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Financiamento público dos cuidados de saúde

No documento Revisão das Despesas Públicas (páginas 56-60)

RECENTRANDO O FINANCIAMENTO DA SAÚDE PÚBLICA NOS POBRES

22 GCV, I-PRSP

3.5. Financiamento público dos cuidados de saúde

114. Na primeira fonte de financiamento dos cuidados de saúde, nomeadamente o orçamento público de saúde, o financiamento é disponibilizado através da afectação de recursos gerais do Governo aos estabelecimentos de saúde. Os mecanismos de financiamento variam com o nível de prestação de cuidados de saúde. Todos os estabelecimentos de saúde prestando cuidados primários e secundários de saúde são financiados principalmente pelo Tesouro. Os beneficiários incluem todos os indigentes, trabalhadores por conta própria (incluindo a maioria da população rural) e funcionários públicos. No caso dos funcionários públicos, 2% dos seus salários são retidos, em contrapartida dos quais eles e os seus familiares vivendo sob o mesmo tecto têm acesso aos estabelecimentos públicos dos serviços de saúde (assistência médica e fornecimento de medicamentos, quando disponíveis) sem custos além da comparticipação simbólica.

Quadro 15: Orçamento do sector da saúde (execução), como % da execução global do orçamento 1998 1999 2000 2001 2002 Total das despesas de saúde 6.9% 5.9% 6.5% 7.3% 6.5% Despesas de funcionamento da saúde 5.5% 5.4% 5.7% 5.8% 4.7% Despesas de investimento da saúde 1.3% 0.5% 0.8% 1.5% 1.8%

Quadro 16: Orçamento do sector da saúde (execução), como % do PIB

Saúde Orçamento

Despesa de funcionamento Vencimentos

& Salários Bens & Serviços Transferências

PIP Total Total

1998 - - - 0.5% 2.6% 37.9%

1999 - - - 0.2% 2.2% 37.1%

2000 1.5% 0.1% 0.5% 0.3% 2.4% 37.1%

2001 1.4% 0.1% 0.5% 0.5% 2.5% 34.4%

2002 1.4% 0.0% 0.4% 0.7% 2.5% 38.4%

Fone: GCV e estimativas dos técnicos

115. A segunda fonte de financiamento é um esquema de segurança social gerido pelo “Instituto Nacional de Providência Social” (INPS). O INPS é uma instituição pública com autonomia financeira para a qual todos os empregados do sector privado (incluindo as paraestatais) devem contribuir 8% do seu salário bruto, com uma contribuição complementar de 15% do salário bruto pelo empregador. Isto cobre tanto as pensões como a saúde. Em 2000, havia aproximadamente 79,300 beneficiários, ou perto de 20% da população. A afiliação no INPS paga aos pacientes 75% de todas as despesas médicas (consultas e medicamentos comprados nos hospitais e farmácias)25. Os

beneficiários do INPS usam os estabelecimentos públicos, para os quais o INPS contribui 100 milhões de ECV, 60 milhões ao Tesouro e 40 milhões directamente aos hospitais. Embora não estejam disponíveis informações sobre os custos, parece pouco provável que essa contribuição, aproximadamente 8 por cento do orçamento total da saúde em 2001, seja suficiente para cobrir os custos totais da utilização dos serviços por esse grupo, Contudo, é provável que o jovem esquema de pensões esteja a subsidiar de forma cruzada o esquema de saúde do INPS, que também compensa directamente os afiliados por medicamentos. Além disso, parece que se estão tornando frequentes pedidos de reembolso fraudulentos ao INPS por medicamentos comprados nas farmácias, com impacto nas contas do INPS.

116. A terceira fonte de financiamento são as taxas pagas pelos utentes. Para enfrentar o nível acrescido de serviços procurados pela população, o Governo instituiu uma pequena comparticipação (50 esc. CV) para todas as consultas médicas e medicamentos fornecidos pelo sector público, independentemente da cobertura do paciente. Todos os estabelecimentos públicos arrecadam algum rendimento de taxas que cobram pelo acesso aos serviços (i.e. uma comparticipação única de 50 esc. CV), ou serviços julgados não estritamente necessários, tais como quartos individuais. Esta fonte de fundos é magra a nível municipal (e.g. poucos milhares de escudos por ano para os postos sanitários), mas pode atingir proporções significativas no segundo nível (i.e. 7.000.000 esc. CV para o hospital regional de Santa Catarina), e torna-se crítica para os dois hospitais centrais (cerca de 40.000.000 esc. CV para o HAN e 15.000.000 esc. CV

25 Além disso, para todos os serviços médicos prestados por instituições públicas, o INPS paga anualmente

para o HBS em média entre 1998 e 2002)26. Contudo, o propósito da comparticipação é mais o de induzir alguma auto-selecção entre os potenciais pacientes, e evitar consultas fúteis, do que cobrir os custos do sistema público de saúde.

3.6. Recomendações

117. Melhorar a recolha de informação essencial sobre a saúde. Há uma surpreendente falta de informação sobre a utilização e as despesas dos serviços de saúde em Cabo Verde. Esses dados são essenciais para o seguimento básico e a avaliação do sistema assim como para a gestão quotidiana. Isto sugere que podem ser necessários investimentos em sistemas de informação da saúde em todos os níveis do sistema. Uma primeira tarefa seria a de explicitar os custos dos cuidados de saúde compilando e reconciliando a contas de todos os pontos de prestação de cuidados de saúde, dos pequenos postos sanitários aos hospitais e às práticas privadas florescentes. Este esforço precisa ter em conta componentes tais como o desenho de contas simplificadas, o custo da contabilidade detalhada (especialmente para pequenas unidades e práticas privadas) e a adaptação de sistemas TI para os pontos maiores de prestação de cuidados de saúde. 118. Elaborar uma estratégia de médio prazo abrangente orientada para os ODM, e cobrindo os custos dos cuidados de saúde. Cabo Verde deve gerir a “transição epidemiológica”, e por conseguinte enfrentar novos desafios sanitários enquanto consolidando as conquistas do passado. O seu perfil epidemiológico está-se aproximando ao dos países mais ricos do mundo com taxas crescentes de doenças não transmissíveis e taxas decrescentes de doenças infecciosas. Contudo, como visto nos recentes surtos do sarampo e da cólera, o país não pode permitir-se afrouxar inteiramente os seus programas de doenças contagiosas. Consequentemente, será um desafio com as autoridades a trabalhar em ambas as frentes. Parte da solução residirá na identificação e selecção das patologias e tipos de intervenções que o Governo e o INPS aceitarão cobrir na totalidade ou em parte (possivelmente desenvolvendo o uso da comparticipação, e aumentando a quantia da comparticipação por tipo de tratamento procurado – mais para a aflição de pessoas ricas e menos para a aflição de pessoas pobres). À medida que se desenvolve o sector privado, e presta cuidados adequados para certas especialidades, o sector público devia considerar a eliminação gradual da sua prestação directa de alguns serviços, enquanto desenvolvendo a regulação do sector privado.

119. Desenvolver uma estratégia abrangente de recursos humanos para o sector da saúde. Há várias indicações de que o país podia beneficiar de um estudo abrangente do Mercado de trabalho e subsequente política de recursos humanos. De particular importância será a futura regulação da prática privada.

120. Continuar a mover em direcção à segurança social: O impulso de política do Governo no financiamento da saúde é o correcto: concentração do financiamento público nos mais pobres e movimento em direcção a um sistema de segurança social para aqueles

26 A receita dessas taxas aparece nas contas dos dois hospitais, que registam a gestão dos fundos para os

quais a decisão de despesa foi devolvida aos hospitais (i.e. dotações e taxas). Há pouco controlo relativamente à autenticidade dessas contas. Para o HBS, o rendimento proveniente de taxas é registado como 15,000,000 Esc. CV de 1998 a 2002.

que são capazes de pagar. Contudo, está claro que há fraquezas no sistema que têm de ser ultrapassadas. Uma análise abrangente do sistema de segurança social seria útil, com opções tais como a separação do fundo de pensões, integração dos funcionários públicos no esquema do INPS, aumento das taxas de compensação, e entrada em contratos de desempenho com prestadores públicos e privados, todas merecendo consideração.

121. Melhorar a orientação do financiamento do sector público. Sem dados do inquérito ás despesas das famílias é difícil determinar a extensão em que o financiamento público atinge os mais necessitados, mas esforço adicional precisará de ser feito para alcançar bolsas de pobreza, importante para a melhoria dos indicadores de saúde assim como para garantir a protecção financeira e evitar a pobreza. De um outro ponto de vista, o combate à fraude é também crítico para a afectação orientada de recursos limitados. Há margem para o reforço dos controlos na prestação dos serviços e medicamentos para os afiliados dos pedidos de reembolso do INPS. Um inquérito de acompanhamento forneceria informações úteis para identificar as fugas.

CAPÍTULO 4

EDUCAÇÃO: MANUTENÇÃO DO DESEMPENHO DA DESPESA PÚBLICA FACE A UMA

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