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Fatores sociodemográficos, obstétricos e psicossociais e as possíveis repercussões no desenvolvimento infantil

2.3 RISCO PSÍQUICO E RISCO AO DESENVOLVIMENTO

2.3.3 Fatores sociodemográficos, obstétricos e psicossociais e as possíveis repercussões no desenvolvimento infantil

Matsukura et al. (2007) salientam que o desenvolvimento infantil é influenciado por aspectos biológicos e ambientais, também mencionados no trabalho de Coriat e Jerusalinsky (1996). A alteração de tais aspectos, quando associada podem resultar em consequências negativas para o desenvolvimento infantil, nomeados fatores de risco.

Amorim et al. (2009) assinalam como fatores de risco socioambientais, toda a experiência adversa de vida ligada ao bebê e a sua família, tais como: baixa escolaridade dos pais, estresse familiar, discórdia marital, doença psiquiátrica dos pais, baixo suporte social, baixa renda, práticas inadequadas de cuidado.

Nesse contexto, evidencia-se que dentre os fatores sociodemográficas e psicossociais em relação ao desenvolvimento infantil, destaca-se: a idade e escolaridade materna, a existência ou não de cônjuge e/ou rede de apoio, a presença de crise situacional materna, os estados de humor maternos e a renda familiar (CRESTANI, 2012; PRETTO-CARLESSO et al., 2014).

Nesses termos, Melchiori et al. (2007) verificaram uma associação entre as práticas de cuidado e os diferentes níveis socioeconômicos. No estudo pode-se evidenciar que pais trabalhadores de serviços que necessitam de baixa qualificação profissional tendem a valorizar práticas de cuidado voltadas para a conformidade, repetição e a obediência. Em oposição, pais que ocupam funções mais executivas decorrentes de uma qualificação profissional/educacional maior enfatizam valores ligados à autonomia e à iniciativa. Os autores puderam concluir que, para além de seu potencial genético é necessário que sejam oferecidas à criança oportunidades ambientais para que suas habilidades sociais e de linguagem possam se desenvolver.

Pretto-Carlesso et al. (2014) e Beltrami (2011), evidenciaram associações entre sofrimento psíquico e ansiedade materna, respectivamente, e risco ao desenvolvimento infantil. Segundo o estudo de Pretto-Carlesso et al. (2014), houve associação positiva entre a presença de risco ao desenvolvimento infantil, avaliados a partir dos IRDIs da fase I e presença de sofrimento psíquico materno. No estudo, resultados estatisticamente importantes foram verificados, demonstrando que mães deprimidas apresentavam mais dificuldades de estabelecer demandas aos seus bebês. Em paralelo, Beltrami (2011) verificou que mães ansiosas, com dificuldade em exercer a função materna, apresentaram estatisticamente mais bebês com risco ao desenvolvimento infantil, a partir dos IRDIs na fase I, em relação àquelas mães que não foram consideradas ansiosas, a partir do Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) e acreditavam estar conseguindo exercer a função materna com seus bebês.

Em relação à escolaridade materna, Magnosun et al (2009) mostraram que o aumento da escolaridade materna instrumentaliza a mãe a respeito das necessidades de seu filho e na melhoria de alguns aspectos ambientais, repercutindo no desenvolvimento da linguagem expressiva e receptiva das crianças. Também Andrade et al. (2005) afirmam que existe uma relação entre interação materna de maior qualidade e melhor indicador de desenvolvimento cognitivo de crianças entre 17 e 42 meses. Essa associação ocorreu nas mães com maior escolaridade, que trabalham fora de casa e convivem com seus cônjuges.

Considerando a idade materna como determinante social a ser analisado no desenvolvimento infantil pelos efeitos que pode gerar na vida escolar materna, cabe lembrar o estudo de Novellino (2010) que verificou que mães adolescentes distribuem-se, principalmente, na faixa de 4 a 7 anos de estudo, o que corresponde ao ensino fundamental incompleto (37,1%) e de 8 a 10, que correspondem a ensino fundamental completo e ensino médio incompleto (39,1%), ao passo que 11 a 14 anos de estudo para as adolescentes é o esperado (ensino médio completo e ensino superior incompleto). A pesquisa concluiu que mães-adolescentes tendem a desistir da educação formal, seja porque as escolas não oferecem condições para que possam manter a frequência, seja porque os cuidados com o filho não lhes deixam tempo para desempenhar outras tarefas. Também a falta de perspectiva de uma colocação no mercado de trabalho digna não emerge como um dado de futuro, o que retira seu incentivo para prosseguir estudando.

Em relação à faixa etária materna, segundo estatísticas nacionais, nos últimos anos, a maternidade na adolescência emerge como um problema a ser investigado, pois representa consequências tanto para as mães como para o desenvolvimento dos bebês. Estudos

evidenciam a relação entre a gravidez precoce com morbidade dos neonatos e impactos econômicos, educacionais e sociais às mães (NOVELLINO, 2010; OLIVEIRA, 1998), além de fatores relacionados ao baixo peso ao nascer (GAMA et al., 2004; COSTA et al., 2005) e a prematuridade, isto é, a idade gestacional inferior a 37 semanas (GOLDENBERG et al., 2005).

Segundo Martinez et al. (2010) o percentual de gravidez na adolescência apenas no Estado de São Paulo no ano de 2007 foi de 16,4%. No estudo, os resultados apontam para uma estreita relação entre a gravidez na adolescência e fatores econômicos e sociais no estado, tendo em vista que se evidenciaram maiores percentuais de gravidez na adolescência nos municípios de menor PIB, maior incidência de pobreza, menor tamanho populacional e com indivíduos em maior vulnerabilidade social. Além disso, verificou-se que a gravidez adolescente tende a ser menos frequente nos grandes centros urbanos, em regiões centrais, caracterizadas por maior disponibilidade de oferta de serviços de saúde e maior renda per capita. Tais dados sugerem que áreas distantes dos grandes centros urbanos tendem a oferecer dificuldades de acesso a serviços públicos que podem contribuir no conhecimento de métodos contraceptivos.

Ogido e Schor (2012) em estudo com oito jovens entre 15 e 18 anos de idade que objetivou compreender o lugar da vida profissional na trajetória de vida, antes e depois da maternidade dessas jovens, puderam verificar que quatro mães adolescentes finalizaram o segundo grau e nenhuma delas havia ingressado na faculdade. Três não voltaram a trabalhar e as demais tiveram experiências diversificadas de trabalho. Dentre as principais dificuldades relatadas para a inserção no mercado de trabalho, constatou-se: insuficiência de instrumentos de apoio no cuidado das crianças, baixo ganho salarial, falta de experiência de trabalho, filhos pequenos e pouca formação educacional. Pôde-se concluir com tal pesquisa que a maternidade na adolescência não indicou a exclusão dos projetos de formação educacional ou de trabalho, mas representou a necessidade de adaptações e de uma rede de apoio familiar e social que permitisse às jovens mães realizarem seus projetos.

Ainda em relação ao exercício de alguma atividade profissional, Andrade et al. (2005), verificaram que o trabalho materno além de gerar renda e facilitar o acesso a bens e recursos, também é gerador de satisfação ocupacional à mãe, proporcionando a ela motivação e valorização, potencializando as experiências positivas com seu filho.

Com relação à presença de cônjuge, Marin e Piccinini (2007), em pesquisa a respeito da maternidade nas classes populares, constataram que a gravidez das mães solteiras ocorria

de forma não planejada, sem o apoio do pai da criança e marcada por uma experiência solitária e sofrida. Beltrami (2011) também salienta esse aspecto observado em sua amostra, afirmando que o período da gestação e posterior nascimento do bebê trazem grandes transformações para a mulher, podendo provocar instabilidade emocional, principalmente se não houver o apoio adequado do cônjuge ou dos demais familiares.

Em sua pesquisa, Nunes et al. (2007) concluíram que a ausência do pai pode trazer consequências negativas para a mulher, desde a descoberta da gestação até após o nascimento. No entanto, o que se verificou foi que a ausência paterna representou propulsor para que sintomas ansiosos e depressivos das puérperas se manifestassem, trazendo consequências negativas ao bebê. Diante de tal realidade, Beltrami (2011) salienta o papel fundamental que o pai assume como suporte materno para que ela possa exercer a função materna influenciando diretamente o desenvolvimento saudável do bebê.

Por fim, ainda em relação a saúde mental materna, a pesquisa de Cardoso e Bianchi (2007) com uma amostra de 173 mãe com o objetivo de investigar o que leva uma mãe a amamentar ou não e a continuar a amamentar ou desistir de fazê-lo. Como resultado, pode-se verificar que as mães que amamentam desejaram a gravidez e receberam informações sobre o aleitamento e desfrutaram de um contato imediato e alojamento conjunto com o recém- nascido. As mães que não amamentaram consideraram que o aleitamento dificultava sua rotina.

Portanto, pode-se concluir que o aleitamento materno e toda a estruturação alimentar subsequente, bem como os ritmos de sono e vigília, a protoconversação entre mãe e bebê, passam por um projeto simbólico, fundamentais ao desenvolvimento do bebê e se relacionam a fatores sociodemográficos e psicossociais na medida em que estes afetam a qualidade de vida familiar a relação que estabelece com o bebê no exercício das funções parentais.