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CAPÍTULO II O tráfico de drogas pela lente da produção jornalística 2.1 Moralidade no discurso

FUZILEIROS TOMAM NAVIO COM UMA TONELADA DE COCAINA

A ação foi ao estilo de um filme de Hollywood. A pedido da Polícia Judiciária, uma corveta da Marinha foi para o sul de Marrocos, em pleno Oceano Atlântico, entre Casablanca e Agadir, a 800 quilómetros de Portugal, transportando um grupo de operações especiais. Os fuzileiros saíram numa lancha rápida, aproximaram-se do cargueiro e escalaram o navio. Perante a entrada dos fuzi- leiros a bordo, os 17 tripulantes - indianos e paquistaneses - não ofereceram resistência, o que permitiu à equipa de combate ao narcotráfico da Polícia Judiciária entrar no cargueiro e fazer as detenções. Nenhum dos alegados traficantes estava armado.

A intervenção aconteceu na noite de quinta para sexta-feira passadas e o navio está agora apreen- dido pela PJ. A única carga que estava a bordo do impressionante cargueiro de 115 metros, com pavilhão das ilhas Comores (no extremo norte do canal de Moçambique), era 1130 quilos de coca- ína com os pacotes a ostentarem o logótipo Hugo Boss. A droga estava escondida na parte de bai- xo do navio, num tanque de lastro vazio (normalmente recebem água de lastro para manter a esta- bilidade da embarcação).

"Foi a maior apreensão de cocaína deste ano pela Polícia Judiciária. Isto resultou também de uma troca de informações no quadro da agência MAOC-N - Maritime Analysis and Operations Centre- Narcotics, que tem sede em Lisboa", adiantou ao DN Joaquim Pereira, diretor da Unidade de Combate ao Tráfico de Estupefaciente s (UNCTE) da PJ, que ontem explicou à imprensa a opera- ção, ladeado pelos comandantes Carvalho Pinto, diretor do centro de operações marítimas da Ma- rinha e Bernardo da Costa, porta-voz da Força Aérea (FA). A monitorização do navio foi feita por meios aéreos da FA.

A carga valeria perto de 50 milhões de euros (contas feitas a 45 euros a grama de cocaína) mas depois de tratada a cocaína valeria três vezes mais do que isso, adiantaram os responsáveis. A Polícia Judiciária atuou para evitar que a carga desta droga entrasse em Portugal para daí abas- tecer o mercado europeu. "Eles terão carregado o navio a 600 milhas do Brasil, no vértice entre o Brasil e Suriname. Estavam a viajar no mar há semanas. Sabemos que em determinado ponto da viagem, se não os intercetássemos, fariam o transbordo da droga para uma embarcação mais pe- quena e rápida já mais perto de Portugal e Espanha", referiu Joaquim Pereira.

A origem da droga ainda está a ser apurada mas o mais provável é vir de um dos três destinos ha- bituais: Bolívia, Colômbia ou Peru. "Há mil cargueiros a cruzarem as nossas águas por dia. É im- possível fiscalizar a maior parte deles", concluiu o responsável da PJ. (Diário de Notícias, 2017)103

O gênero entrevista é marcado pela utilização do método de perguntas e respostas para obter informações. Pode ou não ser dividida em blocos temáticos separados por intertítu- los e têm como objetivo revelar a personalidade do entrevistado ou o ponto de vista do mesmo sobre determinado assunto (Sousa, 2004, p.172).

O exemplo seguinte está entre as peças encontradas e seleccionadas para este estudo e evidencia o que é uma entrevista e foi publicada em O Globo na edição do dia 20 de ju- lho de 2017104.

‘O JEITO É FICAR COM PEZÃO SANGRANDO ATÉ O FIM DE 2018’, DIZ ESPECIA- LISTA

Com soluções estruturais prejudicadas pela perda de poder político do governador, economista diz que resta ao estado injeção de verba para minimizar danos

Rafael Galdo

RIO - No momento em que é convocada mais uma reunião com representantes das esferas federal, estadual e municipal para tratar da situação do Rio, o professor de economia, finanças e gestão do Ibmec, Ruy Quintans, avalia que, até agora, o estado tem fracassado sucessivamente nas soluções para a crise. Ele afirma que, nem nas respostas mais óbvias para aliviar a derrocada, o governo tem obtido êxito.

Para Ruy Quintans, o caminho mais curto seria limitar gastos e aumentar arrecadação. Faz-se ne- cessário também o aporte de novos recursos nos cofres fluminenses. Mas, na conjuntura atual, o especialista não vê grandes saídas, sem a ajuda de Brasília.

No momento em que o Rio volta à mesa de discussão com a União, o que o senhor acredita que o governador Luiz Fernando Pezão já podia ter feito e não fez para resolver acrise?

Na realidade, depois que Pezão assumiu, a trajetória dele foi muito parecida com a da (ex- presidente) Dilma (Rousseff). Os governos anteriores fizeram o trabalho de demolição da econo- mia do estado. No caso do (Sérgio) Cabral, não só com a corrupção, mas também por questões de gestão. Não justifica (a situação a que o estado chegou), mas Pezão podia fazer muito pouco. E ele ainda padece de mais um mal: politicamente, tem pouca força. Pegou os governos federal e esta- dual quebrados. Administrar o caos não revela nenhum tipo de competência. É tapar um buraco aqui, apagar um incêndio ali. Ele faz o óbvio: tentar gastar menos e arrecadar mais.

Mas ele tem tido sucesso nesse objetivo?

Não. O governo federal estabeleceu um teto de gastos, mas não conseguiu cortar comissionados, nem negociar os gastos do Legislativo. E o Pezão também não conseguiria fazer isso aqui por não ter força política nem econômica.

Ainda há tempo de reverter esse quadro?

Daria tempo. Mas cadê política para fazer isso? Cadê peito para fazer? O senhor vê, então, alguma solução?

A situação é muito ruim. E não há uma solução de curto prazo que não seja um aporte de recursos. Mas o estado não pode se endividar, e a União também não tem dinheiro. O jeito é ficar com ele (Pezão) sangrando até o fim de 2018. Agora, é apoiá-lo no que for óbvio. É um estado que deve mais de R$ 100 bilhões. Pode melhorar um pouco com uma recuperação da Petrobras. Mas os re- sultados não serão imediatos.

Essa situação pode durar por muito tempo?

Disse que o Brasil contratou uma década perdida. O Rio, talvez, um tempo ainda maior. Enquanto isso, como fica a situação da folha de pagamento em atraso e dos servidores?

Pode ser que, para a questão da folha de pagamento, surja um suspiro por alguns meses. Mas é uma questão que não vai se resolver tão cedo. E nem o Judiciário nem o Legislativo têm contribu- ído.

Qual poderia ser a ajuda da União neste momento?

A ajuda da União seria dinheiro. Mas o governo federal também está suando para fechar as contas. Tem aí a solução da venda da Cedae (ao BNDES). Para mim, é uma lambança em termos de ges-

104 Edição número 30.663, anexo 3.

tão da empresa. Mas poderia aportar algum tipo de recurso. É o que se tem para o momento. Mas esse dinheiro não dura muito.

Já o gênero reportagem pode conter elementos da entrevista, da notícia, da crônica, de artigos e análise (Sousa, 2004b, p.187). A reportagem tem predominância na narração, humanização do relato, texto impressivo, factualidade e narrativa, expõe causas e conse- quências de um acontecimento, interpreta e aprofunda um assunto (Sousa, 2004b, p.187). É estruturada entre fato principal, contexto e conclusão (Sousa, 2004b, 192). O exemplo a seguir ilustra o estilo reportagem encontrado no estudo e foi publicado no dia 12 de julho de 2015, no jornal O Globo105: