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CAPÍTULO 2 CATEGORIAS BÁSICAS À DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA:

2.4 Relações interpessoais e o Princípio da Integralidade

O convívio diário entre professor e aluno implica em muitas situações, sendo necessário que todo docente encontre maneiras diversas de conduzir essa relação. A maneira de agir em sala de aula e nos mais diversos espaços que favorecem o ensino-aprendizagem onde se fazem presentes esses dois sujeitos fundamentais é primordial que o professor saiba conduzir seu agir, logo as suas atitudes são percebidas e analisadas pelos alunos como positivas ou negativas, ou seja, favorecendo a integração deles ou não.

O modo como um professor reage a uma situação comum em sala de aula baseia-se em sua percepção das necessidades dos alunos e na maneira mais eficaz de interagir com diferentes indivíduos. Toda reação e toda interação são determinadas pelos valores que guiam a prática do professor; isso faz parte da complexidade de sua condução. (OLLERTON, 2006, p. 13)

Nesse sentido, o trabalho do professor pode até ser cansativo, depreendendo dele grande energia física e mental, porém levando a bons resultados como o desenvolvimento de sólidas relações de trabalho com os alunos e de saber lidar com sua complexidade.

Barreiro, em seu estudo sobre a Prática docente na universidade, aborda a relação entre professor/aluno, considerando que essa inter-relação se constitui como um dos aspectos de importância para a dinâmica na sala de aula. Assim, a autora destaca, do ponto de vista pedagógico, dois momentos importantes na relação interpessoal no espaço da escola: “um primeiro é a relação que leva à autonomia ou à submissão, e o segundo é que para os alunos uma relação satisfatória é importante em qualquer nível de escolaridade” (BARREIRO, 2003, p. 57). Nesse contexto, é criada uma expectativa em relação ao professor, o que acaba por determinar seu agir e suas relações. Esse processo pode acontecer de maneira percebida por

ele ou não, mas que acaba por estabelecer seu agir e seu interagir com os alunos, pautado em valores, concepções e conhecimento do mundo.

No ensino superior, os mais diversos espaços de sala de aula possibilitam aos professores e alunos atingirem metas, autonomia pessoal e o reconhecimento social. Por esse motivo, deve-se considerar as atitudes que permitem o crescimento e amadurecimento dos estudantes e também do professor. Nessa perspectiva, Faustini, Ramos e Moraes recomendam:

Ficar atentos para desvelar os desejos escondidos nos comportamentos, que surgem nos contextos de ensino e aprendizagem. Analisar vínculos, as formas de relacionamento, as manifestações de aceitação e de rejeição, em relação à matéria de ensino e ao professor. Distinguir com clareza quando um vínculo afetivo está “atado” às experiências anteriores, ou está fundado em situações concretas, fatos reais da sala de aula. Compreender que o processo de aprendizagem está além dos aspectos técnicos e metodológicos. Pensar que deve existir uma ética que encaminhe o professor na direção do reconhecimento das limitações do processo pedagógico tornando-o menos obcecado pela imposição de seus pontos de vista, suas verdades, seu desejo de aceitação e de disciplina. (FAUSTINI; RAMOS; MORAES, 2005, p. 142-143)

Os autores mencionam ainda que o respeito mútuo entre professor e aluno é muito importante, pois, interferindo na aprendizagem, os conteúdos acadêmicos são mais facilmente assimilados de acordo com a disposição afetiva; e que as ocorrências, como o fracasso de ambos, podem estar relacionadas a problemas vinculares.

A relação professor/aluno é permeada de inquietações e, assim, constitui-se em um desafio diário. O respeito aos alunos requer a valorização dos conhecimentos previamente adquiridos, pois, como afirma Freire, “o respeito devido à dignidade do educando não me permite subestimar, pior ainda, zombar do saber que ele traz consigo” (FREIRE, 1996, p. 71). Para Masetto, a relação professor/aluno deve ser permeada pela parceria onde ambos acabam por ter os mesmos objetivos em prol da aprendizagem.

A atitude de parceria e corresponsabilidade se inicia com um pacto entre alunos e professores para juntos buscarem aprendizagem (desenvolvimento pessoal e profissional). E para que haja um compromisso, o primeiro passo é abrir uma discussão sobre a razão de nos encontrarmos naquela situação de professores e alunos e o que vamos juntos buscar. Dialogar sobre a situação de sermos um grupo e como tal nos conhecer e definir alguns interesses comuns que nos uma. (MASETTO, 2003, p. 50)

Autores como Pimenta, Anastasiou e Cavallet (2002) e Zabalza (2004) indicam algumas particularidades necessárias ao perfil do docente universitário, além do domínio de conhecimentos. São elas: técnicas e métodos científicos, habilidades para compartilhar, estimular, facilitar a compreensão do aluno na aquisição do conhecimento, associar ensino e investigação, promover a busca constante da reflexão e a autonomia dos alunos e valorizar o feedback progressivo e continuado. Esses pesquisadores sinalizam também para a necessidade do desenvolvimento de características que favoreçam a articulação do trabalho cooperativo e em equipe, bem como a preocupação com a qualidade da relação professor/aluno. Uma vez que o aluno universitário é um sujeito adulto e responsável por suas atitudes, tanto professor como ele podem e devem estabelecer relações de confiança, usando o diálogo para discutirem seus desejos, metas e recursos mais apropriados para a facilitação do processo ensino- aprendizagem.

Enfim, é necessário entender a Educação como uma prática social que sofre influências do seu tempo e da sociedade na qual está inserida, sendo que as ações educacionais exigem, cada vez mais, novas respostas aos diferentes e complexos desafios que se colocam a cada instituição, curso, disciplina ou professor. Nesse sentido, os docentes do ensino de Enfermagem precisam enfrentar as transformações socioculturais, econômicas e políticas ocorridas na universidade e no curso, como as mudanças em relação à gestão, as alterações curriculares, as formas de avaliação, o financiamento, dentre outras.

Essas mudanças constantes e necessárias que permeiam também o trabalho do enfermeiro-docente e o relacionamento interpessoal professor-aluno, remetem-nos ao Princípio da Integralidade como um conceito polissêmico (MATTOS, 2008). Existe uma estreita relação com a prática do professor, as ações dos alunos, a participação dos profissionais e a presença constante do usuário do serviço de saúde. Nessa ótica, insere-se o reconhecimento dos direitos do paciente/usuário, de sua subjetividade e referências culturais, a valorização do profissional e do diálogo entre as equipes.

Assim, pensar em integralidade em saúde e principalmente no ensino e práticas da enfermagem, passa a ser entendido como um processo de melhoria da qualidade da relação profissional-usuário e professor-aluno, buscando o desenvolvimento do sentido de cidadania e de participação crítica.