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Gargalos na assistência técnica e opções de geração de renda

5.2 AS DIFICULDADES NA VISÃO DOS AGRICULTORES

5.2.2 Dificuldades Relacionadas à Política Agrária

5.2.2.2 Gargalos na assistência técnica e opções de geração de renda

Com relação ao subgrupo Assistência Técnica e Opções de Geração de Renda, foram apontadas a falta de técnicas que garantam qualidade, refletindo que os produtores guardam muita responsabilidade no processo produtivo. Eles buscam inovações, porém sabem que não podem se arriscar em atividades que podem colocar em risco seu sustento.

Pode-se exemplificar a necessidade de qualidade nos processos produtivos, tomando-se por base o processo ocorrido no Município de Marialva-PR, que criou uma lei e estrutura de fiscalização, a fim de garantir a qualidade e, por consequência, garantia do mercado para a produção municipal de uva (GAZETA DO POVO, 2009).

Nesta linha de necessidade de segurança no processo produtivo, é recorrente o reclame da falta de opções para substituir o cultivo do fumo. Há agricultores que há anos carregam consigo o que parece um sonho: deixar de plantar fumo. Um dos entrevistados alegou que há 17 anos deseja encontrar uma atividade substituta. Percebeu-se que a insalubridade decorrente das atividades demandadas pela cultura do fumo é fundamental na pretensão de deixar tal cultivo. Tal percepção é corroborada por Bonato (2009, p.54-55, 60), cujos dados revelaram que 73% das famílias entrevistadas desejavam deixar de produzir o fumo.

Com relação aos fatores econômicos, segundo Bonato (2009, p. 12), a participação dos fumicultores na renda total caiu de 26%, em 2005, para 22%, em 2007. Um dos motivos está na forte elevação dos custos de produção. Os preços pagos aos produtores aumentaram 88,5% (classe BO1), entre 2000 e 2004, entrementes, o custo de produção, no mesmo período cresceu 148,7%. Outros fatores que justificam esta demanda já foram citados no subgrupo relacionado ao mercado (item 5.2.21).

A Gazeta do Povo, em seu caderno Caminhos do Campo, de 20/01/2009, tem como manchete “Sem opção rentável, cultivo de fumo resiste às restrições”. A reportagem ressalta a dificuldade do Brasil em cumprir um dos principais compromissos da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco, assinada em 2003, em conjunto com mais 191 países e ratificada pelo Congresso Brasileiro, em outubro de 2005. A reportagem aponta a timidez dos programas públicos de diversificação, como um dos fatores para o fraco desempenho.

O fumo é considerado um produto nocivo à saúde pública e o país comprometeu-se a desestimular a demanda. No entanto, para municípios como o da reportagem (Ipiranga – PR), em que metade dos agricultores são fumicultores, ainda não surgiu opção mais rentável economicamente (GAZETA DO POVO, 2009).

Segundo a reportagem, os dados do Sindicato da Indústria do Fumo (SindiTabaco) revelam que o número de agricultores integrados às fumageiras no Sul do Brasil (que concentra 96% da produção nacional) passou de 180.000, em 2007, para 186.000 em 2008. Estes dados estão de acordo com Bonato (2009, p. 8), que aponta para a redução da fumicultura nos países desenvolvidos, como Estados Unidos e Itália e para seu crescimento nos países pobres e em desenvolvimento como Argentina, Brasil, Indonésia, Malawi e Paquistão. Não obstante, os dados do

SindiTabaco revelam, ainda, que no Paraná, terceiro estado produtor, houve redução no número de fumicultores, de 32.000 para 30.000, na safra 2008/2009.

A reportagem salienta que, embora a Convenção não estipule prazos para a redução do plantio, ela indica que o Governo deve assistir à migração dos produtores para outra cultura. Salienta, também, que o tradicional cultivo de milho e feijão não garante renda adequada ao agricultor.

Esta questão perpassa por outras demandas, principalmente pela distribuição fundiária e pelo fato das lavouras tradicionais, os chamados "grãos tradicionais" gerarem poucos ganhos em áreas pequenas. Assim, o fumo continua como uma opção mais rentável. Há também os casos de quem, além de não ter outra opção, quando chega no período do novo plantio, não dispõe mais de recurso algum para seu sustento até a próxima colheita. Estes fazem um empréstimo da fumageira, que será descontado quando da venda do produto da nova safra, e assim, conseguem garantir sua sobrevivência.

A indicação referente à insegurança em novas atividades relaciona-se às outras 3 indicações anteriores: técnicas que garantam qualidade, substituição da lavoura do fumo e baixo retorno dos grãos tradicionais. Para se lançar em um novo tipo de atividade, os agricultores devem ser convencidos de sua segurança. A insegurança relaciona-se, também, com a dificuldade de carência de instrumentos para a adoção de alternativas como medicinais, condimentares e outros usos de não madeiráveis.

Um fator relacionado à segurança para engajar-se em novas atividades é o zoneamento agrícola para culturas ainda não consolidadas na pauta de produção agrícola. Sem o zoneamento não há financiamento e seguro para a produção, sendo que o zoneamento também se traduz em uma fonte de referência para os produtores (Gazeta do Povo, 2008).

Também há o problema da estrutura necessária para determinadas atividades. Por exemplo, uma interessante alternativa de produção na região Centro- Sul do Paraná, é a fruticultura. Porém, de acordo com a reportagem da Gazeta do Povo, de 09/12/2008, para que as chamadas "frutas de caroço" (pêssego, ameixa, nectarina) expandam-se além das regiões do entorno de grandes centros, infraestrutura é determinante (no exemplo, são necessários separadores de frutas e refrigeradores).

Uma dificuldade citada foi a incapacidade de sustento pela agricultura, de certa maneira, esta citação pretendeu resumir todas as dificuldades enfrentadas pelos agricultores familiares, inclusive as dificuldades ambientais, que acabam por influenciar no rendimento da família. Um agricultor que citou esta questão alegou que poderia complementar sua renda se fossem permitidos o manejo e o enriquecimento de suas áreas florestais. Apesar de ter um imóvel relativamente grande (69 ha), este agricultor utiliza cerca de 45% de sua propriedade, o restante apresenta cobertura florestal. Isto aponta não só para a interrelação entre a questão agrícola e ambiental, mas também, como uma propriedade de tamanho razoável pode ter sua função produtiva limitada.

A questão do biodiesel está muito presente nas discussões dos agricultores familiares. Porém os entrevistados demonstraram descrédito, quanto ao potencial do plantio de produtos voltados para a agroenergia virem a beneficiá-los. Foi citado que o benefício só será usufruído pela indústria e pelos grandes produtores.

Percebeu-se que não estavam ao alcance dos agricultores familiares da região Centro-Sul do Paraná opções para participar deste novo ramo de atividade rural. Percebeu-se, ainda, que os agricultores tinham um sentimento de novamente ficarem excluídos de um processo promissor. Ao mesmo tempo, percebeu-se o desejo de participar desse processo. Ao apontar que o benefício só atingiria os grandes produtores, complementando que estes não cumprem seus compromissos, reporta-se à percepção de uma situação de injustiça conforme descrito nas dificuldades do grupo Políticas Ambientais. Reforça-se que as desigualdades existentes não passam despercebidas.

Também foi relacionada a carência de capacitação para que os agricultores familiares possam superar as diversas limitações, apontando para o reconhecimento dos agricultores familiares da necessidade de seu aprimoramento e atualização profissional.