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A formulação do objeto das negociações internacionais A mudança do clima, como definido na Convenção-Quadro das

Parte I B – A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima

1. A formulação do objeto das negociações internacionais A mudança do clima, como definido na Convenção-Quadro das

Nações Unidas sobre Mudança do Clima (a Convenção), é a mudança do clima global do Planeta Terra, como resultado das emissões pelo Homem de certos gases, ditos gases de efeito estufa. A Convenção trata de emissões líquidas, ou seja, das emissões menos as remoções desses gases. Restringe-se ainda aos gases de efeito estufa não controlados pelo Protocolo de Montreal.

O principal gás de efeito estufa é o dióxido de carbono (gás carbônico), emitido principalmente pela queima de combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo e seus derivados, e gás natural), mas também pelo desflorestamento. Seguem-se em ordem de importância o metano e o óxido nitroso. Os clorofluorcarbonos são também gases de efeito estufa, porém, por serem objeto do Protocolo de Montreal que visa o seu banimento progressivo, não estão incluídos na Convenção. A Convenção é um tratado internacional de caráter essencialmente universal – foi firmada e ratificada por praticamente todos os países. O objetivo da Convenção é o de estabilizar a concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera, em níveis tais que evitem a interferência perigosa com o sistema climático. Ora, tal estabilização somente pode

ser obtida pela estabilização das emissões líquidas (emissões menos remoções) dos gases de efeito estufa. Embora não haja uma decisão clara sobre o nível de concentração atmosférica dos gases de efeito estufa que poderia ser tolerado sem interferir de maneira perigosa no sistema climático, sabe-se que se as emissões forem mantidas no nível atual, a sua concentração atmosférica provocará efeitos que qualquer pessoa considera perigosos.

É impossível evitar completamente a mudança global do clima. Para fazê-lo, seria necessário eliminar completamente as emissões de gases de efeito estufa, e ainda assim haveria que aguardar que se dissipassem naturalmente os efeitos já provocados e que serão observados no futuro. Isto porque os gases de efeito estufa, uma vez lançados na atmosfera, lá permanecem por um período longo e portanto a sua concentração só diminui lentamente mesmo que as emissões sejam interrompidas. Além disso, as águas dos oceanos aquecem lentamente (cerca de 30 anos na camada superficial e vários séculos nas camadas profundas). O reverso é também verdadeiro, e os oceanos levariam muito tempo para esfriar mesmo que deixassem de ser aquecidos na superfície pelo aumento do efeito estufa. Desta forma, os esforços dos países acordados na Convenção visam diminuir a magnitude da mudança do clima. No linguajar adotado, tais ações são denominadas de ações de mitigação da mudança do clima. Consistem em reduzir as emissões líquidas (diminuir as emissões ou aumentar as remoções) devidas à ação do Homem, dos gases de efeito estufa não controlados pelo Protocolo de Montreal. Para que as medidas de mitigação sejam eficazes, ou seja,

para que efetivamente limitem a mudança do clima, há que necessariamente reduzir as emissões que geram a mudança do clima. No caso do gás carbônico, há portanto que agir sobre a queima de combustíveis fósseis e sobre o desflorestamento. Ou promover a remoção permanente do gás carbônico da atmosfera.

A constatação de que é impossível evitar completamente a mudança do clima tem resultado em maiores esforços no sentido do desenvolvimento de programas de adaptação à mudança do clima. No entanto, da mesma forma como é impossível uma mitigação completa (eliminação) da mudança do clima, também é impossível uma adaptação completa à mudança do clima. Um exemplo de situação onde é razoável supor que se possa fazer uma adaptação com êxito à mudança do clima é a elevação dos diques de contenção na Holanda para fazer face a uma elevação do nível do mar. Um contra exemplo de situação onde se sabe que é impossível adaptar-se à mudança do clima é o caso da uma savanização das bordas da floresta amazônica em decorrência da mudança do clima que implicaria na diminuição da precipitação.

Além da mitigação e da adaptação, como opções de políticas para fazer face à mudança do clima, resta evidentemente a opção de não fazer nada, ou seja, a opção da inação. Esta opção é factível fisicamente. No entanto, está descartada pela vontade política do conjunto de nações que firmaram e ratificaram a Convenção, pois está claro hoje que a inação resultará numa interferência perigosa sobre o sistema climático. Sob o ponto de vista político, não há hoje nenhum país que defenda a completa inação. Nem mesmo os países

que não ratificaram o Protocolo de Quioto, pois as razões apresentadas para não fazê-lo são relativas à questão da repartição do ônus de mitigação entre os países.

Em resumo, está claro hoje que as políticas públicas a serem aplicadas ao problema da mudança do clima serão necessariamente uma combinação das únicas três opções possíveis – inação, mitigação e adaptação. A inação implica em aceitar os danos potenciais causados pela mudança do clima. No entanto, estes danos são distribuídos de maneira não uniforme entre os países. A mitigação implica em certo custo para as economias dos países. Não é claro que tais custos resultem em uma redução da riqueza dos países, mas certamente implicam em uma mudança interna nas economias, tendo como resultado a necessidade de políticas de compensação de setores que sejam prejudicados por tais mudanças. A adaptação implica também em uma distribuição não uniforme de custos entre os países.