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1.3 Não estamos sozinhos nesse caminhar: campos teóricos da pesquisa 21

1.3.4 Gestão escolar democrática 35

A definição de Gestão escolar democrática vem sendo construída historicamente como fruto do embate com as visões gerencialistas e administrativas. De acordo com Frigotto (2009), essas ultimas se pautam pelas determinações dos organismos internacionais representantes do capital mundial, para quem os problemas educacionais são oriundos da má gestão e apontam como solução a adoção de programas gerenciais da organização escolar baseados na qualidade total. E, de outro lado, uma visão calcada na luta dos movimentos sociais intensificados a partir da década de 70, que segundo Lima (2013) busca construir via gestão democrática participativa uma escola autônoma, cujo projeto educativo seja a expressão dos anseios da comunidade na qual está inserida.

Fonseca (2003), aponta para a existência de duas lógicas contraditórias que coabitam o espaço escolar em relação as experiências de gestão e organização da escola. Uma, que se refere a construção coletiva de uma gestão democrática participativa com construção do Projeto Político Pedagógico (PPP) que sinaliza as aspirações e anseios da comunidade por uma escola mais autônoma. E outra, via Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE) de caráter gerencial centrado na racionalidade de gastos e eficiência operacional.

Trata-se, segundo Oliveira, J (2009), de um embate teórico em meio a um cenário político e social imerso em contradições que buscam a seu tempo estabelecer um sistema educacional capaz de cumprir as demandas da sociedade, quer seja estabelecidas pelos grupos hegemônicos, quer seja, estabelecidas pelos anseios dos movimentos sociais. No primeiro caso, de acordo com Oliveira, J (2009), atenderia aos seguintes propósitos de orientação capitalista-liberal,

1 garantir a unidade nacional e legitimar o sistema; 2 contribuir com a coesão e o controle social; 3 reproduzir a sociedade e manter a divisão social; 4 promover a democracia da representação; 5 contribuir com a mobilidade e a ascensão social; 6 apoiar o processo de acumulação; 7 habilitar técnica, social e ideologicamente os diversos grupos de trabalhadores para servir ao mundo do trabalho; 8 compor a força de trabalho, preparando, qualificando, formando e desenvolvendo competências para o trabalho; proporcionar uma força de trabalho capacitada e flexível para o crescimento econômico (OLIVEIRA, J, 2009, p. 238)

Nessa perspectiva, segundo Frigotto (2000, p.26) a ¨educação serviria para capacitar técnica, social e ideologicamente os trabalhadores, habilitando-os para o trabalho, ou seja, subordinando e controlando a função social da educação para responder as demandas da lógica de mercado e por conseguinte do capital.

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No segundo caso, de acordo com Oliveira, J (2009), o propósito se assentaria na construção de um projeto educacional que atendesse as demandas da sociedade em consonância com os interesses da maioria.

1 transformar a sociedade de modo a eliminar as divisões sociais estabelecidas; 2 desbarbarizar a humanidade, no que concerne aos seus preconceitos, opressão, genocídio, tortura, etc.; 3 conscientizar os indivíduos, tendo em vista uma formação de sujeitos críticos, autônomos e emancipados; 4 desenvolver uma educação integral, que permita o desabrochar das potencialidades humanas; 5 apropriar-se do saber social, que permita uma socialização ampla da cultura e apreensão dos conhecimentos e saberes historicamente produzidos; 6 formar para o exercício pleno da cidadania. (OLIVEIRA, J, 2009, p. 238)

Em relação a essa segunda perspectiva, o que se almeja é construir um projeto de educação que enfatize a aquisição de conhecimentos e habilidades cognitivas e comportamentais que privilegiem o desenvolvimento da compreensão da realidade. Para Frigotto (2000, p.26) diferentemente da perspectiva dominante, o foco aqui é a formação integral do homem e seu pleno desenvolvimento físico, político, social, cultural, filosófico, profissional, afetivo entre outros.

Deriva dai a necessidade de ampliação do acesso e do direito à educação, assim como ganha expressão e voz a melhoria das escolas, via movimentos sociais organizados, que apontam para a necessidade de se estabelecer na educação, uma perspectiva mais democrática (GADOTTI et cols, 2000), rompendo com a lógica conservadora e tecnicista da administração escolar. Segundo (VEIGA, 2013) é somente na década de 80, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que a gestão democrática e participativa se torna um princípio constitucional. Para a autora (op cit, 2013, p. 162) a gestão democrática exige uma ruptura na prática administrativa da escola com o enfrentamento das questões de exclusão, reprovação e não permanência do aluno na sala de aula¨.

O debate para implantação da gestão democrática na educação perpassa assim os princípios estabelecidos na Constituição Federal de 1988 (dentre eles: obrigatoriedade, gratuidade, liberdade, igualdade, e gestão democrática) (BRASIL, 1988), como também na legislação que regulamenta a educação no país: por exemplo, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) Lei nº 9.394/96 que estabelece a gestão democrática do ensino público e progressiva autonomia pedagógica e administrativa das unidades escolares nos artigos três e quinze (BRASIL, 1996).

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E também, como previsto na LDBEN, na elaboração do Plano Nacional de Educação (art. 87) sendo que no primeiro, proposto para o decênio 2001-2010 (Lei nº10.172/2001), elaborado tendo em vista a democratização da educação brasileira, ainda trazia se ¨corpus¨ permeado pelas diretrizes e metas impostas pelo Banco Mundial (BRASIL, 2010). Já o segundo, aprovado em junho de 2014 (Lei nº 13.005/14) previsto para ser executado no decênio 2014- 2024, apresenta como sua VI diretriz ¨a promoção do princípio da gestão democrática da educação pública¨ e ainda determina no Art. 9º o prazo de dois anos (ou seja até junho de 2016) para que Estados, o Distrito Federal e os Municípios aprovem leis específicas disciplinando a gestão democrática da educação pública, nos respectivos âmbitos de atuação. Neste plano, ainda a determinação, como décima nona meta

assegurar condições, no prazo de 2 (dois) anos, para a efetivação da gestão democrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública à comunidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto (BRASIL, 2014, p. 7 ) grifos nossos

Ainda assim, é possível perceber que mesmo determinando a gestão democrática como princípio constitucional e que os sistemas de ensino estabeleçam as normas para o seu desenvolvimento no âmbito escolar, existe a necessidade de primeiro: as normas estarem de acordo com as peculiaridades de cada sistema, e segundo: garantir a participação de toda comunidade escolar na elaboração do projeto pedagógico da escola (BORDIGNON; GRACINDO, 2004). Em outras palavras, há ainda um outro percurso a ser trilhado no sentido de se rever os padrões de gestão desenvolvidos hoje em dia em instituições engendradas pela burocracia, para uma vivencia de se fazer a gestão de forma coletiva e

permanentemente em processo, processo que é mudança contínua e continuada, mudança que está baseada nos paradigmas emergentes da nova sociedade do conhecimento, que fundamentam a concepção de qualidade na educação e definem, também, a finalidade da escola (BORDIGNON; GRACINDO, 2004, p. 147).

Encontramos assim, nas discussões de Freire (1987,1996, 1997a, 1997b); Lima (1998, 2013); Ferreira (2006); Ferreira; Oliveira (2009); Gadotti (1993, 2000); Veiga (1995, 2013); Paro (1997, 2001); Dourado (2006, 2007); Krawczyk (1999); Sander (1995, 2007); Santos (2003) no âmbito educacional, que a gestão escolar democrática para ser efetivada nos sistemas de ensino e escolas deve garantir a instituição de processos coletivos de participação e decisão conjunta entre gestores, docentes, discentes funcionários administrativas e toda comunidade escolar. Só assim, com a participação efetiva de todos esses atores veremos a efetiva

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transformação da realidade escolar, com a verdadeira implementação da gestão escolar democrática.