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10 REPRESENTAÇÃO E RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO

10.2 Recuperação da informação

10.2.1 Modelos para RI e sua relação com a ML

Desde a década de 1960, é possível agrupar os modelos para recuperação da informação em três grandes grupos: (1) orientados para sistemas, (2) orientados para usuários e (3) os modelos cognitivos para recuperação da informação (INGWERSEN; JARVELIN, 2005).

Os modelos orientados para sistema são os mais básicos (figura 8) e excluem a participação do papel das pessoas nos processos representados. Consideram-se na modelagem orientada a sistemas os documentos, os quais registram a informação a ser representada ou recuperada, a própria representação correspondente e a requisição de pesquisa (query). As representações são armazenadas em bases de dados a partir da análise de documentos, utilizando-se algum algoritmo e as requisições efetuam consultas nessas mesmas bases de dados.

6Podem-se usar os termos linguísticos léxico e ou vocabulário, optou-se por essa forma porque em alguns casos

o uso desses dois termos é restritivo, como em vocabulário de medicina, parte do léxico da ciência.

Figura 8 – Modelo básico orientado a sistemas

Fonte: Elaboração própria.

É importante ressaltar, no modelo básico acima, a ausência do papel das pessoas no processo representado por esse grupo de modelos, já que o objetivo deles é a avaliação da eficiência das queries e dos resultados nas buscas efetuadas nas bases de dados. No entanto, é difícil imaginar a aplicação da teoria linguística sobre mudança da língua num modelo desses, já que essa teoria depende fortemente das pessoas (e suas línguas) envolvidas naqueles processos.

O segundo grupo de modelos para representação e recuperação é aquele voltado para o usuário, também conhecido como modelos do comportamento informacional,

A maioria dos modelos de comportamento informacional são definições, frequentemente na forma de diagramas, que tentam descrever uma atividade de busca de informação, as causas e consequências desta atividade, ou ainda os relacionamentos entre os estágios ou fases no comportamento de busca de informação. (WILSON, 1999 apud GARCIA, 2007, p. 77).

Os principais modelos no grupo dois que têm sido relatados na literatura são o modelo geral de comportamento de informação de Wilson, o modelo ISP (Information Search Process), o modelo de Dervin (Sense-Making) e o modelo de Ellis (comportamental de busca de informações). No entanto, uma pesquisa específica de análise desses modelos não evidencia nenhuma relação explícita com a teoria da ML (GARCIA, 2007). Isso apesar de enfatizar o papel do usuário e de seu contexto social real.

Observa-se, então que uma abordagem que procure colocar o usuário no centro das preocupações na Organização da Informação deve recorrer, necessariamente, à experiência acumulada nos chamados estudos de usuários. Ou seja, os estudos sobre os comportamentos informacionais dos usuários, sobretudo os de busca e recuperação da informação os quais incluam as variáveis que interferem nestes comportamentos, podem contribuir para o desenvolvimento de novos sistemas e ferramentas para a Organização e Representação da Informação, assim como para o uso da informação, seja nos contextos acadêmicos/científicos ou, ainda, em outros tipos de organizações. (GARCIA, 2007, p. 126).

Confirmando isso, outra análise sobre a produção científica em ciência da informação e recuperação da informação que elenca as principais abordagens sociais também não inclui teorias linguísticas,

As principais abordagens sociais que constituíram correlações com a temática Recuperação da Informação foram Epistemologia Social, Psicologia Social,

Hermenêutica, Construtivismo Social e Análise de Domínio. Destacaram-se também

outras temáticas que firmaram fortes laços de relacionamentos com essas abordagens e, sobretudo, com o tema Recuperação da Informação, entre elas: Teoria

da Informação e Organização do Conhecimento. (MARTINS; LIMA, 2013, p. 12,

grifos nossos)

Analisando o modelo Sense-Making (DERVIN, 1998), chamou a atenção o fato de a metodologia naquele modelo considerar também o fator tempo (algo essencial na teoria da mudança linguística), "Os conceitos fundacionais na metodologia sense-making são

tempo, espaço, movimento, questões (gap), passos (step-taking), situação, ponte e resultado"

(DERVIN, 1998, p. 39, grifo nosso). Mas a análise mais detalhada da descrição desse modelo (DERVIN, 1998) não estabelece relações com a teoria da ML. Com base num estudo de onze revisões de literatura, observa-se sobre estudos de usuários uma "carência de bases teóricas nos estudos" (ROLIM; CENDÓN, 2013, online).

O terceiro grupo de modelos para recuperação da informação, o cognitivo, parece ter suas bases na década de 1970, "por volta dos anos 70 o paradigma da informação deslocou-se em direção a uma contextualização mais ampla, tendo como foco principal o usuário e seu conhecimento individual, dando origem assim ao Paradigma Cognitivo" (ALMEIDA et al., 2007, p. 20).

De maneira geral, esse grupo de modelos baseia-se em cinco dimensões inter- relacionadas, conforme Saracevic (1996):

1. A interação de recuperação da informação é um conjunto de processos cognitivos, ocorrendo em potencialmente todos os elementos processuais da recuperação;

2. Usuários interagem não apenas com sistemas de recuperação da informação, mas também com objetos de informação – textos – que são estruturas cognitivas, consideradas como um espaço informacional;

3. O espaço cognitivo do usuário é um conjunto de elementos causais estruturados; contexto cognitivo e situacional são predominantes;

4. Interações ocorrem em diferentes níveis e consequentemente são de diferentes tipos;

5. O processo é altamente dinâmico. Uma poli representação é aplicada simultaneamente a ambos, espaço cognitivo do usuário e espaço informacional dos sistemas de informação.

Novamente, o exame da proposta inicial do modelo cognitivo por Ingwersen (1996), apesar de prever um "nível linguístico", não estabelece nenhuma relação com a teoria da ML, explicitamente ou não.

A conclusão à qual se chega, analisando – ainda que de maneira não exaustiva – os três grupos de modelos para representação e recuperação da informação é que os grupos (2) orientados ao usuário e (3) com orientação cognitiva, ambos ao considerar as pessoas nos processos de representação e recuperação e às vezes o fator "tempo" e "mesmo questões linguísticas", não especificam efeitos da ML, pelo menos de maneira explícita.

A linguagem natural e seu processamento não são estranhos nos problemas de recuperação da informação, "linguagem natural [língua] é variável, rica, flexível e em constante evolução. Ela contém muitas subculturas ou discursos baseados na idade, classe, raça, profissão, contexto ou uso" (INGWERSEN; JARVELIN, 2005, p. 151). Mesmo considerando esse cenário, os efeitos da ML em SRIs não fazem parte do rol de aspectos da língua mais relevantes.