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Formação docente e atuação na Escola: quem é o professor de História do Recife?

CAPÍTULO 4 A PRÁTICA DE ENSINO DE HISTÓRIA E O LUGAR DA

4.2. Formação docente e atuação na Escola: quem é o professor de História do Recife?

O quadro de docentes registrados na Gerência de Ensino dos 3º e 4º Ciclos da Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura do Recife (ver anexo) na ocasião de nosso ingresso nas escolas para a fase de campo da pesquisa revela uma realidade diversa daquela que encontramos. Enquanto o registro oficial listava professores graduados em História e com cursos de especialização ou mesmo mestrado na distribuição interna efetiva de disciplinas e horários nas escolas observadas, sendo também docentes concursados e com maior tempo de formação, este não será o perfil principal encontrado lecionando História do Recife nas escolas visitadas e pesquisadas.

Quanto à Formação

Graduação (apenas) Especialização Mestrado TOTAL

4 32 1 37

No universo de nossos colaboradores, haviam seis professores efetivos, graduados e especialistas, entre quatorze, em distintas escolas; duas, entre esses, se afastaram por meio de licença médica durante a pesquisa. Além disso, encontramos dois docentes efetivos, graduados e especialistas que não atuavam em sua área de formação, sendo uma da área de Letras e outro de Geografia, lecionando, ainda que provisoriamente, História do Recife em suas escolas. Isto significa que, na maioria das escolas observadas, o professor da disciplina História do Recife não tem formação concluída na área.

Um outro dado constatado aponta para o fato do professor dessa disciplina não possuir vínculo efetivo com a rede municipal. Há uma forte presença de estagiários lecionando História do Recife. Isto pode refletir, de certo modo, duas realidades observadas no cotidiano das escolas visitadas. Primeiramente, parece haver um certo desconforto, por

parte do corpo docente da disciplina História, em relação à maneira como se organiza História do Recife, hoje, nos currículos oficiais. Depois, é possível identificar também compreensões, tanto por parte de docentes quanto de administradores escolares, que banalizam ou desacreditam a importância pedagógica da disciplina.

É fato que a prática de substituição dos docentes e o preenchimento das vagas do quadro docente através dos chamados estágios ou mini-contratos, que se firmam de forma crescente nos sistemas escolares públicos em todos os níveis, estabelece a presença de professores temporários em praticamente todas as escolas, atuando em diversas disciplinas, não se constituindo em uma questão concernente à organização do Ensino de História.

A vivência no campo de pesquisa e a escuta atenta daquelas e daqueles que constroem as práticas pedagógicas no dia-a-dia das escolas municipais nos ajudou a confirmar a hipótese construída a partir de algumas leituras em torno da disciplina História do Recife. Essas hipóteses nos fazem relacionar a secundarização da importância escolar dessa disciplina ao grande número de professores tanto de outras áreas de formação, quanto temporários assumindo a carga horária da disciplina.

Nesse sentido, destacamos a fala de um coordenador pedagógico emitida quando expúnhamos nossa intenção inicial de selecionar professores licenciados em História para realizar sessões de observação da prática pedagógica.

Se você quiser acompanhar apenas os professores concursados de História, você vai ter dificuldades para concluir a pesquisa. Porque esta disciplina está muito solta, ela funciona mais ou menos como ‘Religião’... serve para completar a carga horária dos professores. Ela é como ‘ILT’, inventaram isto ‘prá lá’ e nas escolas a gente tem que ensinar (D1).

E completa, reafirmando a presença maior de estagiários com a responsabilidade do Ensino de História do Recife:

Mas a coisa é tão solta, tem uma aula só... não tem material...é só pra constar. Então, qualquer um pode dar essas aulas... (D1).

A compreensão de que a História do Recife é uma invenção que diz respeito aos quadros técnicos e políticos que decidiriam os currículos é nítida no trecho em que o educador afirma: “inventaram isto pra lá”. No entanto, o descrédito que parece reincidente em relação à História do Recife enquanto disciplina não é decorrente de uma secundarização do Ensino de História. Ao contrário, em seis, entre treze dos docentes acompanhados, verificamos uma nítida preocupação com as possibilidades de a desorganização da História do Recife atrapalhar o interesse ou a compreensão dos alunos em relação ao conhecimento histórico. Uma professora afirmou, nesse sentido:

Para eles (os alunos) é só História. Não tem História do Recife... História do Brasil... É História. E as duas disciplinas, com horários diferentes e trabalhando períodos e espaços diferentes, muitas vezes, só confunde. Eles se angustiam porque o Recife está no século XIX e História Geral está em outro momento. Até para trabalhar essa relação do tempo histórico, dos espaços que não estão isolados, do jeito que está não ajuda muito (S1).

Essas questões destacadas revelam aspectos importantes de nossa pesquisa que aprofundaremos ao longo deste capítulo. Destacá-las no momento em que discutimos a seleção das escolas campo e sujeitos da pesquisa, no entanto, nos pareceu imprescindível para explicitar as razões pelas quais redirecionamos os critérios para a seleção dos docentes colaboradores dessa pesquisa. Após os primeiros passos do ingresso na fase de campo da pesquisa, percebemos que, ao invés de buscar encontrar professores efetivos licenciados em História na rede municipal, poderíamos contribuir com a reflexão em torno do ensino de história da cidade através do acompanhamento dos trabalhos e do diálogo com aquelas e aqueles que estão marcadamente presentes nas escolas, os professores temporários. E, ainda, que o diálogo com docentes de outras disciplinas que lecionam História do Recife poderia

revelar elementos fundamentais para a coerência e relação com a realidade do estudo que empreendemos.

4.3. Práticas de Ensino: entre técnicas, teorias e políticas – como os professores lêem o