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CAPÍTULO II HISTÓRIA DAS FORMAS DO TRABALHO DOCENTE NO INES E

2.2 A UEES PROFESSOR ASTÉRIO DE CAMPOS

2.2.1 A fundação da Escola Astério de Campos

O ensino emendativo no Pará é marcado pela participação de professoras em cursos de “especialização”, ocorridos no período de 1957 a 1961, no Estado da Guanabara, atual Rio de Janeiro (ALMEIDA; NETO 2007, p. 211 e 213). Os cursos eram para atender a cegos, surdos e deficientes mentais:

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O movimento de desospitalização dos doentes mentais ocorreu em função das condições deploráveis que os doentes mentais viviam nos chamados hospitais psiquiátricos (BRADDOCK & PARISH 2001). Esse movimento, conhecido no Brasil por Luta anti-manicomial, ocorreu em vários países ocidentais a partir da década de 1980, com a redução de leitos e fechamento de hospitais. Em Belém do Pará, no espaço onde existia o hospital para doentes mentais Juliano Moreira, foi construído um Campus da Universidade do Estadual do Pará.

Curso de Professores e Inspetores na Educação de Cegos, realizado no Instituto Benjamim Constant; ‘Orientação Psicopedagógica em Deficiência Mental’ realizado na Sociedade Pestalozzi do Brasil, ambos no Estado da Guanabara (Rio de Janeiro), sendo encaminhadas três professoras, duas para o curso de cegos e uma para o de deficiência mental; Em março de 1959, foi enviado um grupo de quatro professoras para o Rio de Janeiro [...] Com o retorno de uma das professoras a Belém, iniciou-se o atendimento especializado de alunos surdos resultante da iniciativa pessoal da professora, que associada à Campanha para a Educação de Surdos - CESB encaminhou um convênio entre a CESB e a SEDUC.

O curso de especialização no Instituto Nacional de Surdos-Mudos do qual as professoras do Pará participaram foi uma ação institucional, implementada na gestão (1951 - 1961) de Ana Rimoli. Tal iniciativa, segundo estatísticas reproduzidas por Rocha (2007, p. 108), diplomou 524 professoras de vários Estados, na década de 1950. O procedimento adotado constava da iniciativa dos Estados em enviarem professoras aos centros de formação localizados no Rio de Janeiro.

Consultando a documentação (DEES, s.d.), verificou-se que foram seis e não quatro as professoras que fizeram curso de Especialização em Educação de Surdos no período de 1957 a 1961, no antigo Estado da Guanabara: a) quatro professoras no período entre 1957 e 1958; e b) duas professoras no período entre 1960 e 1961, sendo que uma professora fez o Curso Normal Rural (ROCHA, 2007).

Dessas seis professoras que foram ao Estado da Guanabara, conforme o documento do Departamento de Educação Especial do Estado do Pará - DEES (s/d, p. 1), duas se destacaram:

Com o retorno à Belém as professoras Cordélia Raiol Nunes Maciel e Geni Gabriel responsabilizaram-se para dar início à educação dos deficientes auditivos no estado do Pará, sendo que a professora Cordélia ficou como coordenadora da Campanha para Educação dos Surdos - SESB na Região Norte, no período de 1959 a 1966.

Assim, a fundação da Escola de Educação de Surdos-Mudos Professor Astério de Campos, no Pará, em 21 de outubro de 1960, é decorrente tanto da formação das professoras nos cursos de especialização no Rio de Janeiro, quanto da Campanha de Educação do Surdo Brasileiro, no governo de Juscelino Kubitschek, que conforme Rocha (2006, p. 23) objetivava,

[...] promover a educação e a assistência aos deficientes da audição e da fala, de todo o Brasil, fornecendo-lhes pessoal especializado (orientadores, professores e assistentes) e pessoal técnico, além de material necessário à abertura e funcionamento de escolas especializadas por todo o país.

De acordo com o Decreto n◦ 3.174 de 21 de outubro de 1960 (PARÁ. DOEP, 1960, p. 1),

O governador do Estado do Pará, usando de suas atribuições que lhe confere o Art. 42, Item I, da Constituição Política do Estado, e atendendo a proposta da Secretaria de Estado de Educação e Cultura

DECRETA:

Art. 1° - Fica criada a Escola de Educação de Surdos Mudos denominada Professor Astério de Campos.

Art. 2° - Revogam-se as disposições em contrário.

Palácio do Governo do Estado do Pará, 21 de outubro de 1960. Gal. Luís Geolás de Moura Carvalho

Governador do Estado Maria Luiza da Costa Rego

Secretário de Estado de Educação e Cultura.

Essa Escola de Surdos-Mudos inicia suas atividades no ano seguinte, em maio de 1961, quando o governador Aurélio do Carmo inaugura duas salas de aula, conforme anuncia o jornal local (O LIBERAL, 1961, p. 3):

A inauguração da escola de surdos mudos do Pará

Em solenidade que contou com a presença do Governador Aurélio do Carmo, teve lugar, hoje, no prédio anexo do Instituto de Educação do Pará o ato de inauguração da Escola para surdos “Astério de Campos”. Esse novel estabelecimento foi criado pelo General Moura Carvalho, então governador do Estado, em colaboração com a Campanha Nacional dos Deficientes do sentido auditivo. [...]

O governador do Estado, encerrando a solenidade, mostrou-se entusiasmado, com o novo estabelecimento, dizendo que, ser mestre já é um sacerdócio, mas difícil se torna a missão quando se tem um problema social, que é a educação dos surdos. Salientou o governador do estado que pela primeira vez se encara com seriedade problema desta natureza em nosso estado. Por isso o mesmo, o executivo não poderia prescindir de emprestar a sua colaboração a empreendimento de tamanha significação para a vida social.

Mais adiante, o Dr. Aurélio do Carmo fez questão de salientar que a escola “Astério de Campos” terá todo o apoio que se fizer necessário. “Embora com sacrifício, disse, este governo tem como objetivo resolver todos os problemas administrativos, dará conta de sua responsabilidade à coletividade paraense”.

A escola “Astério de Campos” já conta com 18 alunos, devendo haver uma seleção das crianças que podem ser aproveitadas, ou melhor, aqueles que tiverem chance de recuperação.

A direção da Escola de Surdos-Mudos foi inicialmente ocupada pela professora Geni Gabriel (DEES, s/d). Dois meses depois, em 1961, a direção é repassada para a Professora

Cordélia Raiol, coordenadora da Campanha de Educação do Surdo no Pará, permanecendo no cargo de direção e de professora até 1966.

Conforme os registros e confirmando que ocorreriam sacrifícios, como previsto pelo governador Aurélio do Carmo, as duas salas de aula funcionaram por um ano no anexo da escola normal (atual Instituto de Educação do Pará). No ano de 1962, a escola passou a funcionar no grupo escolar Paulino de Brito; em 1963 no Centro Israelita; em 1964, não funcionou; e, nos anos de 1965 a 1966 instala-se na residência do Mordomo do Governador, alcançando o número de 24 alunos (DEES, s/d).

A vinculação oficial da Escola à Secretaria de Estado de Educação se deu "Em 15/12/1965, através da Lei n. 3.538, sancionada pelo Governador do Estado, o Tenente Coronel Jarbas Gonçalves Passarinho" (DEES, s/d, p. 1). Essa Lei (PARÁ. DOEP, 1965) re- nomeia a Escola para Instituto Professor Astério de Campos, com a seguinte formulação:

Art. 19: A Escola “José Alvares de Azevedo” para cegos e amblíopes e a Escola “Professor Astério de Campos” para surdos mudos ficam transformadas em Institutos vinculados ao Secretário.

Parágrafo único: Os excepcionais retardados serão atendidos por estabelecimentos, mediante convênio com a Secretaria de Estado de Educação e Cultura.

Em 1966, a professora Cordélia Raiol é exonerada do cargo de direção do Instituto. O governador Alacid Nunes alega que a mesma não aceitou que a escola funcionasse no turno da manhã (ALMEIDA; NETO, 2007). Assume a direção, a terceira diretora (de 1966 a 1968), a Sra. Ethel Villela Machado. Em 1967, ocorre a segunda inauguração da escola com a denominação de “Instituto Professor Astério de Campos”, desta feita na Avenida Almirante Barroso n. 200, no Bairro do Souza.

No período entre 1970 a 1996, ocorre a implantação do que se convencionou chamar no campo de atuação da educação especial no Estado do Pará de fase da integração. Nesse, acontecem vários fatos de destaque, conforme síntese apresentada nos tópicos seguintes.