• Nenhum resultado encontrado

2 O GÊNERO RELATÓRIO COMO OBJETO EM FOCO:

2.3 Textos no/como trabalho do professor: a perspectiva do ISD

2.3.2 Gênero de texto e metáfora

Como nossa pesquisa analisa o discurso produzido em situação de avaliação no relatório, com base no pressuposto de que os mecanismos enunciativos e as metáforas materializam representações do agir do aluno pelo professor, torna-se necessário estabelecer relações entre essas categorias, ou seja, investigar como as metáforas, as modalizações e as vozes se articulam em um determinado contexto de produção. Ademais, devido à constituição da metáfora na linguagem e no pensamento humano, supomos que a mobilização de representações ocorre a partir de conceitualizações explícitas (ou não) nas categorias citadas.

No ensaio Funções semântico-discursivas de expressões linguísticas que materializam metáforas conceituais em gêneros discursivos, Espíndola (2010) analisa como as expressões linguísticas atualizam metáforas conceituais em diferentes gêneros discursivos, com base nas funções semântico-discursivas dessas expressões e conclui que tais funções dependem do propósito sociocomunicativo do gênero. Ao desenvolver o trabalho27 intitulado: A metáfora conceptual ontológica na publicidade, considera que a língua e seus usos são essencialmente argumentativos, visto que as expressões metafóricas que materializam metáforas conceituais, no gênero propaganda, são elaboradas intencionalmente com o intuito de atrair determinados interlocutores. A autora assevera que “todo e qualquer gênero discursivo apresenta marcas linguístico-discursivas que imprimem, no discurso, a orientação argumentativa apontada pelo locutor” (ESPÍNDOLA, 2005, p. 25). Nessa mesma perspectiva, temos o trabalho de Andrade (2009) – UFPE: “Beleza é namorar”: metáforas do amor no gênero publicidade, que, centrado na questão das metáforas em publicidades do Dia dos Namorados veiculadas pela mídia no mês de junho de 2008, revela que nos textos pesquisados houve a presença de pelo menos uma

27

expressão linguística metafórica licenciada por Metáfora Conceitual (MC) e constata o enorme emprego de metáforas pelos produtores de texto publicitário.

Kleiman (2005a, p. 207), ao executar pesquisas com metáforas conceituais na educação linguística do professor, explora tanto a análise dessa categoria, quanto das representações sociais na formação do professor. A autora lança um olhar para as metáforas conceituais construídas durante a interação professor-aluno, especificamente no discurso em sala de aula sobre o debate conceitual do gênero resumo. Propõe, ainda, na área da Linguística Aplicada, cujo “objeto se constitui na interfase do social discursivo e cognitivo”, que as representações sociais permitem perceber o estabelecimento dos “nós” da aprendizagem conceitual, bem como a relação entre esse processo e a construção identitária do professor, que se confronta com as representações do senso comum. Por fim, o estudo assinala que o processo de socialização profissional inicia-se no discurso e que as metáforas têm, decisivamente, um papel facilitador nesse aspecto. Sobretudo sugere que o processo de transformação das representações, de saberes pragmáticos sobre linguagem aos conhecimentos fundamentados cientificamente, pode ser viabilizado pelas categorias semânticas implicadas nas metáforas.

Além dos trabalhos apresentados, encontramos grande diversidade de estudos que abordam a metáfora e os gêneros textuais. A título de exemplo, destacamos a pesquisa de Zamponi (2009) – De códigos e livros: a metáfora no gênero de popularização da ciência,que parte do conceito de metáfora conceitual, focaliza o papel discursivo de tais metáforas na configuração desse gênero e aborda primeiramente aquelas que veiculam as representações sociais sobre a natureza da ciência, bem como as usadas na recontextualização do conhecimento especializado da área de biotecnologia e da genética; Andrade (2010) – UFPE – também analisa A metáfora no discurso da Ciência em artigos científicos veiculados nas revistas da mesma área por se comporem em um dos principais gêneros de divulgação científica e conclui que esse tipo de discurso está impregnado por metáforas que funcionam como relevantes estratégias cognitivo- linguísticas. No mesmo âmbito, desde 2007, Désirée Motta Roth – UFSM – desenvolve o projeto intitulado Análise crítica de gêneros de artigos de popularização da ciência, em que realiza diversas pesquisas envolvendo as metáforas e os gêneros, assim como “The project concluded”: Metáforas ideacionais no gênero notícia de divulgação científica e co-ocorrência de metáforas ideacionais e movimentos retóricos no gênero notícia de popularização da ciência. Nos trabalhos citados,o discurso científico é investigado e algumas conclusões são apreendidas, entre

elas, que a utilização de metáforas nas notícias de divulgação científica didatiza a linguagem científica com o propósito de aproximar o conhecimento científico da sociedade não especialista e que o caráter mais metafórico ou menos metafórico do movimento textual pode ser um indício do quanto a linguagem científica precisa ser didatizada para se tornar acessível ao público.

Torna-se importante destacar o posicionamento de Swales (2007) ao asseverar que os gêneros recrudescem a cada dia nas comunidades, apresentando-se multimodais, globalizados e digitalizados. Então, devido a sua constante transformação, emergem gêneros incipientes; ocorrendo um processo de “generificação”, visto que esses gêneros se diferenciam em termos de história, tamanho, função, público e status – levando o autor a concluir que nenhuma rede de definições é capaz de capturar toda a diversidade existente. Ele propõe que o emprego de metáforas (enquadramento, etiqueta, instituição etc.) para definir o gênero ofereceria uma solução parcial para esse problema – no âmbito do evento comunicativo28 – ao avaliar essas metáforas em três grupos diferentes de textos: “gênero cotidiano”, “gênero fechado” e em dissertações ou teses de doutorado, ressaltando a questão dos propósitos comunicativos que nem sempre atendem aos seus fins, mas que escolher a(s) metáfora(s) correta(s) pode constituir uma descoberta valiosa para compreender o papel desses textos atualmente.