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Fatores relacionados com os conhecimentos e com as práticas dos profissionais de

2. Q UALIDADE NA S AÚDE E Q UALIDADE O RGANIZACIONAL

2.3. Emergência intra-hospitalar

2.3.4. Fatores relacionados com os conhecimentos e com as práticas dos profissionais de

Hodgetts, Kenward, Vlachonikolis, Payne e Castle (2002), desenvolveram um estudo no Reino Unido para determinar a incidência de PCR evitáveis e concluíram que as paragens cardíacas eram mais prováveis ao fim de semana do que durante a semana, e que os utentes em áreas de cuidados críticos tinham maior probabilidade de sobreviver, sendo a maior parte das PCR evitáveis, atribuindo como principais causas os atrasos e erros de diagnóstico, a inexperiência dos profissionais e os utentes se encontrarem em áreas clínicas inapropriadas. Na Austrália, Cretikos et al. (2006), ao avaliarem a sensibilidade dos critérios clínicos predefinidos para identificar utentes com deterioração fisiológica, concluíram que a elevação da frequência cardíaca, a falência respiratória, a diminuição da tensão arterial sistólica, a deterioração do nível de consciência na escala de coma de Glasgow são preditores específicos de PCR, causa de admissões imprevisíveis nas UCI e mortes inesperadas.

Também Smith, Prytherch, Meredith, Schmidt e Featherstone (2012), no Reino Unido, estudaram a capacidade do sistema NEWS (Sistema nacional de pontuação de aviso prévio) para determinar utentes de risco e concluíram que demonstra uma boa capacidade para identificar utentes em risco de PCR, admissão inesperada na UCI ou morte num período de 24 horas, exceto nas situações súbitas. Pois como afirmam Davies, DeVita, Ayinla e Perez (2014), estudos evidenciam que muitos dos eventos adversos fatais não ocorrem repentinamente e normalmente são precedidos de alterações nos sinais vitais que vão surgindo continuamente, minutos, até horas antes e que foram insuficientemente valorizados.

Na Dinamarca, Petersen, Mackel, Antonsen e Rasmussen (2014), ao estudarem eventos adversos decorridos no hospital a usar sistemas de deteção precoce de gravidade, concluíram que decorreram do não cumprimento do protocolo, assim como o nível médico prestados pelos profissionais não foi o desejável.

Nas recomendações internacionais de Soar et al. (2015), baseados em estudos afirmam que os profissionais de saúde em ambiente hospitalar tendem a ser em menor número no período noturno e ao fim de semana, o que aparenta ter influência na monitorização dos utentes, tratamentos e resultados. Estes estudos revelam que maior número na equipa de enfermagem nos turnos está associado a menor número de situações de deterioração fisiológica aguda com consequente redução de situações de PCR, pneumonia, choque e morte.

No Brasil, R. Silva, Silva, Silva e Amaral (2016), ao estudarem a reanimação cardiopulmonar intra-hospitalar, concluíram que se obtiveram melhores resultados em setores de UCI comparativamente com as enfermarias, pelo facto de o utente estar monitorizado, o evento ser detetado precocemente e ter SAV imediatamente disponível.

Também na Austrália, Cardona-Morrell et al. (2017) analisaram que a avaliação de sinais vitais do utente não dependia da prescrição da frequência, mas da avaliação e da disponibilidade dos enfermeiros, pelo que as avaliações incompletas dos sinais vitais podem limitar a identificação de deterioração fisiológica aguda.

Os fatores evidenciados pelos estudos consultados podem ser agrupados em educação (formação), experiência profissional, e ressalta também um fator menos objetivo, mas amplamente estudado, nomeadamente a intuição do profissional.

Formação profissional

Douglas Chamberlain e Richard Cummins (Cummins et. al, 1997) abordaram a importância da eficácia da educação e treino, tópicos relacionados à implementação de cuidados de emergência nas declarações consultivas do ILCOR de 1997. A primeira Diretriz Internacional, em 2000, não tinha uma orientação formal sobre educação ou implementação, mas um importante objetivo da conferência era rever e recomendar mudanças nos métodos de ensino de conhecimento e competências em emergência. O objetivo de ensinar a comunidade como uma estratégia para ajudar a adoção de diretrizes focadas no público leigo educado, sobre a importância do SBV inicial, para sustentar a vida da vítima de paragem cardíaca até a ajuda diferenciada ficar disponível. Consciencializou-se que o treino de SBV precisava de simplificação e, pela primeira vez, instruções curtas de vídeo mostraram mais retenção de informações e habilidades do que um curso de quatro horas. Em 2005, um tópico importante da conferência de orientação era qual a melhor forma de treinar os socorristas leigos. Uma ação interdisciplinar avaliou a evidência de métodos educacionais até ao consenso de 2005 e de recomendações de ciência e tratamento emitidas. Ao longo dos cinco anos seguintes, concluiu-se que o conhecimento e as habilidades de CPR se deterioram rapidamente, o uso de desfibrilhador automático Externo (DAE) não deve ser restrito a pessoal treinado e que os dispositivos de alerta de CPR melhoram as habilidades. Foram identificadas importantes falhas no conhecimento, como a frequência de treino e atualização.

Nas recomendações Internacionais de 2015, Monsieur et al. (2015) afirmam que os intervalos de formação diferem de acordo com as características individuais dos participantes. É sabido que os conhecimentos em reanimação cardiorrespiratória deterioram-se em meses após a formação e atualizações anuais podem não ser suficientes. Porém, os intervalos de tempo ideais para atualizações ainda não são conhecidos, porém formações frequentes revelam ser benéficas.

Em 2016, nos EUA, Astroth, Woith, Stapleton, Degitz e Jenkins (2016) avaliaram os fatores favoráveis e barreiras existentes na ativação das equipas de resposta rápida, concluíram que pode variar de acordo com as instituições, mas que um fator favorável é a formação regular e com ênfase no conhecimento do processo de atuação das equipas de resposta rápida. A implementação da equipa pode mudar a cultura organizacional, a formação frequente constitui uma estratégia benéfica mantendo níveis elevados de ativação das equipas.

Experiência

Num estudo elaborado no Brasil acerca dos fatores condicionantes do trabalho na medicina, Tenório e Dias (2014) verificaram que o tempo de serviço não interfere no desempenho profissional, as condições de trabalho, a possibilidade de aumento de conhecimento e os recursos materiais e humanos à disposição vão influenciar positivamente.

Porém, Azzopardi, Kinney, Moulden e Tibballs (2011) afirmam que a equipa de enfermagem e médicos mais jovens demonstram dificuldade em pedir ajuda, uma vez que receiam que as suas avaliações clínicas sejam criticadas. Acrescentam Shearer et al. (2012) que existe uma crença comum, especialmente entre equipas mais jovens, de que a equipa principal que acompanha o utente deve ser capaz de lidar com problemas específicos relativos à sua área de especialidade.

Também, Currey, Allen e Jones (2017), na Austrália, desenvolveram um estudo com o objetivo de analisar a perceção dos profissionais da saúde da equipa dos cuidados intensivos, em relação ao reconhecimento da deterioração fisiológica aguda do utente. Identificaram quatro parâmetros: a administração, o trabalho em equipa, os cuidados à pessoa em situação crítica e fim de vida. Verificaram falta de pessoal em número adequado e experiente com conhecimento teórico necessário, assim como inadequada avaliação e ausência de pensamento crítico de modo a prever o evento adverso. Admitem, ainda, que os médicos mais velhos demonstram não gerir de forma adequada, questões do fim de vida, assim como não exibem

capacidades de trabalho em equipa, promovendo que os colegas dos outros serviços se sintam retraídos e intimidados.

Intuição

De acordo com a revisão sistemática elaborada nos EUA por Bose, Hoffmann e Hravnak (2016), acerca da instabilidade da monitorização cardiorrespiratória, os sistemas de monitorização são promissores, mas a vigilância por parte dos enfermeiros permanece a chave de confiança na deteção e reconhecimento precoce da pessoa em situação crítica. A capacidade de identificar sinais de deterioração adquire-se com o conhecimento, experiência e reconhecimento de padrões de doença. Estes padrões podem incluir combinações de dados quantitativos (sinais vitais, escalas de avaliação de scores) associadas a alterações subtis na comunicação ou raciocínio (Bose et al., 2016).

Cioffi (2000), através de um estudo realizado na Austrália, concluiu que os enfermeiros reconhecem a deterioração do utente, baseados no pressentimento de que algo estava errado. Conhecer o utente e a experiência estão envolvidos no reconhecimento da deterioração. Esta associação indica a importância da experiência, no desenvolvimento de competências na tomada de decisão clínica. A sua forte dependência de dados subjetivos, perante a pesquisa de dados objetivos, conforme delineado nos critérios de ativação da equipa de emergência, sugere que é essencial que os enfermeiros não desvalorizem ou ignorem as preocupações que possam ter sobre os utentes.

Também Santiano et al. (2008), na Austrália, exploraram os resultados do uso subjetivo de critérios, por parte da equipa de enfermagem, baseada na preocupação para ativar a EEMI, comparativamente com o uso de critérios objetivos, baseados nas alterações dos parâmetros vitais. Constataram que a preocupação era o critério usado com maior frequência, o que revelava um elevado grau de capacidade e autonomia, por parte da equipa de enfermagem. Os enfermeiros usam outros dados clínicos de natureza objetiva, como a coloração, a agitação e alterações comportamentais, como sinais relevantes para ativar a equipa de emergência. Verificaram que havia diferenças significativas entre as ativações baseadas nas preocupações e os critérios objetivos nos resultados imediatos da EEMI, concluindo ser necessário o uso de critérios bem definidos.

A intuição é uma abordagem holística, complexa, baseada na experiência e no conhecimento para a tomada de decisões, que também é necessária. Benner, Tanner e Chesla (2009),

retratam o enfermeiro perito como detentor de uma vasta experiência e conhecimento, evidenciando um julgamento clínico ágil e intuitivo na identificação dos problemas do doente/ família, prestando cuidados holísticos. As evidências atuais sugerem a intuição em enfermagem como uma parte importante da tomada de decisão clínica efetiva, que apoia cuidados seguros para o utente (Institute of Medicine, 2011).

Segundo Bose et al. (2016), a tentativa de incluir a intuição do enfermeiro no reconhecimento da instabilidade cardiorrespiratória verifica-se na inclusão do termo preocupação nos critérios de ativação das equipas de emergência médica. Com frequência, os enfermeiros validam observações intuitivas, perguntando primeiro a opinião dos colegas e se encontram críticas podem hesitar em partilhar preocupações.

2.3.5. Estado da arte: conhecimentos e práticas dos profissionais de saúde no