• Nenhum resultado encontrado

2 A FORMAÇÃO EM SAÚDE MEDIADA POR TECNOLOGIA NO CONTEXTO DA

INFORMATIZAÇÃO DO TERRITÓRIO

O trabalho de investigação que vem sendo realizado em nível de pós-graduação em Geografia, intitulado Território no contexto do meio

técnico-científico-informacional: a formação em saúde mediada por tecnologia no Brasil, problematiza a informatização do território no âmbito do

meio técnico-científico-informacional, o qual viabiliza a formação em saúde mediada por tecnologia e o impacto dessa formação no serviço de saúde no Brasil.

Parte-se da compreensão de território como o espaço do acontecimento das relações sociais. “É um espaço onde se projetou um

120

trabalho, seja energia e informação, e que, por consequência, revela relações marcadas pelo poder [...]” (RAFFESTIN, 1993, p. 144).

Santos (2002), ao formular suas análises sobre o território, defende a importância de se estudar essa categoria de análise, visto que é na base territorial onde tudo acontece, promovendo configurações e reconfigurações em diferentes escalas geográficas. Para este autor (2002, p.87), território corresponde a:

um conjunto de sistemas naturais mais os acréscimos históricos materiais impostos pelo homem. Ele seria formado pelo conjunto indissociável do substrato físico, natural ou artificial, e mais o seu uso, ou, em outras palavras, a base técnica e mais as práticas sociais [...]. Os acréscimos são destinados a permitir, em cada época, uma nova modernização, que é sempre seletiva.

Ao longo do tempo, o emprego da técnica no espaço demarca a história da sociedade. Nessa perspectiva, a técnica é entendida como “a habilidade demonstrada pelo homem quando ele realiza uma determinada prática” (MOREIRA, 1998, p. 34).

De acordo com Santos e Silveira (2014), há três momentos de grande transformação social pelas técnicas: o meio natural, o meio técnico e o meio técnico-científico e informacional. Considerando essa classificação e o objeto de estudo do trabalho ora realizado, assumiu-se como referência o período técnico-científico-informacional e, no âmbito deste, o processo de informatização no Brasil a partir da década de 1990.

Neste período, a união entre técnica, ciência e informação possibilitou maior nível de conectividade territorial por meio do uso da internet. Na concepção de Kenski (2007), a internet é o principal fenômeno tecnológico, sendo capaz de possibilitar a comunicação entre pessoas em tempo real para a realização de finalidades diversas como trocar informações e experiências, construir aprendizados, desenvolver pesquisas, entre outros.

Com base nesses pressupostos, o estudo acerca do processo de informatização do território no âmbito do meio técnico-científico- informacional no Brasil, assume como variável de análise a cobertura da internet no território nacional, levando em conta as conexões que esta promove por meio de estruturas fixas e dos fluxos delas derivados. Para Santos (2009, p. 53), “os elementos fixos, fixados em cada lugar, permitem ações que modificam o próprio lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as condições ambientais e as condições sociais”. Dessa forma, “os

121

fluxos são um resultado direto ou indireto das ações e atravessam ou se instalam nos fixos” (SANTOS, 1988, p. 75-85). Fixos e fluxos pressupõem a existência de redes. Na concepção de Santos (2014, p. 333-334):

A rede técnica mundializada atual é instrumento da produção, da circulação e da informação mundializadas. Nesse sentido, as redes são globais e, desse modo, transportam, o universal ao local. É assim que, mediante a telecomunicação, criam-se processos globais, unindo pontos distantes numa mesma lógica produtiva.

Para Dias (1995), a primeira propriedade das redes é a conexidade, ou seja, a qualidade de conexo, sendo os nós lugares de conexões, de poder e de referência. As redes podem ser simultaneamente virtuais e reais. As redes virtuais estão imersas em um ambiente fluido de abstrações, mas precisam de uma materialidade para se realizar.

No contexto da sociedade em rede, o uso da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) torna possível a realização do sonho e o atendimento às necessidades da comunicação a distância entre os homens (SANTOS; SILVEIRA, 2014), transcendendo barreiras físicas. As TIC

Constituem os recursos tecnológicos, software e hardware que realizam as tarefas de receber, processar, distribuir e armazenar os dados e informações, permitindo a interação e a interatividade sem restrições de tempo e espaço. (ARAÚJO JUNIOR; MARQUESI, 2009, p. 358).

Na concepção de Kenski (2007, p. 43), as TIC são essenciais para a educação “ou melhor, tecnologia e educação são indissociáveis”. Para isso, é preciso que haja a integração e socialização do conhecimento, de forma individual e coletiva, ou seja, o sujeito absorve conhecimento, o produz e o reproduz em sociedade. “Para isso, é preciso que conhecimentos, valores, hábitos, atitudes e comportamentos do grupo sejam ensinados e aprendidos, ou seja, que se utilize a educação para ensinar sobre as tecnologias” (KENSKI. 2007, p. 43).

O processo de formação mediada pelas TIC se viabiliza a partir de um suporte técnico e tecnológico, entre os quais se destacam os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA). Estes “podem ser definidos, como ambientes virtuais que simulam os ambientes presenciais de aprendizagem com o uso das TICs” (ARAÚJO JUNIOR; MARQUESI, 2009, p. 358). Em um AVA, os recursos de mídias como

122

áudios, jogos, fóruns, entre outros, são disponibilizados na plataforma de modo a possibilitar a interatividade e a usabilidade, dinamizando o processo de ensino e aprendizagem.

Considerando que os AVA são importantes na formação mediada por tecnologia, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), responsável pelas políticas orientadoras em formação em saúde pelo SUS, implementou, no início dos anos 2000, a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde – PNEPS. De acordo com a referida política, o Ministério da Saúde tem a responsabilidade constitucional “de ordenar a formação de recursos humanos para a área de saúde e de incrementar, na sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico [...]” (BRASIL, 2007, p. 1).

Conforme a PNEPS, a Educação Permanente em Saúde se constituiu num

Processo de aprendizagem no trabalho, em que o aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano das organizações e ao trabalho. A educação permanente se baseia na aprendizagem significativa e na possibilidade de transformar as práticas profissionais. (BRASIL, 2007).

Ao analisar a concepção da Educação Permanente em Saúde, Lemos (2010, p. 60) afirma que mediante implementação do PNEPS,

A nova frente de trabalho toma como imprescindível a criação de um dispositivo que impeça o planejamento da educação e da formação centralizado em decisões de cima para baixo, que partem de técnicos do Ministério da Saúde, os quais, a maioria das vezes, desconhece as reais problemáticas do sistema de saúde.

Com base nessa assertiva, cabe destacar o papel de universidades que, por meio da concepção e implementação de AVA e outras plataformas digitais, promovem a formação mediada por tecnologia. Nesse cenário, merece destaque o AVASUS, plataforma de conhecimento livre e aberto voltada para formação humana em saúde, abrangendo profissionais de diversas áreas, especialmente da saúde.

O AVASUS resulta da parceria firmada entre a SGTES, do Ministério da Saúde, e a UFRN, por meio da SEDIS e do LAIS, cuja primeira versão foi lançada em 14 de outubro de 2015. Segundo Sidrim (2018, p. 51),

123 O LAIS, além de ter desenvolvido a plataforma digital,

gerencia toda a dinâmica de trabalho que existe por trás do AVASUS. O que inclui: controle e otimização da plataforma, atendimento ao aluno, produção e revisão de conteúdo, além de toda a dinâmica financeira para manter tudo isso em perfeito funcionamento. Por outro lado, o Ministério da Saúde disponibiliza os recursos financeiros e define quais cursos deverão ser produzidos e disponibilizados no AVASUS.

O AVASUS objetiva contribuir para o processo formativo de seus usuários, de modo que estes adquiram competência e desenvolvam habilidades que possam ser aplicadas no ambiente de trabalho onde atuam, gerando impactos positivos no serviço de saúde, no tocante à reorientação de práticas dos profissionais de Saúde e ao aprimoramento do trabalho em equipe e da equipe de trabalho. Esse aprimoramento se viabiliza a partir do compartilhamento de saberes entre os usuários, o que se constitui uma estratégia que, indiretamente, favorece a redução dos custos no processo de formação em saúde.

Documentos relacionados