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6 REVISÃO DE LITERATURA

7.1 Filosofia da Linguagem

Se se considerar que a linguagem humana, em suas manifestações específicas (línguas), é imprescindível para o desenvolvimento do conhecimento humano, então uma filosofia da linguagem pode, pelo menos em alguns aspectos, ser importante para qualquer outro ramo da Filosofia geral, pois, segundo Miller, “os filósofos têm sido motivados por um desejo de dizer algo sistemático sobre essas noções de compreensão linguística, significado e conhecimento” (MILLER, 2010, p. 5). Isso vale, potencialmente para qualquer outro ramo da ciência.

Não é trivial definir o que é filosofia da linguagem, pois pelo menos algum aspecto da língua(gem) (humana ou não) é objeto de vários ramos da Filosofia ou está de algum modo relacionado a algum deles. Além disso, podem-se identificar problemas filosóficos que envolvem a língua(gem) desde os gregos, pelo menos. De modo que é preciso delimitar o que se irá tratar nesta seção sobre Filosofia da Linguagem.

A figura 4 apresenta os principais atores sobre Filosofia da Linguagem no séc. XIX e XX. Essa figura sugere o papel importante e precursor de Russell no desenvolvimento da Filosofia da Linguagem. Entre seus trabalhos mais relevantes, estão as obras Princípios da Matemática (1903), A filosofia do atomismo lógico (1918) e Investigação de significado e verdade (1940). Russell sofreu várias influências – na figura, relacionamos Moore e Frege, mas antes desses, Stuart Mill e Hume.

Figura 4 – Correntes filosóficas

Fonte: Elaboração própria, adaptado de Hunnex (2003) e Marcondes (2010).

A figura 4 também procura evidenciar o importantíssimo papel de Ludwig Wittgenstein no cenário do desenvolvimento da Filosofia da Linguagem. Seu trabalho fundamental conhecido como o primeiro Wittgenstein foi o Tractatus Logico-Philosophicus (1921). O que ficou conhecido como Círculo de Viena, por exemplo, foi explicitamente influenciado pelos seus trabalhos. Os trabalhos tardios de Russell e os de Wittgenstein dão grande importância à linguagem ordinária e sua possível redução a formas precisas para comunicação em filosofia e ciência.

A corrente dos positivistas lógicos ou empirismo lógico levou adiante essas ideias ao distinguir os critérios de verificabilidade e falsidade para as proposições apresentadas na linguagem. Schlick e Carnap são dois importantes representantes nessa linha de pensamento. Do último autor, são obras importantes A sintaxe lógica da linguagem (1937), Introdução à Semântica (1942) e Significado e necessidade (1947).

Mais tarde, no segundo Wittgenstein (Investigações Filosóficas, 1953), algumas ideias relevantes que serviram de base tanto para o atomismo lógico quanto para o positivismo lógico são rejeitadas. Wittgenstein propõe a análise da linguagem como apresentada em sua forma e contexto originais:

Assim, ao aceitar a linguagem essencialmente como ela é e ao buscar somente aclarar e esclarecer o que estava diante dele, ele procurou – como Moore – levar a linguagem do seu uso filosófico e frequentemente problemático de volta ao seu uso natural e ordinário. (HUNNEX, 2003, p. 130).

O Positivismo Lógico, ou Empirismo Lógico, foi uma corrente filosófica1 que teve uma preocupação especial com enunciados ou proposições, parte essencial da linguagem utilizada em ciência e/ou filosofia. Um dos pontos mais característicos daquele grupo de filósofos é sua postura em relação aos enunciados metafísicos. Eles sustentam “a tese de que todos os enunciados metafísicos são desprovidos de sentido, porque não verificáveis empiricamente” (ABBAGNANO, 2007, p. 381).

O mesmo autor também sustenta que há, entre os representantes do Empirismo Lógico, duas teses em comum com as ideias do primeiro Wittgenstein. Primeiro, “os enunciados factuais, isto é, que se referem a coisas existentes, só têm significado se forem empiricamente verificáveis” (ABBAGNANO, 2007, p. 382). Segundo, “existem enunciados não verificáveis, mas verdadeiros com base nos próprios termos que os compõem (matemática e lógica)” (ABBAGNANO, 2007, p. 382). Esses elementos tiveram influência direta na forma como se faz ciência hoje, a possibilidade de verificar e testar.

O segundo2 Wittgenstein teve influência decisiva na chamada Filosofia da Linguagem Comum3, bem antes de sua segunda obra-prima, “Investigações Filosóficas”, obra publicada em 1953. Em 1929, ele argumenta:

Eu costumava acreditar que havia a linguagem ordinária que todos normalmente falamos e uma linguagem primária que expressava o que realmente conhecíamos, a saber, os fenômenos. Eu também falava de um primeiro e um segundo sistema. Agora, desejo explicar por que eu não mais me ligo a essa concepção. (WCV:45 apud CHILD, 2013, p. 92).

1Essa corrente teve início no que é conhecido historicamente como Círculo de Viena, “um grupo de filósofos

analíticos com inclinação científica e matemática que se encontraram nos seminários privados de Moritz Schlick, nas manhãs de sábado, em Viena a partir de 1923” (MAUTNER, 2011, p. 147).

2Apesar da predominância da visão de dois Wittgenstein “Em pesquisas acadêmicas mais recentes, essa divisão

tem sido questionada: alguns analistas têm visto unidade de pensamento, enquanto outros veem nuances mais discretas, adicionando estágios como o médio Wittgenstein e o terceiro Wittgenstein” (BILETZKI; MATAR, 2014, p. 1).

3A Filosofia da Linguagem Comum é uma linha filosófica que “coloca a linguagem comum como objeto” e

“julga que sua análise é o instrumento mais apropriado para resolver importantes problemas filosóficos”

(ABBAGNANO, 2007, p. 719).

Do que se viu sobre Filosofia da Linguagem nos parágrafos anteriores, alguns traços definidores podem ser derivados.

Primeiro, nota-se uma evolução na importância da linguagem comum em contrapartida com as linguagens artificiais. Explicando melhor, ainda em Russell4 e alguns antecessores imediatos, a linguagem da lógica era a solução para transformar os enunciados importantes em uma linguagem artificial (proposições) que se pretendia perfeita para expressar ciência e filosofia por um lado, mas que, por outro lado, apresentou seus limites.

Tomando como referência o Círculo de Viena, houve uma evolução nas teses do empirismo no sentido de avaliar enunciados ainda na linguagem comum. Finalmente, nos meados do século XX, a linguagem comum ou ordinária voltou a ocupar o foco das atenções.

No entanto, como se verá nas abordagens de Semiótica, mas principalmente na Linguística, “linguagem comum” não significa uma coisa simples ou menos complexa do que a própria linguagem lógica.