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4 AS REPRESENTAÇÕES SOBRE O AGIR

4.2 Análise das representações sobre o agir do aluno

4.2.2 As modalizações em uma análise macro

4.2.2.1 Frequência das modalizações nos relatórios

Ao examinar as modalizações nos diversos relatórios, nossos dados revelam a ocorrência de algumas delas com maior frequência, enquanto em outras, percebemos uma menor incidência, como é o caso da modalização deôntica. Esta surge, normalmente, no final do relatório quando se refere aos pais, manifestando um diálogo no qual prevalece a voz social do professor que assume a enunciação para expressar o anseio e a necessidade do acompanhamento da família no processo de desenvolvimento da aprendizagem do aluno. Com uma razoável frequência, encontramos as modalizações pragmáticas, numa soma de quarenta e duas recorrências para um total de trezentos e quarenta (340) modalizações, que surgem nos trinta relatórios analisados. Compreendemos, então, que elas têm um valor bastante relevante na avaliação, pois estão ligadas às ações possíveis que o aluno já pode realizar, ou melhor, sobre suas razões (o dever-fazer), suas intenções (o querer-fazer) e, necessariamente em relação a sua capacidade de concretização (o “saber-fazer” ou o “poder-fazer”) (BRONCKART, 1999, p. 132).

As duas modalizações com maior constância foram as lógicas e, de maneira especial, as apreciativas. As primeiras emitem um caráter de objetividade e verdade em relação às proposições e dessa forma são bastante significativas no contexto discursivo dos relatórios. Podem emitir a certeza (ou incerteza), a possibilidade (ou impossibilidade)/a probabilidade no que diz respeito à aprendizagem de uma criança, por meio de seus enunciados. Destacamos que essa modalização tem uma distribuição muito regular dentro dos relatórios, além disso, sua marcação é feita, geralmente, por expressões impessoais (é indispensável), advérbios (anteriormente), locuções adverbiais que regem uma completiva (sem dúvida que...).

Constatamos ainda que as modalizações apreciativas apresentaram uma enorme frequência em nossos dados, devido ao fator primordial de se constituírem em valores subjetivos, avaliativos e, assim, serem fundamentais em uma avaliação. Revelam grande influência no que compete à caracterização do aluno, visto que a maioria das professoras utiliza adjetivos para qualificar seus alunos e, assim, atribuir um julgamento sobre atitudes, comportamentos, condutas e obviamente tornar-se visível um posicionamento em relação ao desenvolvimento intelectual desse aluno. Com efeito, há, sobremaneira, uma gama de modais apreciativos nos relatórios que se manifestam através de inúmeros adjetivos, advérbios, locuções adverbiais, estruturas verbais

que traduzem aspectos (fica feliz, mostra satisfação, muito esperta), expressões linguísticas quantificadoras ou intensificadoras (muito, bastante, melhor, pouco). Observamos, ainda, que muitas modalizações apreciativas evidenciam a afetividade da professora, marcada profundamente pela subjetividade do ato avaliativo.

Em decorrência das observações realizadas, consideramos que as modalizações, sejam deônticas, pragmáticas, lógicas ou apreciativas, têm um grande impacto no propósito comunicativo do relatório, visto que se trata de uma avaliação e, portanto, as escolhas linguístico-discursivas são realizadas com uma determinada finalidade, quer para afirmar, negar, refutar, confrontar, enfim, emitir um posicionamento, um julgamento valorativo que, como vimos, é bastante modalizado.

Com o objetivo de melhor visualização da distribuição das modalizações nos relatórios foi realizado o gráfico abaixo:

Gráfico 4 – Frequência das modalizações

O gráfico apresentado mostra o percentual de cada modalização em relação a um total previamente tabulado. Esse total é de aproximadamente trezentos e quarenta (340) modalizações encontradas em todo o corpus, o equivalente a trinta (30) relatórios. Basicamente, selecionamos as modalizações apreciativas e obtivemos uma soma de duzentas e uma (201) modalizações, que correspondem a 59% do total de 340 localizadas. Já as lógicas, satisfazendo a totalidade de 21%, foram identificadas em torno de setenta e uma (71). Em menor escala, distribuem-se as pragmáticas com o quantitativo de 12%, isto é, de quarenta e uma (41)

ocorrências. Por fim, com menos emprego, tivemos as deônticas, com o percentual de apenas 8%, que condiz a vinte e sete (27) modalizações.

As ocorrências dessas modalizações são bastante expressivas, tanto pela quantidade encontrada, mas, sobretudo, pelas implicações que têm quando as articulamos ao contexto de produção, às vozes e às metáforas, como veremos adiante. Porém, a título de exemplificação, apresentaremos, no próximo quadro, algumas modalizações identificadas:

Quadro 11 – Modalizações identificadas nos relatórios

AS MODALIZAÇÕES NO RELATÓRIO

APRECIATIVAS LÓGICAS PRAGMÁTICAS DEÔNTICAS

Muito esperta, fala pouco, calada, bom, tem confiança, retraída, tímida, triste, amigo, parada, reservado, meigo, ótimo, alegre, pouco significativo, lento, com interesse, grande potencial, difícil, tem autonomia, muito esperto, reservado, boa, tranquila, assíduo, gosta, dificilmente, fiel, prestativa, harmoniosamente.

Acredito, um pouco, certamente, assim, percebemos, às vezes, principalmente, durante o ano, nesses momentos, sempre precisando, também, ainda tem, necessitando assim, desde que, sem dúvida, anteriormente, agora, alguns, ainda não, de certa maneira, desde que.

Sabe escrever, teve avanços, é capaz de classificar e seriar, tem dificuldade em efetuar, continua resolvendo conflitos, apresenta capacidade para aprender, demonstra não conhecer, apto a adquirir, procura trabalhar, procura organizar.

É indispensável, será essencial, mas se for acompanhado, é de grande importância, será importante, quando for necessário, precisamos trabalhar, deve ser consciente, recomendo que, é importante ser motivada, o apoio é indispensável.

Concluímos, então, a análise das modalizações – apreciativas, lógicas, pragmáticas, deônticas – nos relatórios e fragmentos apresentados em que procuramos de certa maneira expor nosso posicionamento crítico, levando em conta, especialmente, as condições de produção desses relatórios, visto que a situação de produção não é, de forma alguma, a mais adequada – como observamos na análise dos questionários. Portanto, diante da relevância da análise apresentada fizemos nossas interpretações e considerações. Ressaltamos que não pretendemos esgotar o assunto, mas, sim, oportunizar novas apreciações e contribuições. Tendo em vista essa possibilidade, passaremos para próxima seção, na qual analisaremos o gerenciamento das vozes enunciativas.