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A CARTA GEOTÉCNICA DE APTIDÃO À URBANIZAÇÃO COMO MEDIDA DE PREVENÇÃO DA OCORRÊNCIA DE DESASTRES NATURAIS NO BRASIL

AUMENTO DA SOLICITAÇÃO

3 LEI N.º 12.608/12 E CARTA GEOTÉCNICA DE APTIDÃO À URBANIZAÇÃO: MEDIDA DE PREVENÇÃO DE DESASTRES NO BRASIL

3.3 A CARTA GEOTÉCNICA DE APTIDÃO À URBANIZAÇÃO COMO MEDIDA DE PREVENÇÃO DA OCORRÊNCIA DE DESASTRES NATURAIS NO BRASIL

Como estabelecido no artigo 3.º, parágrafo único da Lei n.º12.608/12, a PNPDEC deve integrar-se a outras políticas como a de desenvolvimento urbano tendo-se em vista a promoção do desenvolvimento sustentável.

Nesse sentido, as ações de gestão de desastres, notadamente as voltadas para prevenção dos desastres naturais, têm relação com a política de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Público municipal, prevista nos artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988 e disciplinada na Lei n.º10.257/01, denominada Estatuto da Cidade, na qual são estabelecidas normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental (BRASIL, 2001, art. 1.º, parágrafo único), tendo por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana mediante diretrizes gerais (BRASIL, 2001, art. 2.º, caput), dentre as quais, tem-se o planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente (BRASIL, 2001, art. 2.º, inciso IV) e a ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar, dentre outros aspectos, a exposição da população a risco de desastres (BRASIL, 2001, art. 2.º, inciso VI, alínea h).

Como disciplinado no Estatuto da Cidade, essa prevenção à exposição da população a riscos de desastre abrange as ações de mapeamento das áreas de risco com base nas cartas geotécnicas, na medida em que, como dispõe o artigo 39 da Lei n.º10.257/01, a função social da propriedade urbana é cumprida quando atendidas as exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no Plano Diretor do município, consistente em instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana (BRASIL, 2001, art. 40), o qual é obrigatório para as cidades enquadradas nas situações previstas no artigo 41 da Lei n.º 10.257/01, dentre as quais, o Plano Diretor passou também a ser obrigatório para as cidades incluídas no cadastro nacional de municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos como estabeleceu a Lei n.º 12.608/12 ao incluir essa disposição no artigo 41 da Lei n.º 10.257/01, devendo os Planos Diretores dessas cidades, como estabelece o artigo 42-A, inciso II, da Lei n.º 10.257/01, conter mapeamento contendo as áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos, levando-se em conta as cartas geotécnicas como dispõe o artigo 42-A, § 1.º da Lei n.º 10.257/01.

No mesmo sentido, a Lei n.º 6.766/79, que dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano, alterada pela Lei n.º 12.608/12, estabelece que nos municípios inseridos no cadastro nacional de municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos, a aprovação do projeto de loteamento e desmembramento pelas Prefeituras Municipais e pelo Distrito Federal, quando for o caso, ficará vinculada ao atendimento dos requisitos constantes da Carta Geotécnica de Aptidão à Urbanização (BRASIL, 1979, art. 12, § 3.º).

Dessa forma, a Carta Geotécnica de Aptidão à Urbanização, ao subsidiar ações de mapeamento de áreas suscetíveis a desastres naturais, constitui uma medida de prevenção voltada para evitar que se exponha a população a risco de desastres naturais.

De acordo com Santos (2014), a carta geotécnica consiste em um documento cartográfico que apresenta informações sobre os diferentes compartimentos geológicos e geomorfológicos homogêneos diante das intervenções a serem procedidas nesses compartimentos, indicando as melhores formas técnicas para que essas intervenções sejam sucedidas técnica e economicamente. Santos (2014) destaca que as cartas geotécnicas mais comuns são as de aptidão à urbanização, aquelas que especificam os setores nos quais a ocupação urbana não é recomendável e os que são propícios para tal ocupação na medida em que atendam aos critérios técnicos estabelecidos para tal intervenção, indicados em tais cartas geotécnicas.

A definição desses setores aptos à urbanização deve resultar, conforme Sobreira e Souza (2012), de uma abordagem conjunta dos diagnósticos dos eixos físico-ambiental, jurídico- ambiental e socioeconômico-organizativo das áreas objeto de análise. Desse modo, a carta geotécnica de aptidão à urbanização, segundo Sobreira e Souza (2012), deve conter orientações que definam as áreas regularizáveis que não têm necessidades de intervenções significativas estando aptas à urbanização; áreas regularizáveis em condições que têm a necessidade de intervenções para a sua consolidação e áreas não regularizáveis nas quais não se deve consolidar a ocupação em razão de impedimentos técnicos e jurídicos, indicando-se a remoção da ocupação caso exista ou definindo-se um uso específico diferente do habitacional.

Tendo, desse modo, a Carta Geotécnica de Aptidão à Urbanização, no dizer de Sobreira e Souza (2012), o objetivo final de definir setores que não são aptos à ocupação, bem como os que são passíveis de ocupação desde que se atendam aos critérios nelas especificados, tendo aplicação direta no ordenamento e ocupação urbana, subsidiando instrumentos como leis de uso do solo e planos diretores municipais, igualmente subsidiando a tomada de decisões administrativas relativas à política urbana brasileira.

Assim, a Carta Geotécnica de Aptidão à Urbanização, ao conter a indicações de áreas suscetíveis e áreas não suscetíveis à ocupação, constitui um instrumento de planejamento urbano que contribui para a observância das diretrizes da PNPDEC ao fornecer subsídios para que novos projetos de parcelamento do solo incorporem diretrizes urbanísticas adequadas a uma regular ocupação e uso do solo, voltadas para a prevenção dos desastres naturais, contribuindo para a estruturação de cidades resilientes em manutenção do ambiente equilibrado e em defesa da população.

4 CARTA GEOTÉCNICA DE APTIDÃO URBANÍSTICA APLICADA AO