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5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.3 Caracterização sócio ocupacional da população entrevistada

5.3.1 Moradores da ocupação irregular da avenida Sol Poente

A ocupação irregular da vila Lorenzi está localizada na porção norte do bairro Lorenzi e foi a primeira área a ser ocupada. É uma área de planície fluvial, formada por depósitos recentes de origem de rochas sedimentares, que ocorrem principalmente, nos períodos de cheia.

Os níveis altimétricos estão nas cotas de 68 metros a 76 metros, cuja declividade é inferior a 5%, sobre planícies fluviais do arroio Cadena.

Para atingir o objetivo proposto, foram entrevistados 50 moradores da planície de inundação do arroio Cadena, perfazendo um total de 100.

Como a área foi ocupada de forma ilegal, os moradores tiveram que providenciar suas moradias em barracas, assegurando, assim, um lote de terras. No primeiro momento, foram construindo suas moradias de madeira e, com o tempo, estas passaram a ser de alvenaria (figura 12).

Fonte: Trabalho de campo (julho/2016) Org.: SCALAMATO, A.T.‟

Os moradores da ocupação mudaram muito com o tempo, sendo que 40% dos entrevistados foram os primeiros moradores (pós 1996) e outros 60% compraram a casa construída de um conhecido. A área está em processo de regularização fundiária, e os moradores entrevistados não possuem documentos da casa, ou seja, a escritura. Na área comprada pela Prefeitura Municipal de Santa Maria, existem aproximadamente 100 residências e apenas 29 contribuem com Imposto Predial sobre Território Urbano (IPTU).

Quanto ao tempo de moradia (figura 13), 48% dos entrevistados possuem mais de 15 anos e 52%, de 15 anos de moradia no local. Segundo os residentes entrevistados, alguns moradores mais antigos da localidade, assustados após a chacina que vitimou 6 jovens, no dia 03 de janeiro de 2001, foram embora da vila Lorenzi.

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

As perguntas relacionadas à origem e à localidade do morador (figura 14), foram realizadas a fim de verificar os costumes, hábitos que eles acabam trazendo para o lugar e assim influenciando na configuração da paisagem. Como a área surgiu de uma ocupação irregular, a maioria dos moradores estão na localidade há pouco tempo e, com isso, a afinidade entre homem e natureza está em processo de construção.

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30%

19 anos 18 anos 16 anos 10 anos 8 anos Menos 6 anos

Fonte: Trabalho de campo - 2016

Org.: SCALAMATO, A.T.

A maioria dos moradores do local é composta por pessoas provenientes do próprio município (68%), sendo cinco, do próprio bairro, dois, do bairro Passo das Tropas, três, das proximidades da Estância do Minuano, cinco, do bairro Urlândia, portanto das áreas adjacentes do bairro Lorenzi e dois de bairros mais distantes, um da vila Rigão e um do Alto da Boa Vista. De outros municípios, provêm 32%, sendo um de Júlio de Castilhos, um de Dilermando de Aguiar, um de São Martinho da Serra, dois de Porto Alegre e dois moradores do município de Formigueiro. Os dois moradores de Porto Alegre estão na vila Lorenzi há, aproximadamente, cinco (05) anos e moram no mesmo terreno.

Os moradores foram questionados sobre a principal razão que os levou a morar naquela localidade. Para maioria, o principal motivo foi sair do aluguel ou da casa de parentes e, assim, possuir moradia própria.

Os demais entrevistados alegam motivos diversos, como ficar mais próximo da cidade, o terreno ser maior; “não tinha onde morar, consegui a casa emprestada e estou aqui até hoje”; “troquei de casa, mas não entendi por que fiz isso. Hoje sofro com as enchentes”, “necessidade, ganhei um dinheiro e resolvi comprar a casa por um preço acessível”.

Uma das primeiras moradoras do local relatou que ganhou uma casa da Prefeitura, na época, para morar na vila Maringá, mas, quando soube da invasão da vila

68% 32%

Moradores do município De outro município vila Lorenzi, Santa Maria/RS

Lorenzi, resolveu retornar, fecharam um lote e, com o tempo, construíram a casa. Os moradores que vieram do município de Formigueiro alegam que a cidade de Santa Maria oferece mais oportunidade de emprego, mas que não perderam o vínculo com a cidade natal e frequentemente retornam para a casa de familiares.

Em relação à faixa etária da população residente na localidade (figura 15), observou-se que a população jovem compreende 49%, adulta 44% e a idosa representa 7%. Desse total 57%, correspondem à população feminina e, 43%, à masculina.

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

O nível de escolaridade é um importante indicador populacional e contribui para verificar diferenças entre a percepção de pessoas com maior e menor escolaridade sobre a configuração da paisagem.

Com isso, observa-se (figura 16) que o nível de escolaridade se apresentou muito baixo, sendo que 67% com nível de ensino equivalente ao Ensino Fundamental Incompleto. Destes, 42% não estão estudando, e 25% matriculados na Escola Municipal de Ensino Fundamental CAIC „Luizinho de Grandi” que fica no próprio bairro,

4% com ensino fundamental completo; 13% possuem o ensino Médio Incompleto e, apenas, 4% possuem o Ensino Médio completo.

As crianças com idade escolar de 03 a 06 anos, estão matriculadas na Escola Municipal de Educação Infantil “Luizinho de Grandi”, perfazendo 11%. Foi identificado ainda 1% de analfabeto, ou seja, um dos familiares dos entrevistados que possui mais de 60 anos.

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

Das pessoas entrevistadas, 36% possuem carteira assinada, 64% não possuem vínculo empregatício e realizam suas atividades em serviços gerais, como servente de obras, serviço de diaristas, auxiliar de cozinha, biscateiros entre outros. (figura 17)

Ensino Fundamental Incomp. 67% Ensino Fundamenat al Comp. 4% Ensino Médio Incompl. 13% Ensino Médio Completo 4% Creche 11% Analfabetos 1%

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

Na figura 18, pode-se observar que, das 25 moradias visitadas, a renda familiar que prevalece é até 2 salários mínimos em 72% das famílias. Até 1 salário mínimo, corresponde 20% e, de dois a três salários mínimos, 8% das famílias. 40% das famílias são beneficiadas com Bolsa Família e quatro residências possuem aposentados, sendo que, em uma residência, a aposentadoria é a única forma de rendimento da família e, nas outras duas, complementam a renda familiar.

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Com carteira de Trabalho Sem carteira de trabalho Figura 17 - Vínculo empregatício

No que se refere às condições de infraestrutura, todos os moradores da Avenida Sol Poente possuem energia elétrica proveniente da concessionária AES Sul. O fornecimento de água é realizado pela concessionária CORSAN em todas as residências.

A rede de esgoto foi concedida com a obra do PAC, e 80% das residências despejam o esgoto diretamente na rede, mas 20% das residências ainda não ligaram o esgoto na rede e lançam seus dejetos a céu aberto nos fundos da casa.

A avenida Sol Poente foi entregue pela Prefeitura Municipal de Santa Maria aos moradores no ano de 2011, e não previu a pavimentação asfáltica, impedindo, assim, a circulação do transporte público pela avenida. A rede de iluminação pública é precária, possuindo poucos postes de luz. Os moradores entrevistados alegam que infelizmente a “gurizada” da rua quebra as lâmpadas e que, à noite, fica muito difícil de sair de casa e/ou frequentar a escola.

A coleta de lixo é realizada três vezes por semana e não se observa grande quantidade de lixo espalhado pela avenida. O local que possui maior quantidade de lixo é o final da avenida Sol Poente, onde se observa uma grande quantidade de sucatas.

Os moradores entrevistados, por construírem suas residências em local impróprio, estão vulneráveis aos riscos geomorfológicos decorrentes da dinâmica fluvial como inundações. A maioria das residências são de alvenaria e foram construídas rente ao chão.

A figura 19 (E – F) mostra casas construídas sobre a planície de inundação do arroio Cadena e, em razão dessa condição, os moradores passaram a aterrar seus terrenos, configurando nessa área uma transformação antropogênica, com o objetivo de conter o avanço da água em dias de chuva e utilizando, para isso, restos de materiais provenientes da construção civil.

Fonte: Trabalho de campo (julho/2016) Org.: SCALAMATO, A.T.

A figura 20 mostra a última residência localizada no final da avenida Sol Poente, do dia 08 de outubro de 2015 (Diário de Santa Maria), quando ocorreram chuvas intensas na cidade (acima de 200 mm de chuva), e as águas do arroio extravasaram para as áreas marginais (planície de inundação), ocasionando inundação nas casas próximas, tendo as famílias que as abandonar até o leito do arroio voltar ao normal.

Fonte: Diário de Santa Maria 09/10/2015 Org.: SCALAMATO, A.T.

Figura 19 - Residências com material de entulho - Avenida Sol Poente

E F

As chuvas ocorrem com maior intensidade na cidade de Santa Maria no mês de outubro. Oliveira (2004), relata que esse fenômeno está relacionado com as prolongadas chuvas que ocorrem no final de setembro e se prolongam no mês de outubro, conhecidas, popularmente, como enchente de São Miguel.

No ano de 2015, no período de 07 a 11 de outubro de 2015, choveu o acumulado de 280 mm, na cidade de Santa Maria, (média para o mês era 128 mm) conforme dados disponíveis no site do INMET2 e, dos dias 15 a 19 de outubro de 2016, o índice pluviométrico foi 269 mm, a média prevista para o período era 145 mm. A figura 21 mostra a inundação que ocorreu na Avenida Sol Poente no dia 18 de outubro de 2016.

Fonte: Trabalho de campo (Outubro/2016) Org.: SCALAMATO, A.T.

2

INMET -Instituto Nacional de Meteorologia

As chuvas foram intensas nesse período, o que contribuiu para o extravasamento do leito do rio, causando inundação, que se agrava pela ausência de infraestrutura adequada para escoar o valor acumulado de águas pluviais.