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A imprecisão evidenciada nas funções e nas atribuições do Segundo Professor de Turma de acordo com a proposição política

Meta 15: Garantir, em regime de colaboração

3 SEGUNDO PROFESSOR DE TURMA: UM NOVO MODELO DE PROFESSOR DE EDUCAÇÃO ESPECIAL

3.1 CORREGENTE E COLABORADOR: INDEFINIÇÃO DO SEGUNDO PROFESSOR DE TURMA NA POLÍTICA DE

3.1.1 A imprecisão evidenciada nas funções e nas atribuições do Segundo Professor de Turma de acordo com a proposição política

A falta de uma definição explícita no documento do Programa Pedagógico (PP) (2009a) sobre qual modelo de professor configura-se o SPT nos levou a evidenciar, por meio das funções e das atribuições conferidas ao mesmo, contradições no que se refere às categorias de capacitado e especializado nos documentos estaduais.

De acordo com o PP (SANTA CATARINA, 2009a, p. 16), o Segundo Professor de Turma

tem por função correger a classe com o professor titular, contribuir, em função de seu conhecimento específico, com a proposição de procedimentos diferenciados para qualificar a prática pedagógica. Deve, junto com o professor titular, acompanhar o processo de aprendizagem de todos os educandos, não definindo objetivos funcionais para uns e acadêmicos para outros. Nas séries finais do ensino fundamental, o segundo professor de classe terá como função apoiar, em função de seu conhecimento específico, o professor regente no desenvolvimento das atividades pedagógicas. O documento determina que o SPT não deve diferenciar os objetivos acadêmicos e funcionais para determinados alunos ao mesmo tempo em que deverá ser preferencialmente habilitado em EE e apoiar o professor pelo seu conhecimento específico.

Constatamos que no PP o SPT recebe supostamente o título de especialista quando se afirma que ele deve contribuir por seu conhecimento “específico” (SANTA CATARINA, 2009a, p. 16), o que levaria o título de um professor especializado. Contudo, é função desse professor atender todos os alunos da classe, então ele seria um profissional capacitado. A Resolução CNE/CEB n. 2/2001 (BRASIL, 2001), prevê tanto a atuação colaborativa de professores capacitados para atuação em classes comuns, quanto especializados. O documento prevê também que cabe ao professor capacitado “II - flexibilizar a ação pedagógica nas diferentes áreas de conhecimento de modo adequado às necessidades especiais de aprendizagem” (BRASIL, 2001, p. 5).

De acordo com o Programa Pedagógico (2009a, p. 17) uma das atribuições do SPT é “propor adaptações curriculares nas atividades

pedagógicas”. Consideramos que para propor adaptações curriculares para o aluno da EE faz-se necessário conhecimentos específicos da EE, o que, dependendo do caso, apenas alguns conteúdos incluídos em cursos de nível médio ou superior não são o suficiente para propor tais atividades. Michels (2006, p. 43) aponta que a Resolução CNE/CEB n. 02/2001

Determina as competências necessárias para cada tipo de professor. Aos professores denominados de capacitados cabe a tarefa de perceber quais são os possíveis alunos “portadores de necessidades educacionais especiais” e desenvolver atividades ou ações pedagógicas em sala de aula com eles. Aos professores especialistas compete identificar (ou seria diagnosticar?) estes alunos e definir estratégias que os professores capacitados deverão utilizar em sala de aula com eles. Com esta Resolução, então, é reforçada a divisão do trabalho dentro das escolas. Se, anteriormente, os professores especializados em atender os alunos considerados deficientes atuavam fora da escola regular, agora, com a política de inclusão, esses professores deveriam estar dentro das escolas, indicando o que deve ser feito pelos professores capacitados.

Tais evidencias demonstram que, neste caso, seria o SPT um professor especializado.

O SPT só é assegurado nas classes em que contenham alunos com determinada deficiência67, embora este desconheça previamente a deficiência do aluno matriculado na classe. Nota-se que cabe ao SPT auxiliar os professores das salas de aula comum com todos os alunos,

67 De acordo com o Programa Pedagógico, estão previstos SPT nas

turmas que contenham alunos com “diagnóstico de deficiência múltipla quando estiver associada à deficiência mental; » diagnóstico de deficiência mental que apresente dependência em atividades de vida prática; » diagnóstico de deficiência associado a transtorno psiquiátrico; » diagnóstico que comprove sérios comprometimentos motores e dependência em atividades de vida prática; » diagnóstico de transtornos globais do desenvolvimento com sintomatologia exacerbada; » diagnóstico de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade/impulsividade com sintomatologia exacerbada” (2009a, p. 16)

nesse sentido, aproxima-se do professor especializado, ou do professor regente da classe comum.

Destaca-se que há um contrassenso entre a proposta da formação do SPT de acordo com a preferência da habilitação em EE e as funções a ele conferidas. As atribuições indicadas no Programa Pedagógico (2009a) são baseadas, em parte, numa formação na área pedagógica com conteúdo de conhecimentos gerais da educação. Em contrapartida, a prioridade é de que o SPT seja “preferencialmente habilitado” em EE. No que se refere às atribuições previstas no PP, elaboramos um quadro pretendendo visibilizar as atribuições que carecem de formação na área da EE.

Quadro 1 – Atribuições do SPT e a exigência formativa, 2009. Atribuição Formação em EE Formação pedagógica geral Planejar e executar as atividades

pedagógicas, em conjunto com o professor titular, quando estiver atuando nas séries iniciais do ensino fundamental.

X X

Propor adaptações curriculares nas atividades pedagógicas.

X X

Tomar conhecimento antecipado do planejamento do professor regente, quando o educando estiver matriculado nas séries finais do ensino fundamental.

X

Participar com o professor titular das orientações (assessorias) prestadas pelo SAEDE e/ou SAESP.

X

Participar de estudos e pesquisas na sua área de atuação mediante projetos previamente aprovados pela SED e FCEE.

X

Sugerir ajudas técnicas que facilitem o processo de aprendizagem do aluno da educação especial.

X

Cumprir a carga horária de trabalho na escola, mesmo na eventual ausência do aluno.

X

Participar de capacitações na área de educação.

X

Participar do conselho de classe. X

Fonte: Elaborado com base em Santa Catarina (2009a).

De acordo com as atribuições previstas no âmbito da proposição política podemos constatar que o SPT necessitaria de uma formação em EE quando for “sugerir ajudas técnicas que facilitem o processo de aprendizagem do aluno da educação especial” e “propor adaptações curriculares nas atividades pedagógicas” bem como “planejar e executar as atividades pedagógicas, em conjunto com o professor titular” (SANTA CATARINA, 2009, p. 17). Contudo, cabe ressaltar que o documento não esclarece se essas duas atribuições citadas por último se referem às necessidades de planejamento e

adaptação das atividades diretamente para o aluno da EE, o que ficou evidenciado nas entrevistas com SPT da região da Grande Florianópolis.

Nas entrevistas realizadas os SPT foram questionados a respeito das suas atribuições e foi verificado que os mesmos executam outras atividades além do que está previsto na documentação. Foi possível verificar também que esses profissionais atendem mais de um aluno concentrando no atendimento dos alunos que possuem laudo indicativo de deficiência, naqueles que apresentam dificuldades de aprendizagem e nos estudantes sobre os quais há suspeita de deficiência, porém, sem comprovação diagnóstica.

A respeito das atribuições que foram assinaladas pelos entrevistados, foi averiguado que os SPT realizam determinadas atividades que são pertinentes ao professor com formação específica na área da EE, tais como elaborar planejamento das atividades para realizar com os alunos público da educação especial (53,87%); elaborar relatório de desempenho do aluno com deficiência (83,33%), desenvolver estratégias diferenciadas em sala de aula para o aluno com deficiência (84,52%), propor adaptações curriculares nas atividades pedagógicas (69,05%), sugerir ajudar técnicas que facilitem o processo de aprendizagem do aluno da educação especial (55,96%), elaborar avaliação do aluno com deficiência, condutas típicas e altas habilidades (40,87%), aplicar e utilizar os materiais e recursos diferenciados em sala de aula para o aluno com deficiência, condutas típicas e altas habilidades (69,05%). Tais atribuições são contraditórias quando cotejadas com o fato de que, “preferencialmente” o SPT deve ser habilitado em EE podendo, portanto, não sê-lo.

Para melhor visualização dos dados elaboramos o gráfico 1 – Atribuições do SPT – Requisitos de formação em educação especial, com as atribuições que consideramos ser pertinentes a professores com formação em EE.

Gráfico 1 – Atribuições do SPT – Requisitos de formação em educação

especial, 2014.

Fonte: Compilação dos dados das entrevistas realizadas com os SPT que atuam na Região da Grande Florianópolis, 2014.

Cabe ressaltar que alguns SPT mencionaram que executam essas atividades sozinhos, outros, na presença do professor regente. O que também é conflitante com a determinação de que deve apoiar o professor regente. Em relação a ministrar as aulas, 42,85% dos entrevistados informaram ministrar a aula junto com o professor regente, o que revela que quase metade desses profissionais atuam diretamente com todos os alunos. A respeito do dado que revela que 85,52% substituem o regente na sala, demonstra que o SPT ora é o professor que deve atuar diretamente com o aluno da EE, ora é docente

para atuar com toda a turma. Além disso, que ele também é um professor regente, na ausência do mesmo. Quando comparamos esse dado com o fato de que podem ser profissionais capacitados ou especializados em EE, questionamos por exemplo, qual domínio esse professor possui em relação aos conteúdos dos anos finais do ensino fundamental para substituir o professor de Matemática, Ciências, Geografia, História, Biologia ou Inglês caso o planejamento não seja realizado em conjunto? Esses profissionais estariam trabalhando em corregência?

Cabe ressaltar ainda que há um percentual de SPT que realizam atividades de cuidador, tais como auxiliar o(s) aluno(s) em sua locomoção (conduzir a cadeira de rodas, apoiar o aluno quando caminha) (23,81%), auxiliar na higiene (38,10%) ou apoiar na alimentação (35,71%), conforme pode ser visualizado no Gráfico 2:

Gráfico 2 – Atribuições do SPT – Cuidador, 2014.

Fonte: Compilação dos dados das entrevistas realizadas com os SPT que atuam na Região da Grande Florianópolis, 2014.

Não estamos querendo dizer que os professores da EE não possam estar realizando tais funções, contudo, queremos evidenciar que para executar as atribuições destacadas no gráfico 2, não necessitaria ser um professor capacitado, tampouco um especializado.

É possível constatar que o SPT é um professor polivalente, porque embora não haja uma confirmação de que ele é capacitado ou

especializado, de acordo com a diversas funções e atribuições que executa, cabe ao mesmo realizar diversas atividades que variam entre a docência, cuidado e apoio pedagógico especializado, o que evidencia uma intensificação do trabalho e resulta na reconversão docente. De acordo com Evangelista e Triches (2008), sob análise de um dos documentos centrais da política educacional atual, a Resolução CNE/CP n. 1/2006, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, a formação em pedagogia se caracteriza como uma formação para a docência alargada, pela qual se constrói um profissional com espectro amplo de atuação e restrição teórica. (EVANGELISTA E TRICHES, 2008, p. 80).

Na perspectiva de que caberia ao professor a atuação em várias áreas, em inúmeros espaços e com diversificação das tarefas verificamos que a tese da reconversão do trabalho docente na proposição do trabalho dos professores de EE, e, portanto, do Segundo Professor de Turma, são pertinentes.

A imprecisão acerca da caracterização capacitado e especializado no modelo de professor de EE proposto ao SPT fica também evidenciada na exigência formativa, o que será discutido no item 3.3.2 A imprecisão evidenciada na exigência formativa do SPT de acordo com a proposição política.

3.1.2 A imprecisão evidenciada na exigência formativa do Segundo