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CAPÍTULO 2 CATEGORIAS BÁSICAS À DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA:

2.1 Formação docente e o princípio da integralidade

No campo da integralidade como princípio norteador da formação do profissional na área da saúde, em especial do enfermeiro, acreditamos ser importante a reorganização do ensino nas IES, como forma de entender o papel dos agentes formadores na proposta de institucionalização de um sistema de saúde “considerado inovador” (NUNES, 2007). Como diretrizes e princípios, podemos entender a direção a ser tomada pelo SUS, ou seja, a prescrição, o modelo a ser estruturado para que seja o fio condutor da organização administrativa do sistema como um todo, incluindo seus serviços e práticas de saúde. Para melhor percebermos o campo específico do que trata o Princípio da Integralidade, podemos citar, de acordo com Vasconcelos e Pasche (2006), o que segue:

A Integralidade está relacionada aos diversos aspectos que podem levar o indivíduo ou a coletividade a ter saúde ou a ficar doente, proporcionando as dimensões da promoção, proteção, cura e a reabilitação das pessoas e do coletivo. Dessa forma, esse princípio busca alcançar as variadas maneiras de atendimento no âmbito biopsicossocial, completando o atendimento de maneira generalizada. (p. 535)

O princípio da integralidade nos chama atenção por sua dimensão, pois implica em uma ampliação da escuta dos profissionais e serviços de saúde na relação com os usuários, quer individual e/ou coletivamente, de modo a deslocar a atenção da sua doença e também para o acolhimento de sua história, de suas condições de vida e de suas necessidades em

saúde, respeitando e considerando suas especificidades e potencialidades.Nesse contexto, a integralidade emerge como um princípio de organização contínua do processo de trabalho nos serviços de saúde, que se caracteriza pela busca também contínua de ampliar as possibilidades de apreensão das necessidades de saúde de um grupo populacional (PINHEIRO; MATTOS, 2001).

Considerando a necessidade de acolhimento que a integralidade demanda, o estudo de Silva, Merhy e Carvalho (2003) constata que a dificuldade de ouvir as demandas das pessoas e de tratá-las como sujeitos com desejos, crenças e temores, tem sido a causa de inúmeros fracassos nas relações entre os profissionais de saúde e a população. No entanto, a educação necessariamente deve estar voltada à questão do desenvolvimento humano, criando condições para o aprimoramento da identidade humana,

[...] significa o oferecimento de uma educação voltada à formação integral do indivíduo, para o desenvolvimento de sua inteligência, do seu pensamento, da sua consciência e do seu espírito, capacitando-o para viver numa sociedade pluralista em permanente processo de transformação. Isso implica, além das dimensões cognitiva e instrumental, o trabalho, também, da intuição, da criatividade, da responsabilidade social, juntamente com os componentes éticos, afetivos, físicos e espirituais. Uma educação que o ajude a formular hipóteses, construir caminhos, tomar decisões, tanto no plano individual quanto no plano coletivo. (MORAES, 2002, p. 211)

Na integralidade em saúde, o modo de entender e abordar o indivíduo baseia-se na teoria holística (CAPRA, 1982), e para o holismo o homem é um ser indivisível e não pode ser explicado por seus aspectos físico, psicológico e social separadamente. Nesse ponto de vista, a ação do cuidado em enfermagem poderá ser bastante promissora, pois permite ampliar o sentido da prática do cuidar para além do puramente instrumental.

Sabemos que o atual Projeto Pedagógico do Curso – PPC de Enfermagem deve estar fundamentado na necessidade de formar profissionais aptos a aprender, comprometidos com o enfrentamento dos graves problemas da nossa sociedade. Portanto, os conteúdos essenciais para o curso de graduação em Enfermagem devem vislumbrar todo o processo saúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, integrados à realidade epidemiológica e profissional, proporcionando a integralidade das ações do cuidar em enfermagem (MEC/RESOLUÇÃO CNE/CES Nº 3, 2001).

Ao comentar sobre a importância do professor participar ativamente da construção e efetivação do PPC do seu curso, Veiga (2001) afirma que o projeto deve estar vinculado às possibilidades de uma aula universitária inovadora, envolvendo as dimensões humana,

epistemológica, metodológica e ética, uma vez que: “[...] refere-se a quem inventa ou concebe o projeto e a quem o executa e avalia. Quem concebe, executa e avalia o projeto político-pedagógico geralmente são os professores, pesquisadores, alunos. O projeto político-pedagógico é, portanto, produto de uma ação humana” (p. 147).

Outros aspectos considerados no processo de formação do enfermeiro são as necessidades de saúde dos grupos populacionais em todo ciclo vital, considerando os perfis demográfico, socioeconômico e epidemiológico nacional com especial atenção a sua região de atuação.

A aplicação dessas características na formação profissional determina a possibilidade de mudanças, tendo como perspectiva a formação de um profissional crítico, reflexivo, compromissado com seu papel social, sendo um sujeito ativo no seu próprio percurso de vida e de trabalho, contribuindo para a construção de um sistema de saúde pautado nos princípios do SUS. Nesse sentido, a formação profissional estabelece o enfermeiro e o enfermeiro- docente como promotores da saúde integral do ser humano.

Tratar de um assunto como o Princípio da Integralidade no campo do ensino superior em enfermagem tem como fundamento primordial a assistência de enfermagem que se refere a um sistema organizacional plural envolvendo o trabalho dos profissionais enfermeiros, o papel do professor na formação profissional, os diversos serviços de saúde e os usuários.

Nesse campo de inúmeras responsabilidades e tendo como foco do trabalho em saúde e, especificamente na enfermagem, o ato de cuidar, remete-nos a pensar na ação de um atendimento que contemple o princípio da integralidade, pois não se pode cuidar de partes. Nesse sentido, afirmam Antunes e Guedes (2010, p. 25) que “o cuidar é amplo e abrange a garantia de atender a necessidades e problemas de saúde naquilo que as pessoas e as comunidades por si só não conseguem resolver”.

Com foco na integralidade em saúde, elegemos nos PPC de Enfermagem das instituições estudadas a maneira de contemplar em sua estrutura o princípio em questão, assim representadas:

IES I – A instituição privilegia a formação pautada em realidade científica e profissional, capacitando o aluno a desenvolver ações de ordem educativa, promocional, preventiva, assistencial e administrativa. Permite a atuação crítica, reflexiva e criativa na resolução de problemas, considerando os aspectos econômicos, sociais e ambientais, contemplando a visão ética e humanista no atendimento às demandas da sociedade.

IES II – Compromisso com a formação generalista do enfermeiro, sob o eixo da integralidade da atenção à saúde. Formar enfermeiro generalista, com o compromisso político e social, tendo como princípios norteadores, defesa da vida e a integralidade de atenção à saúde.

IES III – Preocupa-se com a formação do bacharel enfermeiro que possa atender às necessidades dessa sociedade que reivindica, cada vez mais, a satisfação de seus anseios pelo cumprimento da Enfermagem, que lhe propiciará efetiva justiça do princípio da integralidade do SUS.

IES IV – Reconhecer a saúde como direito, estimular a concretização das condições dignas de vida das pessoas e atuar de forma a garantir a integralidade da assistência. Essa integralidade deve ser entendida como conjunto articulado, contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, em todos os níveis de complexidade do SUS.

O projeto pedagógico de um curso pode contribuir para a superação do modelo de ensino tradicional, justificando a necessidade de formação de um docente-enfermeiro para o exercício do magistério superior. Por meio dele, é possível promover uma reflexão aprofundada acerca da ação pedagógica, remetendo às suas múltiplas conexões, possibilitando ao professor universitário romper com as práticas tradicionais e, ao mesmo tempo, apropriar- se criticamente de novas formas de ensinar e de aprender, contextualizadas e afinadas aos fins propostos coletivamente (CASTANHO, 1989).