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O MODERNISMO E OS MODERNISTAS NAS ARTES PLÁSTICAS

3.4. GENARO DE CARVALHO

Ao contrário do pai de Carlos Bastos, o pai de Genaro de Carvalho sempre o apoiou o filho. Apesar de comerciante, era pintor nas horas vagas, e incentivou Genaro a completar o curso científico no Rio de Janeiro, no colégio Andrews, em 1944, período em que freqüentou a Sociedade Brasileira de Belas Artes, onde se formaria em desenho com Henrique Campos Cavaleiro.166 Assim, Genaro de Carvalho foi o

166 Henrique Campos Cavaleiro nasceu em 1892, no Rio de Janeiro, e estudou no Liceu de Artes e Ofícios. Entrou na Escola Nacional de Belas Artes em 1910. Em 1918, viajou para Paris, onde estudou na Academia Julien por seis meses. No Brasil, na primeira metade do século XX, participou dos mais importantes exposições nacionais, como a Exposição Geral de Belas Artes, em 1927, quando conquistou a medalha de outro, e a I Bienal de São Paulo, em 1951. Tem quadros no acervo do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e no Museu Antonio Parreiras, em Niterói.

primeiro, dos amigos, que chegou ao Rio de Janeiro, referência cultural na época, de modo que, antes de realizar sua primeira exposição individual na Bahia, na Biblioteca Pública do Estado, em 1947, já tinha exposto na capital federal, na Associação Brasileira de Imprensa e no Museu Nacional de Belas Artes, em 1945 e em 1946, respectivamente. Segundo Mário Cravo,

“Genaro, no começo de sua carreira, costumava pintar marinhas espatuladas com uma maneira livre - não acadêmica - concentrando, no tratamento do quadro, certa carga expressiva, e seus trabalhos causavam admiração ao público, sendo grande o número de suas pintura adquiridas”167

Certamente as notícias que chegavam sobre as atividades de Genaro deveriam ser estimulantes aos ouvidos de Mário Cravo e Carlos Bastos, que à época deveriam também projetar possíveis viagens de aperfeiçoamento fora da Bahia. Assim sendo, os anos de 1944, 1945 e 1946 são datas que merecem atenção: os três amigos, em anos diferentes, vão para o Rio de Janeiro. O ano de 1947 possivelmente foi um ano importante para a troca de idéias entre artistas plásticos que retornavam de suas experiências em outros centros culturais: voltavam e encontravam amigos escritores, poetas, que, na conjuntura da redemocratização, realizavam encontros para discutir a profissionalização do oficio de escrever, como vimos, a exemplo dos Congressos Brasileiros de Escritores.

Um ano de possível gestação de Caderno da Bahia, este 1947. Podemos observar que Mário Cravo Jr. projetou sua experiência fora do país em 1947. Convidou Carlos Bastos para acompanhá-lo aos EUA em setembro, como Bastos registra em seu diário: “Mário Cravo chegou da fazenda, me telefonou pela manhã e fui à casa dele, logo. Conversamos sobre a viagem. (...) Vou como turista. Só preciso levar um passaporte e atestado de vacina e certificado de imposto de renda.”168 E foram ambos, embora cada um tenha tomado um caminho próprio, como mencionado.

Enquanto os dois estavam nos EUA, em Salvador, Genaro de Carvalho expunha no hall do Edifício Oceania, na Barra, suas “marinhas, casarios, paisagens, figuras, guaches, desenhos,” temática de sua primeira fase, como lembrou Mário, antes de se aperfeiçoar como o maior tapeceiro do Brasil. A matéria do jornal Estado da

Bahia, em que se divulga a exposição de Genaro no Edifício Oceania, recém

167

CRAVO JR., Mário. Op. Cit., p. 28

construído, traz um dos quadros da exposição do pintor: “Menino baiano”, onde se vê um garoto negro, desenho cujos traços despretensiosos, que ganham em harmonia com a figura do menino, também despretensioso e comum nas ruas de Salvador.169

Genaro de Carvalho, década de 1950.

Desenhos de Genaro de Carvalho na exposição no bar Anjo Azul, 1949.

No ano de 1949, após ter conseguido uma bolsa de estudos pelo Governo Francês, Genaro de Carvalho novamente se separou dos amigos e rumou em viagem para Paris, porém não sem antes fazer uma “exposição de bicos de pena”170 no bar Anjo

Azul. Na “pequena mostra de seus últimos trabalhos, o jovem baiano autodidata

169

Estado da Bahia, 27 de abril de 1948. 170 A Tarde, 13 de agosto de 1949, p. 5.

imprimiu um caráter bem simpático de saudação e despedida”171, exibindo desenhos leves de paisagens humanas e urbanísticas de Salvador. Ao voltar, Carvalho logo seria chamado para pintar o grande mural do Hotel da Bahia, como veremos, alcançando grande divulgação para os novos artistas baianos modernos.

Assim, Mário, Carlos e Genaro moravam no Campo Grande ou redondezas. Procurando fazer um balanço dos avanços nos aspectos plásticos e estilísticos, por exemplo, Carlos Bastos diz:

“Mário, nesse período, já fazia esculturas bem avançadas, em madeira, era o mais radical. Genaro pintava marinhas, ainda sob a prisão acadêmica, mas mesmo assim demonstrando uma tendenciazinha ao novo. Eu fazia pintura surrealista na qual não havia qualquer indício de surrealismo” 172

Mário Cravo Jr., em depoimento, lembra:

“Estou lembrando de Carlos Bastos, de Genaro e de mim por volta de 1943, 1944, com vinte e poucos anos de idade: para nós, baianos, o que nos tornou diferentes do resto, nesse processo generalizado de renovação, é quem em Salvador nossa ansiedade juvenil de geração terminou se fundindo a um poderoso lastro de cultura popular riquíssima e vivenciada a todo instante.”173

A virada modernista nas artes plásticas baianas, que havia começado com Mário Cravo Jr., Carlos Bastos e Genaro de Carvalho, aos poucos, no entanto, incorporava novos nomes, como por exemplo Jenner Augusto, Rubem Valemtim e Lygia Sampaio.