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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.5 Formação de professores e violência

2.5.2 Formação continuada

Diferente da formação inicial, a formação continuada (também chamada de formação permanente ou em serviço) se constitui em espaços de atualização e aperfeiçoamento da prática docente, e propõem aos atuais professores novas possibilidades de proporcionar conhecimentos sobre a violência no contexto escolar, uma vez que este tipo de formação costuma abordar temas específicos dentro de uma área do conhecimento.

O’Reilly (2011, p. 68) entende por formação continuada, “o processo de formação que vai além da certificação oficial, que expressa a amplitude necessária do conceito de construção desse profissional”. O’Reilly (2011), cita Nóvoa (1995) ao destacar que os cursos de formação continuada fomentam a construção de novas metodologias de trabalho diante das atuais discussões teóricas, e contribuem para as mudanças necessárias para melhorar a prática pedagógica, desde que tais teorias se relacionem com o saber prático cotidiano do professor.

Neste sentido, Martins (2010, p. 58) diz que:

[...] os elementos da prática pedagógica cotidiana precisam ser ponto de partida para um processo de análise dessa prática. Entretanto, tais elementos não deverão se limitar a esse cotidiano, mas buscar conhecimentos teóricos que possam auxiliar na compreensão da realidade cotidiana e da prática pedagógica desenvolvida nesse espaço.

Examinando algumas iniciativas de redução da violência escolar adotadas pelo Poder Público entre as décadas de 1980, 1990 e o início deste século, Gonçalves e Sposito (2002) apresentam vários programas promulgados pelos Governos Federal e Estaduais, que propõem medidas formativas aos professores em relação à violência escolar. Cabe destacar o programa “Ação Contra a Violência na Escola”, promovido pelo Governo do Rio Grande Sul em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que implementou uma proposta pedagógica relacionada ao tema violência nas escolas municipais. Suas ações consistiam na premissa do diálogo (a palavra ocupando o lugar da violência); o reconhecimento e a negociação do conflito; a criação de ambientes solidários e cooperativos na escola; e a compreensão das mensagens contidas nas incivilidades e nos atos violentos.

Em outra administração do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, foi iniciado um programa de formação de professores para fomentar a cultura de paz nas escolas, que de acordo com Gonçalves e Sposito (2002, p. 122), “parte das atividades, resultou na formação de oficinas destinadas a gerir os conflitos, de modo a capacitar profissionais da rede a desenvolverem novas ações nas unidades escolares”. De modo semelhante, para atender a demanda de professores, o Governo do Estado de Minas Gerais desenvolveu um programa de formação e capacitação intitulado “Rede de Trocas da Escola Plural”, que teve como objetivo discutir e promover experiências escolares bem-sucedidas, estendendo-se ao combate à violência.

Apesar da boa inciativa dos programas em abordar a violência escolar, o resultado de suas ações ficaram restritos a sensibilização da comunidade escolar para constituir grupos indutores de ações preventivas e conscientizadoras. Aspectos burocráticos e o reduzido número de profissionais envolvidos nos programas, perante a demanda educacional dos Estados, culminaram no distanciamento entre os idealizadores e as equipes escolares, e dificultou sua continuidade no cotidiano escolar, impedindo uma avaliação concisa dos benefícios sobre os alunos.

A medida mais recente do Governo Federal no combate à violência escolar foi a Lei nº 13.185 (BRASIL, 2015), que institui o programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) em todo o território nacional. O programa fundamenta as ações do Ministério da Educação e das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação. Entre os principais objetivos que constituem o programa, constam: prevenção e o combate ao bullying em toda a sociedade; capacitação de professores e equipes pedagógicas para realizar ações de prevenção, orientação e solução do problema no âmbito escolar; promover medidas de conscientização, prevenção e combate a todos os tipos de violência; evitar punições tradicionais aos agressores, privilegiando medidas alternativas que promovam a mudança do comportamento hostil; implementar e disseminar campanhas de conscientização na sociedade para facilitar a identificação de vítimas e agressores; dar assistência psicológica, social e jurídica aos protagonistas.

Conforme O’Reilly (2011), nos últimos anos têm-se aumentado a oferta de cursos de formação continuada (especializações Lato Sensu e Stricto Sensu, cursos de extensão, e capacitações em geral) para professores nas modalidades presencial e a distância, principalmente por órgãos públicos (Federal, Estaduais e Municipais) vinculados à Educação, em parceria com Instituições de Ensino Superior (pública e privada), com o objetivo de capacitar, atualizar, reciclar e melhorar as competências dos professores. No entanto, O’Reilly (2011) ressalta que nos cursos de formação continuada, o tema “Violência Escolar” ainda é pouco abordado.

Em pesquisas realizadas anteriormente, Martins (2010) constatou na prática pedagógica do professor, a ausência de conhecimento sobre a violência, ausência de preparo psicológico e emocional e a clara dificuldade em lidar com este fenômeno no âmbito escolar. Estas constatações evidenciam a necessidade da realização de cursos de formação continuada específicos sobre o tema “Violência Escolar”, com o intuito de refletir sobre conhecimentos, práticas e intervenções preventivas e educativas que podem contribuir para superação deste fenômeno.

Silva e Scarlatto (2009) atestam a necessidade da preparação do professor para intervir em situações de violência na escola, e propõem aos cursos de formação de professores (inicial ou continuada), entre várias outras possibilidades educativas de conscientização, a utilização de títulos literários com o objetivo de subsidiar os profissionais na reflexão sobre a realidade social brasileira e sua implicação no fenômeno da violência que acontece na escola.

Para Martins (2010, p. 61), “a educação escolar pode contribuir para a superação da violência na escola” desde que reconheça a violência como objeto de trabalho

docente. Com uma formação adequada, repleta de conhecimentos, saberes e competências sobre a violência escolar, o professor pode aprender a lidar com este tipo de situação em seu cotidiano, por meio de estratégias pedagógicas efetivas que objetivem a conscientização do próprio aluno sobre seu comportamento violento, para transformá-lo em condutas saudáveis de relacionamento. Entretanto, a formação docente deve estar em estrita conexão com a realidade e os problemas do cotidiano escolar, e deve também incorporar a dimensão das relações sociais no processo de formação de professores críticos e reflexivos. Assim, é possível formar professores com os atributos necessários para exercerem a verdadeira práxis pedagógica que almeja transformar a realidade individual e social dos alunos.