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Como exemplo de casos de negligência, podemos citar um caso que ocorreu no ano de 2007, quando uma adolescente foi presa em uma cela com 30 homens no Estado do Pará, durante o lapso temporal de 26 dias; a adolescente, com 15 anos de idade quando o fato ocorreu, foi torturada e violentada sexualmente. Hodiernamente ela abandonou os estudos, não tem perspectiva de vida, é usuária de drogas e teme por sua vida.

A juíza que acompanhou o caso da menina foi punida pelo Conselho Nacional de Justiça42; a punição fora uma pena de aposentadoria compulsória; foi alegado que

a juíza não estava a par da real situação da, porém, lhe foi encaminhado um ofício em caráter de urgência, contudo, a mesma só averiguou o mesmo duas semanas após o recebimento do pedido, que estava frisado como sendo de urgência, e com o pedido que a adolescente fosse encaminhada para um estabelecimento prisional adequado para ela.

A adolescente foi apreendida por um furto de celular, além de ter três passagens pela polícia, sendo autuada em flagrante, contudo, sua idade não foi auferida no caso em que se transcorreu sua prisão com 30 homens.

A mesma já possuía todo um histórico de envolvimento no mundo do crime e, após sua passagem pela prisão, em cela com homens, revoltou-se mais ainda.

A negligência por parte do Estado assegura sua total responsabilidade frente ao caso, agentes omissos em todos os aspectos, quer seja: família, juízes, policiais, delegados, dentre tantos envolvidos.

Casos como este externam a vulnerabilidade do meio em que estamos inseridos; um fato como este, em que a adolescente foi colocada em uma cela com vários homens, sobretudo nesta quantidade, fere totalmente sua dignidade, além de

42 Diante do teor de ofício, de gravidade evidente, em que o dano vivenciado pela presa, do sexo feminino –

sendo após que se constatava menor de idade – era de clareza meridiana, sem dúvidas as providências cabíveis exigiam Num 2041705 – pág. 4 proatividade por parte do Magistrado responsável, no caso a Dra. Clarice. [...] No entanto, reza o artigo 35 da LOMAN, em especial os incisos I e III, sem chance de dúvida, o dever do Magistrado, no exercício da judicatura, em atuar de forma atenta e empenhada, diligente mesmo, e com a capacidade de identificar o que se trata de situação emergencial, portanto a demandar medidas céleres, entre aquelas no cotidiano do dia-a-dia forense. [...]

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ser previsto no Estatuto da Criança e do adolescente, há ainda jurisprudência43 do

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, consubstanciando o entendimento de que não pode haver esse tipo de internação44 de infrator junto com apenados.

A primeiro momento, ao ter sido autuada deveriam ter averiguado a idade da adolescente, para ser encaminhada à autoridade policial competente, especializada em atendimento de jovens e adolescentes infratores. E ainda ressalta-se que, em casos que não envolva violência, a lavratura do auto poderia ser substituído por um boletim de ocorrência.

Logo após este processo, chamar-se-ia um adulto responsável pelo mesmo e seria o infrator encaminhado ao Ministério Público para que assim se processasse os demais atos compatíveis a casos que envolvam crianças e adolescentes, caso não haja atendimento especializado, este se dará pela polícia, em casos em que ficará recluso, deve ficar em lugar diverso dos adultos.

Sempre levando em consideração a forma como se é tratado, para não influir em seu psicológico, nem fisicamente, nem atentar contra sua dignidade de qualquer forma.

43TJ-MA - APELAÇÃO CÍVEL AC 91072006 MA (TJ-MA). Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE. REEDUCAÇÃO E PROTEÇÃO DO MENOR INFRATOR. ADOLESCENTE. CONDIÇÃO ESPECIAL DE DESENVOLVIMENTO. ATO INFRACIONAL. DESCUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIO-EDUCATIVA. DETENÇÃO. RECOLHIMENTO EM CELA COM PRESOS COMUNS. IMPOSSIBILIDADE. AUTORIA. VALIDADE DOS DEPOIMENTOS DE POLICIAIS. RECURSO DESPROVIDO. I - O Estatuto da Criança e do Adolescente, como curial, tem como principal finalidade reeducar e conferir proteção ao menor infrator, sem, contudo, deixar de puni-lo quando pratica infrações penais, nunca perdendo de vista, entretanto, que se trata de pessoa em condição peculiar de desenvolvimento. II - Em que pese ter descumprido determinação judicial, o adolescente não pode permanecer detido em local diverso ao destinado exclusivamente a ele, muito menos em estabelecimento prisional

destinado a presos comuns.

44 TJ-MG - Habeas Corpus HC 10000130099641000 MG (TJ-MG). Data de publicação: 21/03/2013

Ementa: HABEAS CORPUS - ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS - AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO - NÃO OCORRÊNCIA - LAUDO DEFINITIVO NÃO JUNTADO - MERA IRREGULARIDADE - INSTRUÇÃO NÃO ENCERRADA - LAUDO QUE PODE SER JUNTADO ATÉ ANTES DA SENTENÇA - MENOR EM CADEIA PÚBLICA - ILEGALIDADE - NÃO OCORRÊNCIA - LOCAL SEPARADO PARA MENORES - IMPOSIÇÃO DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA - PRESENTES OS REQUISITOS À CUSTÓDIA CAUTELAR - PRIMARIEDADE, BONS ANTECEDENTES, RESIDÊNCIA FIXA E OCUPAÇÃO LÍCITA - PERICULOSIDADE NÃO AFASTADA. - Se a

representação narra fatos análogos ao crime de tráfico de drogas, havendo, inclusive, indícios da destinação da droga, não há que se falar em ausência de justa causa para a ação. - Para fins de oferecimento da

representação penal e da manutenção do acautelamento provisório do menor basta a existência do laudo preliminar de constatação da droga, porquanto o laudo definitivo pode ser juntado até a audiência de instrução e julgamento, desde que antes da prolação da sentença. - Se o local onde o menor se encontra acautelado foi adaptado para internação provisória, não se evidencia constrangimento ilegal.

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Depois de ocorrer tudo isso, fica a cargo do Ministério Público averiguar o caso que lhe foi demandado e tomar as medidas cabíveis, quais sejam: arquivamento, remissão ou encaminhamento judicial para que seja aplicada medida socioeducativa.

Nada disto tendo ocorrido no momento em que a menina infratora no caso supracitado, muito pelo contrário, a adolescente foi encaminhada a um sistema prisional e posta em uma cela com trinta homens, onde teve sua integridade física e psicológica feridas, desrespeitando totalmente o que discorre o Estatuto da Criança e do Adolescente acerca das medidas socioeducativas que prevê e que caberiam no caso concreto, além de ser entendimento45 pacífico nos tribunais.

Tem-se ainda conhecimento do caso de um menino, com idade de 13 anos de idade, do Piauí, que foi encontrado em uma cela junto com um preso condenado a 18 anos de prisão por estupro de vulnerável na Colônia Agrícola Major César de Oliveira, em Altos, região metropolitana de Teresina. O caso foi descoberto por agentes penitenciários que verificaram que havia um visitante que continuava na colônia.

Em reportagem, o pai do menino alega que levou o seu filho ao presídio pois era “compadre” do apenado e sempre lhe visitava, alegando ainda que não via problema algum em deixar seu filho no presídio junto com seu amigo, mas que agora se arrepende; vale ressaltar que o pai da criança também foi acusado por estupro mas alegou ser inocente. O pai afirmou ainda que: “Foi o menino que pediu para ficar com ele [o preso]. Eu deixei porque no outro dia ia trabalhar lá [no presídio]. Eu não sabia que ele era estuprador”.

45 HABEAS CORPUS HC 234512 DF 2012/0039166-1 (STJ). CONSTITUCIONAL SUBSTITUTIVO DE RECURSO

PRÓPRIO. IMPOSSIBILIDADE. NÃO CONHECIMENTO. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO À TENTATIVA DE ROUBO QUALIFICADO. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE SEMILIBERDADE. MOTIVAÇÃO IDÔNEA. 1. À luz do disposto no art. 105 , I , II e III , da Constituição Federal , esta Corte de Justiça e o Supremo Tribunal Federal não vêm mais admitindo a utilização do habeas corpus como substituto de recurso ordinário, tampouco de recurso especial, nem como sucedâneo da revisão criminal, sob pena de se frustrar a celeridade e desvirtuar a essência desse instrumento constitucional. 2. Entretanto, esse entendimento deve ser mitigado, em situações excepcionais, nas hipóteses em que se detectar flagrante ilegalidade, nulidade absoluta ou teratologia a ser eliminada, situação inocorrente na espécie. 3. A medida de semiliberdade aplicada pela prática de ato infracional análogo ao delito de tentativa de roubo qualificado (art. 157 , § 3º , c/c o art. 14 , inc. II , ambos do CP ) se encontra exaustivamente fundamentada na necessidade de ressocialização do menor que não estuda, usa drogas e possui ambiente familiar instável. Soma-se, a isso, o fato de a conduta sub judice ter sido cometida mediante violência física contra a pessoa. 4. Há, no caso dos autos, elementos concretos que justificam a imposição da medida socioeducativa de semiliberdade adequada para ressocialização e reeducação do paciente. 5. Habeas corpus não conhecido.

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Já a mãe da criança diz que a permanência de seu filho no presídio não era de seu conhecimento e que ele permaneceu lá sem sua autorização. O detento, por sua vez, nega tê-lo estuprado.

O resultado do exame deu negativo, não houve estupro, mas isso não afasta a vulnerabilidade em que o menino se encontrou, muito menos a negligência dos pais e do presídio. Foi aberto um inquérito e observado, ao menos, o concurso de crimes: abandono de incapaz e ato vexatório contra a vítima.

Ouvido pelo conselho tutelar, o menino afirmou ter ficado do presídio a mando de seu próprio pai. O conselheiro Romeu Santos Araújo que ouviu o, afirmou que a criança disse ainda que já havia dormido outras vezes no presídio com sua mãe, quando seu pai estava preso, e que não havia sofrido abuso; todavia, agentes penitenciários afirmaram que o mesmo afirmou que teve suas partes íntimas tocadas, ou seja, indícios de que seria violado sexualmente falando, todavia o ato não se consubstanciou porque os agentes haviam chegado.

As suspeitas de que a permanência do garoto em cela se efetivou a troco de possíveis benefícios auferidos pelo apenado em favor do pai da criança.

A medida tomada pela justiça do Piauí foi a prisão preventiva, tanto do pai como do detento que ficou junto a criança na cela, seu Gilmar Francisco Gomes e José Ribamar Pereira Lima, respectivamente; o pai que estava em regime aberto voltou para o regime fechado.

Houve ainda a retirada do poder de família de quatro filhos do casal, no dia quatro de Outubro, a juíza Maria Luiza de Moura Mello e Freitas, da Infância e Adolescência de Teresina, atendendo o pedido do Conselho Tutelar.

Frente a isto, abriu-se um processo administrativo disciplinar46 onde julgou-se

pela aposentadoria compulsória da juíza que presidiu o caso da menina, em virtude de sua omissão frente a um caso de extrema urgência.

46 Processo Administrativo Disciplinar n° 0000788-29.2009.2.00.0000 - PROCESSO ADMINISTRATIVO

DISCIPLINAR. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ. INFRAÇÕES AOS DEVERES FUNCIONAIS DA MAGISTRATURA. CONFIGURAÇÃO.

I – O Juiz de Direito ao examinar o auto de prisão em flagrante delito torna-se responsável pela prisão levada a efeito bem como pela regularidade do encarceramento do preso.

II – Impossibilidade de manutenção de presa do sexo feminino em carceragem única ocupada por detentos do sexo masculino.

III – Descumprimento do preceito fundamental contido no artigo 5º, inciso XLVIII, da Constituição Federal. IV – Utilização de documento ideologicamente falso com fim de justificar a grave omissão perpetrada. V – Infringência ao artigo, 35, incisos I e III, da LOMAN.

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Diante dos casos vemos quão fragilizado está nosso sistema prisional, nossas leis sem a efetiva prática, crianças e adolescentes que podem ou não estar em situação vulnerável são colocadas em situações de risco, abalando seu psicológico e os tornando cada vez mais fragilizados, tornando-se vítimas de um sistema falido. Outro caso a ser frisado corresponde ao de equiparação a homicídio47 causado por

infratores a outro infrator; ele foi espancado por cinco outros jovens até que chegasse a morte48.

O fato ocorreu em uma unidade do Degase em Belford Roxo, Baixada Fluminense; o motivo causador para o espancamento foi pelo fato dos jovens acreditarem que estaria passando informações acerca deles para a polícia.

VI – Procedência do Procedimento com a aplicação da pena de aposentadoria compulsória, com proventos proporcionais ao tempo de serviço, de acordo com os artigos 28 e 42, V, todos da Lei Complementar nº 35, de 14.03.79.

47 TJ-DF - Apelacao Criminal APR 20130130111354 DF 0010356-92.2013.8.07.0013 (TJ-DF). Ementa: ESTATUTO

DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE . ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DE HOMICÍDIO TENTADO.

PRELIMINAR. PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS LEGAIS. MÉRITO. INVIABILIDADE DE ABSOLVIÇÃO ANTE A COMPROVAÇÃO DA AUTORIA E MATERIALIDADE. INCABÍVEL O ABRANDAMENTO DA MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA DE INTERNAÇÃO, TENDO EM VISTA A GRAVIDADE DA CONDUTA PERPETRADA PELOS MENORES INFRATORES E CONDIÇÕES PESSOAIS DESFAVORÁVEIS. FIXAÇÃO DA MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA DEVE SER NORTEADA PELA CAPACIDADE DO ADOLESCENTE EM CUMPRI-LA E PELAS CIRCUNSTÂNCIAS E GRAVIDADE DA INFRAÇÃO (ARTIGO 112 , § 1º , DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ). RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. I - A CONDUTA DE DESFERIR VÁRIOS DISPAROS DE ARMA DE FOGO, DE FORMA LIVRE E CONSCIENTE, EM COMUNHÃO DE ESFORÇOS E UNIDADES DE DESÍGNIOS, COM INTENÇÃO HOMICIDA, CONTRA DIVERSAS VÍTIMAS, NÃO VINDO ESTAS A FALECER POR MOTIVOS ALHEIOS À VONTADE DOS AGENTES, É FATO QUE SE AMOLDA A ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME PREVISTO NO ARTIGO 121 , § 2º , INCISO I , C/C ARTIGO 14 , INCISO II , AMBOS DO CÓDIGO PENAL . II - A REGRA É QUE O RECURSO SEJA RECEBIDO APENAS NO EFEITO DEVOLUTIVO. EM CASOS EXCEPCIONAIS, NA HIPÓTESE EM QUE DEMONSTRADA A POSSIBILIDADE DE OCORRER DANO IRREPARÁVEL OU DE DIFÍCIL REPARAÇÃO AO MENOR, O APELO PODERÁ SER RECEBIDO NO EFEITO SUSPENSIVO (ARTIGO 215 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ). III - NÃO HÁ QUE SE FALAR EM ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS DE AUTORIA QUANDO O ACERVO PROBATÓRIO É COESO E CONTUNDENTE, INCLUINDO OS DEPOIMENTOS DAS VÍTIMAS E, INCLUSIVE, DA AUTORIDADE POLICIAL. IV - A AUTORIA DELITIVA RESTA COMPROVADA POR MEIO DOS DEPOIMENTOS DAS VÍTIMAS E DAS TESTEMUNHAS. IGUALMENTE, A MATERIALIDADE DELITIVA, POR MEIO DA PROVA ORAL COLHIDA, LAUDO DE EXAME DE CORPO DE DELITO E OCORRÊNCIA POLICIAL. V - A FIXAÇÃO DA MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA PELO JULGADOR DEVE SER NORTEADA PELA CAPACIDADE DO ADOLESCENTE EM CUMPRI-LA E PELAS CIRCUNSTÂNCIAS E GRAVIDADE DA INFRAÇÃO (ARTIGO 112)

48 TJ-RN - Apelacao Civel AC 31438 RN 1999.003143-8 (TJ-RN). Data de publicação: 27/08/2004

Ementa: EMENTA: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. MORTE DE PRESO POR COMPANHEIROS DE CELA NO INTERIOR DE ESTABELECIMENTO PRISIONAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO PELO RISCO ADMINISTRATIVO. REMESSA NECESSÁRIA E RECURSO DE APELAÇÃO IMPROVIDOS. SENTENÇA MANTIDA. O Estado deve responder objetivamente, não por haver causado diretamente a morte do preso, mas por submetê-lo a uma situação de risco que efetivamente concorreu para retirar-lhe a vida.

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