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5. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

5.1 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

São medidas que visam tratar pedagogicamente com infratores, levando-se em condição a vulnerabilidade dessas crianças e adolescentes26. Ligada a esta

vulnerabilidade está intimamente ligada a ideia de que estes estão são considerados pessoas em desenvolvimento, por isso precisam ser tutelados de forma distinta, pela peculiaridade da sua identidade e, ao mesmo tempo, não os eximindo da responsabilidade27.

Para tanto, com o Estatuto da Criança e do Adolescente, estamos diante da previsão de que com as medidas socioeducativas, por meio do qual os infratores serão responsabilizados de maneira distinta, levando em consideração o aspecto biopsicológico28.

Medidas socioeducativas são medidas aplicáveis aos infratores, aqueles que, por terem idade inferior a 18 e superior a 12 anos, e em uma excepcionalidade casos que envolvam indivíduos com menos de 21 anos, como discorre o artigo 2° do Estatuto da Criança e do Adolescente; portanto, não concorrem as mesmas penas que um adulto poderá cumprir.

25 ABREU, Ana Luiza. CALAIS, Lara Brum de. Redução da Maioridade Penal: Punição e Marginalização da

Juventude. P 5

26 VERONSE, Josiane RosePetry. LIMA, Fernanda da Silva. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

(SINASE): breves considerações. P 1

27 FRANCISCHINI, Rosângela. CAMPOS, Ricardo Herculano. Adolescente em conflito com a lei e medidas

socioeducativas: Limites e (im)possibilidades. P 3

28 SANTOS, Fernando Avilla dos. As Medidas Socioeducativas e a Responsabilidade da sociedade frente à

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O Estatuto dispõe ainda que ao haver o cometimento de um ato infracional aplicar-se-á ao adolescente infrator medida socioeducativa disposta no Estatuto da Criança e do Adolescente29; contudo deve-se sempre levar em consideração que o

adolescente está em fase de desenvolvimento, e a medida socioeducativa visa ressocializar e evitar uma possível reincidência30.

Além de um viés um tanto quanto sancionatório, as medidas socioeducativas, primordialmente, surgem no momento é em que se verifica que há uma violação aos direitos de crianças e adolescentes; quando estas são postas em situações de vulnerabilidade, risco, o Estatuto da Criança e do Adolescente surge para resguardá- las, suas vidas e suas garantias individuais.

Diferentemente das penas aplicáveis a um adulto, as medidas socioeducativas, como próprio nome já sugere, corresponde a maneiras de reeducar o adolescente que porventura cometam um ato infracional e, ao mesmo tempo, puni- lo, muito embora o maior objetivo seja o de recuperar este adolescente que porventura esteja se envolvendo na criminalidade.

Estas medidas socioeducativas existem tendo em vista a inimputabilidade do infrator, além de objetivar fortalecer a relação no âmbito familiar, pois é neste seio que por diversas vezes se encontra o motivo da fragilidade e vulnerabilidade dos mesmos, tendo em vista a necessidade deste fortalecimento afetivo, a priori, o ECA prevê

Art. 101- Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I- encaminhamento aos pais ou responsáveis, mediante termo de responsabilidade; II- orientação, apoio e acompanhamento temporários; III- matricula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV- inclusão em programa comunitário ou oficial de auxilio a família, à criança e ao adolescente; V requisição de tratamento medico, psicológico ou psiquiátrico em regime hospitalar ou ambulatorial; VI- inclusão em programa oficial ou comunitário de auxilio, orientação ou tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII- acolhimento institucional; VIII- inclusão em programa de acolhimento familiar; colocação em família substituta.

29 Artigo 112. Estatuto da Criança e do Adolescente.

30 SANTOS, Fernando Avilla dos. As Medidas Socioeducativas e a Responsabilidade da sociedade frente à

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De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, as medidas socioeducativas e de proteção, apesar de terem sim um escopo sancionador, possuem acima de tudo, de caráter psicopedagógico e ressocializador.

O ato infracional é visto como uma transgressão a um dever jurídico que deve ser observado por todos, todavia, por ser infringido por um adolescente não será considerado não como crime, por isso não serão responsabilizados penalmente31.

Por não serem passiveis de penalizações penais, aplicam-se as Medidas Socioeducativas aos adolescentes infratores. As medidas previstas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente se perfazem em formas distintas, são elas: Advertência, Obrigação de reparar o dano, Prestação de serviços à comunidade, Liberdade Assistida, Regime semiaberto de liberdade e a Internação.

Vale frisar que as medidas socioeducativas que perfazem-se em liberdade ou restrição de liberdade, precisam fundamentar-se em um trinômio, a saber: liberdade, respeito e dignidade. Já a medida que aplica a restrição de liberdade deve atender ao caráter pedagógico, tão somente, e jamais deve ser punitivo32.

A Advertência está disposta no artigo 115 do Estatuto da Criança e do Adolescente, como o próprio nome aduz, diz respeito a apenas uma advertência que, por sua vez, que será reduzida e assinada a termo.

Corresponde à medida mais branda, nada mais é que um chamamento ao infrator, este será exortado pelo agente público previamente estabelecido para uma demanda desta espécie.

É medida aplicável nos casos em que o adolescente não tem histórico de cometimento de atos infracionais, para tanto e por isto, a medida a ser utilizada é a de advertência, não se eximindo sua extrema importância, em virtude do vislumbre de que, por intermédio dela, o infrator seja conscientizado pedagogicamente e não comete qualquer espécie de ato infracional.

Já na sessão III do Estatuto, no artigo 116 temos a medida socioeducativa denominada como Obrigação de Reparar o Dano, tal medida trata acerca dos atos infracionais que porventura atinjam patrimônio de terceiros, neste caso o adolescente

31 FRANCISCHINI, Rosângela. CAMPOS, Ricardo Herculano. Adolescente em conflito com a lei e medidas

socioeducativas: Limites e (im)possibilidades. P 2

32 VERONSE, Josiane RosePetry. LIMA, Fernanda da Silva. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

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deverá restituir o bem que foi violado, caso não seja possível a restituição, lhe será imputada a obrigação de compensar o prejuízo causado a vítima de outra forma, mas sem que lhe deixe inadimplente; apenas em casos excepcionais em que o infrator não tenha como arcar com a restituição ou compensação, lhe será aplicada outra medida adequada.

Outra medida socioeducativa prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente é a Prestação de Serviços à Comunidade, neste caso o infrator irá prestar serviços gratuitos em determinado departamento, área ou localidade, como escolas, hospitais etc, mas que beneficie a comunidade em geral.

O período dessa prestação de serviços pode chegar ao lapso temporal de seis meses, sendo a prestação realizada em oito horas semanais, distribuídas de modo que não interfira nem prejudique sua ida à escola ou o seu trabalho normal, nunca sendo expostos à humilhações, pois o caráter pedagógico das medidas visa resguardar e promover a cidadania.

Liberdade Assistida, por sua vez, diz respeito ao meio mais eficiente para se acompanhar o adolescente infrator, auxiliar e também dar orientações. Este acompanhamento será designado pelo juiz, que outorgará essa função a uma entidade própria para esse tipo de acompanhamento, com profissionais especializados para tal.

Um exemplo dessas entidades ou programas de atendimento é o Centro de Referência Especializado em Assistência Social, o comumente reconhecido pela sigla CREAS; o CREAS dispões de uma equipe técnica formada por psicopedagogo, assistente social, psicólogo e advogado, todos esses profissionais trabalham conjuntamente, para averiguar as deficiências, os possíveis transtornos psicológicos, procurando compreender melhor e ajudar esses infratores a recuperarem sua dignidade.

Não apenas acompanham, como orientam, a fim de que se resgate esse adolescente para que não se envolva mais em outros atos infracionais. O CREAS atua em situações de maior vulnerabilidade e risco, pois contexto em que estão inseridos

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os adolescentes que são acompanhados diz respeito justamente a um ambiente por vezes violento e com a violação de direitos presente33.

A implantação do CREAS desencadeou-se através de um momento em que o Brasil passou por transformações políticas, quando houve a aprovação da Lei Orgânica de Assistência Social em 1993; havia justamente a preocupação de se estruturar institucionalmente no âmbito da assistência social, para que se efetivasse realmente uma política de garantias. E em 2004 surge o Sistema Único de Assistência Social, possibilitando uma melhor organização34.

Por conseguinte, no ano de 2011, a Lei 12.435 modifica alguns aspectos do LOAS em vigência, trazendo em seu escopo significativas mudanças, de modo que havia concordância com as Diretrizes da Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004), que intrínseco a este havia a previsão da Resolução n° 109 de 11 de Novembro de 2009, denominado de “Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais”, onde há a previsão das garantias de nossos direitos35.

Outrossim, neste cenário de garantias e respeito aos nossos direitos, em especial à proteção aos adolescentes, temos ainda a medida socioeducativa denominada Liberdade Assistida, que nada mais é que uma forma de acompanhamento profissional para, acima de qualquer outra motivação, compreender o infrator e ajuda-lo a reinserir-se comunitariamente de modo cidadão, e não cometendo outros atos infracionais.

É preciso ressaltar que muitos Centros Especializados como o CREAS ou qualquer outro programa de atendimento possui muitas limitações, aqui se encontra um outro fator que incapacita os profissionais a desenvolverem um trabalho perspicaz e efetivo; nos deparamos, principal e infelizmente, com uma segurança eficaz no meio em que estes jovens vivem, pois muito embora os profissionais ajam de modo eficiente, ao saírem do acompanhamento, os infratores encontram, na maioria das vezes, o mesmo ambiente em que estavam imersos ao cometerem o ato infracional.

Diante disto, temos a questão da segurança pública, este tem sido um dos fatores que mais influencia o aumento da criminalidade, em virtude da falta de

33 PENNA, Priscila Souza Vicente. Responsabilidade Jurídica e Responsabilidade Subjetiva – A questão dos

adolescentes autores de ato infracional. P 3

34 PENNA, Priscila Souza Vicente. Responsabilidade Jurídica e Responsabilidade Subjetiva – A questão dos

adolescentes autores de ato infracional. P 3

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segurança, o que acaba originando ambientes propícios para a efetivação e dominação do tráfico nas áreas mais marginais das grandes cidades.

Outrossim, esta realidade não se limita apenas aos grandes centros urbanos, corriqueiramente vemos que cidades interioranas também têm sido afetadas pelo tráfico. Onde existem crianças e adolescentes ociosos, sem perspectiva de crescimento na vida e falta de segurança gera constantemente jovens no mundo do crime.

Outra medida socioeducativa é o Regime Semiaberto; no casos de Regime Semiaberto ou de semiliberdade, por assim dizer, acontece quando o adolescente infrator é locado em determinada unidade especializada para cumprir a medida, não influindo em suas atividades externas, porém devendo-se resguardar que o mesmo estude e labore, obrigatoriamente; em alguns casos específicos, poderá até passar o fim de semana em família, desde que seja autorizado pela autoridade competente.

E, por fim, temos a medida socioeducativa denominada Internação, como o nome já prevê, corresponde a privação de liberdade, contudo não poderá, de forma alguma, ser cumprida em estabelecimento prisional, caso não haja na localidade, que seja transferido para um local mais próximo e, ainda que este também inexista, será posto em estabelecimento policial, resguardando-se que fique em ambiente isolado e distinto dos adultos, neste caso poderá permanecer pelo período de apenas cinco dias, tendo em vista ser uma excepcionalidade emergencial.

A medida de Internação poderá perdurar pelo período de três anos, após cumprir esse tempo máximo, o infrator será destinado à medida de semiliberdade ou de liberdade assistida; chegando aos 21 anos de idade, se desvinculará da medida de maneira compulsória, ouvido o Ministério Público e desligando-se por intermédio de medida judicial.

Portanto, as medidas socioeducativas são frutos de um rito especial que se transcorre diante da aferição de um ato infracional, tramite este que se desencadeia no Juizado da Infância e da Juventude36.

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