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A noção de ego está presente desde o início das pesquisas freudianas, tendo em vista que ele aparece como um dos pólos do conflito no conceito de defesa. Nos primeiros textos, o ego é concebido como uma organização psíquica voltada para o mundo exterior, por meio das funções sensoriais e motoras, e como uma superfície de contato com o aparelho mental propriamente dito; interface na qual se desenvolvem os processos defensivos. Dessa forma, na emergência da primeira

11 Incorporação, introjeção e identificação são termos muito próximos e seu emprego por Freud não se

dá sem certa ambigüidade. Contudo, algumas distinções podem ser enumeradas. A incorporação, como o próprio termo denota, está estritamente ligada à referência corporal, ou seja, diz respeito ao nível mais literal da ingestão de objetos e da delimitação de um invólucro corporal. A introjeção é um termo mais amplo, já que o processo não remete mais ao interior do corpo, mas ao interior do aparelho psíquico ou de uma instância desse aparelho. Assim, pode-se afirmar que sobre o modelo da incorporação oral se desenvolve a modalidade de relação com o objeto que leva a modalidades de introjeção de objetos no ego. A identificação, por sua vez, é mais complexa, na medida em que diz respeito ao processo psicológico pelo qual o indivíduo assimila um aspecto, propriedade ou atributo do outro, se transformando segundo o modelo desse outro. Assim, não basta afirmar que um objeto foi introjetado no aparelho psíquico, mas descrever que aspectos desse objeto foram tomados como modelo para determinadas instâncias e de que forma se efetivou. Nesse sentido, a identificação diz respeito ao processo que permite a transformação da estrutura do ego em sua relação com o outro (LAPLANCHE e PONTALIS, 1998, p. 248-249, p. 226-230). Convém lembrar que, na teoria freudiana, essa identificação é tomada sempre pelo modelo da introjeção de aspectos do objeto no aparelho psíquico, sendo que a projeção não tem estatuto de identificação. O indivíduo projeta no exterior o seu desejo e responde a tal como se fosse externo, mas se nota que não há uma estruturação do ego em função dessa projeção e sim o contrário; não há, verdadeiramente, uma alteridade em jogo no processo. A identificação por projeção, pensada estritamente como a transformação em função dos conteúdos projetados por outrem, será tematizada, como se sabe, apenas a partir dos trabalhos de Melanie Klein.

tópica, o termo ego aparece ocasionalmente, mas o conceito não é necessário. Como vimos, o conceito de ego só passará a desempenhar um papel mais central na metapsicologia a partir da década de 1910, com a introdução do dualismo pulsional, no qual as pulsões de auto-conservação atuam como suporte energético do ego.12

O problema do ego é retomado com a introdução da problemática das pulsões. Inicialmente, ele aparecerá como o agente das pulsões de auto-conservação, para em seguida ganhar maior inteligibilidade com a introdução do narcisismo e dos elementos articulados a esse conceito. Por último, o crescimento em importância do mecanismo de identificação – que inicialmente aparece como um mecanismo inconsciente ao lado dos outros (FREUD, 1917a/1996, 1917a/2006) para, já no âmbito da segunda tópica, revelar-se como processo essencial na constituição do ego (FREUD, 1923a/1996, 1923a/2007) – abrirá um novo momento na elaboração do conceito de ego. De forma esquemática, têm-se, segundo Mezan (2001, p. 188), quatro constelações conceituais em torno dos quais progressivamente se elabora o conceito de ego na metapsicologia freudiana entre 1905-1920. São elas:

1. 1895-1909 – o conceito de ego é vinculado às funções inibidoras

impostas pela realidade, sendo que entre 1901-1909 o termo está

relativamente ausente;

2. 1910-1911 – o conceito de ego é ligado às pulsões de auto-conservação; 3. 1911-1914 – o conceito de ego é articulado ao narcisismo;

4. 1917-1920 – o conceito de ego é remetido à problemática da

identificação.

A distinção desses quatro pontos é importante, não só porque evidencia a complexidade crescente que o conceito de ego ganha na teoria freudiana, mas porque é o fio que percorrerei para delinear a problemática da teoria da representação na primeira tópica. Se a hipótese básica freudiana é pensar o aparelho psíquico em termos de um conjunto diferenciado de representações, veremos que o conceito de ego irá surgir dentro dessa perspectiva e, posteriormente, subvertê-la.

Em trabalho anterior (CAMPOS, 2004), apresentei esse primeiro momento da noção de ego, no qual ele é assimilado mais a um conjunto de funções do que de

12 Essa articulação pode ser traçada no artigo sobre os dois princípios de funcionamento mental

(FREUD, 1911a/1996, 1911a/2004), em que dois regimes de funcionamento do ego, o ego-prazer e o ego-realidade, são definidos em função da modalidade de operação das pulsões de auto-conservação: sob o signo do princípio do prazer ou do princípio de realidade.

representações, apesar de um conjunto de representações investidas ser pressuposto. Esse é o caso do modelo em jogo no chamado ―projeto‖ de psicologia (FREUD, 1895/1995, 1895/1996) em que o ego nada mais é do que um conjunto de neurônios permanentemente investidos – o que só é possível pela inibição de sua própria descarga – que, por meio dos investimentos colaterais, impede a revivência alucinatória da ação específica. Essa concepção de que o ego é um conjunto de representações é encontrada, também, na formulação dos dois princípios do funcionamento mental (FREUD, 1911a/1996, 1911a/2004). Por outro lado, ao ego cabe uma série de funções que não podem ser assimiladas exclusivamente a uma rede associativa representacional, tais como a sensorialidade, a motricidade e, principalmente, a censura. Assim, observa-se que na origem do conceito há um duplo registro do problema do ego: como conjunto de representações e como feixe de funções. Essa ambigüidade é importante, pois coloca a problemática do ego sob uma tensão inaugural.

A dimensão energética do ego vem a ser mais bem elaborada no momento que estamos apresentando neste capítulo, no qual o ego é assimilado à função de auto-conservação e a um regime pulsional próprio. Agora veremos que, com a introdução do narcisismo, as coisas irão se tornar mais complexas. O ponto crucial é que passará a haver uma gênese do ego via pulsão sexual. Assim, não se trata mais da diferenciação das funções de auto-conservação guiando o desenvolvimento em direção à realidade, em que as pulsões sexuais ficariam como pólo regressivo em regime do princípio de prazer. Naquela formulação, o ego era criado pelo desenvolvimento das pulsões de auto-conservação. Agora o ego passará a ser uma nova ação psíquica no desenvolvimento das pulsões sexuais, entre o auto-erotismo e o investimento de objetos.

A partir da introdução do narcisismo o ego passa a ser entendido em termos de objeto da pulsão sexual. Para tanto, ele deve ser definido em termos de um regime representacional. Porém, é mais importante ainda perceber que essa representação não é uma representação qualquer, uma vez que é uma representação responsável por certo ordenamento do regime pulsional. Em outras palavras, ela configura o modo de funcionamento do aparelho psíquico. Como se pode perceber, as coisas já não podem ser explicadas em termos de representações ideativas isoladas que satisfazem um

desejo, uma vez que o próprio desejo é função desse modo de relação da pulsão com o seu objeto.

Precisamos, assim, entrar nos detalhes dessa gênese do ego e dos objetos, observando que sua saída se dará via a definição de um processo de identificação na gênese do ego, ou seja, na tomada de um objeto externo como modelo para estruturação do ego. Veremos que esse objeto introjetado e sujeito à identificação não será mais apenas uma representação de desejo, mas algo da ordem do continente, do envoltório que constitui o aparelho psíquico. A identificação abrirá um problema para a compreensão da tópica em termos estritos de registros, criando a exigência de se pensar a dinâmica entre instâncias.

Por enquanto, retomaremos a idéia colocada ao longo do tópico anterior, de que a compreensão do conflito psíquico em termos de uma diferenciação progressiva das pulsões de auto-conservação e sexuais revela que a disposição à neurose não depende apenas da trajetória da libido, mas, também da evolução do ego, ou, ainda, que os dois problemas estão intimamente relacionados. Pois bem, é a hipótese de um desenvolvimento do ego, aliada com os problemas colocados pela análise de mecanismos psicóticos e das tendências libidinais homossexuais, que conduz Freud à construção do conceito de narcisismo.

Como se sabe, a problemática narcísica remete ao texto sobre a lembrança de Leonardo da Vinci (FREUD, 1910b/1996), sendo extensamente evidenciada na análise do caso Schreber (FREUD, 1911b/1996), no qual a escolha narcísica de objeto ligada à fixação da tendência libidinal homossexual está no centro da discussão. Na análise de Schreber, Freud introduz a hipótese de uma organização pré-genital narcísica, entre o auto-erotismo e a sádico-anal. Essa organização narcisista corresponderia à vigência de um objeto unificado corporal, após o momento inicial da anarquia dos ―objetos‖ parciais corporais no regime auto-erótico, pensado de forma privilegiada pelo modelo da oralidade – o que mostra como naquele momento o auto-erotismo coincide com a organização oral. Após a unificação do objeto corporal no narcisismo, entra em jogo a organização sádico- anal, em que o objeto, agora exterior, é submetido a pulsões parciais de caráter ativo e passivo.

O recalque dos impulsos sádicos e anais leva à fase de latência, em que emerge mais claramente a chamada corrente ―carinhosa‖ da vida erótica,

permanecendo em segundo plano a corrente ―sensual‖, que sofre sublimações13 . Por fim, com o período da puberdade, há a reemergência da corrente ―sensual‖, porém agora sob a organização genital (MEZAN, 2001, p. 177).

O argumento freudiano é que no desenvolvimento se observa, a partir do investimento no próprio corpo, que o indivíduo se orienta em primeiro lugar para um objeto exterior semelhante a ele, o que coincide com a organização sádico-anal. O narcisismo é então introduzido como explicação do mecanismo psicótico em que há uma retração da libido ao ego, a qual remete a esse ponto da escolha do objeto homossexual na fase sádico-anal. Assim, há uma distinção entre a regressão à fantasia na neurose – na qual há o investimento de representações ideativas de desejo – e na psicose – na qual os investimentos libidinais de objetos são cancelados em detrimento de uma estase da libido no ego. Essa relação com a realidade, por sua vez, vem intimamente relacionada ao tema das modalidades de escolha de objeto: por apoio, ou anaclítica, e narcisista. A descoberta da escolha narcísica de objeto nos quadros psicóticos foi a razão mais forte para Freud sustentar a hipótese do narcisismo.

Observa-se que, por meio do problema da definição dos papéis das diferentes pulsões na gênese e desenvolvimento do ego e pelas diferentes escolhas de objeto correlacionadas, o narcisismo vem evidenciar sobremaneira o problema da relação entre o ego e a sexualidade, de tal forma que o narcisismo poderia ser chamado de ―conceito-limite entre o ego e a sexualidade‖ (MEZAN, 2001, p. 180). Retomando o que coloquei anteriormente, a introdução do narcisismo vem colocar o interesse do ego, que está, por sua vez, ligado às funções de auto-conservação do organismo, em profunda ligação com o desenvolvimento da libido. Assim, a introdução do narcisismo vem evidenciar o limite da hipótese do conflito entre o ego e a sexualidade, mostrando que a gênese do ego é sexual e que a distinção entre as pulsões deve ser reavaliada.

Embora traga uma série de inovações à teoria do desenvolvimento, a problemática do narcisismo esteve muito longe de ser solucionada a contento por Freud, o que talvez justifique a palavra ―introdução‖ no texto de 1914, sendo que o

13 A definição de duas correntes amorosas distintas no desenvolvimento libidinal é um ponto

importante na articulação da teoria pulsional da primeira tópica com a teoria da libido. Basicamente, a corrente carinhosa diz respeito ao interesse da auto-conservação, remetendo à mãe nutridora, enquanto a corrente sensual diz respeito à libido sexual, remetendo à mulher desejada. Essas diferentes correntes foram definidas na explicação inicial do complexo de Édipo.

tema do narcisismo vinha sendo discutido por Freud e seus discípulos desde pelo menos 1908 e é apresentado em trabalhos desde 1910. Veremos, na verdade, como a discussão sobre o narcisismo e a identificação na gênese do ego encontra-se ainda bastante incipiente no período que estamos abordando neste capítulo.

O trabalho de Ribeiro (2000) sobre o problema da identificação em Freud nos será de bastante valia neste momento, pois faz um estudo bastante sistemático e rigoroso dos meandros da teoria das identificações na metapsicologia freudiana. Além disso, trata-se de uma proposta de investigação cuja metodologia é muito próxima da que estamos desenvolvendo nesta tese, pois é inspirada tanto na proposta de Figueiredo de uma leitura próxima desconstrutiva quanto na de Laplanche de uma interpretação psicanalítica da teoria psicanalítica. As considerações desse autor colaboraram sobremaneira para minha própria investigação da problemática proposta nesta tese, de forma que irão nos acompanhar ao longo desta investigação em diversos momentos.

Por enquanto, nos interessa apresentar sua leitura do problema do narcisismo e da identificação no período que estamos investigando. Nesse sentido, cabe apresentar as conclusões da análise efetuada pelo autor sobre a questão do narcisismo, cujo ponto central é mostrar como desde o início, a hipótese do narcisismo esteve marcada por uma ambigüidade fundamental e que essa incongruência expressa uma recusa de reconhecimento do papel da identificação materna primária na gênese do ego.

As duas leituras sobre o narcisismo que Freud inicialmente constrói estão assentadas nas investigações da lembrança de Leonardo da Vinci (FREUD, 1910b/1996) e do livro de Schereber (FREUD, 1911b/1996). A primeira leitura consiste naquela que irá aparecer nos adendos posteriores aos três ensaios sobre a sexualidade (FREUD, 1905/1996) e que expressa um raciocínio cada vez mais central na teoria das identificações, a ponto de figurar com toda a força nos textos da década de 1920, em especial aquele sobre o ego e o id (FREUD, 1923a/1996, 1923a/2007). O fundamental dessa leitura é a hipótese de que a o narcisismo é fruto de uma ligação erótica intensa com a mãe, tomada sob a perspectiva do homossexualismo masculino. A idéia é que o homossexualismo é fruto da fixação inconsciente da imagem da mãe devido a uma presença muito extensa dessa figura na vida infantil, quer seja por uma personalidade muito masculina, quer seja pela

ausência do pai. Seria a fidelidade do amor a esse objeto materno das origens que determinaria a escolha de objeto masculino na vida adulta. Assim, a escolha de objeto masculina seria uma transferência defensiva da atração em relação ao objeto materno. Por mais paradoxal que se mostre esse raciocínio, uma vez que liga a instauração da homossexualidade à intensidade do amor heterossexual infantil, ele apresenta como conseqüência inevitável a hipótese de que a identificação seja um derivado do recalcamento e da perda do amor de objeto. Portanto, a identificação seria secundária à instauração das relações de objeto e do recalque.

Percebe-se que, nesse ponto, fica bastante claro o caráter incipiente da teoria das identificações, pois elas aparecem como resultado do recalque da relação de objeto, ou seja a identificação seria conseqüência regressiva da dinâmica do recalque sobre as relações de objeto. Todo o desenvolvimento posterior da obra de Freud irá indicar a vinculação da identificação com um papel mais primário na gênese das instâncias psíquicas, como teremos a oportunidade de acompanhar neste trabalho. Contudo, um aspecto fundamental dessa primeira hipótese manterá sua força e continuará incidindo como um elemento importante da teoria das identificações: o papel de uma identificação feminina na dinâmica narcísica e na gênese do ego.

Já a segunda leitura, embora também parta da relação de objeto homossexual, apresenta outra visão sobre o narcisismo. Nela aparece aquela que tenderá a ser a posição mais reconhecida sobre o narcisismo, a saber, a de que seja fruto da confluência das pulsões sexuais auto-eróticas sobre o corpo, tomado como objeto amoroso. Nesse caso, a escolha do objeto masculino decorre da transferência do investimento narcísico genital para um objeto externo com órgãos genitais semelhantes, ou seja, o homem/pai é tomado como objeto de investimento libidinal pela identificação com a própria unidade egóica, simbolizada pelos genitais: a criança ama o pai porque encontra nele o próprio órgão sexual. Assim, nessa nova fórmula, é o narcisismo que passa a determinar a escolha objetal e não o recalcamento do amor objetal que determina um posicionamento narcísico, como na primeira leitura.

Embora essa segunda leitura apresente uma maior elaboração em termos de uma teoria de desenvolvimento das instâncias psíquicas, definindo o narcisismo agora como um momento efetivo e fundamental da constituição do ego, ela ainda carece de uma série de adendos. O principal problema dessa segunda explicação é

que ela esbarra em uma total ausência da figura materna. Se no primeiro caso a figura materna não comparecia como modelo primordial de identificação, mas somente como objeto de desejo, agora ela não comparece nem como figura de amor. Toda a dinâmica envolvida na constituição do ego pelo narcisismo e na escolha de objeto passando pelo objeto homossexual se resolve exclusivamente pela relação entre o filho e o pai. Para isso basta lembrarmos a resolução clássica que Freud apresenta para o delírio de Schereber, resumido no enunciado ―eu o odeio porque ele me persegue‖: o deslocamento e a inversão defensivos da fantasia ―eu (um homem) o amo (um homem)‖.

Essas duas leituras sobre o narcisismo são bastante díspares entre si e a tentativa de conciliação de todos esses aspectos está presente em boa parte da teorização freudiana do período e perdurará até o final de sua obra. Contudo, o que se observa em ambas as hipóteses sobre o narcisismo é que seu modelo, o homossexualismo masculino, é compreendido a partir de uma posição francamente masculina, onde a identificação feminina não aparece como elemento significativo na constituição do ego. Isso faz com que se possa elaborar a seguinte interpretação sobre as posições de Freud quanto ao narcisismo em sua origem:

Consideramos que a única maneira de responder a essas questões é admitir a impossibilidade, por parte de Freud, de se deixar convencer da existência de uma invariável identificação feminina precoce no menino, fato que o teria permitido suspeitar que a proposição inaceitável encerrada, não no fundo, mas na superfície do delírio de Schereber não sería ‗Eu (um

homem) amo (ele, um homem)‘ mas antes ‗Eu (um homem) desejo ser transformado numa mulher‘. (RIBEIRO, 2000, p. 28)

Esses apontamentos são suficientes para apresentar um ponto importante da análise que estamos fazendo do impacto do narcisismo no edifício teórico da Psicanálise. Eles mostram não só como o narcisismo é fundamental para a introdução da problemática de identificações constitutivas do ego, mas, ainda, como nessas hipóteses sobre o narcisismo observa-se, desde o início, um recalcamento da identificação materna primária.

Vejamos agora como a organização narcísica é definida em Introdução ao

narcisismo (FREUD, 1914/1996, 1914/2004) e como será aplicada para a

compreensão do desenvolvimento libidinal e escolha de objeto no texto sobre os destinos da pulsão (FREUD, 1915a/1996; 1915a/2004).

O primeiro capítulo do artigo sobre o narcisismo procura definir o ―novo‖ conceito, evidenciando sua origem a partir da investigação dos quadros psicóticos e sua confirmação na vida mental infantil e dos povos primitivos, além de suas implicações para a teoria da libido, do qual emergem duas questões, a saber, sua relação com o auto-erotismo e com o dualismo pulsional. Freud constata um retraimento da libido para o próprio ego, em detrimento do investimento objetal normal, essa oposição entre a libido objetal e uma libido do ego mostra-se bastante evidente nos quadros clínicos como o de Schreber, no qual a defesa não opera uma mudança no investimento do objeto, mas a própria regressão do investimento no objeto para o investimento da pulsão sexual no ego. Assim, não se trata de pulsão do ego versus a pulsão sexual, mas da retirada do investimento objetal da pulsão sexual para o próprio ego, tomado como objeto.

O ego passa de fonte da pulsão com finalidades de auto-conservação para receptáculo e objeto da pulsão sexual. Essa antítese entre libido do ego e libido objetal nos quadros narcísicos leva à afirmação de um estado narcísico primário e