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1. AJUSTANDO AS LENTES: PALAVRA E CONTRAPALAVRA

1.3 O foco na coleta e análise dos dados

Mas como é possível observar alguma coisa deixando à parte o eu? De quem são os olhos que olham? (CALVINO, 1994, p. 102) Explicitar o método de trabalho decorre de um exercício onde ³VmRQHFHVViULRV PHLRVHVSHFLDLVGHDQiOLVHFLHQWtILFDSDUDS{Uj QXDV diferenças internas escondidas pelas similaridades externas. A tarefa da análise é revelar eVVDVUHODo}HV´ 9,*276.,S $VVLPSDUD buscar explicitar o modo de pensar dos homens e mulheres é inevitável analisar o que engendra as relações sociais nas quais estes são simultaneamente constituídos, constituindo-DV3RUWDQWRVHP³GHL[DUà SDUWH R HX´ p QHFHVViULR H[SOLFLWDU TXDO R OXJDU WHyULFR RFXSDGR RX PHOKRU³GHTXHPVmRRVROKRVTXHROKDP´,VWRLPSOLFDTXHH[SOLFLWDUR método de investigação

torna-se um dos problemas mais importantes de todo o empreendimento para a compreensão das formas caracteristicamente humanas de atividade psicológica. Nesse caso, o método é, ao mesmo tempo, pré-requisito e produto, o instrumento e o resultado do estudo (VIGOTSKI, 1994, p. 86). Essa demarcação vigotskiana dá à explicitação de método a devida relevância numa pesquisa, remetendo-nos a compreendê-lo como um modo de apreendermos o real no qual e pelo qual se expressa a perspectiva de mundo de quem pesquisa. Deste modo, para assim ser FRPSUHHQGLGRRPpWRGRQDVFLrQFLDVKXPDQDVGHYHHVWXGDU³RKomem em sua especificidade humana, isto é, em processo de contínua H[SUHVVmR H FULDomR´ )5(,7$6  S   3DUD FRPSUHHQGHU HVVH processo contínuo que é a complexidade humana, esta pesquisa encontra suporte na perspectiva histórico-cultural que tem como principal meta FRPSUHHQGHUDFRQFUHWXGH³GRIHQ{PHQRHVWXGDGRVHPSHUGHUDULTXH]D GDGHVFULomRHDYDQoDUSDUDDH[SOLFDomR´ )5(,7$6S SRLV ³D PHUD GHVFULomR QmR UHYHOD DV UHODo}HV GLQkPLFR-causais reais VXEMDFHQWHVDRIHQ{PHQR´ 9,*276., 1994, p. 82).

Deste modo, fica evidente que o método, para o trabalho do pesquisador nas ciências humanas, deve conter simultaneamente a compreensão do fenômeno externo como expressão e produto daquele

sujeito que, circunscrito pelas condições anteriores, também o é na UHODomR FRP R SHVTXLVDGRU H D FHUWH]D TXH ³HVWXGDU DOJXPD FRLVD historicamente significa estudá-OD QR SURFHVVR GH PXGDQoD´ (VIGOTSKI, 1994, p. 85).

(P FRQVRQkQFLD FRP HVWD ³FHUWH]D´ QmR DSULRUtVWLFD R SODQR metodológico deste estudo referenda-se nos pressupostos da pesquisa qualitativa que, conforme Minayo

se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes. (MINAYO, 2007, p. 21).

Nesse sentido, a situação de pesquisa é aqui tomada como uma arena onde muitos discursos se confrontam, tanto do pesquisado quanto do pesquisador, e na qual interagem e se influenciam mutuamente, aproximando-VHDRGLWRGH$PRULP S ³RRXWURpDRPHVPR tempo aquele que quero encontrar e aquele cuja impossibilidade de HQFRQWURLQWHJUDRSUySULRSULQFtSLRGDSHVTXLVD´

Deste modo, rompe-se a concepção monológica, pautada na relação sujeito objeto própria das ciências exatas, instaurando-se uma relação entre sujeitos que pressupõe dois sujeitos, duas consciências, o que torna a pesquisa nas ciências humanas dialógica.

A perspectiva histórico-cultural, enraizada em pressupostos marxistas, embasa os aportes teóricos e metodológicos da obra de Vigotski como também de Bakthin rumo à superação da dicotomia social/individual, presente nas pesquisas de cunho positivista, valorizando, deste modo, os processos interativos como construtores do conhecimento humano, sempre expressos sígnicamente e, portanto, dialogicamente. Nestes termos, a ação humana é marcada dialógica e alteritariamente, pois assume como constitutiva, da relação sujeito de pesquisa e pesquisador, o lugar exotópico que funda uma perspectiva de análise marcada pela compreensão de que são mutuamente sujeitos produtores de sentido.

Assim, e em coerência com os pressupostos teóricos adotados, buscando compreender14 H ³DQDOLVDU SURFHVVRV H QmR REMHWRV´ (VIGOTSKI, 1994, p. 81), esta pesquisa esteve atenta à chamada que %DNKWLQ9RORFKtQRY  S   ID] DR ³HUUR IXQGDPHQWDO GRV pesquisadores que já se debruçaram sobre as formas de transmissão do discurso de outrem, [que] é tê-lo sistematicamente divorciado do contextRQDUUDWLYR´1RH[HUFtFLRGDDQiOLVHGRFRQWH[WRQDUUDWLYRFDEH ao pesquisador verificar como este influencia e é influenciado pelo GLVFXUVR TXH p R REMHWR HVSHFtILFR GDV FLrQFLDV KXPDQDV ³RX QXP sentido mais amplo, a matéria significante. O objeto é um sujeito SURGXWRU GH GLVFXUVR H p FRP VHX GLVFXUVR TXH OLGD R SHVTXLVDGRU´ (AMORIM, 2002, p. 10).

Pode-se depreender daí uma compreensão responsiva por parte do pesquisador, a qual se constitui como sendo de ordem dialógica. Ou seja, o pesquisador, tanto quanto o sujeito da pesquisa, conforme $PRULP  S  ³LQWHUIHUHP H SURGX]HP HIHLWRV GH VHQWLGR QD SDODYUDHQXQFLDGD´

O espaço discursivo da pesquisa é um espaço onde ambos são sujeitos, sujeitos que falam; ao pesquisador cabe, responsivamente, analisar a palavra do outro enquanto enunciado e não enquanto frase PRQROyJLFDSRUTXHSDUD%DNKWLQ S WRGRSHVTXLVDGRU³QmR tem posição fora do mundo observado, e sua observação integra como FRPSRQHQWH R REMHWR REVHUYDGR´ ,VWR ID] R SHVTXLVDGRU das ciências KXPDQDVVHGHSDUDUFRP³RFRPSOH[RDFRQWHFLPHQWRGRHQFRQWURHGD LQWHUDomRFRPDSDODYUDGRRXWUR´ %$.+7,1S 

Fundamentada no pensamento bakhtiniano, Amorim (2004) nos ajuda a compreender a importância de separar as vozes do pesquisador das vozes dos sujeitos da pesquisa. Se o pesquisador tomar a voz alheia como própria, ele corre o risco de reduzir o discurso do outro ao de quem o estuda, ignorando, que o trabalho do pesquisador se realiza com um sujeito produtor de discurso e não com o discurso descolado das suas condições objetivas e subjetivas de produção. Essa é a condição do WUDEDOKRGHSHVTXLVDDQiOLVHQDVFLrQFLDVKXPDQDV³'DtFRQFOXtPRVTXH a interpretação dialógica não conduz à fusão ou à confusão entre os textos. Ao FRQWUiULR HOD GHYH ID]HU HQWHQGHU GXDV YR]HV´ $025,0 2004, p. 192).

Tornar-se estrangeiro, ou seja, construir uma interpretação dialógica, mesmo sendo e estando envolvida no universo pesquisado ±

14 Conforme Amorim (2004, p. 190), Bakhtin usa os termos compreender e interpretar como equivalentes.

no caso desta pesquisa, na coordenação do PRONERA ± é possível quando a pretensa neutralidade e objetividade para encontrar, compreender, ouvir, explicar e traduzir o objeto das ciências humanas ³FDHP SRU WHUUD´ SRLV R KRUL]RQWH DSUHFLDWLYR GR SHVTXLVDGRU QD perspectiva das ciências humanas, é constitutivo dos sentidos que são SRUHOHSHVTXLVDGRVRXVHJXLQGR%DNKWLQ S ³SRGH-se dizer que o interpretador é parte do enunciado a ser interpretado, do texto (ou melhor, dos enunciados, do diálogo entre estes), entra nele como um QRYRSDUWLFLSDQWH´1essa perspectiva, a pesquisa exige levar em conta o contexto dos sujeitos de pesquisa considerando que o trabalho do pesquisador demanda um necessário distanciamento rumo ao que $PRULP  FKDPDGH³VXVSHQVmRGDHYLGrQFLD´GHPRGRTXH³>D@ atividade de pesquisa torna-se então uma espécie de exílio deliberado RQGH D WHQWDWLYD p GH VHU KyVSHGH H DQILWULmR DR PHVPR WHPSR´ $025,0S 8PDUHODomRTXHVHFRORFDHQWUHR³KRVSHGDUH R UHFHEHU´ SRVVLELOLWD VXVSHQGHU D KDELWXDOLGDGH GD UHODomR HP FDGa momento dos encontros entre os sujeitos de pesquisa. A pesquisa então é marcada pelo desconhecido que se quer conhecer, pelo que está a ser desvelado com os sujeitos que produziram determinado discurso e em relação ao qual o pesquisador deverá colocar-se exotopicamente. O conceito de exotopia, fundamental ao se discutir a função do pesquisador, torna-se especial quando se toma a decisão de pesquisar um tema que é parte do próprio campo de trabalho onde o pesquisador atua profissionalmente.

Bakhtin usou o conceito de exotopia nas ciências humanas inicialmente ao referir-se à criação artística, mas, no texto Metodologia das Ciências Humanas (2003, p. 393/410), utiliza-o na discussão inerente ao trabalho da atividade da pesquisa. Tal conceito é assim compreeQGLGR SRU $PRULP  S  ³H[RWRSLD VLJQLILFD desdobramento de olhares a partir de um lugar exterior. Esse lugar exterior permite, segundo Bakhtin, que se veja do sujeito algo que ele SUySULRQXQFDSRGHYHU´1DHVWHLUDEDNWLQLDQDRVXMHLWRQmRpDIonte primeira do sentido, mas antes emerge do outro, pois só é possível compreender seu nascimento numa perspectiva social. O sujeito, SRUWDQWR p PDUFDGRFRQVWLWXtGR RX DLQGD Vy p ³QDVFLGR´ SHOR TXH R outro sabe e vê dele a partir de uma posição exterior. Essa incompletude encontra no princípio da alteridade a completude inconclusa que só o outro exotopicamente pode lhe proporcionar enquanto acabamento provisório. É o olhar do outro que me completa, uma completude inacessível a mim mesmo, pois eu mesmo não posso preencher, é o

RXWUR TXH SRGH PH GDU DFDEDPHQWR RX VHMD ³HOH WHP SRUWDQWR XPD experiência de mim que eu próprio não tenho, mas que posso, por meu WXUQR WHU D UHVSHLWR GHOH (VWH µDFRQWHFLPHQWR¶ QRV PRVWUD D QRVVD incompletude e constitui o outro como o único lugar possível de uma FRPSOHWXGHVHPSUHSRVVtYHO´ *(5$/',S HSURYLVyULD2 acabamento é um conceito elaborado por Bakhtin no contexto dos estudos estéticos: o autor daria acabamento a sua personagem. Neste sentido, o acabamento é dado de fora, é da alçada de quem está de fora, ou ainda, de quem está exotopicamente colocado. No mundo ético, há sempre horizontes de possibilidades e os acabamentos aí obtidos são sempre provisórios. Por isso a pesquisa exige

entrar em empatia com esse outro indivíduo, ver axiologicamente o mundo de dentro dele tal qual ele o vê, colocar-me no lugar dele e, depois de ter retornado ao meu lugar, completar o horizonte dele com o excedente de visão que desse lugar se descortina fora dele (BAKHTIN, 2003, p. 23).

Dessa definição, pode-se entender como condição de pesquisador saber/aprender a ver de onde o outro vê, numa relação constituída pela alteridade, permitindo ao pesquisador ver pelo estranhamento o não visto, tendo assim o excedente de visão como possibilidade de produção GR FRQKHFLPHQWR 'H DFRUGR FRP $PRULP  S   ³8PD YH] que um texto só pode se dizer através de um outro e que, a cada vez que é lido, um novo sentido se revela. [...] nisso consiste a maior parte da atividade do pesquisDGRU HP FLrQFLDV KXPDQDV UHOHU H UHHVFUHYHU´ Manter e sustentar a bivocalidade entre as vozes dos sujeitos de pesquisa sem que uma ensurdeça a outra é o exercício dialógico constituído pela exotopia. Nessa perspectiva, os discursos, tanto dos sujeitos da pesquisa quanto do pesquisador (também um sujeito da pesquisa), estão em processo de transformação, pois o discurso expresso por um se constitui também do e no discurso do outro que o transpassa e de certo modo condiciona o discurso do eu, do tu e do nós.

Assim, diferenciados saberes se encontram no espaço de pesquisa e demarcam o seu caráter dialógico onde inexiste alguém que observa e outro que é observado. O caráter dialógico pressupõe a manutenção da tensão entre essas duas diferentes vozes, rejeitando tanto a ilusão da transparência e da neutralidade, quanto a fusão dos diferentes pontos de YLVWD Mi TXH DRV SHVTXLVDGRUHV FDEH FRPR GHYHU ³ID]HU LQWHUYLU VXD posição exterior: sua problemática, suas teorias, seus valores, seu

contexto sócio-histórico, para revelar do sujeito algo que ele mesmo não SRGHYHU´ $025,0S 

Nesse sentido, é possível ainda dizer que o pesquisador é aquele que recorta, congela um momento do viver ao atribuir sentidos ou ao procurar o sentido na sua permanência, mesmo sabendo que o sentido nunca é permanente. Os sentidos são provisórios e estão relacionados ao lugar, ao horizonte que ocupa e de onde fala o pesquisador, de modo que o foco dos estudos, nessa perspectiva, estará sempre sobre e entre as relações dos sujeitos entre si e destes com o mundo. Por isso o trabalho analítico do pesquisador nas ciências humanas consiste num processo interpretativo dos enuciados dos sujeitos que exprimem a si mesmos em suas marcas de pertencimento objetivadas por meio dos seus enunciados.

A perspectiva de análise que dá sustentação à presente pesquisa reconhece que a compreensão que cada sujeito tem de si deriva dos repertórios constituídos pelas palavras, pelo olhar, pelo toque e pelas imagens sempre na relação com e a um outro, e aqui em especial ³SHVTXLVDGRU H VXMHLWR GH SHVTXLVD HVWmR HP FRQGLomR GH intersubjetividade onde, necessariamente, não há eu que não se constitua na relação com um tu´ AMORIM, 2004, p. 89).

1HVVHVHQWLGRWRPDQGRDOLQJXDJHPFRPR³PDWpULDVLJQLILFDQWH´ (AMORIM, 2002, p. 10) e por sua vez como discurso produzido pelos sujeitos axiologicamente demarcados, ao buscar referências PHWRGROyJLFDV SDUD FRPSUHHQGHU DQDOLWLFDPHQWH ³FRPR R GLWR VH relaciona com o não-GLWR´ (VOLOCHÍNOV/BAKHTIN 1926, p. 05), encontro suporte em Brait (2006). Essa autora, apoiada na densa produção teórica dos membros do Círculo de Bakhtin, sustenta que, mesmo sem ter sistematizado um método de análise, a produção desse ³FRQMXQWR GDV REUDV GR &tUFXOR PRWLYRX R QDVFLPHQWR GH XPD análise/WHRULD GLDOyJLFD GR GLVFXUVR´ (BRAIT, 2006, p. 09). Nessa perspectiva e a partir dessas referências, o procedimento analítico IXQGDPHQWDO p ³FKHJDU D XPD FDWHJRULD D XP FRQFHLWR D XPD QRomR D partir da análise de um corpus discursivo, dos sujeitos e das relações que HOHLQVWDXUD´ BRAIT, 2006, p.24).

Com tal afirmação, Brait (2006) enfatiza a superação proposta pela teoria bakhtiniana no que diz respeito à dicotomia sujeito/objeto na pesquisa e propõe, com esse viés teórico, a entrada do pesquisador num ³DVSHFWRPHQRVHVWXGDGRGDYLGDGRGLVFXUVR1mRpRPXQGRGRVWURSRV porém o mundo dos tons e matizes pessoais, mas não em relação aos

objetos (fenômenos, conceitos) e sim ao mundo das personalidades dos RXWURV´ %AKHTIN, 2003, p. 391).

Diante do exposto, busquei instrumentos para compor um corpus discursivo que privilegiasse a conjugação entre os enunciados verbais e fotográficos, ou seja, procurei entre os enunciados as convergências que podem permitir melhor compreender os sentidos que os sujeitos de pesquisa atribuíram à escolarização. Essa perspectiva centra-se na FRPSUHHQVmR GH TXH ³WRGDV DV PDQLIHVWDo}HV GD FULDomR LGHROyJLFD ± todos os signos não-verbais ± banham-se no discurso e não podem ser QHP WRWDOPHQWH LVRODGRV QHP WRWDOPHQWH VHSDUDGRV GHOH´ (BAKHTIN, S ³HPFRQVHTXrQFLDWRGRR LWLQHUiULRTXH OHYDGDDWLYLGDGH PHQWDO R µFRQWH~GR D H[SULPLU¶  j VXD REMHWLYDomR H[WHUQD D µHQXQFLDomR¶  VLWXD-VH FRPSOHWDPHQWH HP WHUULWyULR VRFLDO´ %AKHTIN, 2004, p. 117).

Nesse sentido, este percurso investigativo orienta-se por tomar a condição de produção e interpretação das fotografias como enunciados GHWHUPLQDGRV ³QmR Vy SHODV IRUPDV OLQJtVWLFDV TXH HQWUDP QD composição (as palavras, as formas morfológicas ou sintáticas, as entoações), mas iguaOPHQWH SHORV HOHPHQWRV QmR YHUEDLV GD VLWXDomR´ (BAKHTIN, 2004, p. 128).

Ao conjugar os enunciados das entrevistas individuais, coletivas e da livre inspiração no grupo focal com o próprio produto fotográfico dos autores das fotografias15, busquei, pelo intercâmbio das posições de autor e contemplador, possibilitar aos estudantes das turmas de EJA compartilhar com o grupo e com a pesquisadora os sentidos que historicamente os constituíram frente as suas trajetórias, possibilidades e interrupções em sua escolarização.

Entendendo como manifestações discursivas tanto enunciados fotográficos quanto verbais, tomo-os como forma de produção de sentidos em resposta à solicitação de pesquisa. Assim, esta pesquisa tem seu foco de análise no compartilhamento das convergências presentes

15³2 SRHWD DILQDO VHOHFLRQD SDODYUDV QmR GR GLFLRQiULR PDV GR FRQWH[WR GD YLGD RQGH DV SDODYUDV IRUDP HPEHELGDV H VH LPSUHJQDUDP GH MXOJDPHQWRV GH YDORU´ (VOLOCHINOV/BAKHTIN, 1926, p. 9). Assim como o poeta que elege as palavras a partir da fala da vida em seus enunciados concretos e não do dicionário, também assim reconheço que as imagens fotográficas, selecionadas pelos sujeitos de pesquisa, do contexto extraverbal, tornam a foto plena de sentido para seu autor (bem como para quem a recebe e a contempla). O mesmo autor corrobora minha afirmação quando diz que o discurso verbal não é auto suficiente HQTXDQWR SRVVLELOLGDGH GH H[LVWrQFLD SRUTXH ³HOH QDVFH GH XPD VLWXDomR SUDJPiWLFD extraverbal e mantém a conexão mais próxima possível com a situação. Além disso, tal discurso é diretamente vinculado à vida em si e não pode ser divorciado dela sem perder a sua VLJQLILFDomR´ 92/2&+,129%$.+7,1S 

entre enunciados fotográficos e enunciados verbais que foram transcritos após a coleta de dados, ocorrida durante o trabalho livremente inspirado no grupo focal. Partindo dessa referência e com base no que a teoria de Bakhtin (2004) e seu Círculo podem apontar, busquei os indícios interpretativos ao:

Analisar o entrelaçamento das dimensões verbal e visual (sem neutralizar as peculiaridades das duas formas) das narrativas ou de outros elementos presentes nos enunciados que possam explicitá-los axiologicamente HTXHFRQIURQWDGRVSRGHP³IDODU´FRPRHQXQFLDGRVFRP vistas a possível compreensão dos sentidos produzidos acerca da escolarização em estudantes da EJA do Campo. Ainda é importante salientar que os enunciados recortados do corpus discursivo para a análise dialógica são parte de um contexto específico e que não esgotam a complexidade da questão pesquisada. Assim, ancorada na discussão dos pressupostos apresentados, considero que tanto a postura metodológica da investigação quanto a escolha e WUDWDPHQWR DQDOtWLFR GR ³REMHWR´ HVWXGDGR HVWmR LPEULFDGRV H HP conformidade com a abordagem teórica eleita, sabendo que tais pressupostos

servem como lugar em que se explicita o modo como o outro é representado. Servem também, na medida em que fracassam, para indicar o grau de alteração que a pesquisa e o olhar do pesquisador puderem sofrer. É através deles que posso olhar o outro e, paradoxalmente, defrontar-me com a alteridade pela descoberta dos pontos cegos (AMORIM, 2003, p. 31).

Na EXVFDGHVVHV³SRQWRVFHJRV´SULYLOHJLHLDyWLFDGRVVXMHLWRV da pesquisa, sem me furtar à tarefa de interpretação própria ao pesquisador. O processo investigativo que aqui assumo valoriza a FRQGLomR LQWHUSUHWDWLYD QD TXDO R SHVTXLVDGRU HP VHX ³H[tOLR delLEHUDGR´H[SHULPHQWDHH[HUFLWDDFRQGLomRGHVHUDRPHVPRWHPSR ³KyVSHGH H DQILWULmR´ TXH DR EXVFDU ³D LQWHUSUHWDomR GDV HVWUXWXUDV simbólicas tem de entranhar-VH QD LQILQLWXGH GRV VHQWLGRV VLPEyOLFRV´ (BAKHTIN, 2003, p. 399).

Na tarefa de análise, além de buscar a interrelação das informações empíricas com os estudos teóricos, buscou-se adentrar de modo consistente na realidade que ora se apresenta à pesquisa na forma

de palavras e fotografias significadas por seus produtores e que aqui são tomadas como linguagem que exprimem no discurso as condições e os PHLRV ID]HQGR ³R PHLR PDWHULDO TXH DWXD PHFDQLFDPHQWH VREUH R indivíduo, começar a falar, isto é, descobrir nesse meio a palavra em potencial e o tom, de transformá-lo no contexto semântico do indivíduo SHQVDQWHIDODQWHHDWXDQWH HWDPEpPFULDGRU ´ (BAKHTIN, 2003, p. 404). A seguir situo o processo de coleta dos dados da pesquisa em seus três momentos. Evidencio o terceiro momento quando, durante três dias de trabalho livremente inspirado no grupo focal, se constituíram os enunciados-resposta às questões da pesquisa.