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3.3 Teorema da Uniformiza¸c˜ao

3.3.4 Fun¸c˜oes Meromorfas sobre uma Superf´ıcie de Riemann

Seja W uma superf´ıcie de Riemann e G a regi˜ao da esfera complexa analiticamente ho- meomorfa ao seu recobrimento universal. Uma fun¸c˜ao ϕ (P ) meromorfa em W, induz em

G uma fun¸c˜ao meromorfa f (z) , que tem os mesmos valores em pontos que se projetam

no mesmo ponto P de W. Isto quer dizer que a fun¸c˜ao f ´e invariante pelo grupo Γ, equi- valente ao grupo de recobrimento, isto ´e, para todo elemento S ∈ Γ e todo z ∈ G, temos

f (S (z)) = f (z) .

Reciprocamente, se G ´e uma regi˜ao da esfera complexa sobre a qual atua o grupo descont´ınuo Γ de transforma¸c˜oes sem ponto fixo em G, ent˜ao toda fun¸c˜ao meromorfa em

G, invariante relativamente a Γ, d´a origem a uma fun¸c˜ao meromorfa em G

Γ. Tais fun¸c˜oes

f (z) existem e s˜ao chamadas fun¸c˜oes automorfas relativas aos grupos de recobrimento.

Nos casos el´ıptico e parab´olico, as fun¸c˜oes automorfas s˜ao conhecidas. Se G ´e a esfera, Γ = {e} ent˜ao temos apenas as fun¸c˜oes racionais. Se G ´e o plano, temos fun¸c˜oes meromorfas conforme Se¸c˜ao 3.3 que no caso 2) s˜ao simplesmente peri´odicas ou duplamente peri´odicas, isto ´e, fun¸c˜oes el´ıpticas.

Consideremos o caso hiperb´olico: G = H2. No caso de um grupo Γ finito (o que est´a

exclu´ıdo no caso hiperb´olico) seria f´acil construir uma fun¸c˜ao automorfa, pois bastaria tomar uma fun¸c˜ao meromorfa H (z) e considerar a soma f (z) =PH (S (z)) , estendida

a todas as transforma¸c˜oes S ∈ Γ. No caso de grupos infinitos surge o problema da con- vergˆencia. Contornamos esta dificuldade introduzindo para cada grupo Γ fun¸c˜oes que generalizam as fun¸c˜oes teta de Jacobi, por meio das quais, se podem construir as fun¸c˜oes el´ıpticas.

Defini¸c˜ao 3.3.6 Chama-se fun¸c˜ao teta relativa ao grupo de recobrimento Γ, uma fun¸c˜ao

θ (z) , meromorfa em H2, que satisfaz `a condi¸c˜ao

θ (S (z)) = (cz + d)2mθ (z) para cada S ∈ Γ tal que S (z) = az+b

cz+d.

Observamos que o grupo Γ ´e descont´ınuo, e portanto enumer´avel, e que H2´e invariante,

logo as transforma¸c˜oes de Γ podem ser escritas sob a forma

Sn =

anz + bn

bnz + an

(n = 0, 1, 2, . . .) com zn = Sn(z) , anan− bnbn = 1, S0 = e, identidade, isto ´e, a0 = 1,

b0 = 0. Exclu´ıdo este caso, temos sempre bn 6= 0, do contr´ario, a origem seria ponto fixo.

Teorema 3.3.7 Se H(z) ´e uma fun¸c˜ao meromorfa em H2 e limitada numa coroa ρ <

|z| < 1 ent˜ao para todo inteiro m≥ 2, pode-se definir uma fun¸c˜ao teta relativa ao grupo

Γ = {Sn} pela s´erie θ (z) =X n H (Sn(z)) ¡ bnz + an ¢2m.

Para demonstrar o T eorema 3.3.7, estabeleceremos alguns lemas.

Lema 3.3.8 A sucess˜ao {bn} n˜ao tem ponto limite 0. Caso contr´ario, haveria uma sub-

sucess˜ao {Sp} , com bp −→ 0, e portanto |ap| −→ 1, e a sucess˜ao dos pontos Sp(0) teria

a origem como ponto de acumula¸c˜ao, o que n˜ao ´e poss´ıvel.

Lema 3.3.9 Dado um conjunto compacto K ⊂ H2, se para cada n tivermos

mn = inf z∈K ¯ ¯dzn dz ¯ ¯2 e Mn = sup z∈K ¯ ¯dzn dz ¯ ¯2 ent˜ao a sucess˜ao Mn

mn ´e limitada, i.e., existe L > 0, tal que Mn≤ Lmn.

Demonstra¸c˜ao: Do Lema 3.3.8, segue-se que existe um n´umero r > 0 tal que para

n > 0 temos |bn| ≥ r. De |an|2− |bn|2 = 1, deduzimos 1 < ¯ ¯ ¯ ¯abn n ¯ ¯ ¯ ¯ 2 = 1 + 1 |bn|2 ≤ 1 + r−2

e por outro lado, sendo K compacto, temos max z∈K |z| = δ < 1, e notando que dzn dz = ¡ bnz + an ¢−2 , obtemos Mn mn = ( sup¯¯bnz + an ¯ ¯ inf¯¯bnz + an ¯ ¯ )4 =    sup ¯ ¯ ¯z +an bn ¯ ¯ ¯ inf ¯ ¯ ¯z +an bn ¯ ¯ ¯    4 ½ 2 + r−2 1 − δ ¾4

que ´e idependente de n.

Lema 3.3.10 A s´erie P ¡bnz + an

¢−4

converge uniformemente em qualquer compacto contido em H2.

46 As Fun¸c˜oes Automorfas como Ferramentas de Conex˜ao

Demonstra¸c˜ao: Mostraremos que essa convergˆencia ´e uniforme em uma vizinhan¸ca fechada de um ponto z0 arbitr´ario de H2. Escolheremos essa vizinhan¸ca V de tal modo que

os conjuntos Sn(V) sejam disjuntos dois a dois. Notamos ent˜ao que

¯ ¯dzn dz ¯ ¯2 ´e o jacobiano da transforma¸c˜ao Sn, e que portanto, temos, sendo s = x + iy, zn= xn+ iyn,

Jn= ´Area de Sn(V) = Z Z Sn(V) dxndyn= Z Z V ¯ ¯ ¯ ¯dzdzn ¯ ¯ ¯ ¯ 2 dxdy

e sendo J0 a ´area de V, combinando com o Lema 3.3.9, temos

mnJ0 ≤ Jn ≤ MnJ0 ≤ LmnJ0 ≤ LJn , donde se deduz ¯ ¯bnz + an ¯ ¯−4 ≤ Mn≤ L J0 Jn;

como PJn ´e certamente convergente, pois ´e uma soma de ´areas de dom´ınios disjuntos

contidos no dom´ınio H2, fica demonstrado o Lema 3.3.10.

Segue-se deste resultado que o termo geral dessa s´erie tende a zero uniformemente, e que portanto, para m ≥ 2, a s´erieP ¡bnz + an

¢−2m

´e tamb´em uniformemente convergente. Agora mostraremos que a fun¸c˜ao θ (z) definida acima satisfaz as condi¸c˜oes que definem uma fun¸c˜ao t´eta. Seja K um conjunto compacto contido em H2, que n˜ao contenha nenhum

p´olo de H (z) nem pontos equivalentes a esses p´olos. Podemos construir vizinhan¸cas desses p´olos de tal maneira que K n˜ao contenha tamb´em nenhum ponto equivalente a um ponto dessas vizinhan¸cas. Ent˜ao, para z ∈ K, Sn(z) est´a sempre no conjunto C0 que se obt´em

de H2, retirando as vizinhan¸cas dos p´olos de H. Ora, como H (z) ´e limitada num conjunto

ρ ≤ |z| < 1, temos ent˜ao, para z ∈ K e para qualquer Sn ∈ Γ, |H (Sn(z))| ≤ M, que a

s´erie ´e majorada pela s´erie uniformemente convergente

MX ¡bnz + an

¢−2m

.

Sendo K arbitr´ario, a s´erie dada representa, portanto, uma fun¸c˜ao meromorfa em H2.

Al´em disto, fazendo

temos que θ (znk) = P n H (Sn(Sk(z))) ¡dz nk dz ¢m = P n H ((SnSk) (z)) ¡dz nk dz ¢m¡dzk dz ¢−m = ¡bkz + ak ¢2m θ (z) ,

pois o produto SnSk percorre todas as transforma¸c˜oes do grupo Γ, para n = 0, 1, 2, ...

O n´umero m chama-se peso da fun¸c˜ao t´eta. As Fun¸c˜oes Automorfas

As fun¸c˜oes automorfas s˜ao generaliza¸c˜oes das fun¸c˜oes trigonom´etricas e el´ıpticas. Uma fun¸c˜ao circular, como sin z, tem a propriedade de n˜ao mudar quando o valor z ´e substitu´ıdo por z + 2mπ, onde m ´e um n´umero inteiro; isto ´e, a fun¸c˜ao sin z, n˜ao se altera em valor se T1(z) = z ´e substitu´ıda pela transforma¸c˜ao T2(z) = z + mπ.

Defini¸c˜ao 3.3.11 Uma fun¸c˜ao f(z) ´e dita automorfa com respeito a um grupo de trans-

forma¸c˜oes lineares, G, se as condi¸c˜oes a seguir s˜ao satisfeitas:

1. f(z) ´e uma fun¸c˜ao anal´ıtica univalente;

2.Se z est´a no dom´ınio de defini¸c˜ao de f(z), T(z) tamb´em est´a, ∀ T ∈ G; 3. f(T(z)) ≡ f(z), ∀ T ∈ G.

Observa¸c˜ao 3.3.12 Existem fun¸c˜oes multivalentes anal´ıticas satisfazendo as condi¸c˜oes

(2) e (3), no entanto, neste trabalho ser˜ao abordadas apenas as fun¸c˜oes univalentes.

Observa¸c˜ao 3.3.13 Da Defini¸c˜ao 3.3.11, se f(z) ´e automorfa com respeito a um grupo

esta ´e automorfa com respeito a qualquer subgrupo do mesmo.

Os resultados a seguir mostram que para verificar se uma fun¸c˜ao f (z) ´e automorfa com respeito a um grupo G de transforma¸c˜oes lineares n˜ao ´e necess´ario investigar as condi¸c˜oes (2) e (3) da Defini¸c˜ao 3.3.11 para todos os pontos do dom´ınio de existˆencia da fun¸c˜ao

f (z), nem para todas as transforma¸c˜oes de G.

Teorema 3.3.14 [21] Seja f(z) uma fun¸c˜ao anal´ıtica univalente em z0. Seja T(z0), onde

T ´e uma transforma¸c˜ao linear pertencente ao dom´ınio de existˆencia da fun¸c˜ao; e seja

48 As Fun¸c˜oes Automorfas como Ferramentas de Conex˜ao v´alida numa vizinhan¸ca de z0. Ent˜ao, se z ´e um ponto no dom´ınio de existˆencia da fun¸c˜ao,

T(z) tamb´em ´e, e (3.1) verifica-se em todo o dom´ınio de existˆencia. A transforma¸c˜ao T leva o dom´ınio de existˆencia de f(z) em si mesmo.

Teorema 3.3.15 [21] Se f(z) ´e uma fun¸c˜ao anal´ıtica univalente e se f[T(z)] ≡f(z), ∀T ∈

G um grupo de transforma¸c˜oes lineares, ent˜ao f(z) ´e automorfa com rela¸c˜ao aos geradores de G. Cada transforma¸c˜ao do grupo G leva o dom´ıno de defini¸c˜ao da fun¸c˜ao f(z) em si mesmo.

Observa¸c˜ao 3.3.16 A ´ultima parte do T eorema 3.3.15 ´e uma aplica¸c˜ao da ´ultima parte

do T eorema 3.3.14.

Exemplo 3.3.17 Seja f(z) = cosz. Tem-se f(z+2π) = f(z) e f(-z) = f(z). Ent˜ao cosz ´e

automorfa com respeito ao grupo gerado por T1(z) = z+2π e T2(z) = -z.

Observe que para m = 0, na Defini¸c˜ao 3.3.6, θ (S (z)) = θ (z) , isto ´e, θ ´e uma fun¸c˜ao automorfa.

Observe, tamb´em, que o quociente de duas fun¸c˜oes t´eta de mesmo peso, relativas ao mesmo grupo, ´e uma fun¸c˜ao automorfa [21], que d´a origem a uma fun¸c˜ao meromorfa sobre a superf´ıcie de Riemann H2

Γ .

Com isso, conclu´ımos que as fun¸c˜oes automorfas s˜ao um elo de liga¸c˜ao entre as super- f´ıcies de Riemann em que se encontram as tessela¸c˜oes do tipo {12g − 6, 3} e o semiplano direito, o ambiente das linhas de transmiss˜ao.

Linhas de Transmiss˜ao: Uma

Modelagem Hiperb´olica

Uma an´alise completa de qualquer problema de eletricidade que envolva sinais variantes no tempo pode ser feita atrav´es das equa¸c˜oes de Maxwell tendo como as vari´aveis f´ısicas prim´arias os campos el´etrico e magn´etico em toda a regi˜ao do problema, [10] e [26]. A teoria eletromagn´etica ´e diretamente usada, por exemplo, nas seguintes aplica¸c˜oes: estudo dos modos de propaga¸c˜ao de microondas nos guias de onda (tubos met´alicos ocos), propriedades de irradia¸c˜ao das antenas, intera¸c˜ao de ondas eletromagn´eticas com o plasma etc.

No entanto, existe uma dificuldade em resolver as equa¸c˜oes ´ıntegro-diferenciais nas regi˜oes limitadas por estruturas diel´etricas ou met´alicas, quando a geometria ´e complicada. A an´alise de circuitos com parˆametros concentrados emprega os conceitos idealizados de resistˆencias, indutˆancias e capacitˆancias a dois terminais para representar as fun¸c˜oes de dissipa¸c˜ao de energia, energias armazenadas no campo magn´etico e no campo el´etrico, res- pectivamente. As vari´aveis el´etricas prim´arias s˜ao as tens˜oes e as correntes, relacionadas aos campos el´etrico e magn´etico por integrais ou diferenciais.

Este segundo m´etodo substitui adequadamente o da teoria eletromagn´etica quando as ocorrˆencias das trˆes fun¸c˜oes mencionadas podem ser identificadas separadamente e quando as dimens˜oes de um circuito forem suficientemente pequenas a fim de que n˜ao haja varia¸c˜oes apreci´aveis na tens˜ao ou corrente em qualquer ponto durante o per´ıodo em que as ondas eletromagn´eticas se propagam pelo circuito. O crit´erio da dimens˜ao ´e obviamente em fun¸c˜ao da frequˆencia. De fato, para as linhas de 60 hertz, os m´etodos de an´alise de circuitos com parˆametros concentrados s˜ao aplic´aveis com alta precis˜ao a

50 Linhas de Transmiss˜ao: Uma Modelagem Hiperb´olica

circuitos de muitos quilˆometros de extens˜ao, enquanto nas frequˆencias de microondas- gigahertz - os mesmos m´etodos n˜ao s˜ao apropriados para analisar um circuito menor do que uma polegada.

De modo a contornar o problema que acabamos de relatar, existe um terceiro processo anal´ıtico, conhecido por an´alise de circuito com parˆametros distribu´ıdos. Este m´etodo pode ser baseado no de an´alise de circuito concentrado. De fato, um circuito com parˆa- metros concentrados pode ser considerado como o limite de uma sequˆencia de circuitos com parˆametros distribu´ıdos.

Como vimos, a an´alise do comportamento de uma linha de transmiss˜ao pode ser feita de maneira rigorosa atrav´es da teoria eletromagn´etica, no entanto, neste trabalho nos ocuparemos com o m´etodo baseado na teoria de circuitos com parˆametros distribu´ıdos por uma quest˜ao de tradi¸c˜ao.

O semiplano direito (SP D), ambiente natural dos problemas que envolvem linhas de transmiss˜ao, munido com a m´etrica de Poincar´e, constitui um modelo para a geometria hiperb´olica. Com isso verificamos que a carta de Smith ´e representada por determinados conjuntos de geod´esicas e horociclos esbo¸cados nos modelos acima citados.

Do ponto de vista da geometria hiperb´olica, observamos algumas vantagens com re- la¸c˜ao aos estudos de circuitos (sistemas lineares): Um sistema de 1 − porta pode ser visto como uma fun¸c˜ao constante S de SP D em SP D. Um sistema de 2 − portas (quadrip´olo), que conserva energia, corresponde a uma transforma¸c˜ao linear Tg associada a uma matriz

g ∈ SL (2, R). A conex˜ao de um sistema de 1−porta com um sistema de 2−portas produz

um novo sistema de 1 − porta. Este novo circuito corresponde a uma nova transforma¸c˜ao constante S0 em SP D que ´e obtida aplicando a transforma¸c˜ao fracion´aria linear T

g ao

sistema de 1 − porta S.

Portanto, a ´orbita OS de S sob Γ ⊂ SL (2, R) corresponde a todos os circuitos que

podem ser realizados com o circuito fixo S, como ilustra a figura 4.14.1. Isso nos motiva a estudar o SP D com rela¸c˜ao a a¸c˜ao de Γ sobre o SP D.

Observamos que as considera¸c˜oes mais simples em teoria dos circuitos conduzem a uma vasta cole¸c˜ao de quest˜oes matem´aticas. Assim, neste cap´ıtulo restringiremos nossa aten¸c˜ao a situa¸c˜oes envolvendo ganho de potˆencia e transferˆencia de potˆencia.

Certamente o t´opico restrito ao ganho de potˆencia leva a uma classe suficientemente grande de problemas. Temos como exemplos os projetos de filtros passivos (dissipando energia) e de amplificadores.

g S’

S

Figura 4.1: Conex˜ao de um sistema de 1-porta com um de 2-portas

exemplo: o problema de equipara¸c˜ao de impedˆancia de faixa larga e o problema de ganho de equaliza¸c˜ao.

No que diz respeito aos amplificadores, estes fornecem uma outra grande classe de problemas de transferˆencia de potˆencia. Tipicamente, projetar um amplificador (est´avel) com ganho de potˆencia m´aximo ou ganho de potˆencia determinado.

Neste cap´ıtulo apresentamos os conceitos b´asicos sobre linhas de transmiss˜ao. Nossa abordagem n˜ao traz demonstra¸c˜oes. Textos de linhas de transmiss˜ao que contˆem, de forma complementar, os t´opicos aqui apresentados s˜ao por exemplo [10], [14], [26], [29]. Apresentamos uma aplica¸c˜ao dos modelos planares de Poincar´e para a geometria hiper- b´olica em linhas de transmiss˜ao, abordamos uma linha de transmiss˜ao como um quadrip´olo, no contexto da geometria hiperb´olica e, finalmente, verificamos que sistemas de 1 e 2 − portas correspondem a transforma¸c˜oes fracion´arias lineares.

Na Se¸c˜ao 4.1 ´e definida uma linha de transmiss˜ao, assim como seus elementos prim´arios, resistˆencia, indutˆancia, capacitˆancia e condutˆancia. Na Se¸c˜ao 4.2 s˜ao apresentadas as equa¸c˜oes diferenciais de uma linha de transmiss˜ao s´o com tens˜ao ou s´o com corrente. De posse destas equa¸c˜oes encontra-se as solu¸c˜oes no caso de uma linha ideal. A observa¸c˜ao dessas solu¸c˜oes leva `as defini¸c˜oes de coeficiente de reflex˜ao de tens˜ao e de corrente. A

52 Linhas de Transmiss˜ao: Uma Modelagem Hiperb´olica

nente senoidal e define a constante de propaga¸c˜ao complexa ou fun¸c˜ao de propaga¸c˜ao. Na Se¸c˜ao 4.4 s˜ao apresentadas a velocidade de fase e o comprimento de onda de uma linha infinita. O coeficiente de reflex˜ao a partir da carga ´e apresentado e a impedˆancia da linha ´e obtida, relacionando-se a tens˜ao e corrente totais. Na Se¸c˜ao 4.5 a an´alise das distribui¸c˜oes de tens˜ao e de corrente ´e feita em regime senoidal quando a linha est´a bem ou mal terminada. A tens˜ao e corrente s˜ao expressas em fun¸c˜ao das grandezas de entrada. Tamb´em s˜ao estudadas as ondas progressivas e estacion´arias. Na Se¸c˜ao 4.6 a raz˜ao de onda estacion´aria ROE ´e discutida, uma vez que ela fornece dados sobre as potˆencias incidente e refletida na carga. A ROE, em conjunto com outros dados possibilita o co- nhecimento da impedˆancia da carga. A carta de Smith ´e usada como uma alternativa para o conhecimento de v´arias grandezas de interesse numa linha de transmiss˜ao. Na

Se¸c˜ao 4.7 o semiplano direito (SP D), ambiente das linhas de transmiss˜ao, ´e apresentado

como um modelo planar de Poincar´e para a geometria hiperb´olica. Na Se¸c˜ao 4.8 uma linha de transmiss˜ao ´e vista como um quadrip´olo. Por sua vez, como um quadrip´olo tem associado uma matriz A =

Ã

a b c d

!

onde a, b, c, d ∈ R e ad − bc = 1, observa-se que o estudo das linhas de transmiss˜ao pode ser feito, novamente, no contexto da geometria hiperb´olica. Na Se¸c˜ao 4.9 ´e apresentado o formalismo em cadeia que permite a conex˜ao em cascata entre sistemas. Verifica-se que o formalismo em cadeia resulta em transfor- ma¸c˜oes lineares. Vantagens computacionais s˜ao evidentes quando a conex˜ao em cascata de dois sistemas de 2 − portas ´e considerada. Na Se¸c˜ao 4.10 a conex˜ao de circuitos ´e generalizada e a potˆencia consumida por um circuito ´e definida. Na Se¸c˜ao 4.11 ´e estu- dado o problema da transferˆencia de potˆencias. Analisa-se o que acontece quando uma fonte de tens˜ao ideal ´e conectada a um sistema de 1 − porta. A diferen¸ca de potˆencia entre a fonte com resistor r e impedˆancia da carga z ´e definida como sendo a distˆancia de Poincar´e entre os n´umeros reais r e z. Na Se¸c˜ao 4.12 os circuitos el´etricos com cor- rente senoidal s˜ao analisados. Verifica-se que para um sistema de 1 − porta a raz˜ao de transferˆencia de potˆencia (ganho de potˆencia de transdu¸c˜ao) para uma fonte com impedˆancia z1 e carga com impedˆancia z2 ´e 1 − δ (z1, z2)2, onde a diferen¸ca de potˆencia δ

´e dada por δ (z1, z2) =

¯ ¯ ¯z1−z2 z1+z2 ¯ ¯

¯ . Isto ´e, a diferen¸ca de potˆencias ´e a distˆancia de Poincar´e entre z1 e z2.

Figura 4.2: Linha de transmiss˜ao uniforme

4.1

Linhas de Transmiss˜ao

Uma linha de transmiss˜ao ´e um elemento de circuito capaz de conduzir energia el´etrica de um ponto a outro. Basicamente cont´em dois terminais, por onde a energia el´etrica (ou sinal de informa¸c˜ao) ´e introduzida, e dois terminais dos quais a potˆencia (ou informa¸c˜ao) ´e retirada. Como exemplos tem-se: o cabo que permite interligar um eletrodom´estico com a instala¸c˜ao el´etrica de uma residˆencia; conex˜oes entre computadores de uma rede local; enlaces, atrav´es do espa¸co livre, entre antenas emissoras e recptoras, etc. A an´alise do comportamento de uma linha de transmiss˜ao pode ser feita de maneira rigorosa atrav´es da teoria eletromagn´etica. Aqui, no entanto, seguiremos o caminho que emprega o m´etodo tradicional que se baseia na teoria dos circuitos com parˆametros distribu´ıdos. Sendo assim, define-se os quatro elementos prim´arios de uma linha:

• R = Resistˆencia s´erie da linha por unidade de comprimento [Ω/m] • L = Indutˆancia s´erie da linha por unidade de comprimento [H/m] • C = Capacitˆancia paralela da linha por unidade de comprimento [F/m] • G = Condutˆancia paralela da linha por unidade de comprimento [S/m] .

Deste modo, uma pequena se¸c˜ao de tamanho ∆x de uma linha de transmiss˜ao uniforme ´e modelada como mostrado na figura 4.2.

54 Linhas de Transmiss˜ao: Uma Modelagem Hiperb´olica

De acordo com a lei das malhas de Kirchhoff aplicada no circuito da figura 4.2, tem-se:

v (x, t) = R∆xi (x + ∆x, t) + L∆x∂

∂ti (x + ∆x, t) + v (x + ∆x, t) , (4.1)

onde v e i s˜ao as vari´aveis dependentes mais usuais, e x e t s˜ao as vari´aveis independentes (espa¸co e tempo).

Por outro lado, aplicando a lei dos n´os de Kirchhoff ao circuito da figura 4.2, tem-se:

i (x + ∆x, t) = i (x, t) − G∆xv (x, t) − C∆x

∂tv (x, t) (4.2)

A combina¸c˜ao das equa¸c˜oes (4.1) e (4.2) leva `as seguintes express˜oes: · R + L∂ ∂t ¸ i (x, t) = − ∂xv (x, t) , (4.3) · G + C ∂t ¸ v (x, t) = − ∂xi (x, t) . (4.4)

A equa¸c˜ao (4.3) indica que h´a queda de tens˜ao com a distˆancia x pela passagem da corrente nos elementos R e L em s´erie na linha.

A equa¸c˜ao (4.4) mostra que h´a queda de corrente com a distˆancia x devido `a existˆencia de tens˜ao nos elementos paralelos (de fuga) da linha, ou seja, G e C. S˜ao correntes que retornam antes do sinal chegar ao final da linha.