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2 REFERENCIAL TEÓRICO

3 O MAPEAMENTO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA SOBRE A EDUCAÇÃO DE SURDOS

3.4 O financiamento da produção acadêmica

A pesquisa brasileira no nível da pós-graduação é majoritariamente financiada por agências federais, como a Capes, do MEC, e o CNPq, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e pelas agências estaduais como as Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs), conforme referem Hayashi e Bello (2014).

Nesse momento, focalizamos o financiamento das agências de fomento às pesquisas de mestrado e doutorado, por meio da provisão de bolsas de pós-graduação. Desse modo, observamos, na figura 8, que uma porcentagem significativa de dissertações, em média 72%, não contou com bolsas de estudo no período analisado. Somente 21% obtiveram bolsas provenientes da Capes e 3% do CNPq. Uma dissertação contou com bolsa da Secretaria de Educação de São Paulo e uma com bolsa do Fundo Mackenzie de Pesquisa (Mack Pesquisa), da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Figura 8 - Apoio de agências de fomento às dissertações

0" 10" 20" 30" 40" 50" Não$ declararam$ Capes$ CNPq$ Secretaria$de$ Educação/SP$ Mack$Pesquisa$ 45$ 13$ 2$ 1$ 1$

Fonte: Elaboração própria.

Referente às teses, notamos, também, a carência de financiamento por meio da provisão de bolsas de pós-graduação (figura 9). Das 8 teses analisadas, somente 3, 37,5%, contaram com bolsas da Capes (n=1) e do CNPq (n=2), ao passo que 5 teses, 62,5%, não contaram com auxílio financeiro.

Figura 9 - Apoio de agências de fomento às teses 0" 1" 2" 3" 4" 5" Não"declararam" Capes" CNPq" 5" 1" 2"

Fonte: Elaboração própria.

Esclarecemos que muitos autores não informaram se contaram com bolsa de pós- graduação, embora a menção à bolsa em seu trabalho e em outras atividades a ele vinculadas seja uma exigência aos alunos bolsistas, por isso, recorremos às informações disponibilizadas no Banco de Teses da Capes e no Currículo Lattes dos respectivos autores, no sentido de suprir essa lacuna.

Diante dos resultados, constatamos a insuficiência de recursos públicos destinados ao financiamento da produção acadêmica sobre a educação de surdos, assim como evidenciou Ramos, D. M. (2013) em seu estudo.

Retomamos, aqui, as reflexões realizadas por Ramos e Zaniolo (2014) a respeito do financiamento da produção científica no país no contexto da pesquisa em educação. Os autores argumentam que apesar desse fomento ser realizado principalmente por meio de agências federais (CAPES, CNPq) e estaduais (FAPs), a crise econômica do país e a consequente contenção de despesas por parte do governo federal repercutiram nas linhas de financiamento e no volume de recursos destinados à pesquisa por essas agências. Em suas análises, os autores recorrem, também, a autores como Campos e Fávero (1994), André (2001) e Chaves (2007) que refletiram sobre esse tema, para mostrar que: a) houve expressiva redução do fomento à pesquisa quando comparado ao crescimento do número de pesquisadores qualificados para solicitar financiamento; b) na década de 1990 a concessão de bolsas de estudo era escassa, pois a maior parte dos alunos matriculados em programas de pós-graduação em Educação não contava com apoio financeiro; c) entre 2000 e 2005, devido

à política de ajuste fiscal do governo federal, os recursos públicos destinados à Ciência e Tecnologia (C&T) no país foram insuficientes, totalizando apenas 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2005; d) e embora no período de 2005 a 2009 tenha se verificado uma ampliação dos investimentos públicos mediante a oferta de bolsas de pós-graduação, especialmente à área de Ciências Humanas, constatou-se a escassez de financiamento em C&T no país.

E ao analisar os dados do sistema GeoCapes (2015), verificamos que essa situação não modificou-se no período subsequente, 2010-2014, focalizado na presente pesquisa, em outras palavras, apesar de haver um incremento na provisão de bolsas de pós-graduação ao longo dos anos, o número de bolsas é ainda muito inferior ao número de alunos matriculados nos cursos de mestrado e doutorado no país; estima-se que ao menos 50% dos alunos não possuem bolsa de pós-graduação (CAPES, 2010).

É evidente, portanto, a necessidade de ampliação do esforço conjunto dos órgãos federais e estaduais para garantir que o maior número possível de alunos possa concluir seus estudos, bem como possibilitar atrair um contingente de alunos novos e estimulados a ingressar na carreira acadêmica ou científica. Nesse sentido, as bolsas de estudo têm papel fundamental e as parcerias com as FAPs e SECTs13 tornam-se ainda mais necessárias. (CAPES, 2010, p. 269).

Contudo, apesar de o Plano Nacional de Educação 2014-2024 (BRASIL, 2014) e o PNPG 2011-2020 (CAPES, 2010) projetarem um aumento nos investimentos destinados à pós-graduação stricto sensu - como por meio da provisão de bolsas de pós-graduação - nos próximos anos, ao lançarmos um olhar para o futuro, inferimos que tal cenário não apresentará grandes avanços, em razão, principalmente, dos cortes orçamentários, anunciados pelo governo federal no ano de 2015, que têm afetado o sistema nacional de pós-graduação como um todo (ANPG, 2016).

Não podemos deixar de considerar que muitos alunos não concorrem às bolsas de pós- graduação, pois não desejam se desvincular de seu emprego, no entanto, é evidente que a educação não tem sido prioridade para os órgãos de fomento.

Goodson (2014), em sua análise sobre a democracia e o desenvolvimento de uma política de educação, assinala que vivenciamos hoje uma “inversão da democracia”, ou seja, uma transformação no modelo de organização econômica de “reprodução ampliada” para “acumulação por espoliação”. Nas palavras do autor,

Assim, a noção de uma democracia que represente a todos é minada pela ordem econômica em que a governança se realiza. Operando plenamente dentro do mantra de acumulação por espoliação, os governos abandonam seu dever anterior de ‘representatividade’. Ao invés de ser um processo de representar ‘o povo’ contra interesses poderosos, a democracia é invertida e representa os poderosos grupos de interesse contra ‘o povo’. Essa inversão da democracia anda de mãos dadas com a nova ordem econômica. (GOODSON, 2014, p. 28).

Para o autor, tal cenário suscita inúmeras implicações, tanto para a sociedade e para a cultura, como para a educação. O modelo de privatização e a inversão da democracia tem gerado um “esvaziamento” do espaço democrático, e o financiamento público do sistema de educação será igualmente esvaziado. Por sua vez, “[...] podemos esperar menos verbas direcionadas à pesquisa sobre educação, especificamente para os estudos que investigam, do ponto de vista da sociologia, os temas da igualdade e da distribuição.” (GOODSON, 2014, p. 29).

Além disso, como aponta Chaves (2007), as medidas econômicas de caráter neoliberal, adotadas pelo Estado brasileiro, têm incentivado a adoção de parcerias entre o setor público e o setor privado, estimulando a participação de empresas no fomento à pesquisa no país, porém, podemos dizer que pesquisas que investigam o contexto educacional, como a educação de surdos, em virtude de sua natureza - sobretudo social - seriam pouco contempladas pelo setor privado, desse modo, o financiamento predominantemente público mostra-se indispensável.

Por fim, quanto às dissertações (n=17) e teses (n=3) que contaram com bolsas de pós- graduação, examinamos a sua distribuição conforme as regiões do país, a dependência administrativa e o conceito atribuído ao programa de pós-graduação de acordo com a avaliação trienal da Capes 2013.

Em relação às dissertações, notamos maior frequência de bolsas na região Sudeste (n=12), o que representa 40% do total de dissertações defendidas nessa região (n=30). Em seguida, destacamos a região Sul com 3 bolsas e as regiões Nordeste e Centro-Oeste com 1 bolsa cada, o que representa 15,7%, 12,5% e 20% do total de dissertações produzidas em cada região (Sul (n=19), Nordeste (n=8) e Centro-Oeste (n=5)), respectivamente. Também, observamos maior frequência de bolsas em IES federais (n=9), o que representa 29% do total de dissertações vinculadas a essa dependência administrativa (n=31). Tal índice aproxima-se ao de bolsas em IES privadas (n=5) e estaduais (n=3), que representa 27,7% e 23% do conjunto de dissertações vinculadas a cada dependência administrativa (privada (n=18) e estadual (n=13)), respectivamente. Por fim, notamos maior concentração de bolsas em

programas de pós-graduação com conceitos 5 (n=7) e 6 (n=5), o que representa 87,5% e 100% do total de dissertações produzidas nos programas com os respectivos conceitos (conceito 5 (n=8) e conceito 6 (n=5)), nessa ordem. Por sua vez, os programas com conceito 4 registraram três bolsas e com conceitos 7 e 3 uma bolsa cada, o que representa 12,5%, 50% e 100% do conjunto de dissertações produzidas nos programas com os respectivos conceitos (conceito 4 (n=24), conceito 7 (n=2) e conceito 3 (n=1)), respectivamente. Em relação às teses, verificamos frequência absoluta de bolsas na região Sudeste (n=3), em IES federais (n=3) e em programas de pós-graduação com conceito 6 (n=3).

Isso posto, constatamos, no universo analisado, uma tendência na distribuição de bolsas de pós-graduação: em programas com padrão de excelência, vinculados especialmente a IES federais e presentes na região Sudeste. Quanto à maior concentração de bolsas na região Sudeste e em IES federais, esses dados condizem com aqueles observados no sistema GeoCapes (2015) referentes ao sistema nacional de pós-graduação, no entanto, é oportuno considerar que assim como na amostra analisada, no contexto brasileiro a região Sudeste e as IES federais concentram o maior número de programas e de dissertações e teses produzidas, o que pode refletir nos índices observados, entre outros fatores.