinserir-se comunitariamente de modo cidadão, e não cometendo outros atos infracionais.

É preciso ressaltar que muitos Centros Especializados como o CREAS ou qualquer outro programa de atendimento possui muitas limitações, aqui se encontra um outro fator que incapacita os profissionais a desenvolverem um trabalho perspicaz e efetivo; nos deparamos, principal e infelizmente, com uma segurança eficaz no meio em que estes jovens vivem, pois muito embora os profissionais ajam de modo eficiente, ao saírem do acompanhamento, os infratores encontram, na maioria das vezes, o mesmo ambiente em que estavam imersos ao cometerem o ato infracional.

Diante disto, temos a questão da segurança pública, este tem sido um dos fatores que mais influencia o aumento da criminalidade, em virtude da falta de

33 PENNA, Priscila Souza Vicente. Responsabilidade Jurídica e Responsabilidade Subjetiva – A questão dos

adolescentes autores de ato infracional. P 3

34 PENNA, Priscila Souza Vicente. Responsabilidade Jurídica e Responsabilidade Subjetiva – A questão dos

adolescentes autores de ato infracional. P 3

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segurança, o que acaba originando ambientes propícios para a efetivação e dominação do tráfico nas áreas mais marginais das grandes cidades.

Outrossim, esta realidade não se limita apenas aos grandes centros urbanos, corriqueiramente vemos que cidades interioranas também têm sido afetadas pelo tráfico. Onde existem crianças e adolescentes ociosos, sem perspectiva de crescimento na vida e falta de segurança gera constantemente jovens no mundo do crime.

Outra medida socioeducativa é o Regime Semiaberto; no casos de Regime Semiaberto ou de semiliberdade, por assim dizer, acontece quando o adolescente infrator é locado em determinada unidade especializada para cumprir a medida, não influindo em suas atividades externas, porém devendo-se resguardar que o mesmo estude e labore, obrigatoriamente; em alguns casos específicos, poderá até passar o fim de semana em família, desde que seja autorizado pela autoridade competente.

E, por fim, temos a medida socioeducativa denominada Internação, como o nome já prevê, corresponde a privação de liberdade, contudo não poderá, de forma alguma, ser cumprida em estabelecimento prisional, caso não haja na localidade, que seja transferido para um local mais próximo e, ainda que este também inexista, será posto em estabelecimento policial, resguardando-se que fique em ambiente isolado e distinto dos adultos, neste caso poderá permanecer pelo período de apenas cinco dias, tendo em vista ser uma excepcionalidade emergencial.

A medida de Internação poderá perdurar pelo período de três anos, após cumprir esse tempo máximo, o infrator será destinado à medida de semiliberdade ou de liberdade assistida; chegando aos 21 anos de idade, se desvinculará da medida de maneira compulsória, ouvido o Ministério Público e desligando-se por intermédio de medida judicial.

Portanto, as medidas socioeducativas são frutos de um rito especial que se transcorre diante da aferição de um ato infracional, tramite este que se desencadeia no Juizado da Infância e da Juventude36.

6. FATORES QUE INFLUENCIAM O ADOLESCENTE AO ATO INFRACIONAL

36 SANTOS, Fernando Avilla dos. As Medidas Socioeducativas e a Responsabilidade da sociedade frente à

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A abordagem de infratores tem sido um dos assuntos mais problemáticos na seara de direitos de adolescentes, o Estatuto da Criança e do Adolescente discorre acerca de todas as medidas socioeducativas, como também a forma de abordagem dos infratores, respeitando-lhes a integridade física e psicológica, tendo em vista que ainda estão em construção de suas vidas, construindo pensamentos e amadurecendo humanamente falando.

Incorre ressaltar que eles, os adolescentes infratores, são atraídos por diversos fatores que influenciam a entrada de no mundo do crime, ressaltamos dentre eles o tráfico de drogas, o principal atrativo para eles, sobretudo pela facilidade de se conseguir algum lucro com isto; as drogas são a porta de entrada para o mundo do crime37.

Um dos motivos para que crianças e adolescentes se sujeitem a isto também é a questão da idade e a ausência de punição aos mesmos. Este é o fator primordial e têm sido uma consequência social, precipuamente pelo meio em que estes jovens estão inseridos socialmente falando.

Contudo, sabemos que não há que se falar em punição para crianças e adolescentes, aqueles terão de enfrentar uma medida educativa, já estes é quem poderão, porventura, enfrentar uma medida socioeducativa.

No que pese as medidas socioeducativas é que se centraliza a problemática da questão da negligência estatal, precipuamente pela forma como os adolescentes são abordados, aqui reside toda a problemática.

A respeito do ingresso por parte de ao mundo do crime, é possível averiguar-se que o número de prisões de adolescentes têm averiguar-se tornado cada vez mais frequente e, outrossim, por vezes em número maior que a apreensão de adultos.

Isto também influi totalmente na questão da abordagem, o número de jovens infratores cria revolta também na sociedade, inúmeros cidadãos defendem que a maior idade penal deve decair, a fim de que estes adolescentes sejam punidos a rigor. Temos verificado alguns motivos para estes dados estarem em crescente desenvolvimento, dentre inúmeras causas temos, antes de qualquer outro, o fator familiar; a família é a base de toda a sociedade, se temos uma família desestruturada,

37 SCARELI, Carolina Bonilha. NESPOLI, Juliana Santos. OLIVEIRA, Juliene Aglio de. Adolescente autor de ato

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sem afeto, sem diálogo, sem educar seus filhos, teremos consequentemente crianças e adolescentes despreparados, negligenciados e mais propícios a se envolverem com as drogas ou qualquer outra espécie de fator negativo para sua conduta.

O seio familiar é razão principal para se resguardarem neste meio, a fim de suprir uma falta que sua família deveria atuar; além destas negligências, os conflitos dentro do lar, entre seus pais, abusos sexuais, violência doméstica, vícios, tudo isso afeta o psicológico do adolescente e lhe torna mais vulnerável a caminhar por caminhos tortuosos.

Outro fator é o econômico, tendo em vista a falta de oportunidade, a situação de miserabilidade em que vive, encontra nas drogas um refúgio não apenas psicológico mas também como uma forma mais fácil de obter seu próprio sustento e de se reafirmar perante o meio em que vive38.

Em virtude da desigualdade social é que muitos adolescentes estão à margem da sociedade, os tornando mais vulneráveis, ligando-os a diversos fatores além da discrepância da desigualdade da má distribuição de renda, tem-se ainda a violência, além da educação de má qualidade etc39.

Podemos citar ainda a influência dos amigos, mesmo que não viva em situação de marginalidade, esse é um motivo de grande relevância.

Ainda temos a falta de posicionamento escolar e a falta de acompanhamento por parte desta, de medidas que conscientizem seus alunos, de medidas de segurança dentro da própria escola que, por vezes, não impõem limites aos seus alunos; além de tudo as escolas públicas estão cada vez menos despreparadas.

Sem incentivo governamental, os próprios educadores estão desestimulados, sem motivação alguma para laborar, o que influencia totalmente na construção do saber e da conscientização de seus alunos, sendo estes os papeis fundamentais das escolas, como sendo formadores de opinião e de cidadãos conscientes e de bem.

É fator relevante pela negligência do Estado, quanto às frágeis medidas socioeducativas, falta de políticas públicas para que esclareçam e efetivem que não compensa um indivíduo, sobretudo crianças e adolescentes, adentrar nessa vida.

38 SCARELI, Carolina Bonilha. NESPOLI, Juliana Santos. OLIVEIRA, Juliene Aglio de. Adolescente autor de ato

infracional e as medidas sócio-educativas: penalidade ou reintegração social? P 3

39 SCARELI, Carolina Bonilha. NESPOLI, Juliana Santos. OLIVEIRA, Juliene Aglio de. Adolescente autor de ato

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Observa-se que o meio em que muitos vivem influenciam à inserção dos mesmos na criminalidade, todavia, se houvessem medidas governamentais e mais efetivação do poder público em resguardar tais crianças e adolescentes, se houvesse aplicação de políticas públicas, se o sistema socioeducativo e de segurança cumprisse realmente com o papel que lhe compete, veríamos que este quadro se reverteria.

O quadro de marginalidade, miserabilidade, inconformismo, falta de oportunidades e infraestrutura educacional é o quadro que descreve a vida de muitos adolescentes que resolvem viver para o crime; são crianças e adolescentes que foram esquecidos pelo poder público, são afetados pela ausência moral, social e, por que não dizer: afetiva, no contexto familiar, pois é perceptível as semelhanças no seio da família destes adolescentes40.

O artigo 4° do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê que a responsabilidade de assegurar, vale ressaltar, com prioridade, cabe à família, a sociedade como um todo e a Administração Pública à efetivação dos direitos de nossas crianças e adolescentes; se esse texto legal fosse devidamente posto em prática, lhes seria garantidos os direitos à vida, saúde, alimentação, educação, esporte, lazer, profissão, cultura, dignidade, respeito, e não só isso, como também liberdade, convivência harmoniosa em família e em comunidade41.

Ao observarmos o dispositivo supracitado vemos quão frágil e desajeitada é a realidade de nossas crianças e adolescentes; quão desrespeitada é a letra da lei de nosso país; quão negligente é a nossa confederação; quão desrespeitoso é o sistema em que estamos inseridos e como isto tem se refletido de forma tão drástica e infeliz na nossa realidade social.

Não obstante, a negligência que abarca nossos adolescentes, quando uma medida socioeducativa lhes é aplicada, por vezes vemos quão infrutífera é tal medida; por exemplo, um juiz encaminha o infrator a um Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), entidade da Administração Indireta, o mesmo é acompanhado por cerca de três a seis meses e logo após volta para às mesmas

40 SCARELI, Carolina Bonilha. NESPOLI, Juliana Santos. OLIVEIRA, Juliene Aglio de. Adolescente autor de ato

infracional e as medidas sócio-educativas: penalidade ou reintegração social? P 3

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práticas que outrora cometia, justamente por não lhe ser assegurado o disposto no artigo supramencionado.

Ao mesmo tempo, com isto, percebemos quão inoperante são estas medidas socioeducativas, que ao invés de ressocializar são usadas como um meio paliativo, em nada mudando a realidade desses adolescentes, pois a medida por si só não produz o efeito desejado, se não houver a colaboração do aparelho estatal no cumprimento de suas demais obrigações enquanto Administração Pública.

A medida socioeducativa por vezes não tem causado efeito algum, visto que a realidade continua a mesma, não adianta a punição se logo após o meio em que se vive e a omissão da família e do Estado continuam em efetiva prática.

Não adianta irmos a academia e continuarmos nos alimentando exageradamente e sem acompanhamento nutricional, é o mesmo que acontece nesses casos; não adianta uma medida socioeducativa se o meio em que estão inseridos esses jovens continua o mesmo, mesmas práticas, mesmas negligências, mesma ociosidade etc.

Famílias e Estado conjuntamente se omitem, e neste espectro formamos jovens psicologicamente abalados, negligentes, marginalizados, inconformados e cada dia mais escravos da criminalização. Por isso o mundo da criminalidade chama tanta atenção deles, as drogas correspondem ao principal alvo desses adolescentes, depois disso percorrem caminhos cada vez mais tortuosos.

Infelizmente esta tem sido uma realidade visível em nosso país, encontramos casos em que, além de serem violados em tantos vários aspectos, até nas medidas socioeducativas lhes são negligentes.

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7. VIOLAÇÃO ÀS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Como exemplo de casos de negligência, podemos citar um caso que ocorreu no ano de 2007, quando uma adolescente foi presa em uma cela com 30 homens no Estado do Pará, durante o lapso temporal de 26 dias; a adolescente, com 15 anos de idade quando o fato ocorreu, foi torturada e violentada sexualmente. Hodiernamente ela abandonou os estudos, não tem perspectiva de vida, é usuária de drogas e teme por sua vida.

A juíza que acompanhou o caso da menina foi punida pelo Conselho Nacional de Justiça42; a punição fora uma pena de aposentadoria compulsória; foi alegado que

a juíza não estava a par da real situação da, porém, lhe foi encaminhado um ofício em caráter de urgência, contudo, a mesma só averiguou o mesmo duas semanas após o recebimento do pedido, que estava frisado como sendo de urgência, e com o pedido que a adolescente fosse encaminhada para um estabelecimento prisional adequado para ela.

A adolescente foi apreendida por um furto de celular, além de ter três passagens pela polícia, sendo autuada em flagrante, contudo, sua idade não foi auferida no caso em que se transcorreu sua prisão com 30 homens.

A mesma já possuía todo um histórico de envolvimento no mundo do crime e, após sua passagem pela prisão, em cela com homens, revoltou-se mais ainda.

A negligência por parte do Estado assegura sua total responsabilidade frente ao caso, agentes omissos em todos os aspectos, quer seja: família, juízes, policiais, delegados, dentre tantos envolvidos.

Casos como este externam a vulnerabilidade do meio em que estamos inseridos; um fato como este, em que a adolescente foi colocada em uma cela com vários homens, sobretudo nesta quantidade, fere totalmente sua dignidade, além de

42 Diante do teor de ofício, de gravidade evidente, em que o dano vivenciado pela presa, do sexo feminino –

sendo após que se constatava menor de idade – era de clareza meridiana, sem dúvidas as providências cabíveis exigiam Num 2041705 – pág. 4 proatividade por parte do Magistrado responsável, no caso a Dra. Clarice. [...] No entanto, reza o artigo 35 da LOMAN, em especial os incisos I e III, sem chance de dúvida, o dever do Magistrado, no exercício da judicatura, em atuar de forma atenta e empenhada, diligente mesmo, e com a capacidade de identificar o que se trata de situação emergencial, portanto a demandar medidas céleres, entre aquelas no cotidiano do dia-a-dia forense. [...]

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