• Nenhum resultado encontrado

8. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL

8.1 RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL DO ESTADO

Estando, portanto, o Estado sendo o causador de um dano, por meio da ação ou omissão de um de seus agentes, deve a Administração Pública, consequentemente reparar o dano sofrido. A Responsabilidade Extracontratual55 do

Estado provém das atividades realizadas pelo Estado sem caráter contratual.

É mister que se verifique que, a priori, haja a qualificação de um fato jurídico como sendo ilícito que acaba originando o dano e a possibilidade de reparação do mesmo, pois é com o ato ilícito, a priori, que surge a ofensa à ordem jurídica. É justamente ligada o dano que liga-se a ideia de Responsabilidade.

No que pese a possibilidade de causar prejuízos a terceiro, fundamenta-se a Responsabilidade da Administração Pública no art. 37, §6° da CF. que discorre acerca da Responsabilidade Objetiva do Estado, independente de que se verifique a presença de culpa ou dolo; ressaltando-se a previsão ao direito de regresso em face do agente administrado causador do dano a terceiro, desde que esse tenha agido de forma culposa ou danosa56.

55 FILHO, José dos Santos Carvalho Filho. Manual de Direito Administrativo, p 372. 2017.

49

Com fulcro no artigo 4357 do Código Civil brasileiro há previsão ainda de mais

um texto legal que rege acerca da Responsabilidade Extracontratual do Estado, corresponde justamente a desnecessidade de comprovação de culpa ou dolo no que pese ao dano gerado a terceiros.

Com relação aos casos de jovens infratores que, apesar de terem causado um ilícito, também foram usurpados de alguma maneira, quer seja antes ou depois do cometimento do ato infracional, fundamentando-se na legislação acerca da Responsabilidade Extracontratual do Estado.

Vale frisar que Estado, por si só, não pode causar danos a ninguém, contudo será passível de responsabilidade, figurará no meio jurídico por meio de seus agentes, pois estes é quem podem causar prejuízo a outrem em virtude de suas funções dentro da Administração Pública.

Em consonância com o Princípio da Isonomia é que o Estado está sujeito a obrigação de indenizar em favor da sociedade e não se distinguindo de um indivíduo comum sujeito ao pagamento indenizatório em virtude de sua ação danosa58.

Além disto o Estado deve observar o Princípio da Legalidade, dentro do seio do direito público, tal princípio prevê que a Administração Pública só poderá fazer em seu campo de atuação aquilo que está previsto por lei, caso contrário deverá assumir as responsabilidades pelo ato ilegal praticado por seu agente.

Frente à negligência da Administração Pública em relação aos casos citados no capítulo anterior, dentre tantos outros que não foram colocados em tela, nos deparamos com a Responsabilidade Extracontratual do Estado, em virtude de todos os danos causados a esses jovens.

57 Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes

que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.

50

No que tange ao tema Responsabilidade, temos a Responsabilidade Civil59

prevista no artigo 18660 do Código Civil de 2002 e ainda o artigo 92761 do mesmo

Código; por meio destes dispositivos legais temos arcabouço para discorrer sobre a questão da Responsabilidade Civil comumente usada na esfera privada das relações. A Responsabilidade Extracontratual nada mais é que a Responsabilidade62

que decorre dos atos praticados pelos seus agentes e que findaram causando um dano a outrem, quer seja por ação ou omissão daqueles.

Atrela-se às regras inerentes a um Estado de Direito, além de ser fruto da relação cada vez mais intima entre o Estado e as relações individuais.

Ou seja, a partir do momento em que um agente da Administração Pública age de modo que cause dano a terceiro, o Estado deverá ser responsabilizado a reparar este referido dano.

Neste âmbito existiram três polos: o agente que causou o dano, a Administração Pública e o indivíduo lesionado.

Em ambos os casos mencionados, vemos que houve um dano causado por agentes da Administração Pública em relação aos adolescentes, por isto perfaz aqui a responsabilidade Extracontratual do Estado, ou seja, representa o dever estatal, uma obrigação inerente à Administração Pública para que se repare, indenize os danos que causou a terceiros, danos estes causados por seus agentes no exercício de suas funções63.

No que pese as atitudes omissivas dos agentes da Administração Pública descritos nos casos mencionados, por exercerem função necessariamente pública deverão responder caso produzam dano a alguém, uma vez que, ao exercer função pública está mais intimamente ligado aos princípios da Administração Pública.

59 A responsabilidade civil da Administração Pública consiste na obrigação estatal de indenizar os danos

patrimoniais, morais ou estéticos que seus agentes, atuando nessa qualidade, causarem a terceiros, podendo ser dividida em dois grandes grupos: a contratual, decorrente do descumprimento de cláusulas constantes em contratos administrativos, e a extracontratual (ou aquiliana), que abrange as demais situações e será abordada neste capítulo. Registramos que a responsabilidade contratual possui regras próprias que são detalhadas nesta obra no capítulo relativo aos contratos administrativos. Cap. 11 Ricardo Alexandre e João de Deus.

60 Artigo 186: Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar

dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

61 Artigo 927: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

62 MARINELA, Fernanda. Direito Administrativo. 2017, p 1024.

51

Há de frisar que existem controvérsias quanto à Responsabilização do Estado em casos de Omissão, esta se liga ao dever da Administração Pública ao poder de agir e até a possiblidade que o mesmo possui de agir para impedir que um prejuízo seja causado.

Ou seja, aqui não existe uma culpa objetiva, mas uma verdadeira omissão. Isto posto, estamos diante de uma conduta que se exige do Estado; ligado à Reserva do Possível e o princípio da razoabilidade, pois o Estado deveria agir, sendo razoável cobrar do mesmo sua efetiva ação64.

A responsabilidade Estatal pode-se perfazer em três formas, a saber: Condutas comissivas, omissivas ou situações de risco criadas pelo próprio Estado. A condutas comissivas são aquelas em que há uma ação por parte de um agente de qualquer ente da federação.

Como no caso em que os policiais ignoraram o fato de autuarem erroneamente a adolescente, onde deveriam inclusive perguntar sobre sua idade, todavia agiram como se fosse adulta, e além disto ainda a colocaram em um presídio masculino, com trinta homens em uma cela.

Diante disto compreendemos que no caso em que os agentes da Administração Pública agiram de forma comissiva deverão ser sujeitados à Responsabilidade Civil, independente de se demonstrar vontade ou não de prejudicar.

Isto prevê a responsabilidade objetiva, devendo portanto a adolescente ser indenizada pelo mau procedimento na forma em que foi autuada, por ter sido colocado em presídio masculino e por ter ficado reclusa por tantos dias em uma cela com vários homens, sendo violentada física e sexualmente.

Por encontrarmos ilicitude nessa ação estatal, é bem mais fácil achar argumentos em favor da responsabilidade objetiva extracontratual do Estado no que pese à indenização da infratora, não precisando haver comprovação de dolo ou culpa da Administração Pública, o que liga-se totalmente ao princípio da legalidade.

Já nas condutas omissivas está justamente a ausência das atividades que o Estado deveria efetivar por meio de seus agentes; nesta vertente encontra-se a responsabilidade civil subjetiva, deve-se portanto haver comprovação de que a omissão da Administração Pública causou um dano a outrem por não ter agido em

52

tempo oportuno, por ter agido em um tempo não mais oportuno, só com esta comprovação é que o Estado deverá indenizar o possível indivíduo lesionado.

Contudo, vale frisar, o entendimento que predomina em nosso país é o da responsabilidade objetiva, onde não há necessidade de comprovação alguma, o Estado deverá sempre indenizar caso pratique com culpa ou dolo, por ação ou omissão e provoque dano a terceiro.

Tem-se ainda os casos em que existem situações de risco exagerado criado pelo Estado, aqui a Administração Pública age de modo que gera uma situação extremamente passível de causar algum dano; aqui também se enquadraria o caso da jovem que ficou reclusa com os homens em uma cela, o Estado agiu de modo a contribuir para que esse dano se concretizasse, e foi o que aconteceu efetivamente.

Para averiguarmos se há dever por parte do Estado em indenizar, devemos analisar o caso concreto; citemos o caso da adolescente que foi presa como se já tivesse 18 anos ou mais, o modo como foi apreendida fugiu do previsto para sua idade, além disso foi violentada física e sexualmente, e a juíza que acompanhava o processo não tomou as medidas cabíveis em tempo oportuno.

Desta feita vimos que foram infringidos o Princípio da Legalidade, a não ser observado o que prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente, no que pese o modo de se aplicar as medidas inerentes a faixa etária da infratora.

Concomitantemente infringindo o princípio da presunção de legitimidade, se não agiu dentro da legalidade, não há que se falar em presunção da mesma. Ainda vemos que foi infringido o Princípio da autotutela, uma vez que a própria Administração Pública poderá anular65 um ato ou revogar, caso haja ilicitude, caso os

agentes administrados tivessem verificado que cometeram um equívoco poderiam ter evitado todo o dano sofrido pela adolescente.

Além disto, a juíza no caso em tela infringiu o princípio da moralidade, não agiu eticamente, muito menos com boa fé, ao escusar-se de cumprir com seu dever em tempo oportuno.

65 A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revoga-los

53

Documentos relacionados