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CAPÍTULO I CONSTRUÇÃO DE UM PARADIGMA PARA ANALISAR O

1.3 OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DESTA PESQUISA

1.3.5 Síntese da metodologia

O processo de efetivação da pesquisa passou pelos seguintes passos: aprovação no comitê de ética, reunião com as professoras indicadas, assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, entrevista, transcrição, elaboração de sinopse conforme o interesse primário, seleção de discursos de representação social, análise e interpretação conforme as categorias de análise das representações sociais.

O Projeto de Pesquisa foi submetido a julgamento e autorização pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de São Carlos (Anexo 1 - Processo CAAE 0034.0.135.000-08 - Parecer nº. 496/2008). Após aprovado o processo, foi marcada uma reunião com as professoras que concordaram em participar da pesquisa, juntamente com

a coordenadora pedagógica das escolas, para apresentar e discutir os objetivos, a metodologia e os benefícios que a pesquisa traria para a instituição e para as professoras, conforme exposto no princípio de pesquisa transdisciplinar de que a pesquisa deve trazer algum retorno e deve ser discutida com a comunidade que está sendo investigada.

No primeiro contato com as entrevistadas, foi realizado um planejamento de execução das entrevistas, explicitando etapas e formas de realização, objetivos, formas de avaliação, o tempo e os lugares disponíveis para as entrevistas. Neste momento, foi lido e assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, segundo o qual cada professora entrevistada receberia uma cópia do termo, da entrevista e não teria seu nome identificado (Conf. Apendice A, anexo).

Conforme o termo, no item 12:

Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço do pesquisador principal, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou a qualquer momento. Você receberá, também (via e-mail), uma cópia da sua entrevista, e poderá constatar que todos os nomes colocados foram suprimidos e que não exista nada que a identifique.

As entrevistas foram realizadas na primeira semana de março de 2009, com as professoras de Belém e na terceira semana de março, com as professoras do Rio de Janeiro, com a prévia autorização das instituições de ensino. No caso da Escola do Rio de Janeiro, foram realizadas duas viagens, uma para dar entrada no Projeto junto à Divisão de Estudos e Pesquisas do INES e a outra para a realização das entrevistas. No caso da escola de Belém, o projeto foi encaminhado para a Coordenadoria de Educação Especial, gestora de educação especial no Estado do Pará, para que emitisse a autorização de realização da pesquisa na escola.

No INES as entrevistas com as professoras foram agendadas para o intervalo do almoço ou para o turno contrário em que trabalham; no UEESPAC, as entrevistas foram realizadas quando as professoras estavam realizando o planejamento anual, de forma que em nenhuma das duas escolas as entrevistas atrapalharam o desenvolvimento das atividades docentes de sala de aula.

Com a realização das entrevistas, as falas das educadoras de surdos foram digitalizadas em gravador e depois transcritas para análise. A transcrição das falas das

professoras reflete algumas marcas dos seus discursos orais: as repetições, as hesitações, as mudanças repentinas de assunto, os pensamentos suspensos e a mudança de turno.

Para as transcrições das fitas de áudio, adota-se o seguinte sistema (Adaptado de MARCUSCHI 2001 e SOUZA-BENTES 2007):

a) Alongamento de vogais: uso de quatro pontos após a sílaba alongada. Ex. você:: b) Repetição de palavras: reescrita da palavra. Ex. Olha da Prefeitura tem tem alguns casos interessantes assim.

c) Frases truncadas, com a suspensão do pensamento: barra oblíqua (/). Ex. É:: de Magistério, formei/ comecei a trabalhar em 2002.

c) Comentários do pesquisador de ocorrências na entrevista como a tosse, o riso: parêntese duplo com o comentário. Ex [...] eu vou continuar pesando depois ((rindo)).

d) Autoria e mudança dos turnos de fala: duas primeiras letras do nome do pesquisado ou do pesquisador. ‘PE’ corresponde a pesquisador e ‘IV’ a Ivana. No exemplo a seguir:

PE: Não consegue aprender aqui. IV: Aqui.

e) Transcrição parcial: reticências dentro dos colchetes. Ex. Eu num acho/ por quê?

[...] o aluno surdo ele ele já tá trabalhando em empresas

Outros elementos como sobreposição de turnos de fala, pausas curtas e longas, ênfase em sílabas ou palavras, silabação ou outros símbolos usuais nas transcrições fonéticas e grafemáticas não foram considerados, supondo que estes elementos linguísticos não influiriam nem seriam fundamentais para a análise.

O conteúdo da gravação de áudio, de cada entrevista, constituiu parte do corpus da pesquisa, o qual foi comprimido em formato MPEG e transferido para o computador de mesa para a transcrição. A transcrição ou processo de retextualização de áudio para a escrita ocorreu por meio do programa transana (WCER, 2006), software que facilitou a transcrição.

Após a coleta e a transcrição das falas, foi realizada a seleção de trechos explicativos, abrangentes. Estes trechos foram agrupados em um quadro sinóptico que permitiu analisar os discursos de cada entrevistada conforme o direcionamento dos interesses primários e objetivos expostos anteriormente (Conf. Apêndice B, C, D e E, anexo)

Utilizou-se a “sinopse” como um instrumento metodológico para captar a aderência das falas significativas dos participantes. Tal escolha possibilitou o olhar reflexivo ao que é essencial, conforme critério estabelecido pelo pesquisador, em função do que foi considerado mais significativo.

O uso da sinopse se justifica a partir dos seguintes procedimentos:

a) de posse da entrevista transcrita, fez-se uma leitura geral da entrevista marcando trechos relacionados ao interesse primário estabelecido, codificando na margem do papel o destaque feito.

b) fez-se uma retextualização para agrupar e selecionar as falas mais significativas para constar na sinopse. Os itens foram explicitados para melhor visualização e comparação de todas as entrevistadas. Esta comparação pode ocorrer entre professoras da mesma instituição ou de instituições das duas Capitais.

c) refinaram-se as informações para que se pudesse caracterizar as diversas e semelhantes posições das entrevistadas em um quadro, o que ajudaria na interpretação dos discursos.

O resultado é o modelo apresentado no quadro três (3).

Quadro 3: Proposta de quadro sinóptico das entrevistas

TF PROFESSORA INTERESSE PRIMÁRIO

Legenda: TF = Turno de Fala de acordo com a ordem no texto do discurso da entrevistada. Fonte: elaboração própria

A sinopse está centrada nos pontos de vista, episódios, descrições e exposições que serão objetos da análise transdisciplinar das representações sociais. A posteriori construíram-

se as categorias de análise de RS a partir da leitura atenta e codificações feitas nas entrevistas e na sinopse. As categorias de análise são as seguintes:

a) generalizações ideológicas: trata-se de proposições que difundem um estereótipo, fruto de princípio capacitista, preconceituoso para com pessoas deficientes, que explicita ou implicitamente as caracterizam como inferiores, incapazes, impotentes. São proposições falsas, que não se sustentam em um debate crítico e ideológico. Um exemplo de generalização é a afirmação de que a pessoa surda é naturalmente agressiva devido à ausência de comunicação. Outro exemplo é a propaganda de que todas as pessoas são normais. Tal propaganda desconsidera o fato de existirem ideais de beleza que controlam o pensar e o agir das pessoas na sociedade contemporânea.

b) invisibilizações: trata-se da não percepção de existência ou não consideração das suas necessidades básicas. É como se não existisse ou não quisesse ver, não considerar que possa existir, parecendo como invisível, escondido ou ocultado dos outros, da convivência. Um exemplo é a desconsideração de aspectos da deficiência ou culturais na sala de aula como corrigir a prova escrita desconsiderando que quem a escreveu foi um aluno surdo.

c) interdições20 normalizadoras: trata-se de discursos e atitudes proibitivas que

impedem o desenvolvimento de potencialidades das pessoas deficientes. Por exemplo, um familiar pode achar que a surdez é um empecilho para a pessoa jovem ou adulta andar sozinha no movimento de ir e vir para a escola, interditando a pessoa desse aprendizado.

Estas três categorias de análise acabam por reduzir e desvalorizar a pessoa, seja com atributos que desqualificam, seja por desprezo, desconsideração ou impedindo-a de fazer algo que possa ser útil para o aprendizado. No caso, a deficiência é percebida negativamente, uma vez que pode suscitar horror, espanto e/ou comentários jocosos que causam mal-estar e inferiorização do deficiente.

d) disnormalizações: trata-se de discursos que consideram as capacidades e que desenvolvem potencialidades das pessoas deficientes. Tais discursos se contrapõem a qualquer forma de capacitismo, consideram formas diferenciadas de interação, como a Libras, as que utilizam imagens ou outros sistemas alternativos, constituindo concepções outras de

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O termo interdição é usado na área jurídica com os sentidos de proibição e de impedimento, sentidos que se aproximam do utilizado neste trabalho. Segundo Santos (2001), na interdição, tem-se uma privação legal que impede alguém do gozo ou do exercício de certos direitos ou mesmo de gerir seus bens e a própria pessoa. No caso jurídico, o juiz decreta a interdição de uma pessoa, tornando-a incapaz de gerir seus bens, nomeando um curador – aqui o termo técnico é curador, no caso da pessoa ser maior de 18 anos – se menor será tutor, para representar juridicamente. O representante age em nome e proveito do interditado, do incapaz.

letramento e uma nova ética para o corpo, superando a obsessão do ser humano médio e perfeito.