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População é o termo utilizado para definir um grupo de indivíduos de uma mesma espécie que coexiste numa mesma área e tempo. Cada população apresenta uma organização (ou estrutura) própria, que é resultado de características intrínsecas da espécie, de fatores físicos do ambiente onde ela se encontra, e de interações intraespecíficas e interespecíficas. Alguns aspectos importantes da estrutura populacional são: densidade de organismos, espaçamento entre eles, migrações, proporção de indivíduos em diferentes classes etárias, sistema de acasalamento, estrutura genética e disposição em áreas de habitat propício (Ricklefs & Miller, 2000).

A definição do termo populações sob um âmbito ecológico é de um grupo de indivíduos da mesma espécie vivendo em uma área restrita, o que permite o intercruzamento. Sob o ponto de vista genético, uma população é um grupo de indivíduos que compartilham um determinado “pool” genético, o que permite o intercruzamento. A genética populacional é a ciência que estuda a diferenciação dentro e entre populações e tenta mensurar essas variações, buscando as causas que levaram à diferenciação (Futuyma, 1995).

Segundo Futuyma (1995), genética de populações é um ramo da biologia evolutiva, que determina o nível e a distribuição de polimorfismo genético em populações naturais e detecta as forças evolutivas (mutação, migração, seleção e deriva) que determinam o padrão de variação genética observada. Idealmente, a melhor maneira de quantificar a variação genética em populações naturais deve ser feita por comparação de sequências de DNA (Kreitman, 1983).

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Dentre essas forças evolutivas, a migração e a mutação aumentam a variabilidade genética, enquanto a seleção e a deriva podem causar a diminuição da variabilidade genética dentro das populações (Felsenstein, 2005).

As diferenciações estudadas em genética de populações são mutações que, quando se acumulam, resultam em evolução. Por isso, a genética de populações está proximamente associada aos estudos evolutivos, uma vez que a evolução depende de mudanças nas frequências gênicas. Em outras palavras genética de populações é definida como a ciência que analisa matematicamente mecanismos de fluxo gênico e evolução. Espécies geralmente apresentam perfis naturais de estruturação populacional em diferentes áreas e o entendimento da estrutura genética pode ser importante para a elucidação de fenômenos naturais, bem como para o manejo de espécies ameaçadas de extinção e organismos danosos ao homem (Avise, 2000).

A diversidade genética é considerada extremamente importante para a evolução e viabilidade a longo prazo das populações. Além disso, ela pode ser utilizada como instrumento de investigação por ecólogos e sistematas para verificar as afinidades e os limites entre as espécies por meio da filogenia, detectar modos de reprodução e estrutura familiar e definir estruturas populacionais, estimando níveis de migração e dispersão nas populações (Avise, 2000).

Segundo Slatkin (1985), o termo “fluxo gênico” é dado a todos os mecanismos que resultam em movimento de alelos de uma população para outra e determina a extensão para as mudanças genéticas em populações locais que são independentes.

A diversidade genética mantida por uma espécie ao longo de sua distribuição geográfica é determinada por interações ecológicas e processos evolutivos. As características de uma espécie (ex: tendências para a dispersão, sistemas de acasalamento e tempo para formar novas gerações) determinam o grau com que mutações, derivas genéticas e seleção natural irão influenciar na variação dentro da população, bem como no grau de diferenciação entre populações. Dessa forma, ao estudar a estruturação genética de determinado organismo é necessária a correlação entre a ecologia e parâmetros de sua história natural (Futuyma, 1995).

Entretanto, os trabalhos com a utilização de ferramentas moleculares em genética populacional tem sido desenvolvidos em sua maioria em um contexto filogeográfico (Monteiro et al., 1999; 2004) e contam-se ainda atualmente poucos trabalhos direcionados à identificação das populações de triatomíneos que invadem e colonizam domicílio (Almeida et al., 2008).

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Ao longo dos anos, o acesso a dados sobre a variabilidade genética intra e interpopulacional têm aumentado significativamente, principalmente por meio de polimorfismos de proteínas (Solferini & Selivon, 2001) e de sequências de DNA (Avise, 1994). Para isso, marcadores moleculares para estudos populacionais e filogeográficos que sejam altamente polimórficos e com altas taxas de mutações são cada vez mais requeridos. Entre os mais utilizados estão: sequências de regiões não codificadoras e sequências simples repetidos ou microssatélites. A busca por marcadores com padrões de herança e taxas evolutivas diferentes ajuda na obtenção de informações mais completas para a elucidação de dados de estrutura genética e história evolutiva dos organismos

Por meio de sequenciamento das regiões espaçadoras ITS (Internal Transcribed Spacer) do gene 5,85 do rDNA e de RAPD-PCR (Random Amplified Polymorphic DNA), Pacheco et al. (2003; 2007) ampliaram os estudos sobre a estrutura genética para T. rubrovaria. Seus resultados, além de corroborar a indicação sobre a variabilidade genética das populações dessa espécie no Rio Grande do Sul, ainda indicaram que as populações provenientes da Argentina e Uruguai não mantêm, ou mantêm baixos níveis de fluxo gênico com as diferentes populações que ocorrem no Brasil.

Tradicionalmente, o mtDNA tem sido mais usado em insetos que o ITS, tanto no estudo de associações específicas, quanto populacionais devido a algumas características peculiares como a herança uniparental (Meyer, 1993). Mais especificamente, fragmentos de mtDNA tem sido usados para inferências sobre a história e evolução fenotípica de populações que divergiram recentemente, como por exemplo as “populações” do complexo T. brasiliensis (Monteiro et al., 2004; Almeida et al., 2008).

Para a compreensão de eventos em genética populacional, deve-se levar em conta a capacidade de dispersão do táxon estudado. Sob o ponto de vista eco-genético (aplicado ao grupo dos triatomíneos), o conhecimento dos fatores que induzem o vôo também é importante para se efetuar inferências sobre o processo de invasão domiciliar desses vetores (Schofield et al., 1999; Almeida et al., 2012).

Tendo em conta a aplicabilidade do gene mitocondrial Cit B em trabalhos na área de sistemática, análise filogenética e estruturação de genética de populações (Avise, 2000), neste trabalho nove populações de T. sherlocki, quatro de T. juazeirensis e três de T. melanica tiveram cada uma, 292, 100 e 47 sequências, respectivamente, desse gene que foram utilizadas para

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desenvolver um estudo de variabilidade genética e a análise da estruturação populacional dessas espécies.

As informações sobre a genética de populações de T. sherlocki poderão auxiliar na elucidação da origem dos focos de reinfestações, no diagnóstico de populações que persistem às atividades de controle e sobre a plasticidade adaptativa de T. sherlocki a diferentes ecótopos. Ressalta-se que este é o primeiro estudo sobre a estrutura genética de um triatomíneo que foi recentemente definido como incapaz de voar. Entretanto T. sherlocki produz híbrido férteis que chegaram além da terceira geração em todas as direções possíveis de cruzamentos experimentais e retrocruzamentos (Almeida et al., 2012).

25 2. Objetivos

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