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Gadotti, Moacir

No documento Um conto e vários encontros (páginas 105-112)

Seminários de Leituras/ Curso de Pedagogia Prof. Nilton Nicola/AACC

Gadotti, Moacir. Escola Cidadã, São Paulo: Cortez, 2008

1- A palavra autonomia vem do grego e significa capacidade de autodeterminar-se, de autorrealizar-se. Autonomia significa autoconstrução, autogoverno. A luta pela autonomia da escola é uma luta dentro do instituído, contra o instituído, para instituir outra coisa. A eficácia dessa luta depende de cada escola em experimentar o novo e não apenas de pensá-lo. A autonomia se refere à criação de novas relações sociais que se opõem às relações autoritárias existentes. 2- Lutar por uma escola autônoma é lutar por uma escola que projete uma nova

sociedade. É dar um sentido novo à função social da escola e do educador. 3- A falência do ensino brasileiro está enraizada no desânimo e na falta de

perspectiva do magistério diante da burocracia que inviabiliza as escolas e as torna dependentes de uma resposta “de cima” que não vem. Cada escola deveria poder escolher e construir seu próprio projeto pedagógico. Autonomia significa ter um projeto que poderia associar várias unidades escolares, superando o temido problema da atomização do sistema de educação.

4- A questão essencial da escola hoje refere-se à sua qualidade. E a qualidade está relacionada com os pequenos projetos das próprias escolas que são mais eficazes na conquista dessa qualidade do que grandes projetos, distantes do dia a dia das escolas.

5- A escola autônoma cultiva a curiosidade, a paixão pelo estudo, o gosto pela leitura e pela produção de textos. Aprendizagem criativa e não mecânica. A escola autônoma procura unir-se ao mundo exterior pelos espaços sociais do trabalho, das profissões, das múltiplas atividades humanas.

6- O Conselho de Escola, com a participação de pais, professores, alunos, membros da comunidade, é o órgão mais importante de uma escola autônoma. Para que ele possa construir a autonomia da escola, deve deliberar sobre o currículo, o calendário escolar, a formação de classes, períodos e horários,

atividades culturais, enfim, sobre o governo da escola como um todo. O Conselho de Escola se constitui também numa escola para os pais; ele oferece a possibilidade de uma aprendizagem de mão dupla: a escola estendendo sua função pedagógica para a sociedade e a sociedade influenciando os destinos da escola.

7- As experiências que têm por base o conceito de Escola Cidadã apresentam alternativas apoiadas em quatro princípios: a gestão democrática, a

comunicação direta, a autonomia da escola, e a avaliação permanente do desempenho escolar.

8- O movimento pela Escola Cidadã, por uma educação para e pela cidadania, nasceu no final da década de 80 na educação municipal. A Escola Cidadã está enraizada no movimento de educação popular comunitária que, na década de 80, traduziu-se pela expressão escola pública popular. Alguns consideram como primeira experiência concreta de Escola Cidadã a experiência de Paulo Freire na gestão da prefeita Luíza Erundina no município de São Paulo (1989-1992). 9- Em Natal, capital do Rio Grande do Norte, foi implantado, a partir de 1994, o

Projeto da Escola Cidadã, centrado nos seguintes eixos: integração entre

educação e cultura, integração entre escola e comunidade, democratização das relações de poder dentro da escola, enfrentamento da questão da repetência e da avaliação escolar e uma visão transdisciplinar da formação do educador. 10- Essa nova escola já está sendo construída graças à resistência concreta de

muitos educadores, pais, alunos e funcionários. Escola onde as crianças estão sentindo prazer em estudar. Essa escola não será abandonada pelas crianças, porque ninguém abandona o que é seu e o que gosta.

ANEXO J - Betto, Frei/Cortella, Mario Sergio FACSUL/Itanhaém

Seminários de Leituras/Curso de Pedagogia Prof. Nilton Nicola/AACC

BETTO, Frei, CORTELLA, Mario Sergio. Sobre a esperança: Diálogo. Campinas: Papirus, 2007

Frei Betto:

a) A palavra “inteligência” vem do latim intro legere, “ler dentro”. As palavras “inteligência” e “intuição” são irmãs gêmeas. Ao dizer isso estou me referindo à dimensão holística do ser humano. Não somos só razão. Somos emoção, sentimento, inteligência, intuição.

b) Fukuyama ficou famoso pelo axioma de que “a história acabou”. Ao acreditar que a história acabou, legitima-se a perenidade do capitalismo, da desigualdade, ou desse fenômeno atual equivocadamente chamado de globalização ---ao qual eu dou o nome correto: globocolonização.

c) Hoje, os jovens estão passando da oralidade à visualidade sem passar pela literalidade. Só vamos resgatar a dimensão da esperança nos mais jovens se recuperarmos a percepção do tempo como história. Sem ela não há como fazer projeto. A era imagética não favorece a percepção do tempo como história, mas como simultaneidade.

d) Precisamos reduzir a atomização da percepção, mostrando as conexões do real. Quando as pessoas têm uma visão abrangente, começam a entender o processo. Os educadores deveriam ter sempre a preocupação de contextualizar, de mostrar a ligação das partes com o todo. A educação deve formar um triângulo: texto,

contexto e pretexto. Quanto mais o tema (o texto) é contextualizado, mais

extraímos para nossas vidas as razões pelas quais aquele tema nos interessa (o

pretexto). Há uma unidade entre todas as coisas e pessoas, e a ciência atual

comprova que tudo está intimamente relacionado. Nosso processo de humanização passa pela percepção das conexões.

e) Cabe à educação nos ensinar a ter a consciência de conjunto, de pertencimento. Por isso a escola tem de ser uma instância política com P maiúsculo. Falar de direitos humanos no Brasil é luxo, pois ainda estamos lutando por direitos animais: comer, abrigar-se das intempéries e educar a cria, problemas com que se confronta grande parte da população brasileira. Precisamos primeiro conquistar direitos animais para, depois, poder falar de direitos humanos.

Mario Sergio Cortella:

a) Não gosto quando alguém diz “a política no Brasil é uma tragédia”. São trágicos os eventos em que não há alternativa. Por exemplo, a seca é uma tragédia. Mas a fome é um drama ---ela é uma escolha da humanidade. A historicidade dá a ideia de uma não-tragédia em relação à própria existência, de que o indivíduo construa de outro modo aquilo que talvez pareça fechado e fatal. Propicia a sensação de que as coisas têm um processo e que, portanto, podem ser melhoradas.

b) Paulo Freire dizia que é preciso ter esperança do verbo “esperançar”. Porque esperança do verbo “esperar” é vã espera, é aguardar. Esperançar é ir atrás, não desistir. A esperança pressupõe que, mesmo quando se tem um projeto, não necessariamente será possível ser bem-sucedido. A esperança não desanima, mesmo quando o êxito não é imediato.

c) É preciso saber distinguir três aspectos: (1) o urgente do importante; (2) o que é novo daquilo que é novidade; (3) o essencial do fundamental. Hoje, parte dos jovens persegue o urgente e a novidade, deixando o que é importante e aquilo que é novo de lado. O que é essencial na vida? A liberdade, a amizade, a fraternidade, a solidariedade. O fundamental é o que nos permite atingir o essencial. O fundamental é o acessório; o essencial é prioritário.

d) Uma das forças moventes da esperança é a tentativa de procurar o melhor e não apenas o possível. O repousar no possível nos remete a uma frase do

Apocalipse: “os mornos serão vomitados”. Se não formos capazes de mostrar aos jovens a possibilidade de esperança, de fazer com que tenham a ideia de projeto, de construção de futuro coletivo, sofreremos um apodrecimento completo.

e) Uma distinção que considero válida é entre o revoltado e o revolucionário. A revolta é a atitude da mera indignação: corrupção, pobreza, miséria, desespero. O revolucionário é aquele que, quando indignado, dá o passo adiante, quer mudar aquele estado de coisas.

ANEXO K - Polity, Elizabeth FACSUL/Itanhaém

Seminários de Leituras/Curso de Pedagogia Prof. Nilton Nicola/AACC

Polity, Elizabeth. Ensinando a ensinar, São Paulo: Vetor, 2003

1- Para que a criança aprenda é preciso que ela compreenda. Uma aprendizagem compreensiva requer que o professor conheça o processo de pensamento do aprendiz, apresente problemas que lhe pareçam interessantes e para os quais ele possa oferecer respostas.

2- A cultura dominante e a organização do trabalho nas escolas não favorecem

nem a circulação de ideias nem a aquisição de saberes em relação às práticas de ensino e de aprendizagem. Para levá-las a bom termo é preciso produzir investigação, incentivar a troca de ideias, a discussão, a observação, as comparações, os ensaios e o direito de errar (Walo Hutmacher).

3- Aqui se encontra o perigo das escolas: de tanto ensinar o que o passado legou,

e ensinar bem, fazem os alunos se esquecerem de que seu destino não é passado cristalizado em saber, mas um futuro que se abre como vazio, um não- -saber que somente pode ser explorado com as asas do pensamento. Compreende-se então que Barthes tenha dito que “seguindo-se ao tempo em que se ensina o que se sabe, deve chegar o tempo quando se ensine o que não se sabe” (Rubem Alves).

4- O conhecimento é objetivável, transmitido de forma indireta ou impessoal; pode

ser adquirido através de livros ou máquinas. Por outro lado, o saber é transmissível de pessoa para pessoa, experiencialmente. O saber dá poder de uso. O conhecimento não. Uma grande falha de nossa educação tem a ver com a desqualificação do saber e do endeusamento do conhecimento. Pode-se entender porque convém a determinados sistemas que circulem os conhecimentos, mas não o poder de uso sobre eles (Alicia Fernandez).

5- Deficiências podem ser remediadas no processo ensino-aprendizagem através da atenção positiva. Por atenção positiva entendem-se atitudes como: o

professor chamar o aluno pelo nome, olhar constantemente para ele durante as aulas, preocupar-se com o que ele está fazendo.

6- É necessário que pais e educadores compreendam que colocar restrições à ação dos alunos faz com que estes desenvolvam uma relação afetiva segura com o educador e passem a respeitá-lo por esse comportamento. Entende-se que o professor deva, sempre, colocar-se como o adulto na relação, isto é, favorecer o vínculo afetivo, mas não se furtar a pôr os limites, tão necessários para que o aluno cresça, dentro de referenciais claros e seguros.

7- Esses homens, nem todos pais na realidade, tornaram-se nossos pais

substitutos. Transferimos para eles o respeito e as expectativas ligadas ao pai onisciente de nossas infâncias. A menos que levemos em consideração nossos quartos de criança e nossos lares, nosso comportamento para com os professores seria não apenas incompreensível, mas também indesculpável (Sigmund Freud).

8- Ser construtivista implica tratar a prática pedagógica como uma investigação,

uma experimentação. Não é fazer uma coisa uma única vez, mas exercitá-la com sentido de pesquisa, de descoberta, de invenção, de construção (Lino de Macedo).

9- Repensando o papel do educador pude perceber que este lugar só pode ser ocupado por alguém que tenha condição de aceitar as limitações do outro e que possa trabalhar junto com. Isto implica considerar as defesas e resistências que surgem ao longo desse caminho e então poder trabalhar com os sentimentos e a parte cognitiva minimamente harmonizados.

ANEXO L - Rios, Terezinha FACSUL/Itanhaém

Seminários de Leituras/Curso de Pedagogia Prof. Nilton Nicola/ AACC

Rios, Terezinha Azerêdo. Ética e competência, São Paulo: Cortez Editora, 2007. 1- O mundo com o qual o homem entra em contato se apresenta numa dupla

dimensão. A primeira é a que chamamos natureza. E existe outro aspecto que é o da cultura ---o mundo transformado pelo homem.

2- Não se fala em cultura sem falar em trabalho, intervenção intencional e consciente dos homens na realidade. É o trabalho que faz os homens saberem. É o trabalho que faz os homens serem. E a ideia de trabalho não se separa da ideia de sociedade, na medida em que é com os outros que o homem trabalha e cria a cultura.

3- Enquanto instituição social, é tarefa da escola a transmissão/criação sistematizada da cultura, entendida como o resultado da intervenção dos homens na realidade, transformando-a e transformando a si mesmos.

4- A escola está sempre posicionada no âmbito da correlação de forças da sociedade em que se insere e, portanto, está sempre servindo às forças que lutam para perpetuar e/ou transformar a sociedade.

5- São os seguintes os componentes do fenômeno educativo: o econômico, relacionado à produção da vida material; o político, que diz respeito ao poder que permeia as relações na educação; o ético, que diz respeito aos valores que subjazem à prática dos educadores.

6- Ética se define como a reflexão crítica, sistemática, sobre a presença de valores na ação humana. A filosofia da educação, ao ser reflexão sobre a educação, ao problematizar seus fundamentos, considera a educação do ponto de vista da ética, da reflexão crítica sobre determinados valores presentes no

comportamento humano em sociedade.

7- Educador competente é o comprometido com a construção de uma sociedade justa, democrática, na qual saber e poder tenham equivalência enquanto

elementos de interferência no real e organização de relações de solidariedade, e não de dominação, entre os homens.

8- Não poderíamos superar a dicotomia técnica x política se articulássemos a ética à política, e mantivéssemos a técnica como um campo autônomo. A dimensão técnica também carrega a ética. O que temos é competência técnica-ética-

política. A ética está expressa na escolha técnica e política dos conteúdos, dos

métodos, do sistema de avaliação.

9- O educador competente terá de ser exigente. Não se contentará com pouco, não procurará o fácil, sua formação deverá ser a de um intelectual atuante, o rigor será uma exigência para a sua prática.

10- “Se o professor pensar em mudança, tem que pensar politicamente. Não basta que disponha de uma pitada de Sociologia, outra de Psicologia, muitas de Didática, para que se torne agente de mudança” ( Florestan Fernandes). O professor pode funcionar como um intelectual orgânico (Gramsci) contribuindo para as transformações necessárias à sociedade.

11- Vontade, liberdade, consequência: a articulação entre esses conceitos nos auxilia na compreensão das competências do educador. Não basta levar em conta o saber, mas é preciso querer. E não adianta saber e querer se não se tem a percepção do dever e se não se tem o poder para acionar os mecanismos de transformação no rumo da escola e da sociedade que é necessário construir. 12- A nova escola só pode nascer desta que está aí. O desafio está em se

encontrarem/criarem recursos para a transformação. Isso se concretiza na elaboração de projetos de ação.

13- Para se elaborar um projeto é necessário considerar criticamente os limites e as possibilidades do contexto de trabalho, definindo os princípios norteadores da ação, determinando o que queremos conseguir, estabelecendo caminhos e etapas, e avaliando continuamente o processo e os resultados.

No documento Um conto e vários encontros (páginas 105-112)

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