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A formação de professores de educação especial na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (2008)

PROFESSORES DE TURMA EM ATIVIDADE NA REDE 223 5.1 FORMAÇÃO CONTINUADA PROMOVIDA PELA FCEE

2 A FORMAÇÃO PREVISTA NO ÂMBITO DA PROPOSIÇÃO POLÍTICA PARA O SEGUNDO PROFESSOR DE TURMA

2.2 A HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES NO BRASIL E DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO ESPECIAL:

2.2.1 A formação de professores de educação especial na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (2008)

No que concerne às discussões sobre a formação de professores da área da EE nos documentos publicados em nível nacional na década de 2000, destacamos o documento que trata da perspectiva política em vigor, qual seja, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008). Embora não trate especificamente da formação de professores, o documento contém ponderações relativas ao debate.

O documento apresenta um diagnóstico segundo o qual, de acordo com os dados do Censo de 2006, a formação inicial dos 54.625 professores que atuam na EE era a seguinte: “0,62% registram ensino fundamental, 24% ensino médio e 75,2% ensino superior. Nesse mesmo ano, 77,8% desses professores, declararam ter curso específico nessa área de conhecimento” (BRASIL, 2008, p. 8). Estes dados evidenciam que a maioria dos professores da área possui formação em nível superior. Todavia, compete alertar que possuir o nível superior não garante que esse profissional possua os conhecimentos necessários para o exercício de sua função. Tampouco o processo de escolarização dos alunos está assegurado, principalmente considerando que a prioridade tem sido formar um professor, sobretudo, para saber “receber” os alunos nas escolas.

Um dos objetivos apresentados na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) consiste na “formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão escolar” (BRASIL, 2008, p. 8). Os estudos sobre a política educacional realizados pelo Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho (GEPETO) têm demonstrado que tais políticas revelam uma ênfase no professor, o qual deve atender aos problemas e demandas sociais no âmbito da escola. É neste contexto que a formação docente ganha destaque como umas das facetas encontradas em pesquisa documental.

Os problemas sociais teriam como causa o fracasso das escolas referente à escolarização dos alunos que, por sua vez, segundo documentos nacionais e internacionais, teriam na falta de preparo dos professores da Educação Básica sua maior razão. Para resolver tais problemas, sociais e educacionais, a formação desses profissionais seria o ponto fulcral e as estratégias mais prestigiadas seriam a formação em serviço e a distância, considerando que essas seriam as mais viáveis economicamente. (MICHELS, 2011, p. 79)

A formação indicada no referido documento está direcionada para a “inclusão escolar” dos alunos. Contudo, ao tratar do termo, este se encontra associado a questões de acessibilidade arquitetônica. Também não se menciona qual a formação inicial dos professores que atuam diretamente com os alunos da EE em classe. De acordo com o documento,

[...] para atuar na educação especial, o professor deve ter como base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no atendimento educacional especializado, aprofunda o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação superior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de educação especial. Para assegurar a intersetorialidade na implementação das políticas públicas a formação deve contemplar conhecimentos de gestão de sistema educacional inclusivo, tendo em vista o desenvolvimento de projetos em parceria com outras áreas, visando à acessibilidade arquitetônica, aos atendimentos de saúde, à promoção de ações de assistência social, trabalho e justiça. (BRASIL, 2008, p. 11)

Cabe ressaltar que não se demonstra a necessidade de uma formação desses profissionais voltada à promoção de estratégias para a aquisição de conhecimento dos alunos com deficiência, mas sim o caráter interativo e interdisciplinar no atendimento educacional especializado e elementos de gestão. Este último, conforme ressaltado por Evangelista e Triches (2008), representa um dos elementos de consenso entre os intelectuais de Organizações Multilaterais. Para as autoras, a gestão é colocada de forma estratégica na documentação da política educacional “pois se entrelaça com responsabilização, resultados, cumprimento de metas, participação, inclusão, envolvimento e empreendedorismo – assim como numa empresa” (p. 6). Sob análise das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (DCPN),

[...] nos documentos – DCNP e de OM – a recomendação é a de que o professor, seja como gestor ou participando da gestão, deve planejar, executar e avaliar. A gestão será administrativa, pedagógica e profissional (p. 6).

Ao situar os marcos históricos e normativos, a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (2008) faz o registro de que em 2007, o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) tem como eixo a formação de professores para a EE. A formação prevista consiste no Programa de Formação Continuada de Professores na Educação Especial. O programa foi criado em 2007, oferecido pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI)53 e tem como foco a formação de professores especificamente da área da EE, tendo como público-alvo professores do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e da classe comum via Universidade Aberta do Brasil (UAB). É um dos programas de formação de professores e profissionais da educação elencados no Guia do Plano de Metas Compromisso Todos Pela Educação (2007).

O Decreto nº 6.094/2007 que dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, em seu artigo 2º assegura a participação da União em realizar diretamente ou incentivar e

53 Na época, a Secretaria era referenciada como Secretaria de Educação

Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), após 2011 foi alterado para Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI).

apoiar Municípios, Distrito Federal, Estados e respectivos sistemas de ensino para a concretização de algumas diretrizes, entre elas: “XII - instituir programa próprio ou em regime de colaboração para formação inicial e continuada de profissionais da educação” (BRASIL, 2007). Com base neste documento se institui a Rede Nacional de Formação de Professores de Educação Básica (RENAFOR), que oferece formação continuada a distância via Universidade Aberta do Brasil (UAB).

No edital N°. 02 de 26 de abril de 200754, a União Federal, representada pelo Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de Educação Especial, convoca as Secretarias de Educação dos Estados, Municípios e do Distrito a solicitar os cursos de formação continuada. Segundo o Edital, é caracterizado como objetivo dos cursos

[...] formar professores dos sistemas estaduais e municipais de ensino para o atendimento educacional especializado, por meio da constituição de uma rede nacional de instituições públicas de ensino superior, no âmbito da Universidade Aberta do Brasil - UAB, que ofertem cursos de formação continuada de professores na modalidade a distância, na área da educação especial”. (BRASIL, 2007a, p. 1). No ano em que se instituiu o Programa, foram lançados os seguintes editais pelo MEC: Edital nº 02, de abril de 2007 (BRASIL, 2007a); Edital nº 06, de 27 de junho de 2007 (BRASIL, 2007b) e o Edital nº 7, de 28 de junho de 2007 (BRASIL, 2007c). Percebe-se pela análise dos editais que o programa, além de centrar no Atendimento Educacional Especializado, julga que o professor, sendo formado exclusivamente pelo ensino dessas especialidades, tornar-se-á capaz de contemplar toda a “diversidade” da “educação inclusiva”. Além disso, cabe destacar que os cursos estão voltados às deficiências e não

54 Esses editais foram pautados nas disposições estabelecidas pelas

Diretrizes Nacionais da Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001) e pela Resolução n. 02/2002 (BRASIL, 2002) que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica. Ambas são responsáveis por definir a inserção de conteúdos curriculares e conhecimentos acerca da educação especial. Mencionamos ainda o Decreto nº 5.626/2005 (BRASIL, 2005b) como documento base para a constituição do programa.

necessariamente à elaboração de propostas pedagógicas que visam a apropriação de conhecimento escolar pelos alunos com deficiência.

Caracterizado como uma ação do Ministério da Educação, o Programa de Formação Continuada para Professores de Educação Especial tem o desígnio de ofertar cursos no nível de aperfeiçoamento e especialização na modalidade a distância pela UAB e na modalidade presencial e semipresencial pela RENAFOR. O objetivo do programa, segundo dados do Portal do MEC, consiste em “apoiar a formação continuada de professores para atuar nas salas de recursos multifuncionais e em classes comuns do ensino regular, em parceria com Instituições Públicas de Educação Superior – IPES” (dezembro de 2013). Contudo, de acordo com os editais, somente há seleção para formar para o atendimento educacional especializado.

Como afirma Saviani (2007):

Para fazer face ao problema da formação docente, o PDE criou o programa “Formação” que, por meio da Universidade Aberta do Brasil (UAB), pretende oferecer cursos a distância para prover a formação inicial dos docentes em exercício não- graduados em nível superior, além de formar novos professores e possibilitar a qualificação contínua de quase dois milhões de professores da educação básica. O ensino a distância, nas condições atuais do avanço tecnológico, é um importante auxiliar do processo educativo. Pode, pois, ser utilizado com proveito no enriquecimento dos cursos de formação de professores. Tomá-lo, entretanto, como a base dos cursos de formação docente não deixa de ser problemático, pois arrisca converter-se num mecanismo de certificação antes que de qualificação efetiva. Esta exige cursos regulares, de longa duração, ministrados em instituições sólidas e organizadas preferencialmente na forma de universidades. (SAVIANI, 2007, p. 1250) Podemos concluir que, embora a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (2008) seja um documento norteador para a área da EE, o mesmo trata de forma sucinta a formação de professores, o que reforça a compreensão de que a formação de professores para a EE segue as orientações gerais da política de formação docente vigente no país. Além disso, cabe ressaltar que

quando mencionada a formação, o documento enfatiza a formação continuada dos professores do atendimento educacional especializado, deixando de lado a formação do professor de EE para atuar na classe comum.

Verificamos, nesse sentido, que a formação de professores de EE que atuam na classe comum é secundarizada na política de EE, e que as propostas de formação de professores do AEE estão relacionadas a uma afirmação e imposição da perspectiva inclusiva. No item 2.3, adentramos no campo da formação de professores do estado de Santa Catarina.

2.3 A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO