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MATERIAL E MÉTODOS

FICHA TÉCNICA DA FAZENDA QUILOMBO

Proprietários: Francisco Raphael de Araújo Ribeiro e Maria José Ferreira de Araujo Ribeiro (Zezé).

Endereço: Rod. Limeira / Iracemápolis – SP 151, Km 04 – Caixa Postal 76. CEP 13480-970 – Limeira – SP – Tel.: (19) 3451-4005.

E-mail: fazendaquilombo@fazendaquilombo.com Website: http://www.fazendaquilombo.com

Área da Fazenda: 110 alqueires (260 hectares). Ano de Fundação: 1870.

Tipo de Habitação: não oferece essa possibilidade. As visitas à propriedade devem ser agendadas previamente. São aceitos grupos para visitação com períodos de duração máximo de um dia.

Programa de Educação Patrimonial/Ambiental: Possui programa de educação patrimonial oficial que é utilizado na recepção dos visitantes, com ênfase na cultura do café, nos processos de imigração e na história da família, presente na fazenda há oito (8) gerações. O programa permite ter contato com informações das demais fazendas históricas da região, significativas para o desenvolvimento do Estado de São Paulo a partir do final do século XIX e início do século XX.

Atividades Turísticas e Recreativas: Existe boa capacidade de recebimento de eventos nas dependências da fazenda, como casamentos, festas e demais grupos de interessados em opções de lazer e entretenimento relacionado à questão patrimonial da fazenda e da região, sendo possível atender até quarenta pessoas por dia nas atividades disponibilizadas. Outras atividades turísticas podem ser prestadas desde que exista prévia comunicação por parte dos visitantes, como visitas às demais fazendas do entorno.

Fazenda Santo Antônio da Água Limpa

A fazenda Santo Antônio da Água Limpa está localizada no município de Mococa63, na Região de Governo de São João da Boa Vista, inserido na Região Administrativa de Campinas do Estado de São Paulo. O município de Mococa foi fundado em 25 de dezembro de 1846, está a 645 metros de altitude, possui 854 quilômetros quadrados de solos férteis e relevo ondulado. A produção agrícola e a pecuária são preponderantes em seu território, que conta com aproximadamente 70 mil habitantes, com 1% destes vivendo em área rural. Mococa está localizada em uma zona de clima tropical com invernos secos, com temperaturas anuais médias em torno de 23 graus Celsius, com rica hidrografia, em que se destacam o Rio Pardo e o Rio Canoas. Possui dois distritos: Igaraí e São Benedito das Areias e faz divisa com o Estado de Minas Gerais na região de Cássia dos Coqueiros.

Figura 33 – Mapa de localização do município de Mococa no Estado de São Paulo. Extraído de

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mococa em 21 de dezembro de 2015.

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As fontes de informação utilizadas para a caracterização do município foram: (CORREIA; BORTOLUCCI, 2013), (BENINCASA, 2007), (PARAIZO, 2013), (HEFLINGER, 2013), (RAMALHO, 2016), (RODRIGUES, 2006).

Figura 34 - Mapa de Divisão Administrativa da Região Central do Estado de São Paulo. (Imagem editada a

partir de: Instituto Geográfico e Cartográfico – IGC / Secretaria de Planejamento e Gestão. Governo do Estado de São Paulo. 2015).

De povoado conhecido por São Sebastião da Boa Vista, passou a freguesia em 1857, à vila em 1871 e finalmente à cidade em 1875. O Barão de Monte Santo (Gabriel Garcia de Figueiredo) figura como um de seus fundadores. Com mão de obra de escravos africanos, foi implantada a primeira lavoura de café na região em 1842 (potencialmente as primeiras mudas do Estado de São Paulo), passando a contar preponderantemente com imigrantes italianos, a partir da década de 1890, além de pequenas quantidades de pessoas de outras nacionalidades, resultado direto da abolição da escravatura. O município recebeu mais de 10 mil imigrantes até o início do século XX.

A cidade ficou reconhecida como a produtora dos melhores cafés do Brasil, sendo alçada a elite social e financeira do país, e onde residiam os “Barões do Café”. Tal situação econômica e cultural legou à cidade um significativo patrimônio histórico e arquitetônico, materializado em diversas edificações urbanas e rurais, em grande parte bem conservado. Seus edifícios contam a história de um passado glorioso, em que o café, principalmente, propiciou muitas oportunidades e riquezas que são atualmente acessíveis aos seus visitantes.

Sua situação produtiva ficou abalada a partir de 1914 em virtude da Primeira Guerra Mundial e da crise internacional de 1929, que debilitaram o comércio mundial de café. Entretanto, muitos investimentos que antes estavam destinados à rubiácea, passaram para a criação de gado de leite, que surge como uma escolha viável, em virtude dos campos de pastagem de boa qualidade. Mesmo com a mudança, a cidade se manteve como referência em agricultura em ambas as áreas, alavancando investimentos e ações que permitiram sua viabilidade econômica.

Apesar de possuir um bom número de estabelecimentos industriais e de serviços, trata-se de um município com vocação essencialmente agrícola, com destaque para a produção de café, chá, laranja, algodão e cana de açúcar, além de outras culturas menos difundidas. Na pecuária a produção de leite de vaca e de ovos de galinha é destacada, o que direciona grande parte dos investimentos agroindustriais, principalmente, como ocorre com os laticínios e abatedouros avícolas.

As fazendas históricas da região têm um papel fundamental na criação do município, pois foi a partir de sua formação que os paulistas tomaram posse das terras que até então pertenciam a Minas Gerais. Em virtude da distância física da capital, existiram incentivos de estado à abertura de culturas e pastagens, de maneira a forçar o assentamento de famílias no território. São muitas as lendas e histórias que envolvem as famílias dos fundadores da cidade: Venerando Ribeiro da Silva, Gabriel Garcia de Figueiredo, Diogo Garcia de Figueiredo, José Gomes de Lima, José Christovam de Limae José Pereira dos Santos, que se perpetuam até os dias atuais, fruto de várias disputas territoriais, disputas de poder e de casamentos consanguíneos.

A fazenda Santo Antônio da Água Limpa foi criada a partir de desmembramentos da fazenda Água Limpa, que remontam ao período anterior ao da fundação da cidade, estando localizada no distrito de Igaraí, a cerca de vinte (20) quilômetros do centro de Mococa, e está aberta à visitação desde 2009. A recepção dos visitantes e a sua hospedagem ocorrem na própria casa sede da fazenda e em chalés adaptados em casas de uma das antigas colônias da propriedade, mais próxima à sede.

As parcerias, mais que as relações empregatícias e/ou comerciais, são um dos pontos de destaque das atividades culturais disponíveis. A fazenda possui uma população que trabalha em sistema de parceria produtiva com os proprietários, como bem explica esse arranjo o Sr. João Pereira Lima em seu depoimento, não se tratando de funcionários formalizados. Tal situação permite uma interação diferenciada entre as pessoas, alternando momentos de trabalho, lazer e convívio social. Alguns desses parceiros moram em edificações na fazenda, compartilhando o ambiente com os visitantes e com os participantes de intercâmbios técnicos e científicos do sistema Wwoof64, apesar de cada um destes utilizar habitações distintas e separadas.

Tendo em vista o posicionamento cultural da família proprietária, a partir de uma filosofia que enfatiza a relação harmônica entre o homem e a natureza, as atividades turísticas são voltadas à valorização dos aspectos históricos da região, da cidade de Mococa e da propriedade como um ponto de interesse na sustentabilidade dos recursos naturais existentes. Como o Sr. João Pereira Lima apregoa, o “livro da natureza” deveria ser lido por todos em todos os lugares, mas como essa possibilidade ainda é restrita a poucos interessados, a fazenda se coloca como uma opção para que os visitantes possam perceber as características do local e, eventualmente, encontrar uma forma própria de observação da natureza existente, a partir do contato com a Santo Antônio da Água Limpa.

A fazenda se notabilizou por difundir o conceito de colheita de forma a fazer o visitante perceber que em um mesmo espaço de terra existe uma miríade de colheitas possíveis, como defendem os proprietários, que variam de frutas colhidas das espécies arbóreas, trepadeiras, arbustivas e rasteiras, da sombra que permite

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que outras plantas e animais façam uso daquele espaço, como o café, o gado e os porcos, que se desenvolvem e interagem naturalmente, chegando à proteção do solo e a ampliação da nutrição e da presença de microrganismos no subsolo, e a colheita da água das minas subterrâneas, que aumentam de volume, de capacidade de recarga e em altura.

Com este princípio, a produção de café é ativa na fazenda, constituindo produção orgânica e natural, voltada para a exportação para o Japão. O beneficiamento do café também é realizado na fazenda, sendo possível ao visitante acompanhar diversos aspectos dessa cultura, desde as mudas plantadas, sua florada, a colheita, a secagem no terreiro, armazenamento, torrefação e a degustação diária. Entretanto, o café não é plantado de acordo com a agricultura tradicionalmente consagrada, em grandes linhas a pleno sol, que acompanham a topografia, dando desenho característico ao seu cultivo. Na Santo Antônio ele ocorre, quase espontaneamente, na sombra das árvores em locais específicos da fazenda. Todo o cultivo promovido na propriedade é objeto de interesse turístico e educativo, pois são os animais, porcos, cavalos e bovinos que promovem a roçada e a capina do mato sob os pés de café e de outras plantas, como o limão e a goiaba, entre tantas outras ações produtivas que fogem ao padrão convencional.

Entre as atividades disponíveis aos visitantes na fazenda, se destacam as vivências na lavoura e a degustação de café, e das demais culturas existentes na fazenda, como as de palmito Jussara, de limão cravo, de pau d’alho, de goiabas, mangas e jacas entre tantas outras. Merecem menção as cavalgadas que são realizadas na propriedade (com cavalos próprios) ou por grupos de outras fazendas (Caso da Fazenda Nova) que utilizam a Santo Antonio como local de pouso, ao longo das cavalgadas mais longas que realizam na região. Existem também as trilhas ecológicas que permeiam a agrofloresta, os mirantes, as represas e a porções de Mata Atlântica disponíveis, com banhos de cachoeira e práticas de meditação, as instâncias de observação silvestre de fauna e flora e outras atividades artísticas diversas.

Entre as atividades disponíveis em parceria com agentes de turismo locais, pelos arredores da propriedade, destacam-se: o rafting nas corredeiras do Rio Canoas, as degustações de cachaça nas fazendas ASPASE e Morro Azul65, a visita ao mirante de Mococa e a cachoeira de Itambé, bem como visitas às atrações turísticas regionais, como concertos e apresentações culturais na cidade e visitas às cidades do entorno, como Cássia dos Coqueiros, Arceburgo e Caconde. Todas as atividades na fazenda são disponibilizadas e acompanhadas pela família, sendo o ponto alto da visita a convivência com os proprietários e demais moradores.

As refeições contam com toda a sorte de produtos rurais produzidos no local, bem como de outros alimentos orgânicos comprados junto a fornecedores credenciados e certificados. Causa espanto inicial os alimentos mais inusitados à disposição dos visitantes, como a compota de jaca verde, as saladas preparadas com flores de urtiga e folhas de ‘ervas daninhas’ tradicionais, e tantas outras opções que sazonalmente estão à disposição. Também é facultado aos visitantes presenciar sua produção, a coleta, a preparação para depois desfrutar da degustação.

É de interesse dos proprietários poder contar com eventos culturais e outras atividades comerciais na propriedade, alinhadas às características da fazenda, que vêm sendo introduzidas de forma gradual, como novas visitas realizadas por grupos de alunos de escolas municipais, sem programa definido de credenciamento. A Sra. Renata Pereira Lima é formada em Turismo, o Sr. João Pereira Lima é engenheiro agrônomo, enquanto a filha Maria Luiza é oceanógrafa, e além das formações em nível superior, a família fala outras línguas além do português, o que permite a recepção bastante organizada de visitantes estrangeiros, bem como a maior adaptação dos participantes dos intercâmbios.

Mesmo assim, a maior parte dos visitantes ainda é proveniente de São Paulo e de Campinas e somente mais recentemente aumentou a quantidade de turistas locais e regionais, que ampliaram o rol de atividades diárias de atendimento, configurando uma modalidade de turismo de passeio, alicerçado em eventos como o almoço na fazenda e as atividades específicas e pontuais, sem contar com pernoite.

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Trata-se de uma fazenda vizinha a Santo Antônio da Água Limpa, na região de Mococa, sendo distinta da fazenda Morro Azul localizada no município de Limeira.

Figura 35 – Imagem aérea da localização da fazenda Santo Antônio da Água Limpa em relação ao centro

urbano de Mococa. Fonte: Imagem Basemap do ArcGIS 10.3. – Escala 1: 52.000 / Embrapa Monitoramento por Satélites.

Percebe-se pela imagem da Figura 35 que a Fazenda Santo Antônio da Água Limpa está localizada em local distante do centro urbano da Mococa, em um recorte do território incrustrado entre os municípios de Arceburgo (MG) ao norte e Tapiratiba (SP). Por sua condição locacional têm garantida a qualidade da água que está presente na propriedade e que dá nome à fazenda, em virtude de não possuir contribuições de esgotamento sanitário de regiões urbanizadas próximas.

O território limítrofe da fazenda é predominantemente agrícola, sendo encontradas diversas culturas (com destaque para o café, milho, eucaliptos e a cana de açúcar em termos de ocorrência) e áreas de pastagens para bovinos e equinos, além de granjas para criação e abate de aves e para a produção de ovos. Na imagem da Figura 36 pode ser percebida a paisagem da fazenda, ainda em escala de apresentação que comporta parte de suas divisas territoriais.

Figura 36– Imagem aérea da fazenda Santo Antônio da Água Limpa (limites da propriedade). Fonte: Imagem

Basemap do ArcGIS 10.3. – Escala 1: 12.500 / Embrapa Monitoramento por Satélites - 2016.

A imagem da Figura 36 evidencia a posição da casa sede da fazenda, ao Norte, e permite perceber as regiões da propriedade em que a regeneração da vegetação tem sido estimulada, tanto à Oeste/Sudoeste como à Leste, ficando nítida a descrição que o proprietário João Pereira Lima Neto faz da fazenda. É possível perceber a estrada de acesso ao local (ao norte) e as principais estradas de terra que permitem a circulação de veículos na fazenda, que aproximadamente no centro da imagem se bifurcam. À direita na imagem, pode-se perceber claramente o limite da propriedade pelo recorte dos campos de cultivo de cana de açúcar (em tom de terra), que apresentam limites geometricamente definidos.

João explica que a fazenda possui três classes de regeneração da vegetação arbórea, relacionadas, segundo seu relato, ao uso pretérito da terra para cultivo. A região que possui plantação de café, em que se destacam duas destas classes: a que utilizava práticas mecanizadas e a que utilizava ações manuais de cultivo (em virtude de pedras e da topografia) e a terceira, a região que recebia cana de açúcar. Explica que, por sua experiência, percebe que na região de cana de açúcar a

recuperação espontânea da vegetação nativa e arbórea apresenta maiores dificuldades, em decorrência da falta de banco de sementes e pelo esgotamento do solo devido ao intenso trabalho mecanizado na terra. Na imagem estas áreas estão representadas nas regiões mais abertas e desmatadas da propriedade. Nas regiões de café, aquelas não mecanizadas encontram-se revegetadas atualmente, com boa cobertura vegetal, enquanto as regiões que recebiam as práticas mecanizadas ainda apresentam espaços abertos entremeados com a vegetação em regeneração, em um estado intermediário de recuperação natural.

Figura 37– Imagem aérea da fazenda Santo Antônio da Água Limpa (sede e entorno). Fonte: Imagem Basemap

do ArcGIS 10.3. – Escala 1: 3.000 / Embrapa Monitoramento por Satélites - 2016.

Na imagem da Figura 37 é possível visualizar a região da casa sede e das demais edificações da fazenda, em especial as casas das antigas colônias, açudes e o terreiro de café. Na imagem nota-se a forma de organização espacial do núcleo da fazenda e também é possível perceber, de forma menos nítida, entretanto, as três classes de regeneração natural, descritas pelo João.

Figura 38 – Imagem geral da casa sede em meio à paisagem da fazenda. Autor: Andre Graziano/2015.

Figura 39 – Imagem da casa sede a partir do caminho de acesso à colônia, antes do riacho existente, destaque

Figura 40 – Imagem da varanda lateral da casa sede com a presença da antiga jabuticabeira. Autor: Andre Graziano/2015.

Figura 41 – Imagem da colônia da fazenda, em que existem acomodações para hospedagem de visitantes.

Figura 42 – Imagem de animais bebendo água no açude principal da fazenda, com destaque para o cavalo e o porco na margem do reservatório. Autor: Andre Graziano/2015.

Figura 43 – Imagem de encontros entre pessoas e animais no terreiro da fazenda, caminhando sobre o café

Figura 44 – Imagem de proprietários (João e Malú) e visitantes no mirante da fazenda com a mata ao fundo. Autor: Andre Graziano/2015.

Figura 46 – Imagem do açude principal da fazenda com a estrada de acesso à direita. Autor Haroldo Palo/2012.

Figura 47 – Fotomontagem a partir da lateral da casa sede da fazenda com o terreiro de café e a paisagem ao

fundo. Autor: Andre Graziano/2015.

O que se percebe pelas imagens (Figuras 38-47) são os distintos aspectos da paisagem da fazenda, evidenciando parte das observações mais amplas possíveis de serem analisadas nas imagens de satélite (Figuras 35-37). Reitera-se que não existe uma preocupação com cuidados extremos de jardinagem e manutenção de áreas livres nas áreas externas das edificações, visto que tais ações seriam contrárias à filosofia de cultivo da propriedade. Este cuidado e atenção com a ordem das coisas são, no entanto, encontrados nas dependências edificadas da fazenda, sobretudo na casa sede e chalés para hospedagem, papel que cabe a proprietária Renata, devido à sua iniciativa pessoal, e que traz contentamento aos visitantes.

Tal situação contrastante, entre as áreas edificadas sob a responsabilidade da Renata e as áreas abertas, sob a responsabilidade do João, que se manifesta em suas posturas de vida, é um dos pontos de maior atenção, sempre no sentido positivo, nos depoimentos dos visitantes entrevistados, inclusive dos proprietários.