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5. RESULTADOS

6.1 FORMAÇÃO DO RIDES

Retomando ao primeiro objetivo desta pesquisa que buscou descrever o processo de formalização do RIDES desde a motivação inicial até a formação de critérios de inclusão de cidades, nota-se que o RIDES nasce das dificuldades que os gestores daquela Região estavam tendo em relação aos seus municípios frente às várias demandas que eles teriam que atender. Esses prefeitos tinham em comum a responsabilidade de gerir municípios com menos de 50 mil habitantes, dificuldade de acesso a recursos dos Governos Estaduais e Federais e proximidade geográfica. Pelos relatos percebe-se que a motivação inicial para a constituição do RIDES reforça a centralidade dos consórcios, como estratégia para a gestão dos municípios pequenos.

Estes resultados corroboram ao que Baldissera (2015) afirma em relação à mudança de forças decorrente da atribuição dos municípios como ente federado. Na visão Da Autora, a mudança constitucional, embora importante para os municípios, não os fortaleceu como se esperava, em virtude da assimetria econômica e social entre os entes municipais. Por isso, a atribuição de responsabilidades aos municípios deve ser acompanhada de descentralização financeira correspondente, para oportunizar a atuação adequada frente às políticas públicas. Não obstante, para efetivar a autonomia dos municípios se faz necessário desenvolver sua capacidade técnica e institucional, possibilitando que os serviços sejam bem planejados e executados nessa esfera.

Assim, para responder as demandas municipais, os prefeitos, em especial de municípios de pequeno porte populacional, têm recorrido aos consórcios como estratégia para captação de recursos e apoios políticos para fortalecer os municípios de determinada região. Um exemplo da efetividade dos consórcios foi descrito por Brandão e Silva (2011) que realizaram uma pesquisa sobre os impactos econômicos da implantação de aterros sanitários individuais nos municípios brasileiros. Por meio de métodos matemáticos e utilizando-se de dado sobre o PIB (Produto Interno Bruto) de todos os municípios brasileiros, os autores confirmaram a tese de que os aterros consorciados tornam-se mais baratos e que, se feito individualmente, o custo de um aterro pode

chegar a 23% do PIB municipal. Pelos critérios de análise constatou-se que para os municípios que utilizam até 6% do seu PIB com aterro sanitário é viável economicamente de forma individual, de 6 a 12% são parcialmente viáveis e que acima de 12% são poucos viáveis necessitando de solução consorciada. Por fim, os autores concluem que, apenas 14% dos municípios brasileiros teriam condições de manter aterro sanitário de forma individualizada e que esses municípios são na maior parte dos casos as capitais dos estados brasileiros, outros pertencem a suas regiões metropolitanas ou são sedes de pólos regionais com mais de 40 mil habitantes. Assim, a adoção de aterros sanitários individualizados torna-se uma solução inadequada para a maior parte dos municípios brasileiros, pois consome parte relevante de seus orçamentos (BRANDÃO; SILVA, 2011).

Além disso, foi apontado pelos entrevistados que a transformação da Região Integrada em Consórcio multifinalitário e a formalização como autarquia foi uma alternativa para esses gestores municipais resolverem seus problemas de forma conjunta e reduzirem custos. Nesta direção, a literatura sobre a constituição dos consórcios informa que estes arranjos podem ser formados de maneira horizontal, ou seja, na mesma esfera de governo, ou vertical, quando formado por entes federativos diferentes, sendo o seu território de abrangência restrito a soma dos territórios dos entes consorciados. Seus objetivos são determinados no Protocolo de Intenções e podem ser multifinalitários, ou seja, abranger mais de uma área da Administração Pública (SILVA, 2015) Ainda sobre os tipos de consórcio, Rikils (2015) esclarece que eles podem ser de natureza jurídica de Direito Público, isto é, associações públicas de natureza autárquica, integrantes da Administração Indireta; ou de Direito Privado, onde pessoas jurídicas são instituídas para a realização de objetivos de interesses comuns. Ambos assumem direitos e obrigações regidos pelos preceitos da Administração Pública e da gestão fiscal pública.

Pelos relatos ficou evidente que o RIDES foi criado para apoiar os gestores municipais, tecnicamente em todas as áreas da Administração Pública, mas após sua criação foi priorizado inicialmente atender às legislações ambientais, em virtude da Lei 12.305, publicada em 2010, que deu quatro anos para a adequação dos municípios. Como já mencionado anteriormente, o RIDES foi fundado em 2013 e uma das demandas emergentes dos municípios consorciados foi atender as determinações da Política Nacional de Gestão de Resíduos Sólidos. Para isso eles contaram com importantes parcerias de universidades e institutos federais da região, todavia tiveram dificuldade técnica na operacionalização do contrato de rateio. Estes achados corroboram com as conclusões

de Abrucio et al.(2013) ao afirmarem que, sozinhos, os municípios têm dificuldade em formular e implementar todo o arcabouço de políticas públicas, o que contribui para a busca de soluções cooperativas e consorciadas. Assim, os consorciamentos são gerados por associação municipalista que tem papel fundamental na formação e manutenção dos arranjos intermunicipais, ou seja, o arranjo associativo vai além das unidades municipais de cada consórcio, sendo capaz de criar a multiplicar parcerias estáveis entre municipalidades.

Ademais, o art. 18 da Lei 12.305/2010 confere acesso prioritário aos recursos da União para os municípios consorciados e, o art. 19 da mesma Lei dispensa a elaboração do plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos individual, cabendo ao consórcio um plano intermunicipal que deverá preencher o conteúdo mínimo estabelecido em Lei (BRASIL, 2010). Nesse aspecto contaram com as parcerias da UFU, UFTM e IFTM na elaboração desses planos.

Igualmente, visando garantir a sustentabilidade econômica dessas entidades, a Lei 11.107 de 2005 sobre os consórcios traz as regras para o contrato de rateio dos consórcios em seu art. 8º – Os entes consorciados somente entregarão recursos ao consórcio público mediante contrato de rateio. Porém, como afirma Baldissera (2015) embora a Lei dos Consórcios tenha garantido o regramento legal para a criação dos arranjos e deu um norte estrutural para sua gestão, ela não garante a continuidade do consórcio, por isso é necessário a criação de políticas públicas que promovam a manutenção dos mesmos. Porquanto, o consórcio público não é uma fórmula mágica e, tampouco é capaz de solucionar todos os problemas que os entes públicos municipais enfrentam e, por isso, eles devem ser estruturados com capacidade técnica e gerencial efetivas, já que se trata de um instrumento de cooperação que responde às necessidades da realidade dos municípios brasileiros, em especial aqueles de pequeno porte.