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Formação de professores na perspectiva da integração e exclusão

2 ESCOLARIZAÇÃO, DEFICIÊNCIA E INCLUSÃO DE ALUNOS CEGOS … 18

2.3 INCLUSÃO: REALIDADE OU UTOPIA?

2.3.1 Formação de professores na perspectiva da integração e exclusão

A discussão sobre formação de professores, para preparar profissionais que trabalhem de acordo com as perspectivas da integração e da inclusão ocorre há algumas décadas.

A Portaria n.º 1.793, de dezembro de 1994, considerando a necessidade de complementar os currículos de formação de docentes e outros profissionais, resolve, em seu artigo 1º. ,“recomendar a inclusão da disciplina ‘Aspectos Ético – Político – Educacionais da Normalização e Integração da Pessoa Portadora de Necessidades Especiais’, prioritariamente, nos cursos de Pedagogia, Psicologia e em todas as Licenciaturas” (BRASIL, 1994).

A necessidade de conhecimento sobre especificidades de alunos com deficiência fica mais evidente na Resolução do CNE/CP n.º 1, de 18 de fevereiro de 2002, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.

Em seu artigo 6º., que trata da construção do Projeto Pedagógico dos cursos de formação de docentes e das competências referentes ao gerenciamento do próprio

desenvolvimento profissional, traz no inciso II a necessidade de: “conhecimentos sobre crianças, adolescentes, jovens e adultos, aí incluídas as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais e as das comunidades indígenas”

(BRASIL, 2002).

Reforçando essa concepção, a Resolução n.º 2, de 1º. de julho de 2015, emitida pelo Conselho Nacional de Educação (BRASIL, 2015b), que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para formação continuada, em seu capítulo V, que trata sobre a formação inicial do magistério da Educação Básica em nível superior, estabelece a exigência de garantir conteúdos que tratem da educação de pessoas com deficiência nos currículos de formação inicial. De acordo com essa Resolução,

Os cursos de formação deverão garantir nos currículos conteúdos específicos da respectiva área de conhecimento ou interdisciplinares, seus fundamentos e metodologias, bem como conteúdos relacionados aos fundamentos da educação, formação na área de políticas públicas e gestão da educação, seus fundamentos e metodologias, direitos humanos, diversidades étnico-racial, de gênero, sexual, religiosa, de faixa geracional, Língua Brasileira de Sinais (Libras), educação especial e direitos educacionais de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas. (BRASIL, 2015, p. 11).

No mesmo viés da necessidade de garantir atendimento apropriado a pessoas com deficiência, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei n.º 13.146, de 06 de Julho de 2015 - Estatuto da Pessoa com Deficiência), no seu capítulo IV, Do Direito à Educação, em seu Art. 28, estabelece:

Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar: (...)

XI – formação e disponibilização de professores para o atendimento educacional especializado, de tradutores e intérpretes de Libras, de guias intérpretes e de profissionais de apoio;

X – adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de formação inicial e continuada de professores e oferta de formação continuada para o atendimento educacional especializado;

XIV- inclusão em conteúdos curriculares, em cursos de nível superior e de educação profissional técnica e tecnológica, de temas relacionados à pessoa com deficiência nos respectivos campos do conhecimento. (BRASIL, 2015).

Analisando-se em perspectiva, observa-se uma ampliação do escopo da formação de profissionais que venham a fazer o atendimento às pessoas com deficiência. A portaria número 1.793 de 1994 e a resolução número 1 de 2002

contemplam apenas a formação inicial. Já a Lei Brasileira de inclusão da Pessoa com Deficiência, publicada no ano de 2015, por sua vez, traz a preocupação da formação continuada, tanto para professores regentes, quanto para professores do atendimento educacional especializado, o que torna relevante discutir tanto a formação inicial quanto a continuada de professores.

Buscando também responder a algumas dessas questões, em pesquisa que objetivou analisar as necessidades formativas de professores de Química, para a inclusão de alunos com deficiência visual, Paula, Guimarães e Silva (2017), verificaram que:

Foi possível apontar e discutir cinco necessidades formativas, a saber:

conhecer sobre a deficiência visual do aluno; saber vincular os conceitos científicos através de representações que não dependam estritamente da visão; saber trabalhar com a linguagem matemática; saber realizar atividades comuns aos alunos com e sem deficiência visual; e conhecer os recursos disponíveis que auxiliam no aprendizado de alunos com deficiência. (PAULA;

GUIMARÃES; SILVA, 2017, p. 874).

No mesmo estudo, as autoras analisaram documentos referentes à composição curricular dos Cursos de Licenciatura e constataram que, nos cursos analisados, disciplinas de Educação Especial e Inclusiva estão presentes na metade dos currículos daqueles que tiveram currículos elaborados ou reformulados a partir de 2008.

Além da importância da formação inicial é preciso ressaltar que no cotidiano escolar, os professores das disciplinas básicas enfrentam necessidades concretas que demandam olhar diferenciado em relação ao processo formativo.

Para Nóvoa (2019), o potencial formador do professor está na profissão, desde que haja uma relação fecunda entre professores (profissão), universidades (ensino superior) e escolas (redes).

No meio de muitas dúvidas e hesitações, há uma certeza que nos orienta: a metamorfose da escola acontece sempre que os professores se juntam em coletivo para pensarem o trabalho, para construírem práticas pedagógicas diferentes, para responderem aos desafios colocados pelo fim do modelo escolar. A formação continuada não deve dispensar nenhum contributo que venha de fora, sobretudo o apoio dos universitários e dos grupos de pesquisa, mas é no lugar da escola que ela se define, enriquece-se e, assim, pode cumprir o seu papel no desenvolvimento profissional dos professores.

(NÓVOA, 2019, p. 11).

Sendo o professor da Sala de Recursos o agente que recebe informações tanto dos alunos quanto de seus professores, cabendo a ele sintetizar essas informações e orientar em relação a planejamento, metodologia de ensino, recursos e avaliação que sejam acessíveis a todos alunos, pode ser ele também o agente que colabora com o processo de formação continuada.