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1.3 Não estamos sozinhos nesse caminhar: campos teóricos da pesquisa 21

1.3.3 Formação na modalidade de educação a distância 30

Em 1987, Garcia Aretio realizou uma revisão sobre as diferentes definições que havia sobre o termo Educação a Distância e em sua análise demonstrou que EaD e educação presencial se diferenciam, não somente pela variedade e intensidade do fator presencial e uso de recursos didáticos, como também pelo perfil do estudante a quem se pode atender com maiores possibilidade de êxito. Para o autor a EaD é:

un sistema tecnológico de comunicación masiva y bidireccional, que sustituye la interacción personal en el aula de profesor y alumno como medio preferente de enseñanza, por la acción sistemática y conjunta de diversos recursos didácticos y el apoyo de una organización tutorial, que propician el aprendizaje autónomo de los estudiantes (ARETIO, 1987, p.8)

Consideramos assim a EaD como uma modalidade de ensino na qual a prática educativa ocorre em espaço e tempo diferenciados, mediada pelo uso de tecnologia que possibilita a interação do aluno e professor (BELLONI, 2009). Tecnologias estas, principalmente as telemáticas, como a Internet, mas também podem ser utilizados o correio, o rádio, a televisão, o vídeo, o cd-rom, o telefone, o fax, o celular, o Ipod, Ipad, o notebook, entre outras tecnologias semelhantes (BELLONI, 2009). Cabe ressaltar conforme Kenski (2007, p. 23) ¨que existem muitas tecnologias ao nosso redor que não são máquinas¨, sendo portanto necessário especificar aqui que estamos nos referindo ¨às tecnologias digitais através das quais é possível hoje por redes, cabos, satélites, fibras, etc. o intercâmbio entre pessoas e máquinas a qualquer tempo em qualquer lugar¨ (KENSKI, 2007, p. 34). É nesse sentido que podemos vislumbrá-la, como uma alternativa para que o processo educativo seja capaz de

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alcançar, sem prejuízo da qualidade, um público alvo distante das sedes das universidades, que de outra forma não teria acesso a estas (CAMARGO, 2012).

André et al (1999), em seu estado da arte da formação de professores no Brasil, verificaram a inserção da EaD em todos os níveis e modalidades de ensino. Para Moran (2009), a EaD serviria tanto à educação continuada, à capacitação em serviço, à formação supletiva, à formação profissional, à qualificação docente, à especialização acadêmica quanto à complementação de carga horária em cursos presenciais. Atendendo, dessa forma, a uma necessidade premente de vencer as fronteiras espaciais e temporais no ensino de modo a efetivar o direito de todo brasileiro, independente de sua região de moradia, de seu nível socioeconômico ou de suas condições orgânicas uma formação de qualidade, inclui-se aqui, a necessidade de formação de gestores escolares na perspectiva da gestão democrática.

Entretanto, Camargo (2012) ressalta que embora a EaD esteja em franca difusão, para a maioria dos educadores ainda representa uma incógnita. Isto se deve, segundo o autor, a barreira cultural que separa os professores nativos da era analógica, das novas gerações nativas digitais. Para Arruda; Gonçalves (2005), entretanto, a dificuldade não restringe apenas à relação do sujeito com o equipamento, ou seja, na maneira deste sujeito lidar com a tecnologia incorporada ao equipamento, mas também no que se refere ao meio mais utilizado atualmente para oferta dessa modalidade – a internet. No Brasil, ainda hoje, o custo do acesso é alto e na grande maioria das cidades do interior, de péssima qualidade, ou seja, universalização da Internet banda larga no Brasil, ainda enfrenta diversas barreiras (SILVA, 2013). Isso dificulta a utilização de um leque maior de ferramentas de interação e limita a expansão da EaD como alternativa real para minimizar os problemas de formação de profissionais em seus postos de trabalho (ARRUDA; GONÇALVES, 2005).

Para Marques (2003), a formação profissional, após transcorrer o percurso da formação inicial, na qual a teoria se construía na antevisão das práticas futuras, defronta-se agora com o desafio de sua continuidade, na qual as práticas se antecipam à teoria. Assim, depois de sua formação inicial, os gestores são chamados a operar com pressupostos teóricos; outros, não suficientemente explícitos, nos cursos de formação continuada ou em serviço. Para esse autor, desde que não se coloquem como paliativos ou remendos a uma inadequada preparação anterior, mas antes, sólidas referências para a continuidade e consistência do aprender fazendo, há que se considerar a importância desses processos formativos de forma a atender os critérios de efetividade.

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Ainda segundo este autor (MARQUES, 2003), em momento algum pode a formação supor-se cumprida, completa em si mesma e exaustiva, nem as mais persistentes aprendizagens realizadas em determinadas situações se podem considerar válidas para quaisquer outros casos. Dessa forma impõe-se, à formação continuada, a exigência de se manterem vivas e de se atualizarem as aprendizagens anteriores.

A formação tida como um meio de fazer frente às crescentes demandas de atualização profissional também é uma preocupação manifestada por Tardif (2002), uma vez que tanto em suas bases teóricas, quanto em suas consequências práticas os conhecimentos profissionais são evolutivos e progressivos e necessitam, por conseguinte, de uma formação contínua e continuada. Para este autor, considerar o contexto do saber é fundamental, afirmando ser impossível compreendê-lo fora do âmbito dos ofícios e profissões, sem relacioná-lo com os condicionantes do trabalho.

Sendo assim, para que a utilização de qualquer recurso contribua de maneira significativa no processo de ensino aprendizagem é preciso que o gestor saiba utilizá-lo, é essencial que ele tenha a oportunidade de uma formação adequada. Ou seja, é condição necessária para o sucesso da formação a distância que os estudantes sejam capazes de expressar o seu pensamento e se relacionar com o outro proporcionando assim uma nova relação com o saber.

Esta é também uma forma de acabar com algumas resistências e desconfianças dos profissionais da área educacional. Fica evidenciada a necessidade de realizar investimentos na formação das lideranças do sistema educativo, que atuam nas secretarias de educação, de forma que estas possam criar condições para a efetivação da educação a distância como um instrumento para a aprendizagem contínua e ao longo da vida de professores, gestores, alunos e comunidade (ALMEIDA, 2009a).

No Brasil, as bases legais para modalidade de Educação a Distância foram estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394/96 (BRASIL, 1996), regulamentada pelo Decreto nº 5622/2005 e ainda no que se refere às normas para cursos de pós graduação lato e stricto sensu na Resolução nº1/2001 do Conselho Nacional de Educação. Entretanto, ao longo dos últimos anos a EaD tem demonstrado uma história de sucessos e fracassos. Se analisada a partir da educação por correspondência no final do século XVIII até as mídias eletrônicas e simuladores online de aprendizagem modernos percebe-se um

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caminho sinuoso, no qual os resultados não são ainda suficientes para gerar um processo de aceitação governamental e social desta modalidade de ensino no Brasil (BELLONI, 2009).

Mesmo assim, a EaD tornou-se uma ferramenta necessária para que o Ministério da Educação pudesse efetivar programas, projetos e ações no sentido de proporcionar uma formação inicial e continuada para gestores escolares em função dos indicadores educacionais apresentados pelo país. Deste modo, o Censo Escolar de 2004, já delineava que a realidade da gestão escolar no País era bastante diversificada, os dados mostraram que nos estados das regiões norte, nordeste e centro-oeste 29,3% de gestores escolares possuíam formação em nível médio, nas regiões sul e sudeste, por outro lado, mais de 69,7% desses dirigentes tinham formação em nível superior, e menos de 22,9% possuíam curso de pós-graduação lato sensu/especialização (BRASIL, 2005b).

Dados mais recentes extraídos das informações sobre perfil do diretor do PDE Interativo7, demonstram que houve uma diminuição de diretores com ensino médio completo, ao mesmo tempo que houve um aumento de diretores com ensino superior completo. Em números, no que se refere ao perfil do gestor da unidade escolar, dos 77.366 respondentes 83,4% (64.532/77.366) tinham ensino superior completo, 16,1% (12.420/77.366) ensino médio completo, 0,5% (414/77.366) ensino fundamental completo e/ou incompleto. Entre os que possuíam nível superior completo, 90,1% (58.074/64.532) manifestaram interesse em participar de cursos à distância com ênfase em gestão escolar (BRASIL, 2012a). Isso demonstra a demanda existente no país de uma formação específica para o exercício do cargo de gestor escolar. Barreto (1997) destaca ainda, a relevância da qualificação em serviço, tanto do ponto de vista da formação geral, quanto específica para os processos de melhoria da qualidade do ensino básico, ressaltando assim, o importante papel da EaD nesta tarefa.

A necessidade de proporcionar aos gestores de escolas públicas uma formação continuada na perspectiva da gestão democrática tão premente estimulou a equipe do Ministério da Educação (MEC), em janeiro de 2006, a desenvolver o Programa Nacional Escola de

7 PDE Escola – Plano de Desenvolvimento da Escola é um programa destinado a auxiliar as escolas públicas a melhorar a sua gestão. O PDDE Interativo (nome adotado a partir de 2014) é uma ferramenta de apoio à gestão escolar desenvolvida pelo Ministério da Educação, em parceria com as Secretarias de Educação. Em maio de 2012 a plataforma foi disponibilizada para todas as escolas públicas cadastradas no Censo Escolar de 2013, no intuito de auxiliá-las na construção de um planejamento estratégico. O PDDE está disponível para todas as escolas no site do Ministério da Educação. Fonte: http://pdeinterativo.mec.gov.br/

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Gestores da Educação Básica, coordenado pela Secretaria de Educação Básica (SEB). Para realizar a tarefa, o MEC contou com a colaboração da extinta Secretaria de Educação a Distância (SEED) e também do apoio financeiro do Fundo de Fortalecimento da Escola8 (FUNDESCOLA), no intuito de juntamente com as Instituições de Ensino Superior e as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação implementar e operacionalizar o Curso de Pós Graduação (lato sensu) em Gestão Escolar (BRASIL, 2005b).

Em Minas Gerais o curso de especialização em Gestão Escolar ofertado pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais apresentou em sua primeira turma (2008/2009) indicadores que se destacaram como uma experiência de sucesso para essa modalidade de ensino, dos 400 estudantes ocupantes das vagas disponíveis inicialmente 305 (305/400, 76,3%) foram aprovados após a defesa do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sendo que, destes 187 (187/305, 61,3%) concluíram em 12 meses e 118 (118/305, 38,7%) em 18 meses (o índice de desistência apresentado no curso foi 14,5% (58/400) e 9,3% (37/400) cursistas9 não obtiveram a pontuação mínima exigida em seus TCC’s e foram reprovados (FIDALGO; SOUZA JUNIOR, 2010).

O censo da EaD de 2011(ABED, 2012) apontava a evasão como o grande obstáculo para a educação a distância, em média o percentual é de 20,5%, em cursos autorizados. E ainda, o percentual de conclusão em curso de pós-graduação (especialização) é em média de 24% (ABED, 2012), os resultados apresentados pelo curso implementado na FAE/UFMG sinalizam para uma experiência diferenciada. Tais resultados motivaram a realização da presente pesquisa.

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O FUNDESCOLA compõe o leque de programas do FNDE com financiamento do Banco Mundial e do Tesouro Nacional com a adesão das secretarias estaduais e municipais de Educação, cujo foco é promover o desenvolvimento do ensino fundamental público das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Com vistas a garantir o fortalecimento da gestão escolar através da oferta de serviços, produtos e assistência que assegurem o acesso e permanência e a qualidade dos processos de ensino-aprendizagem, adota a metodologia de planejamento estratégico para atingir a eficácia, eficiência da gestão e do trabalho escolar. (OLIVEIRA; FONSECA; TOSHI, 2005)

9 A expressão cursista vem sendo utilizada como referência aos alunos participantes da Escola de Gestores, por isso optou-se por adotá-la nesta tese.

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