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Triatoma melanica (Figura 2-D) encontra-se distribuído em regiões dos municípios de Espinosa e Porteirinha, Norte do Estado de Minas Gerais (Monteiro et al., 2004) e Urandi, Sul do Estado da Bahia (Figura 3).

A coloração geral apresenta-se enegrecida com relação aos outros membros do complexo, com áreas amarelo-alaranjadas, colarinho negro, pronoto com faixas triangulares partindo da margem posterior do lobo posterior, mas não atingindo o lobo anterior, membrana do hemiélitro com células internas totalmente negras, trocânteres escuros, fêmures com manchas claras não formando anel nítido, fosseta esponjosa ausente nas fêmeas, estando presente apenas nas tíbias anteriores dos machos (Costa et al., 2006).

Trata-se do único membro do complexo com hábitos exclusivamente silvestres (pedregais) podendo, eventualmente, invadir os domicílios, principalmente durante os períodos mais secos. Ainda não foi encontrada colonizando os domicílios (Costa et al., 2003).

15 1.7. Triatoma sherlocki

Os estudos sobre T. sherlocki (Figura 2-E) começaram em 1975, a partir de coleta realizada em Santo Inácio/BA. Os “triatomíneos silvestres”, assim denominados incialmente por Cerqueira (1982), foram capturados em ambiente silvestre, rochoso, desprovido de vegetação, a uma altitude de 473 metros e habitada por lacertídeos e roedores, aproximadamente 250 metros da área urbana (Cerqueira, 1982).

Cerqueira (1982) realizou intercruzamento do “triatomíneo silvestre” com T. brasiliensis, T. lenti e T. infestans, cruzamentos de híbridos e retrocruzamentos, chegando à conclusão que se tratava de uma subespécie de T. brasiliensis, denominando-o de T. brasiliensis santinacensis. Tal hipótese foi justificada pelo fato de T. brasiliensis ocorrer no mesmo ecótopo que o “triatomíneo silvestre”, apesar de este ter apresentado o fenótipo com coloração diferenciada no ambiente natural e também por ter formado híbridos férteis nos cruzamentos experimentais (Lent & Wygodzinsky, 1979, Cerqueira, 1982).

Em 2002, Papa et al., retomaram os estudos com o “triatomíneo silvestre” e levando em consideração características peculiares como os hemiélitros reduzidos, que reflete na sua incapacidade de voar (Almeida et al., 2012), os anéis de cor laranja avermelhado nos fêmures e manchas no conexivo, características morfológicas semelhantes à espécie T. lenti, que difere daquela pelas características das estruturas fálicas, do escutelo, do pronoto, do conexivo e das asas anteriores e posteriores, classificaram como uma nova espécie, Triatoma sherlocki (Papa et al., 2002).

Após a descrição específica (Papa et al., 2002), Mendonça et al. (2009) estabeleceram uma posição filogenética para a espécie T. sherlocki baseada no sequenciamento de genes mitocondriais e confirmaram a proximidade que T. sherlocki apresenta com as espécies do complexo T. brasiliensis inserindo-a como membro desse complexo.

Almeida et al. (2009) reportaram a ocorrência de T. sherlocki no intradomicílio no município de Encantado/BA, em coleta realizada em 2007 e 2008 que representa um possível processo de domiciliação dessa espécie e sua importância epidemiológica.

Assim, no que se refere a T. sherlocki, as modernas técnicas moleculares podem ser ferramentas úteis para um melhor entendimento da dinâmica populacional e, dessa forma,

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auxiliar nas atividades de controle, monitoramento vetorial e elucidação dos eventos relacionados à epidemiologia da doença de Chagas.

1.8. Domiciliação

O primeiro inquérito epidemiológico de pesquisa entomológica domiciliar e coleta de triatomíneos abrangeu a região Nordeste do Brasil e visou compreender a distribuição dos vetores domiciliados, determinar as fontes alimentares preferenciais e as taxas de infecção por T. cruzi das espécies identificadas. Outra informação de grande relevância para orientar as ações de controle foram as relações estabelecidas entre a distribuição dos vetores autóctones e os limites de sua dispersão, determinados em princípio pelas condições ambientais dos biomas de que faziam parte (Forattini et al., 1981; Silveira, 2011).

Pessoa (1962) abordou a íntima associação entre a domiciliação de triatomíneos e a epidemiologia da doença de Chagas, onde a transmissão vetorial é favorecida pela coabitação entre o vetor e o homem.

Em 1980, Forattini já havia elaborado hipóteses para explicar o processo de domiciliação dos triatomíneos, mencionando que a partir do desenvolvimento da domiciliação e do progredir das alterações do meio, instala-se o isolamento domiciliar que tenderá cada vez mais, à diferenciação desse comportamento. Compreende-se, assim, a possibilidade de evolução no sentido de populações acentuada ou mesmo estritamente sinantrópicas.

Na biologia evolutiva, o termo adaptação descreve o processo pelo qual uma característica, devido ao aumento do valor adaptativo, foi moldada por forças específicas de seleção natural fixando a variação genética (Futuyma, 1995). Para triatomíneos, Aragão (1983) cita o ecletismo alimentar como uma das características adaptativas ao ecótopo domiciliar.

Alguns autores (Forattini, 1980, Aragão, 1983, Silveira & Vinhaes, 1999, Dias et al., 2000) mencionaram que a adaptação ao ambiente antrópico pode ter facilitado a dispersão de dois dos mais importantes vetores da doença de Chagas da América Latina: T. infestans e P. megistus. Aragão (1983) mencionou que a adaptação ao ambiente domiciliar possa ter ocorrido devido ao ecótopo domiciliar minimizar as diferenças ambientais, sendo relativamente uniforme mesmo em diferentes condições climáticas.

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Segundo revisão realizada por Schofield & Dias (1999), o processo de domiciliação em triatomíneos pode ser encarado como uma extensão da rota evolutiva de predador para sugador em ninhos-abrigo, onde o habitat domiciliar representa simplesmente um novo tipo de abrigo de vertebrado. Segundo esses mesmos autores, existem indicações de que o fenômeno da domiciliação trate-se de uma especialização. Em conclusão, Schofield & Dias (1999) mencionaram que, embora tenham sido desenvolvidas razoáveis explicações para o processo de domiciliação, as pesquisas ainda estão distantes da elucidação dos mecanismos que esclareçam esse evento, indicando que talvez, estejamos diante de um dos maiores desafios nos estudos de triatomíneos para as próximas décadas.

Silveira & Rezende (1994) classificaram os triatomíneos de acordo com o status de domiciliação e sinantropia, relacionando-os com o potencial vetorial. Forattini (1980) levantou uma série de discussões sobre a origem do fenômeno da domiciliação. As opiniões divergem desde um simples oportunismo frente à escassez das fontes naturais de alimento até um possível processo gradual de adaptação, sujeito à seleção natural.

Ferramentas moleculares e morfométricas buscam elucidar a dinâmica populacional dos insetos entre ambientes domiciliar e silvestre mostrando a dispersão espacial e ecológica dentro e entre as populações de triatomíneos (Dujardin et al., 1998a; 1998b; Borges et al., 2005; Bargues et al., 2006; Almeida et al., 2008).

Silveira et al. (2001a; 2001b) e Almeida et al. (2008) observaram que o tempo de reinfestação de T. brasiliensis em um domicílio tratado com inseticida pode variar de seis meses a dois anos dependendo de fatores ecogeográficos e sugeriram que fatores genéticos também estariam envolvidos no processo de domiciliação.

Importa considerar que, dependendo do grau de adaptação de diferentes espécies vetoras a ecótopos artificiais, fundamentalmente ao domicílio humano, a vulnerabilidade ao controle será maior ou menor. Espécies introduzidas, não autóctones, são passíveis de eliminação e, uma vez eliminadas, isso pode significar a interrupção definitiva da transmissão vetorial em determinada área, desde que não existam aí espécies nativas, e desde que se impeça a re-infestação a partir de outras áreas. Tratando-se de espécies autóctones, o controle esperado é a extinção de colônias domiciliadas e impedir sua re-colonização, pela manutenção de ações estritas de vigilância entomológica. Dessa forma, evita-se que haja um risco continuado de transmissão (Silveira & Dias, 2011).

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A correta identificação e o conhecimento do relacionamento e história evolutiva de diferentes espécies de Triatominae são fundamentais para a vigilância entomológica da doença de Chagas e tem importância operacional nas atividades de controle e/ou eliminação de espécies domiciliadas e silvestres que apresentam tendências de domiciliação.

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