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4 COMPARTILHA EM BELÉM: ANÁLISE DAS INTERAÇÕES NA PRÁTICA

4.2 Do pré-campo aos encontros

4.2.1 Formação da equipe e funções

Primeiramente, há uma organização interna para fazer as atividades acontecerem na escola. Enquanto equipe, dividimo-nos em três grupos: mediadores, registro e logística. Os mediadores são responsáveis por conduzir as dinâmicas junto aos alunos, orientar as regras das atividades, apresentar a proposta do encontro do dia e facilitar as interações durante as atividades; a equipe de registro é responsável por fazer a observação participante e as anotações nos cadernos de campo durante as atividades em sala de aula; e a logística é responsável por dar todo o apoio operacional para que as atividades ocorram dentro do planejamento. As pessoas nessas funções são alunos(as) da graduação e pós-graduação, e pesquisadores(as) e professoras40.

A proposta de dividir tarefas e funções é organizar o trabalho do pré ao pós-campo, tanto internamente, enquanto atividades e gestão dos materiais e escalas de equipe, quanto facilitar o trabalho em campo. Assim, cada membro da equipe já chega à escola sabendo o que deve fazer e ocupa um espaço específico dentro da sala de aula, buscando evitar tirar a atenção dos alunos no decorrer das atividades. Para isso, realizamos capacitações internas antes de nossa entrada na escola, que na ocasião foram conduzidas por mim (figura 2).

Figura 2 – Treinamento preparatório para realizar o projeto na escola

40 Nossos agradecimentos especiais à equipe da UFPA que fez o piloto em Belém, atuando como mediadores, registro e logística, gerando materiais para o Compartilha e para a análise desta dissertação. Muito obrigada: Daniele Farias, Gláucia Bandeira, Ana Karoline Barbosa, Letícia Rodrigues, Lorena Esteves, Luana Laboissiere, Mayra Leal, Nathália Fonseca, Ronaldo Palheta e às professoras Danila Cal, Janine Bargas e Rosaly Brito.

Fonte: Registro de Ronaldo Palheta, membro da equipe

A função do mediador é central. É ele ou ela quem o(a) responsável por conduzir totalmente a dinâmica com os participantes. É a pessoa que deve compreender todo o conteúdo e o passo a passo das atividades, inclusive a divisão de tempo para cada uma delas. É ele ou ela quem esclarece as dúvidas dos alunos, quem lança as perguntas para o debate e quem apresenta as propostas das dinâmicas. A ideia de centralizar a função no mediador é torná-lo ponto de referência dos alunos para que eles sigam as orientações de uma pessoa só e não se sintam “perdidos”.

A pessoa que está na logística pode dar apoio ao mediador sempre que necessário, principalmente para agilizar a entrega de materiais, fazer resumos de ideias em anotações no quadro-branco, cartolinas e flip-charts e, pode inclusive substituir o mediador em caso de algum problema. Quem está na logística também é responsável por entregar os crachás dos alunos, fazer a coleta e conferência de listas de frequências e termos de consentimento, assentimento e autorização de uso de imagem.

A pessoa na função de registro é responsável por fazer a observação participante. Isso significa que a pessoa fica fora das dinâmicas, em algum ângulo de visão preferencialmente de 360º, observando como os participantes estão dispostos na sala, percebendo o que é falado pelo mediador, anotando as colocações dos participantes, suas falas e opiniões, os assuntos que foram ou não debatidos e tudo o que ocorrer durante as atividades que seja importante de ser notado e anotado para a dinâmica do dia. Esse papel é o que tenta ficar mais distante da interação com os alunos para ter uma visão global de tudo o que está se passando em sala de aula. Essa pessoa não pode ser interrompida ou chamada para fazer outras funções durante as atividades, pois corre-se o risco de perder algum momento importante de interação (figura 3).

Fonte: Registro da autora

Para cada função, além de papeis específicos a serem desempenhados, devemos seguir algumas regras básicas, que são critérios de pesquisa. A regra principal dos mediadores, mas que vale também qualquer integrante do projeto que estiver em campo, é a de não colocar opiniões pessoais sobre os assuntos que estão sendo debatidos. O objetivo dessa regra é não induzir um processo que, inerentemente, se baseia na troca de argumentos e opiniões. Dessa forma, o mediador tem o papel mais de facilitador, agindo de forma menos ativa.

Steiner et al. (2017) dizem que a mediação deve ter baixa intervenção, porque deve prevalecer o espírito deliberativo do grupo. Se a ideia é compreender quais são os argumentos dos participantes e entender seus pontos de vista, então devemos deixar que isso ocorra de forma espontânea - até porque é um critério de pesquisa do Compartilha, em que se pretende analisar e comparar os debates com e sem as oficinas e dinâmicas para verificar se os princípios da deliberação passaram a fazer parte de tais argumentos.

Entretanto, pode existir o papel mais ativo de mediação. Steiner et al. (2017) dizem que o nível de deliberação pode até crescer se o moderador instiga os alunos a proferirem mais argumentos e justificarem suas opiniões. Entretanto, a desvantagem disso é que os participantes podem associar a este moderador o papel não de facilitador, mas o de alguém que está ensinando na sala de aula, fazendo com que os alunos se sintam desencorajados a falar (STEINER et al., 2017).

Em todos os encontros na escola seguimos um planejamento, que dá orientações aos integrantes da equipe, incluindo uma descrição breve de cada função, dos materiais necessários, do passo a passo da dinâmica ou do jogo e de como devemos organizar a sala. Neste mesmo planejamento, incluímos um roteiro, com o passo a passo da dinâmica, a descrição do que os mediadores devem dizer e a duração de cada tarefa. Dependendo da dinâmica, colocamos as regras no roteiro para lembrar os mediadores sobre a postura que devem ter em campo no decorrer das atividades (figura 4).

Figura 4 – Documento de planejamento e roteiro do encontro

Fonte: Elaborado pela equipe da UFMG, com adaptações da equipe da UFPA

Antes da ida a campo, nos reuníamos para organizar os materiais e fazer uma leitura mais detalhada dos roteiros para que toda a equipe ficasse a par de todas as atividades que desenvolveríamos, bem como para evitar erros, já que nosso cronograma estava planejado para fazermos os cinco encontros em sequência, ou seja, não haveria espaço para repetição. A seguir, descreveremos o passo a passo de cada encontro.