• Nenhum resultado encontrado

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1. Processo de Ocupação da vila Lorenzi

O processo de expansão urbana, para o sentido sul de Santa Maria, ocorreu de forma lenta e, conforme Salamoni (2008, p. 283), no ano de 1944, os parcelamentos urbanos estavam concentrados junto à BR 392 e integravam essa porção ao eixo central da cidade. No ano de 1986, foi criado o Bairro Tomazetti (ID-91), o qual passou a englobar a vila Lorenzi (SALAMONI, 2008, p. 281).

A zona sul da cidade, na década de 1980, ainda se encontrava estagnada, possuindo grandes áreas não agenciadas ao uso urbano. Somente no período 1980 - 1991, com a ligação entre Santa Maria - São Sepé - Rio Grande, pela BR 392, “essa rodovia passa a desempenhar o papel de centralidade local, pois os loteamentos estão articulados nessa estrutura” (SALAMONI, 2008, p. 317).

No ano de 1991, a população urbana de Santa Maria era 214.159 habitantes, passando para cerca de 230.696 habitantes em 2000. Foi nesse período que a cidade passou pelo maior processo de ocupação irregular no seu perímetro urbano, como exemplo, a ocupação da área que passou a ser denominada de Nova Santa Marta, a qual se iniciou no ano de 1992 e, rapidamente, um novo núcleo urbano surgiu, com cerca de quinze mil habitantes em 2001 (SALAMONI, 2008, p. 326). Não diferente, em toda a cidade ocorreram ocupações irregulares como o da vila Lorenzi.

O bairro Lorenzi se desmembrou do bairro Tomazetti, no ano de 2006, conforme a Lei Orgânica do município. A denominação Lorenzi, segundo moradores mais antigos do bairro, deve-se aos primeiros proprietários, à família Lorenzi, os quais vieram de Silveira Martins e passaram a cultivar na área.

Conforme estudos de Salamoni (2008), a população do bairro Lorenzi esteve concentrada nas proximidades da BR-392 e, após o ano de 2000, os loteamentos localizados nas áreas mais baixas, nas proximidades do arroio Cadena, passaram a ser ocupados de forma mais intensa e irregularmente.

O primeiro processo de invasão/ocupação que aconteceu na vila Lorenzi foi proveniente de uma área que a Prefeitura Municipal de Santa Maria desapropriou no

dia 11 de novembro de 1994, conforme Decreto Executivo nº 601/94, que foi uma fração de terras com área de 107.000m2, localizada na vila Lorenzi. Entretanto, no dia 28 de novembro de 1994, o município de Santa Maria desmembrou do total da área, 22.754,00m2 e doou à União Federal para a construção do Centro de Atenção Integral à Criança - CAIC, e o restante ficou destinado à regularização fundiária, segundo ofício 176, expedido pela agente administrativo Alma Cristina Holzchuke.

Localizado em uma parte da área, o Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente, “Luizinho de Grandi”, foi criado pelo Decreto Executivo nº 287/95, por meio de um convênio firmado entre a Prefeitura e o Governo Federal em 12 de julho de 1996.

Na área que sobrou do lote comprado pela Prefeitura Municipal de Santa Maria foi ocupada por cerca de 20 famílias, no ano de 1996, passando, no dia 31 de outubro 1998, a mais de 100 famílias, sendo a maioria proveniente das vilas próximas como A vila Tomazetti1. Não diferente das diversas ocupações da cidade, essas famílias iniciaram o processo de ocupação irregular com suas moradias construídas de forma bastante precária. Segundo Pereira (2004), essas pessoas receberam a denominação de “sem piso”, devido ao fato de suas casas não possuírem piso, estarem assentadas sob “chão batido”.

O bairro Lorenzi possuía, no final de 1990, uma infraestrutura que estava concentrada nas vilas Bom Jesus, Santa Rita de Cassia, Santo Antônio e Quitandinha, todas nas proximidades da BR-392 e nas adjacências da E.M.E.F. CAIC “Luizinho de Grandi”.

Na primeira ocupação irregular, localizada na atual avenida Sol Poente, na vila Lorenzi, a infraestrutura era precária, pois não se possuía energia elétrica, saneamento básico, e as ruas eram caminhos abertos sem o devido planejamento. As primeiras famílias, necessitando de luz elétrica e água encanada, “recorreram à prática ilegal e arriscada das ligações clandestinas” (PEREIRA, 2004, p. 12).

Os estudos de Pereira (2004, p.14) esclarecem que,

[...] de 1996 até 2004, o número de famílias residentes no local só fez aumentar de 15 famílias passou para 51 residências, novas ruas foram

1

abertas, a iluminação pública chegou a algumas delas, mas a situação de precariedade não deixou de existir. A maioria das vias é de terra ou pedras soltas, em algumas o esgoto ainda corre a céu aberto e mesmo havendo rede elétrica disponível, muitas casas ainda possuem ligações clandestinas, o que coloca em risco a vida de todos que ali residem. A primeira ocupação irregular pode ser observada na figura 6 (A e B) e demonstra alguns problemas que as pessoas enfrentavam na época, como a precariedade das moradias e a ausência de infraestrutura adequada para uma qualidade de vida dos moradores.

Fonte: PEREIRA, 2004. Org.: SCALAMATO, A.T.

A figura 7 (A e B) apresenta um comparativo das ocupações do solo da vila

Lorenzi no ano de 2004 e 2015.

Figura 6 - Ocupação da vila Lorenzi 2004 (A – B)

Na imagem de 2004 (A), pode-se observar uma pequena concentração de habitantes na vila Lorenzi nas ruas Chico Mendes, Valdemar Coimbra, Virgílio Lorenzi, Luizinho de Grandi e Adelmo Genro Filho e uma expansão em direção ao arroio Cadena, sentido oeste. A maioria das moradias estavam concentradas nas vilas Quitandinha, Santo Antônio, Santa Rita de Cassia, Bom Jesus.

Conforme relato de moradores da vila Lorenzi, a principal atividade desenvolvida, até 1990, era a primária, com plantação de produtos sazonais, além da extração de argila pela olaria Portela.

A vila Lorenzi (2004 - A) estava bem servida de áreas verdes e, ao longo do arroio Cadena, apresentava a mata ciliar com os campos nas suas adjacências. Observa-se, na imagem, pouca intervenção humana, sendo possível verificar elementos geomorfológicos na área.

Ao analisar a imagem da Figura 7 (B), pode-se observar a expansão urbana da vila Lorenzi, em um pequeno espaço de tempo (11 anos), a qual ocorreu, em direção oeste, nas proximidades do arroio Cadena e para o norte, sendo limitada pela ETE (Estação de Tratamento de Esgoto – CORSAN). A ação antrópica alterou o relevo com a ampliação das vias de acesso e com a construção de casas.

Na mesma figura, observa-se, entre a avenida Sol Poente e a ETE, o surgimento da ocupação Portelinha (2), na Olaria do Portela, que, segundo um antigo morador, desenvolveu suas atividades, aproximadamente, por 30 anos no local. Como a olaria deixou de funcionar e ficou desocupada, alguns moradores começaram a construir suas moradias dentro da mesma e nas suas proximidades.

As moradias construídas na Portelinha estão em uma área considerada, pela Secretaria de Habitação da PMSM (Gestão/2016), como ocupação irregular, pois não estão em processo de regularização fundiária, sendo que a área é de propriedade particular e não apresenta as condições ideais para moradia, com total falta de infraestrutura, como rede de água, rede de esgoto, energia elétrica, arruamento e transporte.

A ocupação ao longo da avenida Sol Poente (1), conforme relatório da situação predial fornecido pela Secretária de Habitação, está em processo de regularização fundiária, apresentando um padrão urbano regular com malha viária pavimentada,

oferecendo rede de água, rede de esgoto, rede elétrica, além de coleta de lixo, três vezes por semana, de forma integral, a todos os moradores. Conforme cadastro da situação predial fornecido pela Prefeitura Municipal de Santa Maria, na avenida Sol Poente, existem aproximadamente 100 residências, das quais vinte e nove moradores pagam IPTU (Imposto Predial sobre Território Urbano).

Segundo a Secretaria de Habitação, no ano de 2006, a Prefeitura Municipal de Santa Maria realizou um relatório que apresentava o Plano Municipal de Redução de Riscos, que visava a apresentar as áreas de risco associadas a deslizamentos, alagamentos, inundações etc. e que ameaçam a segurança dos moradores e dificultam a inclusão dos assentamentos precários à cidade formal. A partir desse estudo, foram selecionadas as áreas que receberiam investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Através do Decreto nº 26/2008, o Governo Municipal declara, como utilidade pública, a execução da obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e, nesse contexto, a vila Lorenzi foi uma das beneficiadas, recebendo obras essenciais de infraestrutura, destinadas à qualificação dos serviços públicos de saneamento e mobilidade urbana, visando à melhoria da qualidade ambiental e de vida das populações atendidas.

As ruas beneficiadas para o investimento foram Virgílio Lorenzi, Luizinho de Grandi e a área de ocupação da avenida Sol Poente. As obras receberam investimentos através de uma ordem de serviço de 14 de fevereiro de 2008, a qual previa a drenagem pluvial e a pavimentação asfáltica das ruas Virgílio Lorenzi e Luizinho de Grandi. Segundo a Secretaria de Habitação de Santa Maria, a obra foi orçada em R$646.099,89 e entregue à comunidade em 16 de março de 2011. A avenida Sol Poente receberia somente um revestimento primário, sem a camada asfáltica.

O segundo processo de licitação ocorreu através da ordem de serviço, de 14 de maio de 2008, que previa o esgoto cloacal e a entrega de 2 bombas para levar o esgoto até a CORSAN – ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) que está localizada na porção norte da avenida Sol Poente. A obra foi orçada em R$374.992,06 e entregue no dia 11 de março de 2011.

Diante das considerações sobre essas ocupações em Santa Maria, ressalta-se que cabe ao poder público maior fiscalização no sentido de coibir a instalação de loteamentos particulares irregulares. Em Santa Maria, o Cartório de Registro de Imóveis exige do proprietário o chamado “habite-se” para a regularização da área; então, é atribuição urgente da Prefeitura Municipal emitir o documento para a escritura pública e fiscalizar se as moradias estão sendo construídas de forma legal, ilegal ou em áreas impróprias para moradias.