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2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

3.3 A Geomorfologia: algumas considerações

A Geomorfologia, como ciência geográfica, pode ser compreendida, segundo Christofoletti (1980, p. 1), como “a Ciência que estuda as formas de relevo”. Souza (2001) descreve que, além de analisar e descrevê-las, é necessário dar o enfoque e a abordagem para compreender e explicar sua gênese e seu processo de evolução.

A Geomorfologia estuda o espaço em constante alteração.

Geomorfologia que tem suas bases conceituais nas ciências da terra, mas fortes vínculos com as ciências humanas, à medida que pode servir como suporte para entendimento dos ambientes naturais, onde as sociedades humanas se estruturam, extraem os recursos para a sobrevivência e organizam o espaço físico-territorial (ROSS, 1992, p.1).

Na perspectiva de Ross (1992), o relevo está em processo de transformação e sofre com a atuação dos agentes endógenos e exógenos, em constante processo de formação e desgaste, uma vez que

[...] através de variações topográficas e morfológicas abre-se espaço para a interferência da ação da gravidade, que possibilita, por exemplo, o deslocamento de materiais quer seja liquido quer seja sólido das partes mais altas para as mais baixas, em um processo continuo de desgaste dos terrenos elevados e de acumulação nos segmentos mais baixos (ROSS, 1992, p. 11).

No entanto, há de se levar em consideração a ação antrópica no processo de modelagem do relevo, como especifica Souza (2001):

[...] a relação existente entre o relevo e sociedade, porque a atuação dos agentes externos se faz sentir numa escala de tempo histórica, ou ainda de menor duração, e não apenas geológica, como é o caso da maior parte da ação das forças endógenas (SOUZA, 2001 p. 65).

O homem, como ser social e atuante, intervém, controla e transforma o relevo conforme suas necessidades, numa velocidade mais intensa que os agentes internos e externos. Todas as modificações estão relacionadas diretamente ao estudo da Geografia que, de acordo com Suerttegaray (2001), sempre buscou a compreensão da relação do homem com seu entorno natural,

Sendo assim, estudar o relevo é de extrema importância para compreender a estrutura do terreno e de que forma esse espaço está sendo ocupado, revelando a

forma e as alterações causadas pela interferência humana. (Hart,1986 apud Guerra e Marçal, 2006) específica que, como o homem utiliza a superfície terrestre, ele tem que conhecer suas partes (solo, rochas, recursos hídricos etc.) para que, assim, possa obter melhor aproveitamento dos recursos ali existentes, bem como evitar danos maiores à área.

3.3.2. Geomorfologia Urbana

A evolução dos espaços urbanos, as construções para moradias e a infraestrutura necessária para receber a população descaracterizam a topografia do terreno e introduzem elementos novos no relevo. Com as interferências que o homem tem provocado na paisagem, cada vez mais faz-se necessário o estudo desses espaços pela geomorfologia urbana.

Segundo Suertegaray (2001), as intervenções humanas podem ser comparadas a agentes geológicos, que são atuantes e em constante processo de transformação nos espaços urbanos, capazes de transfigurar os elementos que constituem a paisagem, somente num ritmo mais acelerado. A ação humana, com o passar do tempo, tende a transformar o espaço em uma ação dinâmica e contínua.

A paisagem modificada, segundo Jorge, in Guerra, (2011), “é um espaço produzido, cujo relevo serve de suporte físico, em que diferentes formas de ocupação refletem o momento histórico, econômico e social”. Portanto, fruto da interação entre os agentes sociais e o espaço físico.

A atuação do homem sobre as formas de relevo é dinâmica, e este se utiliza dos avanços técnico-científicos para deixar marcas na paisagem conforme seus interesses. Essa intervenção humana é caracterizada como o período geológico denominado Quinário ou Tecnogênico (Peloggia, 1997), no qual o homem intervém e modela a natureza.

Peloggia, (1997), assim define o período Quinário e/ou Tecnógeno:

“[...] no período atual que a intervenção humana passa a ser diferenciada qualitativamente em relação à atividade biológica na modelagem da Biosfera, desencadeando processos (tecnogênicos) intensivamente superior aos processos naturais” (PELOGGIA, 1997, pág. 9).

Os espaços urbanos são os mais alterados, apresentando depósitos tecnogênicos resultantes das atividades humanas, com a retirada de materiais e acúmulos de outros, como “materiais de construção e restos de mineração” (MOURA, 2013). A paisagem passa a ser moldada com as técnicas utilizadas pela população a fim de resolver os problemas que enfrenta.

Dessa forma, surgem novas morfologias e, à medida que o processo de urbanização acelera, o homem altera a paisagem, como descreve Fugimoto (2005), retirando a vegetação, realizando cortes e aterros para a execução de arruamentos e moradias, os quais, ao serem construídos, cortam e direcionam os cursos d‟água, gerando padrões de drenagem não existentes.

Quanto às interferências urbanas, Fujimoto (2008, pág. 97) complementa descrevendo que esse processo alterou os espaços, criando novas formas devido à sua utilização, pois “as formas criadas ou construídas podem ser formadas por processos de retirada e/ou acumulação de material, e as formas induzidas podem ser formadas por processos de saída de material ou por processos de deposição de material”.

A Geomorfologia Urbana é compreendida, conforme Gomes (2013), como

[...] uma linha de pesquisa indutiva da Geomorfologia Antropogênica, por indicar e analisar como a sociedade, a partir de seus valores e recursos tecnológicos, pode ser considerada agente transformador e modelador da superfície terrestre, alterando a dinâmica natural das formas, dos materiais e processos do estrato ambiental (GOMES, 2013, p. 25/26).

As intervenções humanas devem ser estudadas, pois, conforme Souza (2001, p. 71), “[..] sendo o homem um ser vivo que atua sobre a superfície da Terra, torna-se imprescindível que a sua atuação seja investigada para que a análise geomorfológica sob tal perspectiva seja completa e coerente”.

Guerra e Marçal (2006, pág. 29) descrevem que a Geomorfologia Urbana busca compreender as transformações causadas pelo homem e até que ponto essas mudanças podem ser responsáveis pela aceleração de certos processos geomorfológicos. Com isso, o estudo realizado pela ciência Geomorfológica pode contribuir para o desenvolvimento e o planejamento urbano, sem que ocorram danos ambientais significativos e que coloquem em risco a vida da população que ali vive.

Frente a isso, as alterações promovidas pelo processo de urbanização sobre as formas de relevo levam ao seu reconhecimento e planejamento para melhor uso dos agentes socioeconômicos, visto que, a sociedade e a natureza compõem um sistema articulado e de forma integrada (POLIVANOV E BARROSO, in GUERRA, 2011).