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3 METODOLOGIA DA PESQUISA

3.2 Instrumentos Metodológicos

A pesquisa foi realizada em duas escolas públicas da Rede Municipal de Educação de Porto Ferreira, que atuam exclusivamente com os Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Os participantes foram duas turmas de alunos do 5º Ano do Ensino Fundamental, que corresponde ao total de trinta e nove alunos, e dois professores de Educação Física, sendo que cada professor leciona para uma turma de alunos, em uma das escolas. Os instrumentos metodológicos adotados para a coleta de dados na pesquisa de campo foram: diário de campo, entrevista semiestruturada, questionário e análise documental. Estes instrumentos possibilitaram uma análise interpretativa significativa para compreensão das relações sociais e o fenômeno da violência nas aulas de Educação Física.

A) Diário de campo: De acordo com Triviños (2013, p. 154), “todo o processo de coleta e análise de informações” devem ser feitos em anotações de campo. Todos os dados obtidos no campo de pesquisa foram coletados em um caderno do tipo brochura, descrevendo

comportamentos, ações e situações em que foi verificado o fenômeno da violência, e realizando comentários reflexivos sobre os significados e perspectivas presentes no contexto violento, por meio da elaboração de pressupostos que auxiliaram na compreensão do fenômeno. Os dados coletados no diário de campo foram provenientes de observações realizadas durante as aulas de Educação Física nas duas escolas participantes da pesquisa.

Para Chizzotti (2000), a observação objetiva uma descrição de todos os componentes da situação que se observa, como: os sujeitos e seus aspectos particulares, o local e às circunstâncias da situação (ações, conflitos, relações sociais, atitudes, comportamentos, significados, etc.). Devido à possibilidade de manter contato direto com o objeto de estudo em seu ambiente natural, observou-se o trabalho pedagógico dos professores, as atividades propostas, o relacionamento interpessoal entre professor-aluno e aluno-aluno, as atitudes, comportamentos e situações violentas, enfim, toda dinâmica de relacionamento social, com o intuito de identificar os tipos, as situações e as manifestações de violência, e compreender as razões de suas origens.

Conforme Ludke e André (2014, p. 31), ao acompanhar in loco as experiências cotidianas vividas pelos sujeitos, o pesquisador “pode tentar apreender a sua visão de mundo, isto é, os significados que eles atribuem à realidade que os cerca e às suas próprias ações”, desde que disponha de atenção e sensibilidade para compreender tais significados e recolher informações pertinentes ao objeto de estudo.

B) Entrevista semiestruturada: Segundo Triviños (2013, p. 146), a entrevista semiestruturada “é aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa [...]”. A partir de questionamentos básicos, o campo de investigação pode ser ampliado, surgindo novas interrogativas e novas hipóteses.

Este instrumento proporciona uma interação mútua entre o pesquisador e os sujeitos da pesquisa acerca do objeto de estudo, que possibilita a obtenção das informações desejadas de forma imediata. Conforme Ludke e André (2014, p. 39), na entrevista:

[...] a relação que se cria é de interação, havendo uma atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde. Especialmente nas entrevistas não totalmente estruturadas, onde não há a imposição de uma ordem rígida de questões, o entrevistado discorre sobre o tema proposto com base nas informações que ele detém e que no fundo são a verdadeira razão da entrevista. Na medida em que houver um clima de estímulo e de aceitação mútua, as informações fluirão de maneira natural e autêntica.

Para as autoras, a entrevista semiestruturada se desenrola a partir de um roteiro de questões previamente estabelecido. O roteiro deve priorizar uma ordem lógica de complexidade e sequenciamento das questões, e ser flexível, para permitir ao pesquisador realizar possíveis adaptações. De acordo com Chizzotti (2000, p. 93), o pesquisador também precisa de um preparo prévio, para permanecer durante a entrevista “atento às comunicações verbais e atitudinais (gesto, olhar, etc.), sem qualificar os atos do informante, exortá-lo, aconselhá-lo ou discordar das suas interpretações, nem ferir questões íntimas [...]”.

A entrevista semiestruturada foi destinada aos professores de Educação Física, com o intuito de compreender o entendimento que possuem sobre a temática da violência, e o que ela representa no contexto da Educação Física escolar. Também se objetivou compreender alguns aspectos da prática pedagógica relacionada ao tema violência, como: abordagem, prevenção, intervenção, relação pedagógica e social estabelecida com os alunos, enfim. Foi utilizado um aparelho celular da marca Nokia (modelo Lumia 630) para coletar os dados provenientes da entrevista semiestruturada, por meio da gravação em áudio, que posteriormente foram transcritos. De acordo com Ludke e André (2014, p. 43), “a gravação tem a vantagem de registrar todas as expressões orais, imediatamente, deixando o entrevistador livre para prestar toda a sua atenção ao entrevistado”.

C) Questionário: Para Severino (2007, p. 125), o questionário é formado por um:

[...] conjunto de questões, sistematicamente articuladas, que se destinam a levantar informações escritas por parte dos sujeitos pesquisados, com vistas a conhecer a opinião dos mesmos sobre os assuntos em estudo. As questões devem ser pertinentes ao objeto e claramente formuladas, de modo a serem bem compreendidas pelos sujeitos. As questões devem ser objetivas, de modo a suscitar respostas igualmente objetivas, evitando provocar dúvidas, ambiguidades e respostas lacônicas.

Destinou-se o questionário aos trinta e nove alunos que compõem as duas turmas do 5º Ano do Ensino Fundamental, com o intuito de compreender o significado da violência sob a ótica deles, e desvelar causas, formas e situações que possibilitam a ocorrência do fenômeno nas aulas de Educação Física. O questionário foi composto por questões abertas e fechadas. Conforme Gerhardt e Silveira (2009), nas questões abertas o informante possui

liberdade na resposta, e nas questões fechadas o informante fica restrito a escolher opções previamente estabelecidas no próprio questionário.

D) Análise documental: Consiste no processo de coleta de informações em documentos que propiciam a compreensão sobre o objeto estudado e, conforme André e Ludke (2014, p. 45), “pode se constituir numa técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos, seja complementando as informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema”.

Documentos são registros que fornecem informações necessárias à compreensão de fatos, fenômenos ou aspectos da vida social de determinados grupos. Como exemplo de documentos, André e Ludke (2014, p. 45) citam “leis, regulamentos, normas, pareceres, cartas, memorandos, diários pessoais, autobiografias, jornais, revistas, discursos, roteiro de programas de rádio e televisão até livros, estatísticas e arquivos escolares”, e as autoras ressaltam que eles representam uma fonte original de informação sobre determinado contexto, justamente por serem produzidos no próprio contexto. Neste sentido, recorreu-se à análise documental do Projeto Político Pedagógico (documento particular elaborado pela própria instituição escolar, em que são retratados o perfil e todo o plano de trabalho pedagógico) de ambas as escolas participantes, para melhor conhecê-las e caracterizar o contexto social, econômico e cultural em que estão inseridas, com o intuito de correlacionar tais informações com as outras fontes de dados, e complementar a análise sobre o fenômeno da violência nas aulas de Educação Física com maior fidedignidade.