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4 A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA EMPÍRICA

4.2 SUJEITOS

Como instrumento de obtenção das informações optou-se pela entrevista semiestruturada, pois, conforme Gil (2002), esta permite que o entrevistador retome a questão original ao perceber desvios, por permitir liberdade de expressão aos sujeitos participantes, e ao mesmo tempo permitir acompanhamento da conversação, seguindo um roteiro pré-estipulado.

Os professores que colaboraram com esse estudo foram identificados, para manutenção de seu anonimato, pelos códigos: P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7 e P8.

O professor P1 é graduado em Biologia, com especialização em Metodologia do Ensino de Ciências. Ministra a disciplina de Ciências no Ensino Fundamental.

Trabalha há 25 anos em escola pública, pelo regime de Processo Seletivo Simplificado (PSS). Durante todo esse período recorda ter participado de apenas uma palestra sobre inclusão educacional.

O professor P2 fez Licenciatura em Matemática, iniciou especialização nessa disciplina, mas não a concluiu. Ministra a disciplina de Matemática para o Ensino Fundamental. Seu regime de trabalho é de 40 horas semanais e integra o Quadro Próprio de Professores do Estado (QPM). Durante 13 anos de trabalho teve a oportunidade de assistir a duas palestras sobre adaptação de avaliação e de materiais e fez um curso de Matemática Acessível para cegos, com carga horária de 80 horas, promovido pela Sala de Recursos da Escola Estadual Dom Pedro II em parceria com a Universidade Federal do Paraná.

O professor P3 é graduado em Matemática e fez especialização e mestrado em Estatística. Ministra a disciplina de Matemática no Ensino Fundamental, pertence ao Quadro Próprio do Estado e seu regime de trabalho é de 40 horas na escola. No seu local de trabalho participou de um curso de Matemática Acessível para Cegos, com carga horária de 80 horas. Em sua formação inicial não houve disciplina que discutisse a inclusão.

O professor P4 fez graduação em Nutrição e complementação de disciplinas pedagógicas para lecionar Química. Fez especialização em Educação de Jovens e Adultos e Utilização de Tecnologias em Sala de Aula. Compõe o Quadro Próprio do Estado e atua há 18 anos em escolas públicas. Na sua formação inicial não cursou disciplinas que discutissem a questão da deficiência e inclusão escolar e durante todo seu tempo de magistério teve oportunidade de participar de apenas uma palestra sobre esse assunto.

O professor P5 é graduado em Ciências Biológicas e tem Mestrado em Botânica. Ministra a disciplina de Ciências para o Ensino Fundamental, seu regime de trabalho é de 20 horas e pertence ao Quadro Próprio do Magistério. Durante sua formação inicial não teve acesso a discussões sobre inclusão escolar e em sua trajetória profissional muitas vezes buscou informações na Internet, mas nunca recebeu formação continuada nesta temática.

O professor P6 fez Licenciatura, mestrado e doutorado em Física, disciplina que leciona há 10 anos em escola pública, tendo iniciado seu trabalho em sala de aula ainda no segundo ano de graduação. Na sua formação inicial não teve disciplinas que discutissem a questão da deficiência e inclusão escolar e após receber aluno cego em sala de aula participou de palestras sobre a temática a convite do professor de Sala de Recursos da Escola Estadual João Bettega.

O professor P7 fez Licenciatura em Química e especialização em Metodologia de Ensino em Química, disciplina com a qual trabalha há 10 anos em escola pública.

Na sua formação inicial não teve disciplina ou palestra que discutisse deficiência e inclusão escolar. Enquanto profissional também nunca teve oportunidade de participar de curso de formação específica. Busca informações de como trabalhar com cegos na internet e com o professor da Sala de Recursos da Escola Estadual João Bettega.

O professor P8 é graduado em Administração de Empresas, com Especialização em Marketing Empresarial. Atuou como administrador por 20 anos e antes de se aposentar habilitou-se como professor de Matemática por meio de um curso de formação pedagógica. Neste curso teve uma disciplina que discutiu aspectos da legislação relacionados à inclusão escolar. Ministra a disciplina de Matemática há quatro anos e, após receber aluno cego em sala de aula, buscou formação continuada e realizou um curso de Matemática acessível para deficientes visuais.

O fato do único professor que teve uma abordagem teórica sobre inclusão escolar em sua formação inicial ter sido o Professor 8 pode estar associado à época em que os demais fizeram suas graduações, visto que a política de educação inclusiva começou a ser discutida mais recentemente nos currículos dos cursos de formação inicial de professores. Ressalta-se que os professores manifestaram alto interesse em participar da pesquisa, sendo que três deles utilizaram seus momentos de hora atividade para concederem a entrevista e um, inclusive, foi ao encontro da pesquisadora fora de seu horário de trabalho para colaborar.

Apesar de existir um instrumento de pesquisa semiestruturada, todos falaram livremente e, além de responderem às questões iniciais, relataram suas conquistas junto aos alunos cegos, compartilharam suas angústias e esperavam que as informações por eles disponibilizadas possibilitassem a organização de atividades de formação continuada.

Os alunos, por sua vez, foram designados por A1, A2, A3, A4 e A5. Dentre os diversos itens constantes da entrevista, eles foram questionados sobre a natureza da sua deficiência visual, se é congênita ou adquirida, se possui memória visual e seu entendimento sobre deficiência.

O aluno A1 tem 16 anos, é do sexo masculino e tem cegueira congênita.

Entende deficiência como um pequeno problema que pode ou não ser resolvido, dependendo do próprio indivíduo. Está cursando o terceiro ano do Ensino Médio em uma escola pública da região central de Curitiba que possui Sala de Recursos e

recebe apoio pedagógico em instituição especializada em deficiência visual, além de frequentar projeto de Matemática em Sala de Recursos de outra instituição.

O aluno A2 tem 19 anos, é do sexo feminino e sua cegueira também é congênita. Considera que deficiência é apenas uma limitação, que é possível ter uma vida normal como a de qualquer outra pessoa, fazer as coisas como qualquer outra pessoa, mas com algumas coisas que talvez tenham que ser diferenciadas ou adaptadas. Cursa o terceiro ano do Ensino Médio em uma escola que não possui Sala de Recursos, situada na região periférica de Curitiba. Frequenta instituição especializada em deficiência visual para receber apoio pedagógico.

O aluno A3 tem 16 anos, é do sexo feminino e sua deficiência visual foi adquirida. Entende a deficiência como uma limitação um pouco maior, onde a pessoa precisa mais de ajuda, mas não que seja diferente dos outros. Acredita que pode fazer tudo o que os outros fazem, mas de uma forma diferente. Frequenta escola da região central de Curitiba, onde cursa o primeiro ano do Ensino Médio. Na sua escola há Sala de Recursos e, além disso, ela participa de projetos e recebe apoio pedagógico em Sala de Recursos de outra escola.

O aluno A4 tem 18 anos, é do sexo masculino e tem cegueira congênita.

Considera a deficiência como um limite que talvez seja possível superar. Está cursando o terceiro ano do Ensino Médio em uma escola da periferia de Curitiba. Sua escola possui Sala de Recursos e nela ele recebe atendimento educacional especializado.

O aluno A5 tem 14 anos, é do sexo masculino e tem cegueira congênita. Para ele, ser deficiente visual não tem importância, visto que pode fazer bastante coisa, mesmo sendo deficiente visual. Acredita que este seja um desejo de Deus. Contudo, questiona como seria sua interação com os colegas caso pudesse enxergar. Está cursando o sexto ano do Ensino Fundamental. Frequenta Sala de Recursos duas vezes por semana em sua própria escola.

Durante a entrevista percebeu-se que os alunos usaram o momento para fazer desabafo quanto às dificuldades que encontram no cotidiano escolar e esperam com suas informações terem contribuído para que as escolas sejam mais inclusivas.

Os Quadros 1 e 2 sintetizam as características dos professores e alunos que participaram como sujeitos da pesquisa.

QUADRO 1 – SÍNTESE DA CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA - PROFESSORES Código Formação Disciplina

que ministra Regime

Fundamental PSS 25 anos Uma palestra sobre inclusão educacional.

QUADRO 2 – SÍNTESE DA CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA - ALUNOS

Recebe apoio da Sala de Recursos da escola onde

congênita Limite, que talvez possa superar.

Nas entrevistas foram feitas perguntas comuns aos dois grupos em relação à existência ou não de materiais acessíveis e recursos e tecnologias assistivas para uso na escola. Para os professores foi solicitado também que falassem sobre suas experiências profissionais, formação inicial e continuada e de que forma planejam, organizam e desenvolvem conteúdos em turmas compostas por alunos cegos e videntes. Para os alunos foi solicitado que falassem sobre a experiência de estar em sala de aula onde a maioria é aluno vidente, sobre o relacionamento com colegas e professores e de que forma ocorre o acesso aos conteúdos e a aprendizagem em sala de aula.