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A FORMAÇÃO INICIAL DOS SEGUNDOS PROFESSORES DE TURMA NA REGIÃO DA GRANDE FLORIANÓPOLIS

4 A FORMAÇÃO INICIAL DOS SEGUNDOS PROFESSORES DE TURMA EM ATIVIDADE NA REDE

4.1 A FORMAÇÃO INICIAL DOS SEGUNDOS PROFESSORES DE TURMA NA REGIÃO DA GRANDE FLORIANÓPOLIS

Com base nos dados coletados na Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina, 378 SPT atuaram na região da Grande Florianópolis em 2013. A partir dos dados quantitativos, selecionamos quatro municípios para realizar um questionário com o intuito de coletar dados a fim de caracterizar a formação dos SPT em atividade na rede. Os municípios de Palhoça, São José, Antônio Carlos e Florianópolis totalizaram 136 SPT em atuação no período de coleta dos dados e, deste total, foi possível entrevistar 85 professores na função.

Os editais84 de seleção de admissão em caráter temporário e de entrevistas realizadas com SPT da Região da Grande Florianópolis indicam que a formação inicial exigida para atuação como SPT pode variar desde ensino médio com curso de formação continuada em Educação Especial (EE) até curso de complementação em EE. Além dessas opções, há também a possibilidade de professores formados em outras áreas assumirem o cargo de SPT, desde que estejam excedentes na escola. No ano em que realizamos as entrevistas (2014) não havia a possibilidade de contratação de profissionais apenas com o ensino médio de acordo com os editais e seleção, esta opção formativa foi acrescentada ao edital publicado em 2014, para seleção de profissionais que exerceriam a função em 2015.

Aplicamos questionários com os SPT da região da Grande Florianópolis em atuação em 2014 e verificamos que a formação inicial de 94% dos profissionais foi realizada em nível superior. Cabe ressaltar que a análise desenvolvida no âmbito da proposição política possibilitou compreender que a formação inicial dos SPT não prioriza a EE, mas sim a formação na licenciatura em pedagogia85.

O fato de o estado de Santa Catarina autorizar a contratação de professores com formação em outras licenciaturas, permite afirmar que há uma desvalorização dos profissionais com formação na licenciatura em EE. Cabe ressaltar que há também uma omissão por parte do estado quanto às necessidades especiais dos alunos com deficiências que implicam na aquisição de conhecimento científico por parte dos alunos, uma vez que o licenciado em pedagogia não possui formação em EE. Mesmo quando disciplinas sobre EE constituem o projeto do curso, não configuram uma formação em EE. Não queremos dizer que o licenciado em pedagogia não possa ser o docente do aluno com deficiência. Pelo contrário, nossa ênfase se dá pelos processos pedagógicos específicos que os alunos com determinadas deficiências demandam. Neste caso, a figura de um modelo de professor de EE, com formação na área, atuando na sala de aula comum, pode ser o indicativo de um avanço no

84 Editais nº 001/2009/SED/FCEE (SANTA CATARINA, 2009e), nº

18/2010/SED (SANTA CATARINA, 2010a), nº 15/2011/SED (SANTA CATARINA, 2011), nº 15/2012/SED (SANTA CATARINA, 2012a), nº 09/2013/SED (SANTA CATARINA, 2013) e nº 23/2014/SED (SANTA CATARINA, 2014).

85 Esta é apenas a amostra de uma região, não podendo representar a

totalidade dos segundo professores que estão em atuação na rede estadual de ensino.

atendimento aos alunos com deficiência. Não estamos também inferindo que esse profissional deve, ao trabalhar junto com o professor regente, demonstrar que esses alunos devem ser encarados a partir das suas dificuldades específicas, sendo estes diferentes dos demais e que esses demais formam um grupo homogêneo. Consideramos o oposto, que deve ser levado em conta que esses alunos possuem características diferentes inerentes a determinadas condições de deficiências e que nesse sentido, exigem processos pedagógicos específicos diferenciados. De acordo com Bueno (1999, p. 22)

Se os princípios básicos da educação inclusiva são o de procurar deslocar o eixo das dificuldades intrínsecas das crianças com necessidades educativas especiais para as suas potencialidades e o de considerar que a escola precisa lidar com as diferenças, quer sejam elas de raça, gênero, condições sociais e alterações orgânicas; se estes princípios nos levam a abrir a perspectiva de que boa parcela dos problemas enfrentados pelas crianças com necessidades educativas especiais não são diferentes das dificuldades apresentadas por crianças consideradas como normais e que são muito mais reflexos de processos pedagógicos inadequados, a formação do professor especializado deve levar em conta tais aspectos. Para o autor, o desafio que a educação inclusiva coloca à formação de professores de EE conjuga três tipos de necessidades:

- o de oferecer formação como docente do ensino fundamental, quer seja no que tange a uma formação teórica sólida e a uma formação adequada no que se refere aos diferentes processos e procedimentos pedagógicos que envolva tanto o “saber” como o “saber fazer”; - o de oferecer formação que possibilite analisar, acompanhar e contribuir para o aprimoramento dos processos regulares de escolarização, no sentido de que possam dar conta das mais diversas diferenças, entre elas a das crianças com necessidades educativas especiais; e

- o de oferecer formação específica sobre características comuns das crianças com

necessidades educativas especiais, como expressões localizadas das relações contraditórias entre a sociedade em geral e as minorias; e - oferecer formação sobre as características, necessidades e procedimentos pedagógicos específicos a cada uma das necessidades educativas especiais, para que estas possam também ser levadas em consideração pelos sistemas regulares de ensino e que possibilitem o atendimento direto à parcela dessa população que, por razões pessoais, educacionais ou sociais, não possam ser absorvidas pelo ensino regular. (BUENO, 1999, p. 22)

É com base nas ponderações realizadas nos parágrafos anteriores que dedicamos uma parte deste capítulo para analisar os conteúdos dos cursos de formação inicial dos SPT entrevistados na região da Grande Florianópolis.

Embora o documento do Programa Pedagógico (SANTA CATARINA, 2009a) contenha observações acerca de que o SPT deve ser preferencialmente habilitado em EE, essa preferência não se efetiva se considerarmos que ser habilitado em EE não consiste em ter amplo conhecimento e formação na área (90% dos SPT que atuam na rede não possuem formação inicial em EE). Cabe ressaltar o fato de o documento lançar a imparcialidade quanto ao tipo de formação exigida para esse profissional, uma vez que ele deve ser preferencialmente e não obrigatoriamente formado em EE. Quando se permite que profissionais atuem sem a formação na área específica, emite-se a ideia de que importa mais o apoio ao professor regente com toda a turma, do que as especificidades do aluno. Entendemos que professor de EE em sala de aula, com o pretexto de dar apoio ao trabalho do professor regente junto aos alunos público da EE, carece de uma formação específica na área que aborde as características, necessidades e procedimentos pedagógicos.

Pensar que a ocorrência da maioria dos SPT não ter sua formação principal em EE se dá exclusivamente pelo fato de que não há profissionais com formação na área é uma ingenuidade. Além de curso de licenciatura em EE em universidades privadas e em universidades públicas de Santa Catarina, algumas medidas emergenciais como adesão

ao Parfor86 foram realizadas promovendo formação aos professores de EE. Contudo, essa medida não atende a totalidade dos profissionais da área em atuação na rede, tampouco se efetiva de forma concreta, uma vez que há uma expressiva rotatividade de SPT atuando nessa função. Entendemos que é estratégico para o estado conceber a contratação de profissionais que não são especializadas na área, na medida em que o mesmo não oferece oportunidades de formação inicial, principalmente na esfera pública, para esse tipo de habilitação. Em contrapartida, ele “supre” essa necessidade aderindo aos programas emergenciais que são promovidos por instituições principalmente privadas, direcionando recursos financeiros para as mesmas. Aparentemente, torna-se mais favorável aos interesses do estado oferecer oportunidades de formação nesse tipo de modalidade (emergencial), do que oferecer, por exemplo, um curso de licenciatura em EE nas universidades públicas. A ocorrência da formação de professores para a área da EE ser realizada pela iniciativa privada também encontra respaldo na retirada das habilitações do curso de pedagogia.

Além dessas circunstâncias, destacamos que a difusão de um documento que indica redução de salários dos profissionais que não são habilitados em EE, ampliou a procura pelos profissionais da área pela complementação dos estudos em EE, caracterizando como uma segunda licenciatura, ou como uma das possíveis habilitações da licenciatura em pedagogia. Esse fato corroborou para a oferta de cursos de complementação em educação especial pelas IES privadas para poder atender essa demanda.

De acordo com a Lei Complementar Nº 488, de 19 de janeiro de 2010, que altera dispositivos da Lei Complementar nº 456, de 2009, fica o profissional que atua na área da EE obrigado a concluir o curso de EE no prazo de 3 anos a contar a publicação da Lei, sob pena de ter redução do seu salário no período posterior a este ou se não estiver concluído ou matriculado em curso superior específico da área. Ao estar atuando e cursando o ensino superior ou a complementação dos estudos em EE, a sua remuneração será igual a do profissional habilitado, do contrário, sua remuneração será inferior.

86 O estado de Santa Catarina, em certo momento, aderiu a um programa

emergencial do governo federal nomeado Parfor, para fornecer a formação em educação especial. Tal programa tem o objetivo de capacitar profissionais que já possuem graduação e estão fazendo a segunda licenciatura na área em que estão atuando.

§ 4º Pelo período de 03 (três) anos, a contar da publicação desta Lei Complementar, o professor admitido em caráter temporário portador de diploma de curso superior de duração plena em Pedagogia ou Curso Normal que atuar na Educação Especial, área V, nas unidades escolares da Secretaria de Estado da Educação ou na Fundação Catarinense de Educação Especial e instituições conveniadas (Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais - APAE’s e congêneres), perceberá como habilitação código 300 - PE-MAG-LP-01-I, desde que esteja cursando complementação em Educação Especial. § 5º Para o professor admitido em caráter temporário que atua na educação especial ter direito à habilitação código 300 - PE-MAG-LP- 01-I, deverá obrigatoriamente ter sua frequência comprovada semestralmente na Gerência de Recursos Humanos da Federação Catarinense de Educação Especial e na Gerência de Educação de cada Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional - SDR, no que tange às Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais - APAE’s e congêneres conveniadas.

§ 6º A comprovação da frequência mencionada no parágrafo anterior dar-se-á por meio de atestado ou certificado fornecido pela instituição de ensino. § 7º Encerrado o período informado no § 4º deste artigo, o professor que não tiver concluído seu curso de complementação de habilitação em Educação Especial terá sua retribuição pecuniária mensal definida no código 100 - PE-MAG-SG-01- I, conforme inciso IV deste artigo”. (SANTA CATARINA, 2010)

Nos questionários aplicados na região da Grande Florianópolis, identificamos que a formação inicial dos SPT pode variar entre o nível superior incompleto, nível superior completo e pós-graduação, como mencionado no item anterior e expressado no gráfico 16. Cabe ressaltar, como já mencionado, que embora a formação desses professores indique um alto índice de professores com nível superior completo, essa formação não é na área da EE. Em síntese, podemos apreender que a formação inicial do SPT em relação à área da EE, é realizada em serviço e em cursos de caráter complementar. A formação realizada quando já

estão em serviço pode ser tanto como um complemento da formação inicial como no caso da segunda licenciatura, quanto pela formação continuada. No estado de Santa Catarina a formação continuada dos SPT fica sob encargo das instituições especializadas, mais especificamente das APAEs, e da SED.

Gráfico 16 – Nível de escolaridade dos SPT entrevistados na Região da Grande Florianópolis, 2014.

Fonte: Compilação dos dados das entrevistas realizadas com os SPT que atuam na Região da Grande Florianópolis, 2014.

Dedicamos os três próximos itens para discutir a formação dos SPT em cada nível de escolaridade identificada: nível superior incompleto, graduação e pós-graduação.