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PARTE II INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS DE MERCADOS

Capítulo 5 – Determinantes e Estratégias de Internacionalização: O Caso CSN

5.2 Formação da Estratégia: Foco Doméstico e Intervencionismo

Em outubro de 1946 a produção de aço na usina do Rio de Janeiro é iniciada e o obstáculo inicial era convencer o mercado doméstico a substituir a importação do aço estrangeiro por causa da desconfiança inicial pelo produto brasileiro.

Na primeira metade da década de 50 a CSN já realizava projetos de expansão para atender ao mercado interno que crescia rapidamente com a industrialização doméstica. O objetivo era atingir a marca de 750 mil t/ano, novamente com empréstimos no banco americano, o ExImBank, e com a presença de técnicos e engenheiros daquele país para coordenar as atividades. As metas visavam atender à missão da empresa: Suprir o mercado doméstico com o aço. Essa era a mentalidade desenvolvida. O mercado interno continuava crescendo e a CSN começou a planejar outra expansão para produzir um milhão de toneladas de lingotes por ano.

No final da década de 50, inaugura o 8o alto forno de aço da aciaria Siemens-Martin e implementa o terceiro plano de expansão para seguir a forte demanda do mercado interno, conseqüência do plano de metas do presidente. O esforço era para atender à “verdadeira fome de aço” (MOREIRA, 2000:78). Nesta época são criadas a COSIPA, a ACESITA e a USIMINAS para atender a demanda.

Porém, no início dos anos 60, o cenário começa a se inverter e a economia brasileira apresenta o início de uma recessão e inflação, além do aumento da concorrência no setor siderúrgico com os novos concorrentes. O mercado siderúrgico experimenta uma retração na demanda interna.

Por outro lado, a CSN introduziu critérios políticos no lugar de competências técnicas para formar e escolher seus dirigentes, mostrando maior influência do governo na empresa. Desde 1960 até o início da década de 90, quando foi privatizada, passou a preencher seus quadros com alguns critérios partidários. Como sugere uma declaração de um ex-colaborador da empresa:

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“Nós começamos a notar que os cargos técnicos, os cargos que eram ocupados pelos nossos melhores engenheiros, começaram a ser preenchidos por parentes dos poderosos. A estatal piorou... me causava uma tristeza danada”.

Outro ex-funcionário da Companhia Siderúrgica Nacional completou a declaração: “Se demitia um peão, vinha uma ordem de Brasília para re-admitir. Numa empresa estatal ninguém pode pedir falência. A CSN, ao longo dos anos 80, de 82 a 89, apresentou um prejuízo médio de 30 milhões de dólares por ano. As greves da CSN, apesar de destrutivas para a empresa, eram absolutamente racionais: A CSN sempre cedeu, por que não fazer greve? E o governo depois cobria o furo”.

Desta forma, gerentes e supervisores e até diretores foram escolhidos por conhecerem políticos em Brasília. Muitas decisões foram tomadas a favor do governo, para atingir metas do governo e não da empresa. A interferência do governo federal não se resumia ao departamento de Recursos Humanos. Durante quase todo este período de 30 anos, entre 1960 e 1990, o governo ditou a política de preços da companhia também, determinando diretamente o preço dos produtos da empresa e o mercado que deveria atender. O objetivo era subsidiar outros setores como construção civil e montadoras de automóvel, além de estabilizar e segurar a inflação brasileira.

O controle do governo sobre o preço do aço, a retração do mercado doméstico e o aumento da concorrência pressionaram a CSN a procurar o mercado externo através de exportações. Conforme declaração de um funcionário da companhia no início dos anos 60, “tinha-se que exportar, às vezes, para poder ganhar um pouco de dinheiro a mais, porque o que se pagava pelo aço aqui dentro era uma porcaria, porque o governo impunha aquele preço”, afirma o ex-engenheiro da estatal, Nelson Guimarães (MOREIRA, 2000:81).

A CSN era considerada como um instrumento de política econômica do governo. Não havia uma lógica empresarial em busca do maior lucro ou de relacionamento com clientes. O

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objetivo era fornecer aço para o mercado interno e não influenciar na inflação. No final da década de 50, por exemplo, a CSN foi encarregada pelo governo federal a importar aço para suprir a demanda interna e a política pública determinou que o preço fosse fixado entre o importado, mais alto, e o nacional, que era abaixo da média internacional.

Esta tendência de interferência estatal na gerência da organização do setor siderúrgico aumentou significativamente após o início do governo militar (1964-1985). O Estado continuava visando baixa inflação e usava o aço como instrumento para manter os preços estáveis, como declara outro funcionário da empresa:

“Situações de perda da autonomia administrativa e de interferência do Estado na definição de preço do aço já haviam sido experimentadas pela CSN ao longo de governos de Jucelino Kubitschek e João Goulart. A partir de 1964, no entanto, o setor siderúrgico iria tornar-se definitivamente um instrumento de política econômica dos governos militares.”

(MOREIRA, 2000:96). Esta mentalidade da CSN, fortemente criada e influenciada pelo governo, dificultou a possibilidade de internacionalização da companhia. “O objetivo era suprir mercado interno”, nos declarou o ex-diretor de exportação da empresa. “Somente o excedente pode ser exportado”, continua o ex-colaborador. Mesmo quando o preço externo estiver superior ao doméstico, a CSN iria atender, em primeiro lugar, à demanda brasileira diminuindo sua margem operacional.

O controle estatal sobre a companhia e o setor siderúrgico aumentou durante o governo militar, embora continue mostrando a necessidade do conhecimento estrangeiro para análise do setor. Em 1966, por exemplo, o governo contratou um estudo sobre a siderurgia brasileira à Booz, Allen e Hamilton International para conduzir as políticas de expansão para o setor.

Em 1968, reforçando a interferência estatal, criou o Conselho Nacional da Indústria Siderúrgica (CONSIDER) para coordenar ações no setor. Já em 1968, organizou uma

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executiva para negociar um empréstimo nos Estados Unidos para a CSN no valor de US$ 30 milhões.

Em 1973, a SIDERBRAS, holding para a siderurgia brasileira que se manteve até 1992, quando o governo Collor resolve fechar a estatal, foi criada, para regulamentar o setor. Entre suas responsabilidades estavam o controle de preços e a definição do setor de atuação de cada uma das empresas.

Durante a década de 70, o forte crescimento do mercado interno absorveu as vendas da CSN e influenciou expansões na produção. O mercado doméstico brasileiro pressionou por aumento na oferta de aço, o que levou as siderúrgicas a aumentarem suas plantas, sempre com assessoria externa, como em 1976 quando contratou a US Steel Engineers and Consultants.