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Fontes de informações

4 REVISÃO DE LITERATURA

4.3 A CRIANÇA COMO VÍTIMA E OS MECANISMOS DE ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA

4.4.1 Fontes de informações

Nas duas últimas décadas, as tecnologias de informação passaram a participar mais ativamente de todos os setores da vida dos indivíduos, da sociedade e, consequentemente, a disponibilização de informações por meio digital tem sido cada vez maior e mais diversificada. Com o uso da internet a partir da década de 90, os governos despertaram seus interesses em ampliar os investimentos em tecnologia digital, e, progressivamente, as práticas governamentais foram deslocadas para o ambiente virtual, de modo a oferecer aos cidadãos informações e serviços diversos, além de se discutirem novas formas de interação entre os setores governamentais nas três esferas, em busca da melhoria no processo de gestão pública (DANIEL; MACADAR; PEREIRA, 2013).

Há quase vinte anos atrás, Branco (1996), em argumentação que pode ser considerada atemporal, dizia que a finalidade da informação em saúde consistia em identificar problemas individuais e coletivos do quadro sanitário de uma população, propiciando elementos para análises da situação de saúde e subsídios para a busca de possíveis alternativas de enfrentamento do problema. É necessário ter clareza sobre quem serão os usuários da informação e o que, precisamente, eles desejam coletar. Existe a necessidade de se garantir que a informação requerida seja mensurável, codificada adequadamente, de acordo com a fonte, e com base de origem consistente. Afinal, informação de má qualidade informa tanto quanto a sua ausência.

Dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2015d) mostram que 80% da população brasileira é usuária do Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto 20% tem acesso à assistência de saúde privada, embora se admita haver diferenças de cobertura entre as regiões do país, os estados e até entre municípios de uma mesma Unidade Federativa. Adicionalmente, sabe-se que parte dos indivíduos que possuem assistência de saúde privada, em algum momento, também utiliza os serviços disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde. Segundo a Agência

Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em dezembro de 2014, a Bahia possuía 326.377 indivíduos na faixa etária de 0 a 14 anos, beneficiários de pelo menos um tipo de plano de saúde privado, correspondendo a 8,4% do total de indivíduos nessa faixa. Em relação à distribuição da população coberta por planos de saúde privados na Bahia, observou-se uma discrepância, pois, enquanto, no município de Salvador, a cobertura era de 24,5 % para esse grupo populacional, no interior do Estado era de apenas 5,5%. Dessa forma, admite-se que cerca de 91% da população infantil do Estado da Bahia recorre exclusivamente à rede pública de saúde quando necessita de assistência ambulatorial ou hospitalar.

Para Mascarenhas e colaboradores (2010), fontes de dados de origens diversas contribuem para a construção do conhecimento da magnitude da violência contra crianças, dentre as quais se destacam os registros dos Conselhos Tutelares, das delegacias de polícia e dos sistemas de informações em saúde. Porém nenhuma delas é capaz de, isoladamente, descrever a totalidade da extensão do problema, principalmente no que se refere às lesões não fatais, de menor gravidade, ou que não deixam marcas físicas, embora possam modificar, de modo irreversível, o patrimônio emocional da criança.

No entanto, de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2001a), as principais fontes oficiais de informação para o estudo das violências, nas diferentes fases do evento até a morte, são o Boletim de Ocorrência Policial (BO), o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) e o Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM). No Brasil, até o ano de 2005, o SIM e o SIH/SUS constituíam as principais ferramentas para o conhecimento da carga das violências no país. No ano de 2006, o Ministério da Saúde implantou o Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA) em unidades sentinela, para a vigilância contínua das violências doméstica, sexual e outras, ação que foi estendida em 2009 para as demais unidades do sistema de saúde (MATHIAS et al., 2014).

Benbenishty e colaboradores (2014) informam que os ambientes hospitalares são reconhecidos como componentes importantes na rede de serviços, para identificar e tratar casos de violência contra a criança. Muitas crianças são internadas por motivos não relacionados à situação de violência, embora o estado emocional e o comportamento da criança, observados por parte da equipe de profissionais que prestam o atendimento, podem levantar suspeitas de maus-tratos.

Dados da literatura apontam que não somente no Brasil, como também em outros países, é principalmente a partir dos dados de mortalidade que se estudam as causas externas, em razão da facilidade de coleta e da qualidade da informação (GAWRYSZEWSKI; KOIZUMI; MELLO-JORGE, 2004).

Assim, para efeito de estatística de mortalidade e planejamento de ações preventivas, a informação mais importante da Declaração de Óbito (DO) é a causa básica de morte, definida pela OMS como as circunstâncias do acidente ou violência que produziram a lesão fatal, ou seja, o tipo de acidente ou violência que ocasionou os ferimentos que levaram ao óbito (SIMÕES; REICHENHEIM, 2001).

Outrossim, depois de inseridos nos sistemas de informações nos âmbitos municipal e (ou) estadual, os dados são processados pelo Departamento de Informática do SUS (DATASUS), da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde, sendo fundamental que as três esferas governamentais facilitem o acesso às informações por elas produzidas, inclusive às instancias acadêmicas e de controle social, visto que os pressupostos legais hoje vigentes no setor saúde determinam a participação popular como uma das diretrizes de atuação do sistema público de saúde vigente no país (BRANCO, 1996; BRASIL, 2008).

4.4.2 Os sistemas de informação em saúde e o monitoramento da violência contra