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Filosofia e Teoria jurídica

No documento Hélio de Negreiros Penteado Filho (páginas 42-45)

1 FILOSOFIA E CIÊNCIA JURÍDICA

1.7 Filosofia e Teoria jurídica

A filosofia teve seus primeiros registros, talvez, na Grécia com Tales de Mileto, no século VI a.C. e segundo Heidegger39, foi “acabada” na Alemanha com o filósofo

Hegel, no século XIX d.C., em sua obra, Heidegger se preocupa com questões fundamentais dispostas de forma didática acerca de em que medida a filosofia entrou em seu estágio final na época presente, assim como qual tarefa ainda está reservada para o pensamento nesse fim da filosofia. O autor se ocupa com o fim da filosofia e parte do pressuposto que a sociedade está passando por um período de transformações que acarretam numa nova necessidade intelectual e a filosofia não possui mais instrumentos necessários para dar conta desse problema cuja solução se dará através da técnica. Com o fim da filosofia proposto por Heidegger não se entende o ponto limite da atividade filosófica, mas sim um ponto de reflexão que permite olhar os desdobramentos da atividade filosófica numa perspectiva de compreensão do mundo, a partir da técnica. Esse filósofo alemão existencialista aponta para o fim de um projeto metafísico do ser na ciência, herdado da tradição grega antiga, deixando apenas o pensamento, o que se consubstancia em uma continuação como atitude metafísica no seu modo de operar através de sua transmutação de representação, enquanto uma representação que corresponda de fato ao ser.

Esse texto não se detém a conceitos fundamentais de compreensão da lógica jurídica mas não pode se afastar desses conceitos para melhor embasar as categorias epistêmicas que estruturam o conhecimento humano, em especial o processo de aquisição do conhecimento em ciências sociais aplicadas, como o direito, cuja matéria essencial da lógica e pensamento formal nos leva a uma filosofia que é um saber numa área conceitual dada pela metafísica, que diz respeito ao que há de mais fundamental para o ser humano – nossa forma de conceber e conhecer a realidade. E, como todo tipo de saber, elabora um conhecimento sobre as coisas de seu campo de estudo – o Ser das coisas e o Ser do ser (ente), que, segundo a tradição filosófica,

exclui a experimentação, a observação ou práticas sensoriais para a verificação de suas proposições, ou seja, não é a filosofia um saber empírico. A teoria jurídica, assim como a conhecemos pode ter tido início com a norma jurídica e é difícil precisar quando a primeira norma passou a existir. Se a filosofia nasceu no momento em que o homem se perguntou que é isso? Normas nasceram no momento em que foi dito

isso não pode! Se o homem é um animal social, onde há homem há sociedade, e se

há sociedade existem normas.

A ausência de empirismo na filosofia sempre foi uma questão que a coloca não como propriamente uma ciência, pois seu objeto é a totalidade universal e o absoluto, que não podem ser deduzidos e comprovados da experiência, que sempre diz respeito a fatos ou objetos particulares, relativos e contingentes, sempre acessíveis aos sentidos. A filosofia trata de algo mais, de algo fora da experiência possível o que a coloca depois da experiência física, na metafísica (após a física), ou seja, pensamento que não pode ser conferido empiricamente pela experiência possível.

Pode ainda a filosofia ser uma atitude perante o mundo ao invés de um conhecimento específico, mas usaremos o termo filosofia aqui como um exercício de análise crítica das condições de possibilidade da linguagem para dizer o mundo, cientificamente ou não, cujo objeto é o conhecimento humano expresso através da linguagem, pondo em relevo, de modo crítico, aquilo que pode ser dito com relevância e coerência. Como explica Guerra Filho em sua obra A filosofia do Direito40 – um

conceito próprio de filosofia responde à questão primeira, como introdução, sobre o que podemos esperar da filosofia como um saber, ou seja a proposta de um pensamento filosófico numa era dominada pelo pensamento científico e técnico. E o autor responde com uma proposta de filosofar sobre a filosofia.

A filosofia não pode elaborar teses e demonstrá-las empiricamente com verdades absolutas tal qual as leis da física mecânica newtoniana, mas não é também, por outro lado, mera opinião, livre de parâmetros racionais e avaliações sem resultados. Filosofia não é ideologia pois não se limita a tornar meramente convincentes suas proposições, não é seu objetivo, persuadir, convencer ou dissuadir.

40 Guerra Filho, Willis Santiago. A Filosofia do Direito aplicada ao Direito Processual e à teoria da Constituição- 2ª ed. – São Paulo; Atlas, 2002,p.11.

A compreensão na filosofia ocorre no momento em que o consenso na forma de aprender é alcançado do maior número possível de pontos de vista.

Ou seja, o ponto de partida da discussão filosófica dá início a uma discussão sobre um tema de forma a abrir a questão e chegar a um acordo para desenvolvê-la. Heidegger já se colocava a questão o que é filosofia? Ou nas suas palavras:

“Que é isto: a filosofia? Quando filosofamos? Evidentemente só quando entramos em colóquio com os filósofos. Isto significa que discutimos com eles aquilo do qual eles falam. Esse mutuo discutir o que sempre de novo concerne expressamente os filósofos como o Mesmo, é o falar, o léigen no sentido da dialegestai. ” 41

Colocar essa pergunta - O que é a filosofia? É exatamente filosofar. Alguns autores chamam de filosofia o estudo da história da filosofia, dos pensadores, por outro lado podemos mesmo colocar a filosofia da história da filosofia como objeto desse estudo e produzir filosofia e partir daí, ou ainda delimitar estudos filosóficos centrados em épocas diferentes. Para o objetivo desse estudo colocaremos mais à frente essa pergunta – que é ser humano? Para daí construir, filosofando sobre ele, a sua dignidade.

No documento Hélio de Negreiros Penteado Filho (páginas 42-45)