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A GERAÇÃO MODERNISTA DE 45 EM CADERNO DA BAHIA

2.3 GERAÇÃO PÓS GUERRA NO BRASIL

No Brasil, produtores e divulgadores de cultura, no imediato pós segunda guerra,

100 MACHADO NETO, Antonio Luiz. A Bahia intelectual. Universitas – Revista de Cultura da UFBA, Salvador, n. 12/13, 1972., p. 277. Resultado de 80 entrevistas com intelectuais da geração de 1900-1930, o estudo de Machado Neto praticamente contempla todos os aspectos sociológicos da atividade intelectual na Bahia, não só a origem social dos pais dos escritores, tais como os grupismos literários, os elogios mútuos, o peso dos jornais para a ascensão do intelectual, o público consumidos da produção intelectual, etc.

escreveram sobre suas próprias posturas políticas e artísticas sob um ponto de vista geracional. São textos de auto-critica geracional, em especial em relação à postura política, tendo como referência, como dissemos, a geração de 22. Carlos Guilherme Mota estabelece comparações entre as gerações intelectuais e culturais de 20/30 com a de 40/50, tendo como base dois livros que, à época, pretenderam-se marcos geracionais. O primeiro livro é o “Testamento de uma geração”, de 1944, organizado por Edgard Carvalheiro.

Carvalheiro pediu a Mário de Andrade, Sergio Milliet, Artur Ramos e Luiz da Câmara Cascudo, dentre outros, que concedessem depoimentos sobre suas épocas. O livro propunha fazer, segundo Mota, um balanço da geração intelectual e artística que se debruçara sobre questões comuns.

O outro livro estudado é “Plataforma da nova geração”, de 1945, e organizado por Mário Neme. Neste livro, a pedido de Neme, Antonio Candido, Mário Shenberg, Paulo Emílio de Sales Gomes estão presentes respondendo a questões sobre, por exemplo, “se os escritores moços do Brasil de hoje têm ou não consciência dos problemas mais orgânicos da cultura brasileira.”102

A publicação destes dois livros revela o valor atribuído, na época, à idéia de compromisso geracional. A exigência de um posicionamento político, como vimos no realismo socialista, se traduzia nos dois livros em uma reavaliação geracional. “Plataforma da nova geração” foi publicado em 1945, nos últimos meses da ditadura do Estado Novo, e respondia pela ansiedade de redemocratização. Os depoimentos contidos no livro são amplos, e podem ser lidos não apenas como um registro literário e artístico de um tempo presente, mas também como uma espécie de projeção futura, à curto prazo, de comprometimento político, tendo como referência a geração anterior.

Na virada de 1940 para 1950, o Brasil presenciava uma efervescência de idéias. Paralelamente, experiências e condições socioeconômicas se cruzavam constantemente entre grupos artísticos, políticos e intelectuais, que pensavam de maneira a assumir a responsabilidade de sua geração ante aquele específico momento histórico de redemocratização. Estes grupos se tocavam em muitos pontos, e daí conceitos comuns emergiam, como a definição de ‘realidade brasileira’. Artistas plásticos, economistas, antropólogos, escritores, políticos, quase todos os grupos, ao definir e representar a 101 MICELI, Sérgio. Poder, Sexo e Letras na República Velha. São Paulo: Perspectiva, 1977

102

MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira (1933 - 1974) São Paulo: Ática, 1978, p.111.

realidade brasileira, suprimiam fronteiras, aproximando seus discursos. Nesse sentido, enfoco a visão geracional dos escritores e poetas e jornalistas ligados à Caderno da

Bahia, enfocando seu perfil político. Deixei os artistas plásticos para os últimos

capítulos.

Nesta época, o nacionalismo representou um ponto de reflexão obrigatório para os grupos acima citados. Dentro de um contexto em que se fazia necessário reorganizar a democracia brasileira, o nacionalismo entrou na pauta dos debates não só políticos, mas artísticos e culturais. Diferente do nacionalismo primitivista da geração artística de 22, circunstancial, desengajado, as questões nacionais ligadas ao contexto da redemocratização - questões eminentemente políticas - estavam presente em diversos ambientes sociais e intelectuais, assim como nos ambientes literários e artísticos. O perfil político de Caderno da Bahia está ligado a este contexto de vozes sociais que se cruzam.

As edições de Caderno da Bahia, publicadas entre 1948 e 1951, pertenceram à imediata conjuntura política pós 1945. Um contexto anterior, portanto, ao otimismo desenvolvimentista de J.K.. Um contexto de transição, de abertura política, tanto a nível internacional como nacional. Numa perspectiva de América Latina, foi o período em que a Cepal foi criada, em 1948. Órgão da ONU, cujo objetivo era “desenvolver estudos e formular orientações para superar a dependência econômica”103 dos países latino americanos, a teoria do subdesenvolvimento da Cepal teria influenciado a geração de economistas brasileiros na época, especialmente com relação aos conceitos de dependência econômica e de capitalismo tardio. Conceitos que, segundo Renato Perim Colistete, teriam influenciado “tanto intelectuais e policy makers quanto o empresariado industrial,”104

fortalecendo a idéia dualista de periferia rural e centro capitalista entre as nações.

Em 1953, surgiria o grupo de Itatiaia, nome criado por causa do local de reunião de intelectuais que moravam no Rio de Janeiro e em São Paulo, e que dois anos depois daria origem ao IBESP, fixado no Rio de Janeiro. Teria na revista Cadernos do

103 RODRIGUES, Marly. A década de 50 - populismo e metas desenvolvimentistas no Brasil. São Paulo: Ática, 2003, p. 24.

104 COLISTETE, Renato Perim. “O desenvolvimento cepalino: problemas teóricos e influências no Brasil” http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142001000100004&lang=pt

Acessado em: 15/01/2011. O autor, neste artigo, menciona as bases da teoria cepalina do subdesenvolvimento, como as estruturas pouco diversificadas e pouco integradas das economias latino americanas, herdadas de um período de dependência caracterizada como agro-exportador, de modo a tornar desigual as trocas comerciais entre periferia e centro..

Nosso Tempo o principal veiculo de divulgação de seus estudos sociais e econômicos,

sugerindo projetos. Também em 1955 surgiria o ISEB, órgão do governo que tomaria para si a cena intelectual do Brasil na década de 1950.

Enfim, tais grupos acompanharam e foram atores nas discussões em torno do nacionalismo e dos projetos de desenvolvimento brasileiros, ao longo de 1945 a 1955, marcando um período de transição do pensamento econômico. Voltaram esforços para a construção de conceitos capazes de interpretar a “realidade brasileira”. Conceitos como nação, cultura e desenvolvimento foram frutos da gama diversificada de posturas políticas dos integrantes do grupo de Itatiaia e ISEB.

Debates sociais, políticos e econômicos, nesta perspectiva, surgiriam dentro de grupos culturais que giraram em torno de revistas literárias e culturais nas capitais brasileiras. Caderno da Bahia foi uma, dentre elas. E um tema comum, neste contexto, foi a figura do intelectual engajado que emergia, cruzando-se com a figura do escritor engajado, ou mesmo do artista plástico engajado, de modo a associar posturas e comportamentos entre os intelectuais e artistas em geral.