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O lugar da História local: entre a obrigatoriedade e a valorização – o que revelam

CAPÍTULO 4 A PRÁTICA DE ENSINO DE HISTÓRIA E O LUGAR DA

4.5. O lugar da História local: entre a obrigatoriedade e a valorização – o que revelam

Outro aspecto a ser destacado é o aparente descompasso entre as convicções explicitadas pelos professores em torno de uma importância do conhecimento da “história do lugar”, da conscientização e problematização espacial viabilizada através da disciplina, e a reafirmação de que a disciplina foi fruto de uma lei e de que seus deslocamentos (de um momento escolar ao outro) e sua organização traduzem “decisões de gabinete” e não refletem as discussões e experiências dos profissionais de ensino. Essa percepção do modo como foi instituída a disciplina parece ter influência sobre a maneira como o seu ensino vem sendo planejado.

Em nossas observações, percebemos distintas atitudes dos professores em relação à presença obrigatória da História do Recife nos currículos no que concerne á organização e planejamento do ensino, caracterizando planos de ensino que poderíamos sistematizar a partir de três perspectivas:

a) Supressão da divisão de horários de aulas de História e História do Recife, com reinserção pontual de elementos da História da Cidade ao longo do Plano de Ensino em uma perspectiva próxima ao estudo integrado;

b) Planejamento diferente para as disciplinas História e História do Recife, considerando a grade oficial de aulas;

c) Confusão na organização do ensino das disciplinas, acontecendo aulas de História do Recife apenas quando parece não haver atividades ou conteúdos pendentes de História.

Em cada uma dessas organizações do plano de ensino, é possível verificar tanto a busca da valorização da História da Cidade, quanto o tratamento destacado das questões locais, talvez porque, enquanto conteúdo curricular seja compreendido, pelo docente, como conteúdo obrigatório.

Embora seja possível afirmar que a maior parte dos docentes que defende a importância do ensino de História do Recife utiliza horários de suas aulas para resolver pendências da disciplina História do Brasil ou Geral, percebe-se uma nítida secundarização do ensino de conteúdos da História local. Percebeu-se claramente que o discurso da valorização do ensino de História local convive com a indiferença em relação a possíveis finalidades didáticas, políticas ou epistemológicas do mesmo.

Assim, observamos maior freqüência de atividades e preocupação com a organização do ensino da História da Cidade, seja no horário específico ou compartilhando do horário com História (Geral), quando os professores demonstraram, através de suas falas, maior interesse e convicção no estudo e ensino das questões locais.

Nesse sentido, apenas uma dos sete professores acompanhados durante o período de observação, demonstrava (pelo que pudemos observar) e afirmou que suprimiu a divisão de horários de aula e reinseriu os temas e conteúdos de História do Recife através de períodos históricos, numa perspectiva de Ensino Integrado, e calendário cívico e cultural da cidade. Este caso é o de uma professora temporária, em regime de estágio, que é graduanda em História.

Quando destacamos uma confusão entre o “Local” e o “Geral” nos Planos de Ensino não estabelecemos, contudo, um juízo de valor sobre a prática de cada professor ou

professora; mesmo porque, nos casos observados, os docentes mostravam-se avessos à inserção da História da Cidade como disciplina autônoma. De modo que o tratamento da disciplina mediante um caráter complementar ou anedótico, com pontuações e temas trabalhados de vez em quando, parece traduzir também as convicções pedagógicas do professor ou professora.

Embora nenhum docente deixe clara esta compreensão em suas respostas às nossas questões, um dado como a utilização de três horários consecutivos de História do Recife para tratar de temáticas de História Geral, parece revelar que há uma compreensão e uma opção pedagógicas mesmo na ausência do ensino de História Local.

No que diz respeito à avaliação de aprendizagem, durante o período de pesquisa não observamos nenhuma atividade avaliativa para História do Recife. Atividades em sala de aula foram freqüentes, no entanto, nenhuma atividade programada com os alunos, em que temas e conteúdos referentes à História da Cidade fossem tratados para fins de avaliação, foi verificada. Nesse sentido é interessante destacar o que disse um professor:

Uma coisa é valorizar a História do Recife, da Cidade... Outra coisa completamente diferente é criar uma disciplina. Quando se tem uma disciplina é todo um trabalho que tem o professor, até em relação a cadernetas. E você conhece a nossa caderneta? (...) Avaliar por competência “História” e “História” não faz sentido! A disciplina é a mesma... Só tem um espaço diferente, essa relação “micro” e “macro” (S 3 )

Ao afirmar que as disciplinas são “História” e “História”, o docente está colocando a questão espacial como algo que não justifica a separação da organização do ensino de História e História do Recife, em sua opinião, a existência de uma disciplina para tratar da História da Cidade estabelece um “excesso de conteúdo”, não atende às expectativas de tornar a História mais próxima porque haveria apenas o estabelecimento de novos conteúdos e não de “uma outra dinâmica de trabalho”.

Além disso, o professor destaca que não é interessante avaliar, por competência e através de conceitos, duas vezes em História, pois, segundo sua compreensão, as competências seriam as mesmas. A configuração da separação disciplinar, no entanto, estabelece a utilização de duas cadernetas distintas. Não foi possível, inclusive pelo fato de não ter acontecido avaliação em História do Recife, identificar se os professores realizam atividades diferenciadas ou como lidam com a questão dos registros. No entanto, os argumentos utilizados por professores e professoras nos levam a considerar a possibilidade de que é mais freqüente a utilização de um instrumento único de avaliação.