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3 TRANSMISSÃO DE TARIFA DE IMPORTAÇÃO EM PEQUENA ECONOMIA

3.7 AVALIAÇÃO COMPUTACIONAL DO MODELO

3.7.3 Funções impulso-resposta

O desempenho do modelo será analisado mediante funções impulso-resposta. Estas funções descrevem como a economia reage a impulsos exógenos – os choques – geralmente apresentados na forma de vetores autoregressivos, e descrevem a reação das variáveis macroeconômicas endógenas do modelo no momento do choque e nos períodos subseqüentes. Convém ressaltar que não se pretende analisar condições de momento nem decomposição da variância. Pretende-se somente avaliar como os diferentes mecanismos de transmissão são reproduzidos no modelo. Foram analisadas funções impulso-resposta para quatro choques: tarifas de importação, oferta, taxa de juros doméstica e taxa de juros internacional.

Primeiramente, deu-se um choque de 20% na variável “tarifa”. A Figura 1 apresenta os resultados.

Observa-se que, para o modelo desenvolvido neste trabalho, o choque da tarifa ( = tau) de 20% reproduziu os efeitos esperados na economia. O custo de internação dos produtos importados ( ̃ torna-se maior, ampliando o desvio na Lei de Preço Único e conseqüentemente o custo dos produtos importados ( . Estes resultados mostram o

pass-through incompleto da tarifa, pois a magnitude do aumento de é inferior a 20%. Há

uma variação positiva da inflação de bens domésticos ( . O efeito imediato é que a inflação total do país ( aumenta. Para conter a inflação, a taxa de juros se eleva, afetando a demanda agregada (h). O diferencial de taxa de juros nacional e internacional (i > i*) leva à valorização do câmbio nominal (e). Haja vista que o aumento do custo de internação dos bens importados reduz a propensão do país a importar, os termos de troca apresentam um efeito imediato positivo. Todavia, o efeito no longo prazo é de deterioração dos termos de troca, pois a valorização do câmbio que se segue ao choque estimula importações, anulando o efeito inicial da tarifa.

A Figura 2 apresenta os efeitos dos choque de oferta (ut) de 1%. A curva de oferta

agregada está representada neste modelo pela Curva de Phillips, a qual mostra a relação direta entre inflação doméstica, suas expectativas, hiato do produto e os desvios na Lei do Preço Único. De imediato há um aumento de preços doméstico ( e ao consumidor ( . O aumento de inflação incentiva a atividade econômica porque as empresas vislumbram a possibilidade de aumentar lucros mediante preços mais elevados. Tendo em vista que a autoridade monetária segue uma regra de Taylor, a taxa de juros doméstica se eleva para conter a pressão inflacionária. A resposta da taxa de juros é “hump-shaped” devido aos efeitos defasados que gera na atividade econômica. A elevação da taxa de juros provocaria entrada de capitais e consequente valorização do câmbio. A valorização cambial, por sua vez, reduz os preços dos bens importados( , estimulando importações. O aumento de importações levaria à deterioração dos termos de troca. Quanto ao custo de internação dos bens importados ( ̃ , este responde conforme esperado, porém de forma defasada (pois depende do custo de internação passado, ̃ ).

Figura 2: Efeitos do choque de oferta

A Figura 3 apresenta os efeitos de um choque de política monetária, com elevação da taxa de juros doméstica da ordem de 1%. O efeito imediato se dá na redução do consumo doméstico e sua transmissão ocorre por meio demanda agregada (h), com contração da atividade econômica. Tendo em vista a paridade descoberta da taxa de juros (UIP), o aumento da taxa de juros doméstica atrai capitais, levando à valorização da taxa de câmbio (e). Como consequência, há estímulo às importações, tendo em vista a queda dos preços de bens internacionais ( , tornando os termos de troca negativos (s). A combinação de baixa atividade econômica com valorização cambial leva à queda dos preços domésticos e ao consumidor. Quanto ao custo de internação dos bens importados ( ̃ , este responde conforme esperado, porém de forma defasada (pois depende do custo de internação passado, ̃ ).

Figura 3: Efeitos do choque da taxa de juros doméstica

Por fim, são apresentados os efeitos de um choque na taxa de juros internacional da ordem de 1%. Este choque torna a taxa de juros internacional maior que a taxa de juros doméstica (i*>i), provocando saída de capitais da pequena economia doméstica. Dada a UIP, a transmissão para a economia se dá mediante a desvalorização da taxa de câmbio. As importações, então, se tornam mais caras ( =pif) tendo em vista a elevação do custo de internação. Haja vista a simultaneidade das equações, a defasagem na resposta do custo de internação provoca dois efeitos imediatos: queda dos preços domésticos e aumento da inflação ao consumidor (dado o encarecimento das importações). A queda de preços de bens produzidos domesticamente somada ao encarecimento dos bens importados (dos quais fazem parte os bens intermediários utilizados para produção) levam à desaceleração da atividade econômica. A queda do hiato apresenta maior magnitude que a elevação da inflação ao consumidor, permitindo explicar a queda da taxa de juros doméstica. Em resposta ao movimento da taxa de câmbio, observa-se melhora dos termos de troca (s).

3.8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O principal objetivo deste capítulo foi analisar como alterações das tarifas de importação afetam a economia brasileira. A fim de atingir esse objetivo o modelo DSGE novo keynesiano de economia aberta elaborado por Monacelli (2005) foi modificado para incluir a tarifa de importação como mais um elemento, além do câmbio, capaz de provocar desvios na Lei de Preço Único.

O modelo apresentado aqui considera uma pequena economia aberta, cujas flutuações econômicas não afetam o resto do mundo, para o qual se assumem processos exógenos em suas variáveis agregadas. As famílias são proprietárias das firmas e consomem bens produzidos internamente e importados. A produção doméstica é voltada para atender a demanda interna e externa. Os preços dos bens domésticos e importados apresentam rigidez nominal e são reajustados de acordo com a regra dependente de tempo de Calvo (1983). No caso dos importados, é o mesmo que supor pass-through incompleto da taxa nominal de câmbio, no curto prazo. Como contribuição a esta modelagem, acrescentou-se a tarifa de importação como mais um item de custo de internação do produto importado e com o condão de afetar preços domésticos. Supõe-se que as contas governamentais se equilibram em cada período de tempo, o que possibilita estabelecer uma regra de política monetária do tipo Taylor (1993) como uma reação ótima a desvios da inflação em relação ao seu nível de equilíbrio. As equações estruturais que definem o equilíbrio foram calibradas para a economia brasileira. Para a calibração foram escolhidos valores de parâmetros já estimados por outros autores e baseados em evidências microeconômicas compatíveis com os dados brasileiros.

Permitiu-se que quatro tipos de choques afetassem a economia, representados por tarifa de importação, oferta, taxa de juros doméstica e taxa de juros internacional. Em seguida, foram analisadas as funções impulso-resposta geradas pelas simulações do modelo. De modo geral, os efeitos dos choques sobre as variáveis endógenas geraram respostas de acordo com o sugerido pela literatura econômica.

Os resultados encontrados sugerem que a elevação da tarifa de importação tem o condão de afetar positivamente os preços dos bens importados e também os preços ao consumidor. Ademais, verificou-se haver um pass-through incompleto da tarifa de importação para a economia. Portanto, o protecionismo, entendido aqui como a elevação de tarifas de importação, tem um custo social elevado devido aos seus efeitos sobre a inflação e,

por isso, deve ser avaliado conjuntamente com outras políticas, de modo a não anular efeitos positivos que eventualmente estas possam produzir.

Quanto ao choque de oferta, verificou-se aumento dos preços ao consumidor e a consequente elevação da taxa de juros doméstica, conforme determinado pela regra de Taylor com suavização. A valorização cambial que se segue leva à redução os preços dos bens importados, estimulando importações. Já o choque da taxa de juros doméstica provocou uma queda imediata nos preços ao consumidor, além de desaceleração da atividade econômica Mesmo que não imediatamente, a elevação da taxa de juros provoca valorização cambial e estímulo às importações, levando à deterioração dos termos de troca. Finalmente, o choque de juros internacionais mostrou efeitos significativos sobre o câmbio e os termos de troca.

Não obstante os resultados apresentados, há limitações ao modelo. Embora se trate de uma economia aberta, não foram considerados os papéis do mercado financeiro, do governo no financiamento das importações, nem dos fluxos internacionais de capitais. A inclusão destas variáveis seria importante, pois poderiam afetar o câmbio, eventualmente anulando o movimento das tarifas de importação. Além destes elementos, uma importante extensão para este modelo seria a inclusão de preços regulados ou administrados como parte dos índices de preços ao consumidor e a inclusão de outros tributos nacionais. Por fim, seria relevante buscar estimar o modelo proposto para a economia brasileira mediante técnicas Bayesianas.

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